Retratação: como sempre, Saint Seiya e seus personagens não me pertencem. Porém, a idéia original desse fic sim e seus personagens originais. Portanto, se você resolver usar alguma coisa daqui, eu não me importo, contanto que os créditos sejam devidamente feitos.

Créditos: Saint Seiya pertence ao tio Kuramada, só uso os personagens pra me divertir. Em algum ponto do fic, usarei o nome Carlo di Angelis, e esse nome é totalmente creditado à Pipe.

Resumo: depois de sete anos longe do Santuário, Shaka volta à Grécia, onde pretende retomar a vida, mesmo que tudo tenha mudado à sua volta. Yaoi com flashback, lemon, um pouquinho de violência. Casais: Shaka/Mu; Miro/Kamus; Máscara da Morte/Afrodite

Aviso: esse fic vai ter cenas de flashback e sempre que uma ocorrer, o texto estará em itálico e negrito, só pra situar todo mundo. E esse capítulo contém lemon, se alguém ficar ofendido, já sabe!


Capítulo 7: Acerto de contas - não necessariamente uma coisa negativa

Depois de algum tempo na casa de Shura, os cavaleiros que haviam decidido passar o resto do dia sem fazer nada produtivo saíram da casa do capricorniano e foram para o templo de Saga, que sempre era o ponto de encontro entre eles.

Estavam sentados todos à frente da enorme TV que Saga tinha em sua sala, bebendo cerveja e discutindo sobre o jogo que passava na tela. Era fútil e tipicamente um domingo masculino, mas eles adoravam aquilo, mesmo que caíssem na mesmice.

Mu entrou sem fazer barulho, camuflando o cosmo. Detestava fazer aquilo, sentia-se como um ladrão, um inconseqüente, mas era a única opção. Queria encontrar Máscara da Morte sem suas defesas armadas, queria dar um susto nele. Visualizou o italiano sentado de costas, ladeado por Saga e Aldebaran. Shura e Kamus também estavam ali, um pouco afastados.

Tudo aconteceu rápido demais para qualquer cavaleiro esboçar algum tipo de reação. Em um minuto eles passaram da tranqüilidade ao caos. Mu partiu como um louco pra cima de Máscara da Morte, desferindo um soco certeiro em seu olho esquerdo. Rapidamente Aldebaran segurou o ariano, enquanto Saga precipitava-se para cima do canceriano, que surpreendentemente estava calmo.

– Você... – Mu disse, apontando para Máscara da Morte. – Lá fora. Agora. – e deu as costas, caminhando para a saída do templo. Quando ouviu os barulhos de passos, indicando que não somente o italiano, mas os outros cavaleiros também o seguiam, ele parou. – E vocês, fiquem aqui. Eu não vou mata-lo. Não hoje.

Os cavaleiros se entreolharam, fixando-se por fim em Máscara da Morte, que fez sinal de negativo com a cabeça, indicando que queria ir sozinho. Sabia muito bem o por quê daquela reação do ariano e, apesar de odiar saber que Afrodite contou ao amigo o que havia acontecido entre eles, sabia que tinha que resolver aquilo sozinho.

Quando saiu da casa, teve que desviar de mais um soco de Mu, que já o esperava. Dessa vez, ele conseguiu ser mais rápido que o ariano, segurando o punho que ameaçadoramente vinha em sua direção.

– Você enlouqueceu, Áries? – Máscara da Morte perguntou, olhando fundo nos olhos de Mu, que estava alucinado.

– Não, mas eu vou enlouquecer assim que quebrar a sua cara!

– Não fale bobagens! – Máscara da Morte disse, empurrando Mu para longe dele. Ambos ficaram apenas se olhando, estudando os movimentos um do outro, como se pudesse surgir uma nova briga a cada segundo.

– Você... – Mu começou, dessa vez num tom de voz mais calmo, porém não menos ameaçador. – Fique longe dele de agora em diante. – terminou, sem mencionar o nome de Afrodite. Sabia perfeitamente que Máscara da Morte tinha a exata noção sobre quem ele estava falando.

– Ele mandou você dizer isso?

– Como ousa! Não, ele não mandou, EU é que estou dizendo, fique longe dele senão quiser que eu te mate.

– Não teria coragem. – Máscara da Morte disse e no instante seguinte sentiu o cosmo de Mu se elevar. Parecia muito como da vez em que lutaram naquele mesmo Santuário, quando o italiano deixou-se mostrar como um fantoche de Hades.

– Está avisado. – ele disse, com a mesma calma característica, descendo os degraus do templo, afastando-se do canceriano.

– Quem tem que decidir isso é ele. Não você. – ele disse mais uma vez.

Mu correu na direção de Máscara da Morte, pegando-o pela gola da camisa que usava, espremendo-o contra uma das pilastras do templo. Seus olhos estavam num verde escuro perigoso, ameaçador.

– Ele está com os pulsos roxos e tem um olhar perdido, como se algo dentro dele tivesse quebrado. Acha mesmo que ele vai querer alguma coisa com uma criatura desprezível como você?

Mu soltou Máscara da Morte pela segunda vez, dessa vez quase derrubando o cavaleiro no chão. Desceu as escadarias sem olhar para trás, em sua mente outros pensamentos que não tinham a mínima conexão com o italiano e Afrodite. Sorriu ligeiramente, imaginando como Shaka reagiria ao ouvir tudo o que ele tinha a dizer.

Ao passar pela casa de Touro, teve a ligeira impressão de ter visto uma pessoa conhecida. Uma pessoa que lembrava muito Shaka quando era criança. Balançou a cabeça negativamente, sempre que perdia o controle, sua mente pregava-lhe peças. Só podia ser aquilo

Máscara da Morte ficou sentado no chão, à frente do templo de Gêmeos, pensando em tudo o que Mu havia dito. Sentia-se mais do que nunca um canalha. Pensou se não seria melhor mesmo que ele simplesmente ignorasse o que deveria fazer e seguisse o que Mu havia dito, deixando Afrodite em paz. Realmente aquela seria a solução mais rápida e fácil pra tudo. Mas, ao mesmo tempo em que aquele sentimento egoísta se apossava de si, ele lembrou-se de como havia se transformado em um ser humano melhor desde que começara a se relacionar com o sueco.

Levantou-se do chão, mais disposto e resoluto. Mas não voltou para o templo de Gêmeos. Tinha uma idéia em mente e trataria de coloca-la em prática mais cedo do que imaginava.


O lento pôr do sol anunciava o espírito para aquela noite. Shaka havia deixado Eric brincar com os filhos de algumas servas e o garoto parecia não querer voltar. Ele não podia impedi-lo de se sentir daquela maneira. Quando eles moravam na Índia, raramente o menino saía para brincar. Agora era uma oportunidade e ele não queria que o filho a desperdiçasse.

Sentou-se em um dos sofás da sala disposto a ler um livro quando sentiu um cosmo familiar de aproximar. Suspirou profundamente, sabia que aquele momento teria que acontecer, mais cedo ou mais tarde, e ele não iria fugir.

– Mu de Áries, a que devo sua visita? – o loiro perguntou, assim que o cavaleiro entrou em seu templo.

Mu sentiu o coração disparar e caminhou em passos largos e decididos até Shaka, que, sentado, apenas esperava a aproximação, com um sorriso sutil e sensual. Ele franziu ligeiramente a testa, não esperando aquele tipo de reação.

– Eu...eu queria conversar. – ele disse, ainda recuperando-se de ver Shaka tão perto de si depois de tanto tempo, especialmente porque o loiro parecia muito seguro de si.

– Depois de tantos anos, você ainda acha que eu sou a pessoa indicada para conversar com você? – o loiro perguntou, levantando uma das sobrancelhas.

– Se eu não conversei com você foi porque foi você quem fugiu do Santuário por todos esses anos. – Mu devolveu na mesma rapidez.

Shaka abriu mais um sorriso, sabia que Mu iria apelar para sua saída do Santuário. Ele era tão previsível que chegava a sentir pena do ariano. Ele o conhecia suficientemente bem e aquilo, ao mesmo tempo em que lhe dava uma vantagem, o entristecia.

– Claro, como sempre a culpa é minha. Culpem o virginiano que não tem contato com as pessoas comuns, culpem o virginiano que não tem a capacidade de sentir as mesmas coisas que os homens. Poupe-me Áries. Isso não vai nos levar a lugar algum.

– Eu...

– Vamos começar de novo. A que devo sua visita?

– Precisamos conversar. – ele parou e quando viu o loiro virar os olhos, como se já esperasse aquilo, ele completou, meio a contragosto. – Sobre nós.

Shaka desviou um olhar mais atencioso na direção de Mu e sorriu, balançando a cabeça em tom de aprovação. Finalmente o ariano parecia ter dito algo que lhe interessara.

– Muito bem. Vamos conversar, sobre nós, você quer dizer. Mas não aqui. – Shaka disse, levantando-se e caminhando até a mesinha onde ficava o telefone. Voltou com um pedaço de papel e entregou-o ao ariano. – Encontre-me nesse lugar às nove horas. Sem atrasos.

Mu ficou olhando pensativo para o papel em suas mãos, que continha o endereço de um hotel conhecido. Fitou o virginiano que parecia não estar esperando por nenhuma reação sua, pois no instante seguinte, ele pegou um livro que estava a seu lado e começou a ler. Ao cavaleiro, restou apenas sair do templo, mais surpreso com a presença de Shaka do que quando o vira no dia anterior.

Quando Mu saiu, Shaka fechou o livro com um barulho abafado. Esfregou o rosto com as mãos e levantou-se. Alguns minutos depois, Eric entrou correndo na casa, descabelado e com um enorme sorriso. Ele abraçou o pai, carinhosamente.

– Pai, adoro esse lugar. Vamos ficar aqui pra sempre, certo?

– Claro, filho. É a nossa casa.

– Ótimo.

– Eric, vou precisar sair hoje para resolver alguns assuntos. Vou deixar você com a Marin, tudo bem?

– Eu posso ficar aqui sozinho, não vai ser problema.

– Não, eu insisto. E além do mais, ela e Aioria podem lhe contar histórias sobre o Santuário. Eu sei que você está louco para ouvir algumas coisas.

– Conseguiu minha atenção. Vou tomar banho. – Eric disse, correndo para o segundo andar, enquanto Shaka escondia o sorriso.

"Agora é sua vez, Mu de Áries."


Afrodite havia escolhido aquele dia para sossegar. Havia passado pelo templo de Shura e Kamus e dito que iria ficar sozinho e não queria a intromissão de ninguém. Os vizinhos mais próximos sabiam que quando o pisciano ficava daquele jeito era porque estava passando por alguma de suas famosas crises.

O que os surpreendia, porém, é que o sueco só as tinha quando brigava ou terminava com algum namorado. E eles não se recordavam de nenhum namoro no último ano. Afrodite até que estava controlado demais, para os padrões normais dele.

Podiam sentir de longe o cheiro delicioso que vinha do templo de Peixes e aquele era outro motivo para preocupação. Raramente Afrodite cozinhava, então aquele realmente parecia ser um dia de reflexões para o pisciano.

Afrodite havia acabado de colocar a travessa com o salmão assado em cima da mesa e preparava-se para levar o molho de maracujá quando deparou-se com Máscara da Morte parado bem à porta de sua cozinha. No reflexo, ele pensou em fugir, mas sabia que não conseguiria passar pelo canceriano, que era bem maior que ele.

Máscara da Morte, de longe, podia ver o conflito interno que Afrodite estava passando. Ele mesmo viveu um pouco daquilo enquanto se esgueirava pela passagem secreta para que nenhum dos outros cavaleiros pudessem vê-lo entrando no templo de Peixes. Entrou no templo sem problema algum, camuflando o cosmo, passando alguns minutos preciosos observando escondido, enquanto o pisciano arrumava a mesa metodicamente.

Tristemente, ele o fazia para apenas uma pessoa. Aquilo causou uma sensação nunca antes sentida, então ele não sabia bem como defini-la, mas era algo ruim. Curiosamente, ele sentiu falta das noites que ele e o sueco jantavam ali, sem trocar muitas palavras.

– Acalme-se. Eu não vim aqui pra brigar.

– Saia do meu templo. Não tenho absolutamente nada pra falar com você.

– Afrodite, não poderá me evitar para sempre.

O sueco olhou mais detalhadamente para Máscara da Morte. Ele estava com uma aparência cansada, mas ainda estava com aquela pose de 'dono do mundo', tão típica dele. Suspirou profundamente, passando por ele enquanto pegava mais um prato no armário.

Máscara da Morte sorriu quando Afrodite passou por ele. Pelo menos até ali as coisas pareciam estar caminhando de maneira calma. Sentou-se calmamente em uma das cadeiras, na outra extremidade da mesa, esperando pelo sueco, que não demorou para voltar com o restante do jantar.

Comeram em silêncio, Máscara da Morte sempre olhando para Afrodite, mas esse não estava ligando muito para o que ele fazia. Parecia estranhamente interessado no salmão e no molho de maracujá. Alguns minutos depois, ele suspirou profundamente, ainda de cabeça baixa. Foi o estopim para o italiano pousar os talheres sem a menor delicadeza.

– Tá bom, vamos parar com isso agora.

Nenhuma resposta do lado de Afrodite. O sueco apenas continuava fitando o salmão, mas no interior estava um pouco assustado, por mais que dissesse a si mesmo que era um cavaleiro de ouro e não deveria temer qualquer outra pessoa.

– Afrodite, não vai poder me ignorar pelo resto da vida.

– Eu posso tentar. Não sabe o quanto eu sou persistente.

– Sei sim. Você me teve nas suas mãos quando bem quis.

– Maldito dia. – ele disse, olhando finalmente para Máscara da Morte, que engoliu em seco ao ver as orbes azuis, sempre tão apaixonadas, frias como o gelo.

– O que você quer que eu diga?

– Nada. Eu quero que você saia daqui caso já tenha terminado a sua refeição.

– Dite, não vai ser assim. Você sabe.

– Ah, por que não? O que pretende? Bancar o valentão mais uma vez e me pegar à força?

– Olha, o que aconteceu naquele dia...

– O que aconteceu era o que eu já deveria ter esperado de uma pessoa como você. Você não tem sentimentos, quando eu poderia imaginar que você algum dia poderia sentir alguma coisa por mim?

– Você está enganado, Afrodite. – Máscara da Morte disse, subitamente cansado. Era estranho, ele tinha vontade de dizer mais do que aquilo, mas ainda assim não o fazia.

– Não, não estou. E você sabe disso. O que aconteceu foi a prova definitiva do que não deveria ter acontecido. Nunca. – Afrodite tentava parecer forte, mas estava sendo difícil. Sentia o coração dilacerar ao pronunciar aquelas palavras, mas sabia que era melhor do que ser tratado da maneira que estava sendo. "Você mente, Afrodite...você o perdoaria se ele te pedisse desculpas...", uma vozinha o dizia, o deixando ainda mais confuso.

– É sua palavra final? – Máscara da Morte perguntou e no tom de sua voz podia notar-se uma mistura de rancor e ansiedade.

– É sim. – Afrodite disse, levantando-se da mesa e caminhando rapidamente até a cozinha. Não podia deixar que Máscara da Morte visse a lágrima impiedosa que estava por cair.

O italiano, por sua vez, também levantou-se, pensando em ir atrás de Afrodite, mas recuou no último instante. Pelo menos ele havia tentado. De uma maneira meio 'Máscara da Morte', mas, ainda assim, tentado melhorar as coisas. Infelizmente, ou felizmente, o sueco tinha razão quanto eles realmente ficarem separados.

Caminhou para a saída do templo e estava a ponto de sair quando resolveu tentar uma última cartada. Voltou rapidamente para a cozinha, só para encontrar com Afrodite parado, encostado na mesa, como se estivesse esperando por ele.

Esperou que o pisciano falasse alguma coisa, mas quando ele não se pronunciou, apenas olhando-o com as sobrancelhas levantadas, ele disse de uma só vez.

– Só queria que soubesse que eu sinto muito pelo que aconteceu.

Os olhos de Afrodite se arregalaram por alguns segundos, mas ele não disse nada. Quando o italiano continuou parado, ele simplesmente resmungou.

– Espera que eu te dê um prêmio por isso?

– Eu... – ele começou. – Não, estou apenas dizendo.

– Tudo bem. Pode sair agora, por favor.

Assim que Máscara da Morte saiu, ainda pior do que antes de dizer aquela frase, Afrodite pegou o primeiro objeto de vidro que encontrou pela frente (era um vaso de cristal) e jogou-o contra a parede, estilhaçando-o em milhares de mínimos pedaços.

– Desgraçado, você não tinha esse direito! Eu te odeio, Máscara da Morte!


Desceu do táxi quando faltavam dez minutos para o horário combinado. Entrou no hotel imponente, sendo recebido por um elegante homem de uniforme. Ele pediu indicações para o restaurante e foi encaminhado até lá por outra pessoa, igualmente bem vestida.

Entrou no restaurante em passos duvidosos, após dizer seu nome e ser conduzido a uma mesa reservada, em uma área afastada do centro do restaurante. Quando aproximou-se, já estava sendo esperado por sua companhia.

– Bem na hora. Pontualidade me agrada.

– Corta essa, Shaka. Você sabe que eu sou pontual. Sempre fui. – Mu disse, um pouco impaciente, sentando-se à frente do loiro. Não podia deixar de notar na beleza que o loiro se apresentava, a blusa de gola em 'V' em tom de tijolo e os cabelos presos em um rabo de cavalo frouxo davam a ele uma aparência séria e absurdamente sexy.

Shaka sorriu brevemente, os belos olhos azuis sumindo por trás do menu que o garçom acabara de trazer. Havia reparado minuciosamente em Mu desde que ele entrara no restaurante. Não pôde evitar que sua garganta fechasse ao ver o ariano todo vestido de preto, com os longos cabelos lavanda presos em uma trança bem feita.

– Por que me chamou aqui? Aliás, quem vai pagar pela conta?

– Me poupa, Áries. Eu te convido pra sair e você fica pensando nos gastos. Isso não é romântico. – Shaka disse, olhando rapidamente para o ariano por cima do cardápio. Mu o olhava com uma cara de poucos amigos e isso o divertiu mais ainda. – Pro seu governo, não é sua querida Saori que está pagando as contas.

– Mostra pouco respeito à nossa deusa. – ele disse, cruzando os braços.

– E você mostra respeito demais. Sempre o fez, não é mesmo? – Shaka mostrou-se um tanto irritadiço com aquela defesa toda vinda de Mu em relação à pessoa que eles deviam respeito. Na verdade, ele morria de ciúmes da 'mimadinha', já que o ariano sempre fora o preferido dela para qualquer assunto relacionado ao Santuário.

– Você me confunde, Shaka.

Totalmente interessado agora, Shaka deixou o cardápio de lado e cruzou os braços, imitando a posição de Mu. Ia começar a falar, quando o garçom chegou. Ele pediu um vinho branco e logo dispensou-o. O que Mu havia dito lhe havia chamado a atenção.

– E por que isso, meu caro Áries?

– Primeiro de tudo, pare com esse joguinho. Jantar, palavras e frases de duplo sentido. Isso não combina com você, Shaka. Nunca combinou.

– Prova que você nunca me conheceu realmente, não é mesmo? O tempo passa, Áries, as pessoas crescem, desenvolvem. Algumas se tornam verdadeiros monstros, outras se redimem. Eu posso dizer apenas que deixei aparecer o que realmente sou.

– Não acredito em uma palavra do que você fala.

– Não precisa acreditar.

– Por que me chamou aqui, Shaka? Sem jogos, sem rodeios, sem mentiras. Prove que você ainda mantém uma coisa do Shaka de antigamente.

– Que seria...

– A verdade.

– Você quer a verdade? Tem certeza de que está preparado pra isso? – ele disse, as coisas antecipando-se da maneira que ele não havia previsto. Viu Mu relutar consigo mesmo e depois assentir. – Pois bem.

O garçom aproximou-se naquele momento, pronto para mostrar o vinho escolhido aos dois. Shaka interrompeu-o.

– Nós vamos tomar o vinho no meu quarto. Acompanhe-me, Áries.


O tempo estava instável naquele dia e, exatamente no momento em que Miro deixava seu templo e passava pela casa de Capricórnio, começou a chover. Entre voltar para seu templo e pedir abrigo na casa de Aquário, ele optou pela segunda opção. Shura seria sua alternativa, se o capricorniano não estivesse com Shina naquele momento.

Parado à frente do imponente templo de Kamus, ele bateu algumas vezes, esperando que o dono o convidasse para entrar. Passados alguns segundos, ele apenas sentou-se no chão, sabendo que Kamus provavelmente devia estar fazendo alguma outra coisa, mas que não o deixaria ali.

Com fones de ouvido e mergulhado em uma banheira, Kamus tomava um banho delicioso. Pensava em alguns negócios que Saori havia pedido que ele resolvesse no dia seguinte e obviamente não ouvira as batidas de Miro em sua porta. Ele, aliás, nem ouvira a chuva que caía.

Quando saiu do banho surpreendeu-se com a queda de temperatura (que não o afetava, para falar a verdade) e com o barulho da chuva. Teve uma idéia louca, tomar banho de chuva, sempre gostara. Sorriu, correndo até o quarto e colocando uma calça de moletom preta. Não importou-se em colocar uma camisa.

Abriu a porta de uma só vez mas nem pôde saborear os pingos grossos de chuva que caíam. No instante seguinte, um Miro ensopado caía em cima dele. No impulso, Kamus o abraçou, sentindo a pele gelada do escorpiano entrar em contato com a sua um pouco mais quente.

– Por Zeus, Miro...o que está fazendo nessa chuva? – Kamus perguntou, tentando não sentir-se familiarmente atraído pelo grego.

– Queria conversar um pouco com você, mas a chuva... – ele estava com a voz falhando um pouco. – Te chamei por meia hora, mas você não me ouviu...eu...eu posso entrar?

– Mas é claro! Que pergunta! – Kamus disse, entrando no templo e batendo a porta. Miro parecia um pouco grogue e ele tinha certeza de que não era por causa da chuva. Suas suspeitas se confirmaram quando ele sentiu o hálito doce do escorpiano misturado ao cheiro de vinho.

Colocou o rapaz sentado no sofá enquanto voltava ao quarto para pegar algumas roupas secas para o ex-namorado. Quando voltou, Miro estava meio deitado no sof�, os olhos marejados e tremendo um pouco. Kamus ajoelhou-se ao lado dele, colocando a mão na testa do escorpiano, percebendo-o um pouco quente demais.

– Essa droga desse seu templo...sempre foi frio demais, Kamus...por que você não coloca uma lareira aqui? – Miro murmurou, virando-se no sofá.

– Vamos, Miro...você precisa de um banho...tá com febre...

– Eu não quero..vou voltar pra minha casa. – ele disse, tentando levantar-se, para tão somente cair miseravelmente em cima de Kamus, que o segurou prontamente.

– Venha comigo, sr. Teimosia. – o francês murmurou, praticamente arrastando Miro até o banheiro.

Enquanto a banheira era enchida pela segunda vez naquela mesma noite, Kamus reparava nas feições de Miro. Os lábios que pareciam feitos para serem beijados, o nariz um pouco arrebitado, os olhos azuis intensos, que agora, semicerrados, não reparavam na análise a que estavam sendo submetidos. O grego era realmente belo, irresistível até. Se não fosse por sua fama e atos, provavelmente ainda estariam juntos. Tinha que admitir que eram um casal perfeito, um sempre completando o outro.

– Sabe que eu odeio ser analisado. – Miro resmungou, ajeitando-se como podia, encostado na bancada do banheiro.

– Eu não...

– Senti o peso dos seus olhos, Kamus.

– O banho está pronto, venha. – o francês achou melhor mudar de assunto.

Miro sorriu ligeiramente, tirando a blusa azul e calça jeans, juntamente com a cueca, numa rapidez impressionante para alguém debilitado pela bebida e pelo início de uma gripe. Entrou na banheira na mesma velocidade, deixando a água morna fazer carícias em sua pele arrepiada. A sensação era tão boa e o aliviava tanto, que ele sentia-se tentado a dormir. Na verdade, suas pálpebras estavam pesadas e ele não conseguiu controlar-se e fechou-as lentamente por alguns segundos. Era o bastante.

Kamus sentiu o sangue subir de maneira perigosa quando presenciou Miro tirar as roupas. Era como se um filme passasse em sua cabeça, o tempo em que estavam naquele mesmo banheiro, dividindo momentos íntimos. Só que naquele tempo, era ele quem tirava as roupas do grego numa fúria impressionante, somente para tê-lo mais perto de si.

Suspirou profundamente, balançando a cabeça em seguida, tentando afastar aqueles pensamentos de sua mente, ou pelo menos tentando esconde-los em um canto afastado e oculto, onde não pudesse lembrar com tanta vivacidade. Entrou no banheiro, onde fitou um Miro adormecido. Não pôde deixar de sorrir, ele, daquele jeito, parecia com o menino pelo qual se apaixonara um dia. "Malditos pensamentos..."

– Miro...vamos, não pode ficar muito tempo aí dentro... – ele tentou, tocando o ombro do grego, que não esboçou nenhuma reação. Ele bufou, em contrapartida, tendo que tomar outra atitude. Além do mais, ele percebeu, tocando a testa do outro, que ainda estava com febre.

Pegou uma de suas toalhas e levantou Miro, meio sem jeito, e molhando-se no caminho. Depois de alguns segundos conseguiu finalmente enxuga-lo um pouco e, tomando-o nos braços levou-o ao único lugar que imaginara: seu quarto.

Já no cômodo, Kamus depositou um Miro ainda desacordado e molhado em sua cama, cuidando para afastar algumas das cobertas e almofadas. Correu no armário e tirou a única peça de roupa que o grego deixara ali desde que terminaram, um camisão branco, que ele, mesmo sem querer admitir, guardava de recordação.

Sentou-se na ponta da cama, olhando para as feições perfeitas de Miro, a pele morena um pouco arrepiada. Sorriu ligeiramente, corando em seguida, quando pensamentos lhe invadiram sua cabeça. Tinha vontade, e não admitiria aquilo a ninguém, nem a ele mesmo, de tomar Miro num beijo apaixonado. Mas não podia. Não devia. Não tinha mais a mesma intenção de deixar seu coração livre para ser tomado e depois partido. Infelizmente não poderia mais confiar no grego. Eram amigos e nada mais do que aquilo.

Relutando ainda, ele lentamente despiu Miro da toalha e colocou sem muita dificuldade a camisa nele. Pensou em acorda-lo para faze-lo comer alguma coisa ou pelo menos tomar um café, mas desistiu ao perceber como ele dormia gostoso. Achou melhor apenas cuidar da febre dele, que parecia aumentar a cada minuto que passava.

Apagou o restante das luzes da casa e correu até a cozinha, voltando com uma tigela cheia de água e uma toalha. Sentou-se ao lado de Miro e colocou a toalha sobre a cabeça dele, esperando que a febre baixasse. Era engraçado como um dos poucos cavaleiros que deixavam se abater com uma gripe era Miro. Ele volta e meia aparecia gripado ou febril.

Passados alguns importantes minutos, Kamus percebeu que a febre havia sido controlada. Ajeitou as cobertas em volta de Miro e caminhou até o sofá que ficava em frente à cama. Tirou a blusa branca e colocou o pijama de seda marfim. Estava prestes a deitar quando o grego começou a se mexer na cama, debatendo-se com o cobertor. No instante seguinte, o francês estava ao lado de Miro, segurando sua mão.

– Miro, tudo bem?

– Fica aqui comigo... – ele disse, abrindo os olhos por alguns segundos para logo em seguida fecha-los novamente.

Kamus apenas fitou o grego, o pedido dele ecoando em sua cabeça por instantes preciosos, até que ele resolveu não pensar muito naquilo. Apagou a luz do quarto e deitou-se ao lado de Miro, cuidando para não encostar nele durante a noite.

Ele só esperava que seu subconsciente também levasse aquela vontade dele em consideração.


Shaka abriu a porta do quarto e deixou que Mu entrasse primeiro. Não era um quarto muito luxuoso, tinha uma decoração simples em tons pasteis, típicos dos hotéis, uma enorme e única cama de casal, alguns quadros na parede. Ele corou ao deixar os olhos caírem na cama e estava com a intenção de começar a falar quando o loiro abriu a porta novamente, dessa vez para que o vinho que haviam prometido tomar fosse entregue.

Durante todo o tempo, Shaka percebeu que Mu estava evitando olhar para ele. Aquilo facilitava as coisas, ele esperava pelo menos que o ariano odiasse sua nova postura, sua nova atitude. Mas o fato de ele não falar nada, apenas aceitando tudo aquilo, fazia com que todos seus planos fluíssem mais rapidamente, sem um mínimo de luta.

– Tome um gole, vai se sentir melhor. – ele disse, por fim, estendendo uma taça do vinho para Mu, que estava distraído olhando para os quadros na parede.

Mu pegou a taça, mas não tomou o vinho. Posou-a em cima da mesa perto da parede e suspirou fundo, olhando para Shaka. Viu-se por alguns segundos perdido nos oceanos azuis que eram os olhos do loiro e quase perdeu a fala. Ele era impossível e o que mais tinha vontade era de dizer-lhe o quanto havia sido estúpido todos aqueles anos.

– Não vai beber? – Shaka perguntou, olhando para Mu com um sorriso nos lábios.

– Quero que você me explique tudo primeiro.

– Explicar? O que você acha que há para explicar?

– Isso tudo. – ele mostrou o quarto, parando seus olhos no virginiano.

– Acho melhor mostrar-lhe, Áries. Acho que entenderá melhor visualmente falando.

– Como ass...

Shaka não deixou que Mu terminasse a frase. Encostou o ariano na mesa, ao mesmo tempo em que beijava os lábios que tanto lhe provocaram durante o pequeno tempo que estiveram conversando. Aliás, os lábios de Mu sempre haviam sido uma de suas perdições. Eles eram levemente carnudos e um pouco empinados. Parecia às vezes que o ariano fazia bico quando estava inquieto ou quando alguma coisa não corria da maneira que ele planejava.

Começou com carícias lentas, seus lábios dançando pelos de Mu, esperando que ele se acostumasse com aquela surpresa e que não o repelisse. Quando sentiu a língua ávida de Mu pedindo passagem, ele sabia que aquela era uma luta onde ele já havia entrado como vencedor. Suprimiu um sorriso e partiu para a segunda fase do plano, nunca deixando de beijar Um. Agora que havia começado, nem que quisesse conseguiria parar.

Desceu as mãos pelas costas de Mu, parando logo em suas coxas, segurando-as firmemente e, levantando-o um pouco, colocou-o sentado na mesa de vidro. Mu estava tão tomado de desejo que deixava-se levar por qualquer coisa que Shaka estava fazendo. Nem em seus devaneios mais perversos poderia imaginar que o loiro iria simplesmente agarra-lo daquela maneira.

Sentiu um arrepio correr por toda sua espinha quando sentiu as mãos geladas de Shaka subirem por seu peito, tentando tirar a blusa que usava, e, entrando em contato com sua pele quente, produziram uma sensação gostosa de familiaridade que ele estava sentindo falta. Nunca haviam estado daquele jeito, mas era como se tudo aquilo já tivesse acontecido muitas e muitas vezes.

Shaka desgrudou seus lábios por alguns segundos de Mu para tão somente beijar-lhe o pescoço, marcando a pele alva com seus dentes, como se quisesse provar o gosto dele, para nunca mais esquecer. Empurrou o ariano, fazendo com que ele deitasse na mesa, tirando a blusa preta que ele usava no caminho. O vidro gelado fez com que os mamilos de Mu ficassem ainda mais rijos, fazendo um sorriso indecente bailar no rosto de Shaka.

Assim, totalmente entregue, Mu era ainda mais belo, Shaka constatou. Ficou um bom tempo apenas apreciando o homem sob si, os cabelos cuidadosamente presos, os lábios entreabertos, esperando um novo contato, os olhos verdes, ah, aqueles olhos verdes, enevoados de um sentimento que ele não conseguia identificar. Seria adoração? Desejo? Bom, não queria pensar naquilo, não naquele momento.

Beijou-o novamente, dessa vez, não deixando que Mu o acariciasse nas costas, como ele fizera anteriormente. Prendeu o ariano pelos pulsos, estrategicamente ao lado do rosto dele. Aquela posição era um tanto incômoda, especialmente para Shaka, que queria tocar o outro não somente com seus lábios. Rapidamente soltou os braços dele, o sorriso safado novamente aparecendo quando percebeu que o ariano havia permanecido na mesma posição.

Desceu os lábios lentamente, saboreando o perfume e o gosto de Mu, satisfazendo-o com o sabor particular dele, deliciando-se com aquele aroma que ficava impregnado em seus lábios, em seu corpo. Tomou um dos mamilos entre os dentes, enquanto acariciava o outro com movimentos alternando suavidade e firmeza. Enquanto os lábios faziam o trabalho, suas mãos desciam vertiginosamente para o cós da calça do ariano, onde, habilmente, os dedos desafivelavam o cinto e procuravam passagem. Ouviu um gemido de Mu e levantou-se sorrindo, aliás, aquela havia sido uma constante desde que entraram no quarto: Shaka simplesmente não conseguia parar de sorrir. Era verdade que eram sorrisos furtivos, cheios de malícia e sedução, mas no fundo, era como uma criança que havia ganho o presente que sempre desejara.

– Shaka, você não sabe... – Mu conseguiu dizer pela primeira vez, as costas deixando a superfície fria, sentando-se na mesa. Olhou para baixo e as palavras simplesmente engasgaram em sua garganta. O loiro estava ajoelhado à sua frente, pronto para abrir-lhe a calça. Ele nem percebera que o virginiano já estava sem camisa também, vestindo apenas a calça social marrom, com um dos botões abertos.

Mais rápido que um trovão, Shaka viu-se atado aos olhos verdes de Um. Sua curiosidade era maior que o desejo. Finalmente o ariano resolvera se pronunciar por frases completas e não apenas gemidos. Ele já estava começando a ficar cansado daquilo. Queria o ariano mostrando sua personalidade impulsiva, seu jeito autoritário e desejável.

– Não sei o que, Áries? – Shaka perguntou, parando tudo que estava fazendo.

Mu sentiu como se uma agulha fina penetrasse em seu coração lentamente quando aquele tom frio de Shaka o atingiu. Áries. Aquilo havia virado um habito, mesmo que eles só tivessem conversado por pouco tempo.

– Fale-me. O que eu não sei?

Ainda atordoado, Mu balançou a cabeça negativamente, tanto para apagar o pensamento que lhe ocorrera de que aquele era o maior erro de sua vida, como o de simplesmente poder estar sendo usado pelo virginiano.

– Então vamos continuar. Creio eu que você estava gostando... – Shaka disse, sorridente, as mãos espalmadas no peito de Mu, ele podia sentir o coração do ariano batendo maravilhosamente fora de compasso. Forçou-o novamente para a mesa e encontrou certa resistência. Os olhos, então, se encontraram e ele hesitou pela primeira vez.

– Aqui não. – ele ouviu Mu sussurrar.

– Aqui sim... – Shaka respondeu, no mesmo tom, mordiscando o lóbulo da orelha do ariano, que suspirou profundamente.

Mu não estava gostando daquele tom e principalmente da atitude de Shaka. Se iam dormir juntos, que pelo menos algumas de suas vontades fossem respeitadas. Não estava gostando de praticamente ser tomado em cima daquela mesa, como um qualquer. Não era mesmo a sua imagem de uma noite com Shaka, não depois de todos aqueles anos.

Shaka conseguia sentir toda a irritação e descontentamento de Mu, mas não estava se importando muito. Tinha certeza de que se continuasse daquele jeito, o ariano iria acabar apreciando tudo o que ele tinha a oferecer. Afinal, aquilo era parte do plano. Só não contava com uma familiar onda de calor que lhe invadiu, onda essa que ele não sentia há muito tempo. Era como se seus pés saíssem do chão e ele flutuasse, levado apenas pela gravidade.

No instante seguinte, ele estava misturado aos lençóis macios da cama do hotel, com um Mu estranhamente sorridente, fitando-o com aqueles enormes e vibrantes olhos verdes. O safado havia usado o teletransporte para fazer valer sua vontade, Shaka pensou. Sorriu por um segundo, sentando-se na cama, alinhado com o corpo de Mu, que tinha cada uma das pernas em um lado de seu corpo.

– Fico feliz que tenha começado a participar mais, Áries.

Ele podia jurar que Mu corara.

– Acho que aqui pode ser melhor, não concorda? – Mu perguntou, pensativo, enquanto via as mãos perigosas de Shaka aproximarem-se de sua trança. Rapidamente os fios foram soltos, uma cascata lavanda caindo pelos seus ombros, emoldurando ainda mais aquela obra de arte que era o ariano.

– Com certeza assim ficou melhor. – Shaka disse, ainda fascinado pela imagem do homem à sua frente. Puxou-o para mais perto de si, deitando novamente na cama, levando o tibetano com ele.

Fitaram-se por incontáveis e preciosos segundos, Mu soltando-se por alguns segundos avaliou o que estava para acontecer. Tudo parecia tão surreal que ele viu-se piscando continuamente, esperando que a bela imagem do loiro sob si se dissolvesse a qualquer instante. Shaka, por sua vez, surpreendentemente, via-se na mesma situação. Por mais que sua cabeça lhe dissesse que deveria apenas aproveitar aquela noite de diversão sem procurar qualquer envolvimento futuro, seu coração lhe mostrava que na verdade era o oposto o que ele buscava.

– Lindo...tão precioso... – ele murmurou, os dedos delicados subindo pelo peito desnudo de Mu e parando nos cabelos lavanda que exalavam um cheiro inebriante e deliciosamente sensual. Sorriu verdadeiramente ao ver que o ariano corava furiosamente diante de suas palavras e seus toques.

Mu abaixou-se ligeiramente, as mãos também indo parar no rosto de Shaka, que ele tocou delicadamente, reconhecendo o rosto tão bonito e desejado. Passou os dedos pelas pálpebras, encobrindo as íris azuis. Beijou os lábios com uma delicadeza impressionante, sentindo o sabor do vinho recém bebido junto com um sabor que era tão particular ao loiro. Dos lábios ele passou para as bochechas, seus próprios lábios dançando suavemente por cada espacinho do rosto do virginiano, as mãos ainda cobrindo os olhos do outro.

Shaka podia afirmar que estava em êxtase. O fato de estar de olhos cobertos e as carícias que recebia de Mu o enlouqueciam cada vez mais. Quando pela segunda vez, o ariano aproximou-se para um beijo, o loiro tirou as mãos dos cabelos lavanda e desceu pelo peito do outro, alcançando a calça preta que ele usava. Habilmente abriu o botão que o mantinha longe de um contato mais íntimo com o rapaz.

Ainda aos beijos, Mu mordiscou de leve o lábio inferior de Shaka ao sentir a mão invasora por dentro de suas calcas, tocando-lhe sem o menor pudor. O loiro abaixo de si gemeu baixinho, passando a língua pelos lábios de Mu, procurando um contato ainda maior. Balançou a vasta cabeleira loira, tencionando fazer com que o ariano lhe deixasse observa-lo, mas não obtivera nenhum sucesso.

Teria que tentar uma nova estratégia. Uma, diga-se de passagem, nada digna do homem mais próximo de Deus. Sem desgrudar os lábios de Mu, Shaka conseguiu abrir passagem pela cueca que o ariano usava e tocou seu membro, acariciando ligeiramente, mas com uma pressão considerável. Ouviu um gemido de Mu e rapidamente os lábios quentes do ariano se separaram dos dele. Sorriu ligeiramente quando ele apoiou as mãos no travesseiro, permitindo que finalmente pudesse abrir os olhos.

– Bem melhor assim. Eu quero olhar pra você, Áries. – Shaka disse. Não deixou Mu comentar nada a respeito, pois, no instante seguinte, ele já trocara de posição com o ariano, ficando por cima e voltando a beija-lo com ardor.

Observaram-se por alguns segundos, Shaka deixando o corpo de Mu descansar na cama enquanto ele tirava as próprias calças, sob os olhares famintos do ariano. Sorriu maliciosamente, era exatamente aquele tipo de reação que ele esperava, a falta de palavras substituída pelos olhares significativos, uma característica especial de Mu que ele sempre admirara.

– Por todos os deuses, como você é lindo... – Mu resmungou, a voz sempre tão concentrada, dessa vez perdida de desejo.

Shaka sorriu, deliciado. Deitou-se sobre Mu, os lábios viajando pelo pescoço alvo, deixando-o marcado por seus dentes. Os gemidos de ambos eram absolutamente delirantes e o ariano estava satisfeito com aquela atenção que recebia depois de tantos anos desejando o virginiano.

Mas Shaka tinha outros planos. Sem deixar uma parte do corpo do rapaz sob si sem suas carícias, ele desceu vertiginosamente até alcançar a barriga de Mu. Brincou com o umbigo dele, a língua traçando desenhos indecifráveis, alternados com assopros esporádicos. A reação do ariano quase o levava ao êxtase, mas ele sabia controlar-se melhor do que qualquer um. Enquanto o beijava, aproveitou para descer a calça do rapaz, que ajudou-o cordialmente, levantando os quadris para facilitar as ações do loiro.

A respiração de Shaka acelerou-se involuntariamente quando ele retirou a última peça de roupa que o separava de um contato mais íntimo com Mu. A excitação do rapaz era palpável e ele resolveu ignorar demais preliminares, tocando com os lábios macios na ponta do membro do ariano, que abriu a boca, numa tentativa frustrada de gritar, mas nenhum som foi produzido.

Mu estava perdido, flutuando num mar de sensações que lhe invadiam o corpo, de uma maneira que ele nunca vivenciara. E estava adorando aquilo. Perdeu seus dedos pelos cabelos loiros de Shaka, ajudando-o a movimentar-se com mais rapidez, mas as mãos do loiro encontraram as suas e seus dedos se entrelaçaram. No segundo seguinte, Shaka prendia os pulsos de Mu um de cada lado de seu corpo, impedindo-o de fazer qualquer coisa. Pelo visto, o ariano pensou, Shaka queria que ele apenas sentisse aquilo tudo.

E era exatamente aquilo que Shaka pretendia. Não demorou muito para que seus movimentos se tornassem mais intensos, levando Mu a quase perder os sentidos. Ele sentia que o ariano a qualquer momento chegaria a seu ápice e ele o queria o mais depressa o possível. Ainda tinha planos para o restante da noite e com o outro mais relaxado, tudo seria melhor.

Em poucos minutos, o virginiano, que havia soltado os pulsos de Mu e acariciava a barriga do ariano, sentiu a respiração dele acelerar de maneira incontrolável. Os espasmos que vieram em seguida e o gosto salgado nos lábios eram a resposta mais do que óbvia de que o ariano havia alcançado um orgasmo quase instantâneo, já que isso de fato ocorreu quando ele tocou a entrada do ariano com um de seus dedos.

Limpando os lábios com a língua, Shaka alcançou a boca de Mu, que recebeu o beijo que lhe foi oferecido com a mesma intensidade, seu coração ainda voltando ao normal, os olhos pesando, com uma preguiça gostosa. O loiro sorriu diante da visão à sua frente.

– O que achou? – ele perguntou, retirando alguns fios lavanda do rosto suado de Mu, beijando os pontinhos que ele tinha no meio da testa.

– Inacreditável. – Mu conseguiu murmurar, sentindo um arrepio correr pela espinha ao sentir a excitação de Shaka pressionar contra sua coxa.

– Essa eu nunca havia ouvido... – Shaka respondeu, gargalhando, deliciado com a expressão de ciúme que o ariano demonstrou rapidamente. Alguns segundos depois, ele o olhava com uma expressão curiosa. Teve vontade de perguntar o que significava aquilo, mas no momento a única coisa na qual pensava era no que estava para fazer.

Beijou o ariano com intensidade, a língua forçando passagem, que não lhe foi negada. Mu segurou nos cabelos loiros, afastando os lábios de perto de si. Olhou fundo nos olhos azuis, perdendo-se neles por algum tempo, até que sorriu, maliciosamente. Virou Shaka na cama, ficando por cima dele. Se o virginiano estava esperando alguém inexperiente ou inocente, ele estava muito enganado, era a pessoa certa para jogar aquele joguinho com o loiro.

Sentou-se na barriga de Shaka, ainda sorrindo. Passou uma das mãos por trás de si, tocando o membro do loiro, com movimentos rápidos, intensos. Os olhos azuis à sua frente se fecharam e Shaka mordeu os lábios, mostrando que aquelas carícias eram muito mais que bem vindas.

Surpreendeu-se quando Mu levantou um pouco mais, sua entrada agora roçando perigosamente no membro do loiro, que agora estava de olhos bem abertos, acompanhando toda aquela performance. Segurou nos quadris do ariano, para ajuda-lo, mas recebeu um sonoro tapa, em reprovação.

– Não sou tão inexperiente assim, Virgem... – Mu disse, usando o mesmo tom de voz de Shaka e vendo que os belos olhos do loiro escureceram por alguns segundos. Ele sorriu, baixando lentamente sobre o membro de Shaka, não esperando pela ajuda do loiro.

Uma vez completamente dentro de Mu, Shaka observou com curiosidade e admiração as atitudes do ariano. Suas mãos pousavam cuidadosamente de cada lado do rapaz acima de si, analisando cada expressão que ele demonstrava. Mu, por sua vez, acariciava o peito de Shaka, os dedos alisando os mamilos delicadamente, deixando-os cada vez mais enrijecidos.

Passados algum tempo, os dois pareciam estar em uma prova de resistência. Olhavam-se diretamente nos olhos, mas, ainda estáticos, pareciam desafiar um ao outro para saber quem tomaria a primeira atitude. O suor escorria pela testa de Mu, caindo sobre o peito de Shaka, que parecia estar perdendo a guerra. Jogou a compostura para escanteio e simplesmente puxou o ariano furiosamente pela nuca, colando seus lábios nos dele, impossibilitando-o de falar qualquer coisa. Ao mesmo tempo em que o beijava, levantou os quadris, movimentando-se enfim, dentro do ariano, que mordeu o lábio inferior do loiro, pronto para protestar.

Shaka soltou-o, agora suas mãos voltavam para os quadris de Mu, que ele ajudava a alcançar um ritmo que agradasse a ambos, os olhos verdes nos azuis, expressando o mesmo desejo. Ficaram ali por incontáveis e precisos minutos, até que o loiro resolveu acelerar as coisas, não conseguia mais agüentar aquele ritmo cadenciado, estava prestes a explodir e a culpa era toda do ariano maravilhoso à sua frente.

Mu resistiu como pôde às investidas de Shaka, mas depois de algum tempo, o que mais queria era o ápice, seu segundo naquela noite. E ele não demorou a vir. Com um gemido gutural, o loiro aliviou-se dentro de si, no mesmo instante em que ele o fazia sobre a barriga do virginiano, sem ao menos precisar de estimulação. No instante seguinte, ele caía por cima do rapaz, a massa lavanda de cabelos cobrindo os dois como um cobertor macio e delicado.

Minutos se passaram até que as respirações pudessem ser controladas. Mu foi o primeiro a mexer-se, saindo de cima de Shaka e deitando-se ao lado dele. Percebeu que os olhos do loiro estavam semicerrados, uma expressão de puro deleite cobria o rosto bonito. Sorriu ligeiramente, aconchegando a cabeça no ombro dele.

Shaka suspirou profundamente, adorando o contato da pele de Mu contra a sua. Pensou em convidar o ariano para um banho, mas seu corpo não correspondia a nenhuma de suas idéias. Resolveu deixar tudo como estava. Soltou-se por um segundo do homem ao seu lado, apenas para pegar um lençol aos pés da cama e cobri-los.

Não demorou muito para que Mu dormisse, mas Shaka simplesmente não conseguia. Quando percebeu que o ariano estava perdido em seus próprios sonhos, ele levantou-se cuidadosamente da cama, vestiu-se, escreveu um bilhete e saiu do quarto sem ao menos olhar pra trás.


Ai, finalmente consegui escrever o outro capítulo e publicar esse. Já estava me coçando pra saber o que vocês iam achar. Particularmente, eu acho que esse foi o lemon mais legal de escrever, contando com o de Miro e Kamus na Jogo Arriscado. Queria a opinião de vocês, ok? E antes de mais nada, um obrigado especial à Lili, que tem betado esse fic e me aturado todos esses dias no MSN. Te adoro, amiga!

Hora dos recadinhos, a parte mais legal!

Chibiusa-chan Minamino: sim, dá vontade de apertar o Afrodite cada vez que o Máscara da Morte apronta alguma com ele. Mas eu posso te garantir que nos próximos capítulos vão acontecer coisas legais. Esse fic vai ser uma caixinha de surpresas, assim eu espero. E a história da Saori com o Mu vai ficar ainda pior. Ela não presta! Beijão e obrigada por ler!

Elindrah: aqui está a conversa do Máscara da Morte com o Mu, espero que goste. E sim, eu tinha pensado exatamente em mostra-los com a personalidade um pouco diferente, especialmente o Shaka, que não estava mais morando no Santuário. Afinal de contas, sete anos é muito tempo e as pessoas mudam, não é mesmo? Beijos!

Ia-Chan: obrigada pelos elogios. Brigas fazem parte do universo de Saint Seiya, não é mesmo? Por enquanto eles estão se comportando bem, então até no presente momento, eu acho que rola um final feliz pra todo mundo, mas nunca se sabe...

Mo de Aries: o próximo demorou, mas saiu. E sim, como a Pipe mesma disse, é melhor não provocar o Mu, todos correm o risco de sentirem a raiva do ariano!

Anne : mais uma pro time daquelas que adoram ver os cavaleiros sofrendo...se é isso que você quer mesmo, nos próximos capítulos vai acontecer. Mas claro, com um pouquinho de romance também, porque ninguém é de ferro!

Lili Psique: minha beta querida, pára com essas coisas de segunda preferida...não é pra tanto. E sim, eu vou tentar fazer um final meloso pros dois, mas nem sei como...só sei que esses dois vão alternar entre romance e brigas. Como eu sempre digo, tem muita água pra rolar embaixo das pontes desses relacionamentos. Mas bem, vamos parar desses elogios, você sabe como eu fico. Beijões, fofa!

Lú de Áries: oba...esse vício eu espero que seja no Mu, porque ele merece! LOL...obrigada por ler e ter deixado comentário!

Caliope Amphora: já decidi que eu vou ler as reviews agora com um saco de papel na cabeça, diante desses elogios...fico parecendo um tomate. Mas sim...eu também morro de peninha do Miro, mas ele tem que sofrer um pouquinho pra deixar tudo mais legal. Quanto mais gente com pena dele, melhor. E quanto ao Kamus...ele que me aguarde, ninguém magoa o escorpiãozinho e sai dessa imune...se segura francês! Beijos, querida. Você sabe que as suas fics também são viciantes, especialmente agora que você está atualizando sempre!

Dark Faye: ê, minha mestra em dark fics aparecendo por aqui. A senhorita está intimada a me dar "aulas de sofrimento, mas sem peso na consciência" qualquer dia desses pelo MSN. Beijinhos, obrigada pela review!

Bom, à todo mundo que também lê e não deixa review, um obrigado muito especial. Até semana que vem, vou fazer o máximo pra terminar o capítulo 9 pra postar o 8.

Celly M.