Retratação:Saint Seiya e seus personagens não me pertencem e sim ao retardado do Masami Kurumada. Ele é um idiota, mas pelo menos graças a ele podemos explorar tanto esse universo mal trabalhado. Mas a Liz e o Eric, personagens que aparecem e/ou são mencionados nesse capítulo são fruto da minha imaginação, enquanto a Sukhi é obra da Dark Faye, que me deixou usar sua personagem/alter-ego livremente.
Recadinhos: muito tempo, né? Mas olha eu aqui de volta. Bem, 1000 pedidos de desculpas provavelmente não serão suficientes, mas espero que gostem desse capítulo. Um agradecimento aos meus guerreiros lindos que ainda estão por aqui: Dark Faye, Chibiusa-chan, Litha-chan, Tsuki Koorime, Giselle, Athena Sagara, Musha, Anne, Kitsune Lina, Ophiuchus no Shaina, Arsínoe, Ia-chan, Mey Lyen, Mila Boyd, Lady Yuuko, Natalia e mais a dinda Pipe e a mommy Lien Li, que não deixam me esquecer dessa fic. Também, eu já falei dela, mas não custa mencionar novamente, Arsínoe pela betagem e por tudo nesses últimos meses, assim como minha filhota Ju, que eu amo de paixão. Bem, vamos lá, ignorem meus rabiscos aqui e boa leitura!
Resumo: depois de sete anos longe do Santuário, Shaka volta à Grécia, onde pretende retomar a vida, mesmo que tudo tenha mudado à sua volta. Yaoi com flashback, lemon, um pouquinho de violência. Casais: Shaka/Mu; Miro/Kamus; Máscara da Morte/Afrodite.
Capítulo 17 – Match Point
Desde que conhecera e, conseqüentemente, se envolvera com Shaka, Liz mudara sua maneira de lidar com situações limite. Como boa ariana, não costumava engolir quando alguém a tirava do sério ou magoasse quem ela conhecia. Discussões sempre fizeram parte de sua vida, porém a serenidade do virginiano fez com que aquilo tudo parecesse algo de um longínquo passado. Um que ela não gostaria de relembrar.
No entanto, não era assim que se sentia naquele exato momento, parada em frente à porta de um dos aposentos do Templo de Gêmeos. Toda sua serenidade parecia ter dado adeus desde que chegara à Grécia, principalmente, quando descobrira a casa do pai de seu filho. A história que ficara sabendo ainda na Índia, era por demais perturbadora e mirabolante, mas sabia que conseguiria viver com aquilo, assim que encontrasse Shaka e Eric.
Mas nada havia lhe preparado para encontrar o Cavaleiro de Gêmeos. Ele não era simplesmente como os outros, que a ignoravam. Saga parecia fazer questão de desafiá-la, fosse com palavras, com o olhar ou com seus próprios atos. Uma pessoa poderia classificá-lo como atraente e ela mesma pensou naquilo, mas às vezes ele era apenas... irritante.
Porém, daquela vez, Saga havia ido longe demais, em sua opinião. Ele não havia apenas se intrometido em sua vida, mas também comprometido Mu, justamente o Cavaleiro com o qual ela não queria se envolver em problemas. O ariano a considerava uma inimiga e por motivos óbvios: ele acreditava que ambos lutavam pelo amor do mesmo homem.
E talvez fosse por aquele motivo que ela entrara silenciosamente no Templo de Gêmeos, abrira a porta da sala de armas e pegara os sais que estavam pendurados na parede. Não gostava do que fazia, mas se parasse para analisar aquela situação, estivera fora de si mesma, poderia usar aquilo como justificativa.
Respirou profundamente, sabendo que os barulhos que ouvira só podiam ser feitos por uma pessoa e então nem pensou duas vezes ao empurrar as duas portas de madeira laqueada, escancarando-as.
Saga estava sentado em uma poltrona e aquela parecia ser a única mobília no lugar tão vazio. As paredes não tinham quadros e as cortinas escuras impediam que qualquer luz entrasse ali. Liz achou que até mesmo o som da chuva que acabara de cair era abafado por qualquer outra coisa.
— Fiquei imaginando quando você iria chegar. –a voz do cavaleiro não tinha nenhum tom de ironia ou diversão; muito pelo contrário, parecia extremamente conformado de que aquilo iria acontecer.
Liz não se deixou estremecer por aquelas palavras de Saga. De alguma maneira, ele conseguia surpreendê-la e, infelizmente, mexer um pouco com seu auto-controle. Caminhou lentamente até o Cavaleiro e, somente quando estava frente a frente com o homem, tirou um dos sais da proteção do antebraço.
— Levante-se. Você foi longe demais.
Saga empalideceu. Desde que tivera a breve conversa com Shaka, mais cedo, já estava esperando algum tipo de explosão vinda da parte de Liz. Qualquer coisa. Um tapa, uma discussão. Ele não tivera a intenção de falar tanto, de deixar o virginano saber que Mu era o responsável pelo ferimento da loira, mas havia sido inevitável. Conseguia ouvir o irmão zombando dele, por querer sempre fazer parte de tudo o que girava em torno da rotina do Santuário.
— O que pensa que está fazendo? Liz, isso não são pegadores de salad...
No mesmo instante, Liz pegou a outra arma, escondida em seu antebraço esquerdo. Como se tivesse a súbita vontade de dar um show particular, ela começou a empunhar os sais, fazendo-os dançar por entre seus braços, sem desviar os olhos de Saga. Por fim, ela parou com um deles apontado para o pomo de Adão do geminiano, sorrindo, brevemente.
— Ainda acredita que eu não sei brincar com os pegadores de salada? –perguntou, desafiadora.
— O que você quer?
— Fazer você pagar pelo que fez essa manhã. Tem noção da confusão que criou?
— E quer lutar? Pra me fazer pagar? –diante da ausência de resposta de Liz, Saga sorriu. Aquela garota era realmente estranha, imprevisível e irresistível. E, definitivamente, não sabia com quem estava lidando. — Não vou lutar com você, perdeu a cabeça?
— Medo que eu corte seu rosto? –a ironia na voz dela, nublou as faces de Saga.
— Não lutaria com uma mulher. Nem que ela fosse uma amazona.
— Então tem medo mesmo. Já esperava por isso. –Liz sabia que não era medo o que impedia Saga de enfrentá-la, mas exatamente o oposto daquilo. Ele estava se contendo, porque era um Cavaleiro de Ouro, não um mero mortal como qualquer outro.
Mas até mesmo Saga tinha seus limites. Podia não ter vontade de lutar com uma mulher, mas aquela lhe desafiava, lhe provocava. Fazia de tudo para trazer à tona, mesmo que inconscientemente, o pior lado do geminiano que existia dentro dele.
— Tudo bem, se é assim que você quer. –ele respondeu e Liz percebeu que os olhos azuis simplesmente, mudaram de cor, se tornando... perturbadoramente. "Cereja?", ela pensou, engolindo em seco.
Saga passou por ela, ignorando-a por um segundo. Liz refreou-se de olhar para trás, mas sua curiosidade foi maior e ela viu-se seguindo os passos do geminiano para fora do aposento. Não demorou muito para que ele retornasse, já sem a camisa preta que vestia, mantendo apenas a calça da mesma cor. Os cabelos estavam presos e, nas mãos, ele estava com o mesmo par de sais que a loira.
— Me dê seu melhor, Liz. Estou esperando. Não era isso o que queria? –ele disse, ao retomar a posição, bem à frente da mulher, que não tinha certeza se havia feito a coisa certa ao provocar o Cavaleiro.
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Olhos verdes, extremamente, arrependidos fitavam os azuis, cheios de fúria. Como na Guerra Fria, não havia vencedores, não havia ações, apenas ameaças silenciosas. Medo, culpa, traição, mentiras, arrependimento. Todos aqueles sentimentos corriam pelos dois pares de olhos, não sabendo em qual deles se fixar.
Mu estava saindo do templo quando a porta foi aberta por Shaka. Não pôde deixar de receber o loiro, mesmo que sem palavras, como se o estivesse vendo pela primeira vez. Não havia como negar que o loiro lhe tirava o fôlego, perturbava seus sentidos, mexia com suas emoções. Sentia-se um tolo por ter perdido tanto tempo ignorando os sentimentos que tinha e agora que tinha a oportunidade de recuperar o tempo perdido, simplesmente, não podiam ficar juntos.
E, provavelmente, pelo motivo pelo qual o virginiano se encontrava bem ali, naquele momento.
— O que deseja, Shaka de Virgem? –tentou manter a voz o mais breve e serena o possível, não por ter medo do loiro, mas simplesmente, porque não confiava em si mesmo. "Como eu sou patético", pensou.
— Desejar? –Shaka devolveu a pergunta, se aproximando perigosamente de Mu, que, no reflexo, recuou um passo para dentro do Templo. — Provavelmente, ele não vai ser realizar, mas sempre posso tentar, não é mesmo? –completou, adentrando a casa de Áries, imprensando o ariano contra uma das pilastras.
Mu acreditou, por um segundo, estar em algum tipo de filme barato de romance, daqueles que Afrodite ou Marin costumavam assistir, onde um, geralmente rude grandalhão tomava a mocinha pelos braços e a beijava à força. Podia antecipar o gosto dos lábios de Shaka, canela e lírios, e já estava com os olhos fechados, sentindo o corpo quente em cima do seu contrastar com a frieza do concreto da pilastra do templo.
Era tão palpável a antecipação, assim como seu desejo, que não percebeu que Shaka o observava com o mesmo sentimento de ira de antes. Não havia nenhuma modificação em seu rosto, embora por dentro ele estivesse balançado com a entrega do ariano. "Não dessa vez, sem mais jogos", imaginou, fazendo a primeira coisa que veio à sua mente.
Mu fechara os olhos, não querendo imaginar nenhum tipo de coisa além das mensagens silenciosas que o corpo de Shaka enviavapara si, quando sentiu sua respiração falhar. Aquela poderia ser uma reação extremamente normal causada por um beijo do virginiano, ele sabia bem, mas havia algo de errado ali. Não era apenas falta de ar, era como se estivessem tentando... estrangular-lhe.
Abriu os olhos, imediatamente encontrando a frieza das íris azuis de Shaka, penetrando-lhe como duas adagas afiadas. Seu coração partiu em inúmeros pedaços e ele apenas colocou as mãos por cima das do virginiano, não para livrar-se, mas numa tentativa de carícia.
Como se tivesse saído de um transe, o toque de Mu o acordou e Shaka pôde ver o homem à sua frente. O ariano estava com as faces pálidas, os lábios arroxeados, quase do tom de seus cabelos e aquilo assustou-o. Raramente, se deixava levar pelas emoções, mas estar ali com o ariano e lembrar do real motivo pelo qual havia saído de sua própria casa, simplesmente, o faziam perder a cabeça. Junto aquilo tudo, não podia negar que a presença do Cavaleiro ali, entregue a um mero toque seu, era por demais perturbador.
— Vê o que me faz fazer, desgraçado? –Shaka perguntou, soltando o pescoço de Mu, que tossiu inúmeras vezes, acariciando a área pressionada, tentando fazer com que o sangue voltasse a correr para seu cérebro.
— Você... perdeu... a cabeça, Shaka. –o ariano respondeu, com dificuldades, escorregando pela pilastra. O virginiano apenas o observou, com uma das sobrancelhas levantadas, como que em tom de desafio.
— Não me engana com seu teatro, Mu. Levante-se do chão. É patético para um cavaleiro como você se rastejar com um simples toque. –Shaka refreou-se do impulso de seu tolo coração para checar se o ariano estava bem. "Liz, devo pensar nela e em Eric".
Mu fechou os olhos em dor, não querendo acreditar nas palavras de Shaka. Provavelmente, a mulher dele havia feito um bom trabalho em jogá-lo contra o ariano. "Não poderia fazer melhor", pensou, maquiavelicamente, sabendo que havia sido um golpe sujo da parte da outra, mas ao mesmo tempo, muito inteligente. No entanto, ao mesmo tempo que a dor lhe dilacerava, outro sentimento surgia: raiva.
— Ela fez um ótimo trabalho, Shaka. –Mu disse em um suspiro, os olhos verdes que antes demonstravam tristeza, agora eram desafiadores.
— O que está falando? –o loiro perguntou, dando um passo para trás, abrindo espaço para Mu, que se ajeitava, como se nada tivesse acontecido segundos antes.
— Ela manipulou você direitinho. Nunca pensei que fosse fazer isso porq...
Shaka não permitiu que Mu prosseguisse. Novamente, suas mãos fizeram caminho para o pescoço do ariano, que, daquela vez parecia estar preparado. Ele segurou os pulsos do virginiano, virando-o de encontro à pilastra. Agora, era seu corpo que prendia o do loiro e não o oposto.
A sensação de poder era inebriante e Mu pretendia desfrutá-la até a ultima gota, porém ao encontrar os olhos de Shaka, certo de que veria neles pelo menos um pouco da paixão que ele mesmo tentava esconder, murchou com a indiferença estampada ali.
— O que pretende fazer agora, Mu? Bater em mim? Me ferir com algum dos seus objetos?
Imediatamente, Mu o soltou, ficando apenas encostado em Shaka. As respirações de ambos apenas eram compartilhadas, a do ariano menos compassada que a do virginiano. Por um momento, ele imaginou como haviam chegado aquele ponto. Muitos eram os caminhos, mas apenas uma resposta vinha em sua mente, uma que explicava aquilo tudo.
Liz.
Odiou-a ainda mais, se aquilo fosse possível.
— O que veio fazer aqui, Shaka? Por que não fala de uma vez?
Shaka apenas empurrou-o para longe, saindo daquela situação de desconforto. Era inútil dizer que seu corpo não regia aos toques ou a proximidade do outro. Era inútil simplesmente dizer que não queria Mu perto de si, porque ansiava aquilo mais do que qualquer coisa, sempre ansiara. E não havia como mudar aquilo. Porém, nada justificava o que havia acontecido.
— Você feriu a mãe do meu filho. Atentou contra uma mulher que não podia se defender. –disse, de maneira calma.
— Isso não é...
— Não me interrompa, ou, por Buda, eu acabo com você.
Mu engoliu em seco, pela milésima vez naquele dia. Shaka sempre o surpreendia e, daquela vez, ele tinha vontade de sorrir. O indiano parecia uma leoa a proteger sua cria, de tão preocupado que ficava com Eric e, conseqüentemente, com Liz. Tentou ignorar os alarmes de aviso em sua cabeça, que lhe faziam lembrar que o virginiano já havia lhe dito que a loira não era nada além de mãe do menino, mas eles voltavam com força total, confundindo-o, brincando com seu coração.
— Você é desprezível. E covarde. Eu nunca imaginei que você pudesse fazer isso. Ela não tinha como se defender e você é um Caval...
Daquela vez, foi Mu quem impediu Shaka de prosseguir. Estava cansado, sentia-se derrotado. Sua mente estava mais do que confusa, pedia que ele fizesse alguma coisa, que simplesmente não deixasse o loiro falar nada, que mostrasse a ele que estava errado.
Então ele o fez.
Lábios finos cobriram a boca delicada de Shaka, em um beijo demandante. A língua quente de Mu procurou passagem, logo encontrando a do virginiano e assim iniciaram uma dança por controle. As mãos haviam esquecido de gestos rudes e agora procuravam apoio em ombros e cinturas, braços e roupas, em uma frenética e coreografrada bagunça.
Shaka estava confuso, se podia usar aquele adjetivo para descrever o que estava sentindo. Dividido talvez fosse algo mais apropriado. Não negava que queria sentir mais do que apenas os lábios de Mu e da língua do outro procurando pela sua. Mas também não podia enganar-se e ignorar o que o ariano havia feito a Liz. E aquele conflito o estava torturando.
Mu parecia ter encontrado uma boa maneira de fazer com que Shaka acreditasse em si, que não se deixasse levar pelos joguinhos de Liz, que simplesmente entendesse que ele o queria. Não importava de que maneira, eles apenas deveriam estar juntos. E não existiria mulher ou homem no mundo que pudesse separá-los. Estava cansado de brigar, queria apenas ser feliz.
— Isso não justifica nada. –Shaka disse, deixando seu lado prático falar, se afastando abruptamente de Mu, que gemeu em protesto.
— Ela não pode ter te enfeitiçado tanto! –Mu gritou, os cabelos lavanda se revoltando, caindo sobre seus ombros, cobrindo-os.
— Não, Mu. –Shaka começou, calmamente, em tom amargo. — A única pessoa que me enfeitiçou um dia foi você. E acreditar nesse feitiço foi o maior erro da minha vida.
O ariano sentiu como se estivesse sendo enforcado, novamente. Aquelas eram as palavras mais duras que ouvira de Shaka e tinha a certeza de que não haveria mais nenhuma possibilidade de ficarem juntos, não com toda aquela raiva que o loiro tinha dele.
— Você pode falar isso, mas seu coração diz outra coisa.
— O que você sabe sobre o coração? Por anos eu fui apaixonado por você e você nunca notou. –Shaka disparou, sua raiva aumentando, consideravelmente. Mu deveria ficar em silêncio e não discutir com ele, aquilo era desnecessário e cansativo.
— Eu sei que errei, mas sempre há tempo para consertar os erros. –Mu completou, não deixando Shaka pensar ou falar nada. Beijou o loiro, ignorando os braços que tentavam protestar, afastando-o, mas ele foi mais forte. Depois de algum tempo, o virginiano finalmente cedeu, correspondendo senão da mesma maneira, com mais impetuosidade. Trocavam aquelas carícias, esquecendo-se das palavras, de pessoas, importando-lhes apenas a pura existência um do outro.
Porém, Shaka parecia resistir mais aos ataques de Mu e aquele foi mais um claro exemplo. Ele segurou os pulsos do ariano, empurrando-o para longe. Ficou alguns segundos apenas observando o rapaz de cabelos lavanda, que o olhava de maneira intrigante. Seu coração estava disparado, nunca deixava de se surpreender com o outro, seja como fosse.
— Nada disso vai adiantar. Eu quero que você fique longe de mim, de Liz e, principalmente, do meu filho.
— Ele gosta de mim. –Mu disse, penoso, percebendo que aquela era a primeira vez que Shaka mencionava o nome de Eric. Antes, era somente sobre Liz que o loiro praguejava.
— Eu não quero uma pessoa perigosa ao lado dele. Você atacou a mãe dele, podia fazer o mesmo com ele.
— Eu... eu nunca machucaria Eric... como pode...
— Deixei de acreditar em você, Mu. Estou avisando. Não se aproxime da minha família.
Mu virou o rosto, escondendo, assim, a tristeza diante daquela afirmação. Família. Shaka, Eric e Liz eram uma família. Algo que ele nunca poderia ser, nem que quisesse. Não sabia como ainda encontrou forças para continuar falando.
— Você gosta de mim, Shaka. E vai precisar de mim algum dia desses. Então, diferente do que pensa, eu estarei aqui.
— Não vou procurar por você. Você... atacou a minha Liz. –Shaka disse, trêmulo, irritado por ter ouvido aquelas palavras de Mu, sabendo que elas eram a mais pura verdade. O ariano nunca deixara de ler sua alma com perfeição.
— Aquela mulher é perigosa, eu sinto, Shaka. Mas sim, você deve ver isso sozinho.
— É triste que você precise atacar alguém para me ter.
— Eu não... –Mu ameaçou protestar mais uma vez, mas Shaka o interrompeu com os passos na direção da porta.
— Não me importa. Contanto que mantenha a distância.
E foi com uma batida seca da porta que Mu ficara entregue mais uma vez à solidão, não entendendo muitas coisas, mas com uma única certeza. Shaka ainda iria voltar para ele e ele não precisaria fazer nada para ajudar para que aquilo acontecesse.
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— Eu não devia ter feito isso. –Saga aproximou-se rapidamente de Liz, tocando o ombro desnudo, que, cortado, sangrava profusamente.
Liz apenas sorriu, ajoelhada no chão, sentindo a aproximação do Cavaleiro, que tocou a região ferida. Imediatamente, encolheu-se, os sais largados no chão.
Haviam começado a lutar, como poderiam esperar, mais análises do que golpes. Conscientemente, Saga procurava refrear qualquer tipo de ataque, sabendo muito bem seu potencial de luta. Os sais eram suas armas preferidas quando não combatia usando o Cosmo, então seria uma briga desigual, especialmente contra uma mulher.
Porém, Liz não parecia ser uma mera oponente do sexo feminino. A pequena demonstração que ela dera mais cedo era prova viva daquilo. Existia algo intrigante escondido por trás dos olhos verdes da mulher assim que ela manejara os sais, como se sentisse falta do metal contra sua pele e do tilintar das armas quando se tocavam. Era como se ela já os conhecesse de longa data.
E aquilo ficou visível quando ela partiu para cima dele, os olhos verdes ficando mais escuros, os lábios com um sorriso desafiador. Sim, ela estava em casa, ele concluíra, defendendo-se quando uma das armas passou raspando perto de seu ombro. E, sem dúvida, a mulher tinha talento. Ou praticara por anos a fio ou possuía um dom natural para aquilo.
O que parecia ter começado como uma pequena disputa, pela parte de Liz, transformara-se em uma exibição de defesa e ataque, a loira provocando o cavaleiro, querendo que ele a enfrentasse e este, mantendo-se absolutamentediscreto quanto a seus golpes. Saga não pretendia lutar, achava desnecessário e estúpido resolver algo daquela maneira, mas sabia que cada um resolvia as tensões de uma maneira. "Por mim, faria algo bem mais proveitoso", pensou, não importando-se em deixar um sorriso malicioso aparecer em seu rosto.
E aquele pequeno descuido pareceu ser fatal a Saga. Sabia que não deveria se descuidar, mesmo quando não estava exatamente em uma batalha. Tão absorto que ficara com seus pensamentos inoportunos que só sentiu o metal gelado atingir sua bochecha, seguido do gosto amargo de seu próprio sangue.
Algo dentro de si então simplesmente ligou. Como que movido pela força estranha de seu próprio signo, Saga sorriu, colhendo o sangue com os dedos e levando-os aos lábios. Liz deu um passo para trás; parecia estar vendo o cavaleiro dos olhos cereja tão perigosos que a fitara há algum tempo atrás.
— Vamos brincar, mocinha. –ele disse, ajeitando os sais por entre as amarras negras de seus braços, firmando-os mais. Liz engoliu em seco, não gostando daquele tom de voz, mas sabendo que não poderia correr de um desafio.
A loira defendia-se bem, Saga constatara. Mesmo com todos seus golpes rápidos, não usando o Cosmo, obviamente, ela ainda assim conseguia evitar que qualquer um de seus ataques a atingisse. Porém, nem tudo era tão perfeito e Liz também errara, quando perdera-se no homem à sua frente, bailando com os sais, caminhando em sua direção. "Saga é lindo", ela pensou.
Ela conseguiu desviar o rosto da direção de um dos sais que fora lançado, mas o ombro não escapou do golpe, que, felizmente, não perfurara, mas fizera um grande corte, bem junto ao osso. Ela caiu, imediatamente, mais pelo susto de ter sido atacada daquele jeito, do que pelo golpe em si. Sempre aprendera com seu sensei que não se deveria lançar um sai se não tivesse a intenção de matar, de finalizar um combate.
— Me pegou de surpresa. –ela disse, respirando, profundamente, soltando os sais no chão.
— Eu não deveria ter feito isso. –Saga repetiu, mais para si do que para a loira, sentindo uma enorme culpa pelo que havia acontecido.
— Sim, deveria. Eu estava te atacando, você apenas se defendeu.
— Mas...
— Algo me diz que você não falaria desse jeito se eu fosse um homem.
— Tem razão. Não daria a mínima. –confessou e Liz sorriu, imediatamente.
Ela levantou-se do chão, Saga no mesmo momento colocando um dos braços em torno da cintura dela, que olhou-o, novamente, levantando uma das sobrancelhas. Trocaram olhares, brevemente e, por fim, ela apenas sorriu.
— Não estou morrendo, Saga. Pode me soltar.
— Você disse meu nome.
— Não se acostume. –ela completou, corando, ligeiramente.
— Precisa de ajuda?
— Não, preciso que me solte.
— Sua raiva não passou. Quer voltar a lutar?
Liz sorriu.
— Pelo contrário, estou bem melhor, por isso não aceito a luta. Se bem que, você com o pegador de saladas é extremamente perigoso.
Saga ficou sério novamente e fitou-a, logo soltando-a. Algo passou em seus olhos e Liz sabia que não era um mero arrependimento. Havia algo a mais ali, algo que ela não queria nem precisava analisar.
— Nem pense em se desculpar ou eu me obrigo a lutar novamente. –ela disse, ajeitando o macacão preto ligeiramente, tentando não demonstrar sentir dor quando fez um movimento mais brusco com o ombro ferido.
— Me deixe pelo menos fazer um curativo. Não posso curar como Shaka e Mu, mas sei mexer com ataduras e anti-séptico. É o mínimo que posso fazer, senão amanhã vou receber uma visita do Shaka, não é mesmo? –ele disse, displicentemente, só então percebendo a besteira que havia falado. Surpreendentemente, Liz apenas sorriu.
— Por que não pode curar como eles? –ela perguntou, mudando o foco do assunto.
— Nunca tentei. Não me parecia importante. –na verdade, ele nunca tivera muito tempo para pensar nos outros, só em si mesmo. Por isso utilizar o Cosmo para curar alguém sempre lhe parecera tão inútil.
— Por que não tenta agora? –ela perguntou, gentilmente, arrancando um olhar incrédulo por parte de Saga.
E, não achando que haveria nada demais, ele tentou. Juntou as mãos, formando uma concha, por cima do ombro da loira, arrancando uma divertida e dissimulada expressão de dor de Liz, que logo sorriu. Acontecera rápido demais e Saga surpreendeu-se ao ver o efeito de seu trabalho. A pele lisa e sem sinal de que fora cortada. Em muito tempo não se sentia tão satisfeito consigo mesmo.
— Obrigada. Eu acho que devo ir agora. –Liz murmurou, surpresa por ter visto uma emoção tão genuína no rosto de Saga. "Não, Liz. Controle-se."
— Quer que eu cure o outro? –Saga perguntou, referindo-se ao ferimento feito por Mu.
— Não. –ela sorriu, caminhando até a porta. –Algumas cicatrizes devem ser mantidas para que nos lembremos do que não devemos fazer.
A loira caminhou lentamente até a saída, sabendo que estava sendo acompanhada à curta distância por Saga. Porém, evitou procurar os olhos dele, sabendo que algo havia acontecido silenciosamente entre eles. Liz podia sentir que ele a lera muito bem naqueles golpes, que aquilo não vinha apenas de uma simples mulher.
— Sabe, eu conheço garotas como você. –ele disse, como se tivesse lendo seus pensamentos.
— Não, não conhece.
— Sim, conheço. Saí com montes delas. –completou, malicioso.
Liz então virou-se, os olhos azuis de Saga faiscando em sua direção, como se esperasse por algum movimento seu. Ela apenas sorriu, amargamente.
— Nenhuma mulher é como eu, Saga de Gêmeos. Nenhuma.
E seguiu em direção ao templo de Virgem.
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Assim que colocou os pés no Santuário, Miro sabia que algo de errado estava acontecendo. Talvez fosse pela incrível tempestade que começara subitamente a cair, ou apenas porque seus sentidos estavam extremamente atentos a qualquer movimento ou mudança.
Não podia negar que estava feliz de voltar à Grécia. Era sua terra natal, mas não só por aquele motivo. Sentia falta dos aromas matinais da cidade e da confusão que os amigos sempre lhe proporcionavam, os pequenos problemas, os treinamentos diários. Não poderia esquecer, também, de Kamus.
Por mais que estivesse na cidade do francês, não conseguia mais associá-lo aquele lugar, a não ser que, obviamente, estivessem juntos. Porém, depois do fiasco do dia de seu aniversário, não queria mais pensar em Paris e no quê poderia ter sido seu aniversário.
Estava de volta, renovado. Não pretendia mais ser o Miro de antes, morto, morno, sem graça, apenas sobrevivendo, como Shaka uma vez lhe falara. Ele era o Escorpião; era poderoso e forte, orgulhoso e belo. Não podia deixar-se abater por um francês qualquer. "Mesmo que ele seja o homem mais lindo que eu já tenha conhecido em toda minha vida", pensou, sorrindo ligeiramente.
Consultou o relógio. Já virara um hábito olhar os ponteiros e deparar-se com as pequenas gemas azuis, sempre sendo lembrado do presente de Kamus. Obsessivamente, podia sentir o cheiro do perfume característico do francês na pulseira de couro, como se ele a tivesse usado antes de presenteá-lo, aquele pequeno fato aumentando ainda mais sua vontade de, simplesmente, se jogar nos braços do Cavaleiro de Aquário.
Mas, não, ele decidira. Tudo seria feito calmamente. Cuidadosamente. Meticulosamente. De uma maneira como ele nunca havia feito nada antes. Decidira que Kamus merecia aquilo, mesmo depois de tudo o que acontecera entre eles. "Se quer jogar pesado, dois podem jogar esse jogo, mon ami", foi seu pensamento, enquanto subia as escadarias do Santuário, deixando a chuva molhar seu corpo e sua bagagem, sem se importar.
Porém, inversamente proporcional aos seus passos, sua coragem e impetuosidade foram diminuindo, conforme ia se aproximando do templo de Aquário. Ao chegar à casa de Shura, tremeu e parou no meio do caminho, não sabendo se deveria prosseguir. O que Kamus iria pensar? Escorraçaria-o de lá? Agiria com indiferença? Beijaria-o? Aquele último pensamento fez com que algo engraçado dentro dele remexesse, as famosas borboletas violetas (segundo Afrodite), que só o francês conseguia despertar em si, fazendo uma perfeita revoada dentro de seu estômago.
— Até quando vai ficar parado aí, Escorpião? –a voz de Shura interrompeu-o e Miro tremeu, olhando para a porta do templo de Capricórnio. O espanhol estava acompanhado da namorada, Sukhi e ambos sorriam amistosamente para ele.
— É...bem, eu... deixa pra lá. –o grego murmurou, dando as costas, descendo o caminho que havia feito com tantos planos, rapidamente.
Shura e Sukhi apenas sorriram, continuando abraçados. Já fazia algum tempo que o Cavaleiro de Capricórnio não via o de Escorpião tão estranho, mas imaginou que ele deveria ter mudado depois da viagem para Paris. "A viagem!", Shura pensou, lembrando-se de que não havia sequer dado as boas-vindas ao amigo. Só não se sentiu mais culpado porque a mão da namorada subiu por sua barriga lentamente, parando em cima de seu coração.
— Não se preocupe. Ele sabe que você gostou da chegada dele.
Diante da incredulidade de ter seus pensamentos praticamente lidos, Shura observou a mulher, com seus olhos negros, questionadores. Ela apenas sorriu.
— Quem não ficaria feliz em ter Miro de volta? Ele é lindo!
Shura apenas bufou, contrariado. Sukhi não era mesmo de dar ponto sem nó.
Já instalado em seu templo, algum tempo depois, Miro andava de um lado para o outro na sala de estar, imaginando o que deveria fazer. Não queria lembrar muito da última vez que estivera ali, as recordações da última briga com Kamus ainda estavam muito vivas dentro de sua mente, assim em como cada um dos objetos daquele cômodo, como se eles tivessem sido testemunhas do ataque que sofrera. "E de certa forma, foram."
— Mas eu não posso pensar nisso. –disse para si mesmo, erguendo os ombros, fitando sua imagem no vidro do relógio pendurado na parede.
De todos os planos que havia arquitetado, provavelmente o que estava a ponto de dar prosseguimento era o mais arriscado, o mais ousado e o que mais combinava com sua personalidade. Podia ver as engrenagens de seu próprio cérebro, assim como as do de Kamus, trabalhando, imaginando o porquê de tudo o que ele estava fazendo. Iria apenas seguir um conceito básico, algo que sempre estivera consigo, desde que conseguira sua linda Armadura de Escorpião: se queria alguma coisa, não desistiria, até tê-la consigo.
Talvez fosse por aquele motivo que esperou durante uma hora completa para fazer novamente o caminho até o Templo de Aquário. Escolheu bem o momento, desviando propositalmente da casa de Shura, utilizando-se da passagem alternativa que tinham, saindo bem em frente à morada de Kamus.
Suspirou profundamente, analisando-se. Estava muito bonito, todo vestido de preto, os cabelos escovados e soltos, brilhando intensamente. A chuva havia dado uma pequena trégua, como se quisesse dar sua contribuição silenciosa aos seus planos e ele agradeceu por aquilo. Ajeitou a camisa mais uma vez, de certo por nervosismo e então seguiu em frente.
Consultou novamente o relógio, Kamus já deveria estar dormindo. "Ou com alguém", pensou, arrepiando-se diante daquele pensamento. Definitivamente, não fora uma boa escolha para tê-lo, já que sua confiança, mais uma vez, o abandonara.
Novamente, os olhos azuis procuraram os ponteiros da mesma cor, no relógio. Estava ficando tarde e seu nível de nervosismo, equiparado ao de uma adolescente que nunca havia sido beijada, aumentava consideravelmente. Seria melhor que tentasse aquilo no dia seguinte. Kamus odiaria ter seu sono ou qualquer outra coisa interrompida, seria uma boa idéia outro dia, sim, seria, concluiu, por fim.
Virou as costas para o templo, mas congelou quando teve a impressão de que alguém o observava. Esquadrinhou o exterior do Templo de Aquário, a procura de alguma coisa, mas não encontrou nada. Esperava que o francês pudesse estar ali para facilitar seu trabalho, mas nada era simplesmente fácil para ele.
Porém, se não podia contar com a ajuda de outras pessoas, usaria algo seu para se fazer notar. Sorriu, satisfeito por idéias surgirem em sua mente quando menos esperava.
Desafivelou o relógio, olhando-o uma última vez, enquanto caminhava na direção da porta do Templo. Mais uma vez, teve a sensação de estar sendo observado, mas não procurou o possível dono dos olhares. Simplesmente colocou o relógio ali, preso na maçaneta dourada, como se mandasse um aviso ao francês.
Eu cheguei.
Estou aqui.
Não vai mais fugir.
Depois disso, Miro foi embora, sem olhar para trás. Talvez se esperasse por alguns minutos, teria visto Kamus descendo do terraço do Templo, onde estivera o tempo todo, escondido atrás das cortinas, observando-o curiosamente. Teria visto o francês abrir a porta lentamente e retirar o relógio que estava pendurado na maçaneta.
Mas, acima de tudo, teria visto a reverência e os olhos lacrimosos dele, apertando o presente contra o peito, só não sabia-se se em sinal de tristeza ou emoção por ver Miro ali, novamente.
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"Aquela mulher é perigosa, Shaka".
A estranha e inoportuna frase de Mu não saía da cabeça de Shaka, por mais que ele quisesse. Sua vontade era de voltar lá e fazer o ariano engolir cada uma daquelas palavras, mas sabia que não teria forças para lutar contra o outro, que parecia estar exercendo domínio sobre si. Mesmo que não quisesse admitir, os beijos trocados o afetavam de maneira tremenda, a ponto de quase fazer com que ele esquecesse do real motivo de ter ido lá em um primeiro momento. Mu era viciante e ele sabia daquilo, por mais que tentasse ser forte.
Talvez fosse por aquele motivo, por ainda acreditar um pouquinho que fosse no ariano, que Shaka estava ali no quarto de Liz, olhando tudo a sua volta, como se procurasse algum indício de que o que o outro lhe dissera fazia algum sentido.
Fitou longamente a sacola de viagem que a mãe de seu filho trouxera consigo. Não era enorme, mas talvez comportasse tudo o que ela precisava. Nunca entendera bem o motivo do sumiço de Liz, anos antes. Ela simplesmente fora embora, em uma manhã, não encontrando-a no quarto ao lado da casa deles, na Índia.
A mala fechada oferecia uma tentação, algo proibido e ele sabia que não tinha o direito de abrir, de procurar qualquer coisa. Seu senso prático lhe mostrava que a atitude de Mu era a de alguém desesperado em busca de qualquer coisa que impedisse que ele acreditasse na mãe de Eric.
Mas não daquela vez. Liz era uma boa mulher, que deveria ter tido seus motivos para ir embora. Não era alguém cruel e Mu estava, mais uma vez, confundindo-o.
Ainda assim, ele não resistiu a tentação e talvez fosse por aquele motivo que abriu a mala, olhando, primeiramente, entre as roupas da loira, sorrindo quando encontrou algumas fotos tiradas de quando Eric era bebê. Porém, seus dedos encontraram algo que ele não esperava, enrolado em um dos véus que Shaka a presenteara uma vez. Algo que fez com que ele empalidecesse e que a afirmação de Mu vibrasse fundo em seu cérebro.
"Aquela mulher é perigosa, Shaka."
— Não. Não pode ser. –ele disse, baixinho, uma sensação estranha dentro de si.
Liz entrou no Templo de Virgem correndo. Não fazia muito tempo que a chuva voltara a cair e ela se molhara no caminho com os pequenos pingos, mas logo quando um verdadeiro dilúvio começou a desabar, nada podia impedir-lhe de correr, procurando logo sua casa.
Sorriu, soltando os cabelos que estavam presos em um rabo de cavalo. Olhou a sua volta, imaginando se Shaka já voltara do templo de Áries e aquilo apagou um pouco seu sorriso. Apesar de estar se sentindo mais tranqüila em relação a Saga, o problema entre Mu e o pai de seu filho parecia estar longe de ser resolvido facilmente. Ela precisava fazer alguma coisa para não se sentir tão absurdamente culpada por tudo o que aconteceu.
Caminhou rapidamente até o primeiro quarto do corredor, para verificar se Eric estava bem. O menino dormia profundamente, enrolado na manta que havia comprado dois dias antes, como um anjo. Ficara algum tempo parada ali, com aquele típico sorriso das mães para seus filhos, deixando a sensação de estar novamente ao lado do menino, tomar-lhe por completo.
Saiu calmamente de lá, resolvendo pegar algumas peças de roupa no quarto, antes de tomar um banho quente. As luzes do cômodo foram acesas tão logo ela colocou os pés dentro do lugar e fechou a porta. Assustou-se por um segundo, mas sua expressão logo suavizou quando viu Shaka sentado em uma poltrona, ao lado de sua cama. No entanto, sentiu o sangue fugir de seu rosto, imediatamente, quando viu sua mala, aberta e percebeu que Shaka segurava um objeto metálico em uma das mãos.
A pistola prateada com detalhes perolados, que ela não tivera coragem de se desfazer. Havia muitas memórias ruins escondidas ali, mas algumas realmente boas também, não podia negar.
O coração estava mais do que disparado. Ele não deveria ter visto aquilo. Não naquela hora. Olhou para todos os lugares, menos nos olhos azuis do loiro, que a questionava com os mesmos. Por fim, ele levantou-se, caminhando em sua direção.
— Liz, não consigo imaginar porquê você tem isso dentro de sua mala, mas deve ser por um bom motivo. –a voz dele era suave e a loira teve vontade de chorar. "Se ele soubesse..."
— Shaka, eu posso explicar. Me dê apenas um tem...
— O quê aconteceu? Por que tem uma arma guardada dentro da mala? Você precisa de proteção? Foi por isso que fugiu?
— Shaka, eu... –ela tentava explicar, tentava racionalizar, mas o virginiano não parecia parar de falar.
— Foi por isso, querida, você não precisa se preocupar. Aqui ninguém vai fazer mal a você, não precisa de armas de fogo, somos cavaleiros. Mu nunca mais vai perturbar... –ele murmurou. Tudo o que queria, já havia decidido, era simplesmente viver sua vida ao lado de Eric e de Liz, como era quando moravam na Índia, não se importando se uma grande parte de seu coração estava despedaçado por aquela decisão. Não poderia mais viver com as mentiras de Mu, não depois de descobrir uma coisa sobre o passado de Liz. Ela devia ter sofrido muito para carregar uma arma consigo.
— Não é isso, Shaka! –ela falou mais alto, tentando interromper o monólogo que ele fazia. Conseguiu, pelo menos, soltar-se do abraço.
— Liz, ele não vai mais fazer nada. Você pode jogar isso fora, eu entendo que você devia precisar de proteção, algo de ruim aconteceu, mas eu vou...
— Cala a boca, Shaka! –ela gritou, com lágrimas nos olhos. — Cala a boca! Eu não preciso de proteção!
— Mas então... –ele perguntou, atordoado, nunca havia presenciado aquele tipo de explosão por parte dela.
— Eu sou uma assassina, Shaka. Uma assassina!
Continua...
N/A: Oh, alguém esperava por isso? Como prometido, todas minhas fics no ar, com capítulos novos nesses últimos dois meses. Agora posso colocar planos de atualização constante em ordem e não deixar vocês à deriva. O que acham? Dessa vez, realmente, com as reviews, eu posto mais rápido. Só depende de vocês apertarem esse botãozinho aqui embaixo de submit a review! Desculpem pelo destaque à Liz, mas ela é personagem importante do que planejei, mas daqui em diante, mais yaoi, afinal, um certo Escorpião, está de volta, certo? Beijoquinhas em todos por todo o apoio non-stop, pelas noitadas no MSN e por pedidos nas minhas outras fics. Finalmente, aqui está minha resposta a tudo isso. Obrigada mesmo! (em 11/04/2006)
