Ploc! Ploc! PLOOOOCCK!

Eu ouço.

Você ouve! Você ouve, ouviiiiiiIIIIIIIIIIII!

Eu não paro de ouvir, minhas unhas rasgam o colchão.

PLOOaaacKKPloPloaack!

Haha! Quando teu pai descobrir! São trinta e três trintooownniiitrÊÊÊEÊ PÊNIS

Onde está sua mãe? Onde estará?

Meus pensamentos... Quem são essas pessoas? O teto está tão próximo, estou suando, estou respirando pela boca.

BLUACLKLEJJDKAJADPLOOAACKMWWAAAAA! PLOc. Frio, trinta três graus.

Te estuprou, não te disse?

Xana tá molhada, é bebê? Vai ter bebêEEÊÊÊ!

PLoc Ploach PlockkiPloac.

[Está tendo uma crise?]

Eu estou na minha cama. É aquela voz de novo, eu reconheço. Eu olho para aquele coelho branco estranho com anéis nas orelhas compridas. Seus olhos são como sangue.

[O remédio não está mais surtindo efeito, mas ainda é possível pôr um fim nisso se você se tornar uma garota mágica.]

Ele quer te estuprar, hahaha! Trinta e três pLOAck trinta.

Minha boca está aberta. Eu gritei? Eu não consigo parar de ouvir. Eu me levanto, sinto cheiro de gás.

Vai morrer. Vai morrer! VAI MORRER!

Eu soco a minha própria cabeça. Dói, eu espero que ele esteja sentindo também. "SAI! SAI!"

[Eu sei que em sua condição fica difícil acreditar, mas eu sou real e eu ofereço algo que te pode ajudar.]

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZPLOORAAAAAXKCK!

A porta se abre. É a porta do meu quarto. Um homem passa por ela, ele está usando uma máscara de pele.

Trinta.

É da sua mãe!

Trinta. Trinta. Trinta e três botões, trinta e três corações, trinta e três padres. Trinta. Trinta e três Deus.

"Merri?"

Eu o ouço falar. Eu reconheço a máscara daquele homem. É a face do meu pai.

Papaizinho chegôô~~~ Você sabe o que ele quer.

Plo! Plo! Plo!

"Você está tremendo." Ele se aproxima, está com um copo com um líquido transparente e pílulas. "Rápido! Engula isso!"

É veneno!

Você sabe o que acontece quando for dormir, não sabe?

PLOONHNUEHUHAEOAJKKKLLLLLLLLHHIHIIIIHHIHIHIIII!

Você não é mais uma criança, agora você é melhor que a sua mãe. Por isso que ela não está mais aqui.

"Abre a boca!"

Ele segura a minha mandíbula com força. Dói. Eu soco ele, eu acho que acertei a costela. Ele é forte demais. A pílula entra primeiro depois vem a água, direto para minha garganta. Eu me afogo.

Só morrer agora.

TTRRRRRIIIIIIIIIIIIIII

Ele tampa a minha boca com a mão. Eu estou chorando. Um pouco de água escapa, mas eu ainda não consigo respirar. Ele solta a minha boca e me abraça com força.

Tá sentindo o pau del-

"MERRI! MERRI! Se lembra da montanha!"

Montanha?

Eu ouço a minha voz, eu estou no topo de uma montanha, a paisagem é feita de formas vazias e sem detalhes. É somente eu e o mundo, como o meu papai ensinou, eu acho que ouço vozes, mas é apenas o vento pregando uma peça em mim. Eu sinto que a minha cabeça está leve como as nuvens, meu cérebro formiga.

Eu me lembro que eu não estava sozinha, mas aquele ser não estava mais no chão do meu quarto.

"Você viu aquele coelho estranho de novo?"

Eu não respondo. Eu o abraço, eu quero chorar no peito do meu pai e soltar tudo. "Por quê... Por que a mãe não tá aqui?"

Ninguém consegue colocar a mão sobre a minha cabeça como ele. Eu sinto que ele quer chorar, mas ele é forte. "Ela ficou cansada, mas ela vai voltar, minha princesinha. E-Ela vai voltar quando você ficar melhor."

Eu afundo as pontas dos meus dedos no corpo dele. "Mas tá ficando pior. O médico diss-"

"Você não precisa de internação. Ainda deve dar de aumentar a dosagem do remédio ou trocar por outro. Nós veremos isso."

Eu sinto o peito dele estufar mais e por mais tempo. Nós ficamos em silêncio, mas o silêncio já não me traz mais alívio, pois eu sei que a qualquer hora eu não vou conseguir parar de ouvir. "Pai, talvez seja melhor que eu vá..."

Ele se afasta e olha bem nos meus olhos. A expressão dele é de dor, de alguém que entende o que realmente quis dizer, talvez melhor do que eu.

O semblante do meu pai muda, ele move o olhar dele para cima, como se estivesse vislumbrando algo distante. Ele volta a olhar para mim, sorrindo. "Uns amigos montanhistas me contaram isso. Sabe o que acontece com a montanha depois que nós a conquistamos?"

Eu balancei a cabeça. Eu só tinha subido uma montanha com o meu pai, apenas uma vez, e nem sei ao certo se aquilo era uma montanha, pois não se comparava com os que ele havia escalado. Tudo isso se tornou passado por causa de mim.

"Ela não se move," ele diz, "ela continua lá, imponente, e nós a respeitamos tanto quanto antes de escalarmos e os outros que virão também a respeitarão, pois ela continuará sendo o que é quando dermos as costas."

Eu ainda posso ouvir o vento, a força majestosa acima das nuvens. Ela ainda está lá, enquanto nós estamos apenas de passagem.

"Merri, minha filha, essa doença não é parte de você. Essas vozes vêm e voltam, mas você continuará sendo você. Você não irá conceder nada a eles, nada, e eles não poderão fazer nada a você além de dar as costas e partir."

Eu me sinto mais tonta e com sono. A montanha me carrega em seus braços e eu flutuo no céu macio, o vento, tão poderoso anteriormente, acaricia minha face, levando consigo as minhas lágrimas contidas.

Obrigada papai.


O poder da amizade

No dormitório, as noviças recebiam as últimas instruções de Madre e Revenante.

"... e fiquem vigilantes," a irmã ruiva disse, "se notarem que alguém está com a gema muito corrompida, não hesitem em me informar. Fiquem calmas, pois ainda temos algumas sementes no caso de emergência."

"VOCÊ MENTIU PRA NÓS!"

Todos acabaram olhando para uma noviça loira.

Especialmente Maya, que já havia visto sua amiga furiosa tantas vezes desde que elas estavam ali. "Alice..."

Madre notou que aquela noviça estava olhando apenas para ela. "Eu... Eu menti?"

"Nós só aceitamos vir pra cá porque você disse que tinham sementes, que vocês iriam cuidar da gente." Os olhos de Alice estavam lacrimejados e ela arfou. "Agora não vai mais ter semente pra nós. EU SABIA! SUA PUTA DESGRAÇADA!"

"HEY!" Revenante rangeu os dentes e arregalou os olhos. "Fecha essa matraca."

"Calma." Madre fez um gesto para a outra irmã e respondeu, "É razoável que você esteja se sentindo assim, mas é como eu expliquei: alguém tomou as nossas sementes sem autorização, mas estamos seguros de que elas ainda estão nas nossas instalações. Agora mesmo, as outras irmãs não estão medindo esforços na procura delas."

Alice estremeceu, abaixando a cabeça.

Maya se aproximou. "Está tudo bem..." No entanto, antes que Maya pudesse tocá-la, ela saiu correndo.

Surpreendendo a todos, incluindo Revenante. "Pra onde você tá indo?"

Alice entrou no túnel e desapareceu.

"É pra ficar no dormitório!" A mulher negra estava prestes a correr atrás dela.

"Deixe-a."

Revenante parou e olhou para Madre.

"Ela não tem para onde ir," a afirmação de Madre soou tão fria quanto a verdade, "é melhor que ela fique sozinha para pensar. Se formos tentar conversar com ela agora, só a deixaremos com mais raiva."

Revenante olhou mais uma vez para o túnel e depois de volta para a outra irmã, assentindo.

Madre retornou sua atenção para as outras noviças. "Nós estamos cuidando da situação. É melhor que vocês fiquem nesse andar. Não usem magia, descansem e encontrem algo para se distraírem. Se precisarmos da ajuda de vocês na busca, nós avisaremos."

Com as irmãs deixando o dormitório, logo começaram os cochichos entre as noviças.

A maioria era sobre as sementes, mas Maya pôde ouvir alguns sobre Alice.

Ela precisava encontrar a sua amiga.

Se assegurando que ninguém mais estava prestando atenção nela, Maya saiu discretamente do dormitório e caminhou pelo túnel.

Acostumada a estar sempre acompanhada, as paredes curvadas agora tinham um silêncio opressor.

[Alice. Alice. Alice!]

Não havia resposta e Maya seguiu em frente. O túnel alcançou uma bifurcação, felizmente, ela já havia memorizado o caminho.

O objetivo era o refeitório, era o lugar mais provável que Alice poderia estar e também o mais seguro sem que chamasse a atenção de alguma irmã no caminho. Ela olhou para a faixa vermelha pintada na parede, só para ter certeza.

O túnel fazia uma curva e Maya viu a sombra de uma pessoa na parede. Alguém estava vindo na direção contrária, podia ser Alice ou alguém que pudesse tê-la visto.

Contudo, quem apareceu era alguém que ela menos esperava.

A garota de cabelos roxos com nuances vermelhas parou logo que a viu. Estava surpresa, mas não demorou muito para sua face pálida apresentar apenas apatia.

Maya tentou se lembrar, mas ela não havia prestado atenção se Evie estava no dormitório quando irmãs vieram para fazer o aviso.

"Oi," Evie falou.

"Oi..." Maya respondeu, titubeando, "você... ahm... as irmãs vieram no dormitório pra dizer que vai haver racionamento de sementes."

"Eu tô sabendo."

O semblante da garota de pele escura congelou. "Hã?"

Evie suspirou e baixou levemente a cabeça, fechando os olhos e coçando o cenho. "Eu ouvi as irmãs falando sobre isso enquanto elas tavam indo ao dormitório."

"Ah... sim..." Com um silêncio embaraçoso se instaurando, Maya resolveu perguntar, "V-Você por acaso viu a minha amiga?"

Evie voltou a olhar para ela, erguendo as sobrancelhas. "Amiga?"

Maya desviou o olhar. "Alice, você deve saber quem é."

"É claro." A voz de Evie ficou menos apática. "Então ela tá longe."

Maya franziu as sobrancelhas. "Eu não sei, você não a viu no refeitório?"

"Não, eu não a vi."

Ela sorriu educadamente para a garota pálida. "Obrigada, mas eu acho que irei checar mesmo assim." E seguiu caminho.

No entanto, Evie a bloqueou com o próprio corpo.

"O qu-"

Ela continuou usando o corpo para empurrar Maya e prensar ela contra a parede do túnel, enquanto agressivamente entrelaçava os dedos de sua mão direita com os da mão esquerda da outra garota.

"O qu-" De repente, Maya sentiu um formigamento dentro de seu peito, seguido de uma dor queimante, e estava se espalhando.

"Não grite, apenas reze que ninguém apareça pra te ajudar," Evie disse, "eu juro que te mato se isso acontecer."

Aquela garota estava sorrindo. Estava mais difícil respirar e as pernas estavam fracas, Maya juntou as forças para falar, "O que... O que tá fazendo?!"

"Você sabe muito sobre isso, Maya." Evie apertou mais a mão da outra garota. "Existem vários tipos de venenos. Alguns afligem o corpo, outros afligem a mente e há também aqueles do qual afligem a alma."

A luzes do túnel incomodavam olhos enquanto Maya tentava encarar a sua algoz. "O que... quer dizer?"

"Eu inoculei um feitiço na sua gema." Evie estava mais séria do que antes. "Dentro de alguns minutos, você irá perder os sentidos e sua gema irá se degradar rapidamente. Mesmo que usem sementes, ela não permanecerá pura por muito tempo. Eu dou menos de uma hora pra que você se torne uma bruxa."

Maya franziu o cenho.

Evie ficou em silêncio, apenas olhando para ela, esperando.

Mas então, Maya balançou a cabeça, semicerrando o olhar e afirmando, "Você não vai fazer isso."

A garota pálida sorriu. "Oh... Eu não irei?"

"Há câmeras de segurança..." Os lábios estavam estremecidos, mas Maya retribuiu o sorriso. "Eles irão... saber o que aconteceu de verdade. Eles tão procurando... por um traidor e você... ah... você não tem pinta de ser uma suicida."

"Já tá caindo a máscara?" O sorriso de Evie passou a ser mais pretensioso.

"Quê...?" Maya balançou novamente a cabeça, mas agora em confusão.

"Eu vou te contar o que 'aconteceu'." Evie ergueu as sobrancelhas. "Eu tava voltando do refeitório quando me deparei com uma noviça desesperada. Ela não havia recebido bem a notícia sobre o racionamento de sementes e a amiga dela havia sumido. Eu notei que a gema dela tava muito escura e pedi pra ela ver uma irmã, mas ela recusou. Como eu não queria arriscar que ela se transformasse em uma bruxa no meio de outras noviças, eu a subjuguei e tentei convencê-la a mudar de idéia, mas no final ela acabou desmaiando. Todo mundo sabe que eu sou meio áspera com as pessoas, assim como todo mundo sabe que Maya, infelizmente, é uma coitadinha, sempre dependente dos outros. Ela simplesmente não aguentou a pressão."

Maya ficou de queixo caído.

"Eles não sabem que a minha magia é capaz disso, ou você acha que eu sou idiota em revelar todos os meus segredos pras irmãs? Eu tô certa que você não é, portanto eu tô usando o seu joguinho contra ti."

Abaixando a cabeça, Maya perguntou com uma voz cansada, "Por que... você se importa com isso...?"

O face sorridente de Evie se tornou um reflexo de raiva em um instante. "Porque sim e você ainda tem uma chance de viver se me obedecer."

Maya cogitou se não era melhor morrer para acabar com a dor, mas o imperativo de sobrevivência acabou prevalecendo. "O que você quer de mim?"

"Eu quero que você me conte qual foi o seu desejo."

Ela voltou a olhar para a sua agressora.

A raiva de Evie estava mais contida, mas sua voz era de nojo, "Eu já tenho uma idéia do que seja, só tô te dando a chance de ser uma boa menina. Sinta-se livre em tentar me enganar, não que isso tenho funcionado até agora."

Maya sentiu a ânsia de perguntar o porquê daquela garota se importar com isso, porém ela apenas disse, "Eu desejei ter uma amiga."

Evie virou a cara e suspirou, então engoliu seco.

Maya não sabia o que aquilo significava. Será que ela iria morrer? Ela disse, "É a ver-"

A garota pálida agarrou a face da garota de pele escura com a outra mão.

Maya arregalou os olhos diante daqueles dentes rangidos.

"Sim Maya! Esse é o teu desejo." Evie usou de todo o sarcasmo. "parabéns, Alice é a tua escrava pessoal."

Maya se esforçou para tentar balançar a cabeça. "E-Ela não é a minha escrava!"

Evie chegou ainda perto, cuspindo na face da outra garota a cada palavra. "Cê tá prestes a morrer e ainda tá de palhaçada comigo?! Ela é uma porra de extensão de ti! Ela fala o que você pensa e age conforme você mesma gostaria de agir, enquanto você faz o papel da donzela em perigo. Alice nem deve ser a sua primeira 'amiga', quando ela finalmente se ferrar, outra vítima adota você."

A sua última exclamação parecia haver tirado toda a sua força, Maya estava perdendo o fôlego rapidamente. "Se... isso fosse verdade... por que ela fugiu... por que ela não tá comigo?"

Evie soltou a face de Maya e viu que ela não conseguia mais manter a cabeça erguida. "Porque você não confia mais na Irmandade."

Maya respirava o mais rápido que podia na busca desesperada de seu corpo em aliviar a agonia.

"Você tem medo, como deve ter mesmo. Tipinhos como você não duram muito por aqui. Eu só tenho pena que Alice vai pagar o mesmo preço."

Com o seu coração batendo em seus ouvidos, Maya balbuciou, "A... Alice é... minha amiga de verdade... minha melhor amiga... eu... eu revelei meu desejo... pra ela... ela... aceitou."

"É claro que ela vai aceitar!" A expressão de Evie era irreconhecível, cheia de emoções. "Ela disse tudo o que você queria ouvir."

"A... A..." A língua ficou amortecida assim como as pálpebras, Maya não sabia mais se estava respirando ou o coração batendo. Entregue a gravidade, sua face estava enterrada no corpo da outra garota, enquanto tinha a sensação de estar sendo sugada por um nexo de dor, destinado a explodir.

Ok, você venceu, você está certa, apenas me mata, eu mereço, apenas me mata, apenas me mata, me mata...

De repente, a dor se foi, seguida por outra, muito mais tolerável de suas nádegas atingindo o chão duro. Maya respirou e sentiu que sua mão estava livre.

Evie havia se afastado. "Eu não vejo malícia, somente uma covarde convencida de sua própria ilusão. Não tô com mais humor pra te matar."

Babando, Maya não se importava mais em entender aquela garota, mas ela queria ser entendida. "Não... Ah... ilusão..."

"O que disse?"

Maya ergueu a cabeça e procurou o par de olhos roxos. "Eu sei o que meu desejo fez... mas Alice é a minha amiga, eu... eu quero que essa amizade seja verdadeira."

Evie cruzou os braços. "Se Alice é sua amiga, faz o seguinte: se torne uma bruxa."

Maya franziu o cenho.

"A situação tá piorando mais e eu acho que ainda é só o começo. Haverá sacrifícios em prol da Irmandade, mas você tem a escolha de fazer isso por ela. Talvez isso ponha fim na maldição que impôs a ela."

"Maldição..." Maya ficou com o olhar perdido.

A garota pálida deu as costas. "Faça alguma coisa digna ao menos uma vez na sua existência miserável." E partiu.

O túnel ficou silencioso ao ponto da garota caída poder ouvir o seu nariz entupido, mas não as lágrimas que desciam suavemente pelos seus pômulos, se encontrando sob o queixo tenso antes da derradeira queda. Maya se levantou ainda com dificuldade e olhou para a sua gema, ela estava manchada, porém ainda havia pontos cintilantes.

Nossas memórias. Alice, de uma para a outra, nós realmente somos as melhores amigas.

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Madre e Revenante chegaram em um grande espaço com estantes contendo caixa e mais caixas. Inquisidor, Generalíssima e as outras irmãs estavam abrindo cada uma delas e checando o conteúdo, assim como Matryoshka.

Assim que o homem viu as duas, ele perguntou, "Notificaram as noviças? Como elas reagiram?"

"Bem até," Revenante disse, "ao menos pra maioria delas."

Madre complementou, "Elas estão sendo cautelosas, elas ainda não sabem como vai impactar esse racionamento e, honestamente, nem nós."

Revenante olhou para as outras irmãs trabalhando na busca, "Alguma coisa?"

"Não... e estamos quase terminando aqui." Inquisidor olhou para caixa aberta ao lado dele e pegou um saco de macarrão de dentro dela. "Cada caixa foi checada mais de uma vez por uma pessoa diferente, para garantir que ninguém iria fingir em não encontrar. É praticamente certo que esse não é o lugar onde as sementes estão."

"Eu encontrei!"

Surpresos, os três olharam quando ouviram Sortuda.

A coelhinha tirou da caixa uma caixa marrom menor. "Balas de chocolate!" Ela a abriu imediatamente e começou distribuir, jogando os doces. "Pega Nano! Eu sei que você gosta."

A criança deixou que as balas atingissem o seu peito enquanto fazia uma 'cesta' com as mãos para capturar elas na queda. Seus olhos brilharam literalmente na forma de uma cruz azul clara, enquanto ela sorria. "Ohhh! Obrigada!"

Invasora tentou pegar as balas que vinham em sua direção, mas as suas mangas extra compridas tornava isso em um desafio. "Oh não..."

Matryoshka lidou com os deleites voadores abrindo bem os bolsos de seu casaco.

Já Generalíssima não se moveu, deixando os doces caírem no chão, com um olhar de desaprovação. "Isso foi comprado para uma ocasião especial."

"Bem..." Sortuda fez uma careta, desviando o olhar, e deu de ombros. "A gente tá em uma ocasião especial, só num é necessariamente boa."

"Hmmm..." Generalíssima olhou para as balas espalhadas no chão. "Você tem razão."

Sortuda franziu a testa. "E-Eu tô?!"

Com um semblante cansado, mas ainda observando aquela cena, Inquisidor comentou para Madre e Revenante, "O próximo lugar que iremos procurar é na central de dados, é no mesmo andar."

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A porta abriu e o grupo foi recebido pelo ar frio da sala. As torres de caixas pretas tinham um constante som de ventiladores e as luzes piscantes mostravam que os servidores estavam operacionais.

Como espaço era pequeno, as irmãs permaneceram aglomeradas, mas isso não ajudou muito Sortuda, que estava esfregando vigorosamente ambos os braços. "Ow Nano, não dá pra fazer um aquecedor pra gente?"

"Nada de magia," Inquisidor disse prontamente.

"Ah..." Batendo os dentes, Sortuda abaixou a cabeça.

Generalíssima falou, "Não há muito o que procurar por aqui."

"Eu discordo." Inquisidor olhou para Nano e Invasora. "Vocês conseguem abrir os chassis dos servidores sem precisar desligá-los?"

Invasora assentiu. "Eles foram projetados para isso. É possível até remover placas de memória e componentes de armazenamento de dados."

"Vamos fazer isso!" Nano, seguida por Invasora, foi até as máquinas. Os chassis eram apenas encaixados, sendo fácil a remoção

Isso feito em cada computador, seguido de uma checagem minuciosa de Inquisidor, mas não havia nada ali além de fios e circuitos.

Olhando para os cantos do teto, Revenante perguntou, "Alguém pode me explicar por que a gente não tem câmera aqui mesmo?"

"Sim, eu não entendo muito dessas coisas," Madre disse, "eu também gostaria de saber."

Generalíssima respondeu, "É o protocolo."

Inquisidor foi mais generoso nas palavras. "Esses servidores contêm informações sensíveis de toda Irmandade, incluindo os perfis das irmãs. Periodicamente, eles sincronizam com as outras central de dados do mundo, mas isso não é mais verdade desde que Washington pediu para nos desconectarmos para evitar tentativas de encontrar a nossa localização."

"Certo..." Revenante franziu as sobrancelhas. "E o que isso tem a ver com as câmeras?"

"A senha é muito preciosa," Generalíssima afirmou, "e as câmeras abririam oportunidades para alguém que não tem autorização tomar conhecimento dela sem que nós saibamos."

"Como uma garota mágica com magia similar ao da Invasora." Inquisidor olhou para a garota asiática. "Peço perdão por estar usando você como exemplo."

Ela balançou a cabeça. "Não é necessário, eu estou ciente dos motivos para essas restrições."

"Ué?" Sortuda fechou um olho e coçou cabeça, se esforçando para pensar. "Ela pode entrar literalmente nos computadores."

"Eu posso obter os dados," Invasora explicou, "mas eles estariam ilegíveis, pois tudo está cifrado. Eu não tenho idéia do que há aqui, mas certamente se isso cair em mãos erradas, seria uma ameaça para a Irmandade."

Um baque. As irmãs olharam para a fonte daquele som.

Matryoshka estava dando pulinhos. "Interessante, é oco."

Generalíssima arregalou os olhos. "QUEM DEIXOU ELA ENTRAR AQUI?!"

"Чё? Estão falando de mim?" Matryoshka fez questão de mostrar que suas mãos estavam nos bolsos. "Eu apenas segui vocês. Eu não vejo problema com todas vocês aqui, eu nem cheguei perto dos computadores."

"Revenante," Gerenalíssima disse.

"Claro." A mulher negra se apressou para empurrar a garota mágica mascarada para a porta. "Se mexe."

Matryoshka protestou, "Por que toda essa violência? Era só pedir!"

Sem dizer nada, Revenante abriu a porta deslizante.

Antes de deixar a sala a força, porém, Matryoshka ainda tinha algo para anunciar, "O chão é oco!"

A porta fechou segundos depois que Revenante saiu também.

Acompanhado do som dos ventiladores, Inquisidor não demorou para perguntar, "O que há abaixo de nós?"

"É onde estão os cabos de energia e os cabos da rede local," Nano disse, "é um espaço bem apertado."

Ele assentiu. "Me mostre."

"Ahnn..." Nano gesticulou para as outras irmãs. "Pessoal, se afastem." Ela se ajoelhou no piso, composto de grandes lajotas de poliestireno. As frestas entre as lajotas eram largas os bastante para colocar os dedos e a criança usou isso para poder levantar uma delas.

Todos viram que logo abaixo estava o chão de concreto e os cabos agrupados, bem organizados com amarras, formando grossos tubos coloridos.

Nano sorriu. "Como podem ver..."

Inquisidor se ajoelhou. "Me dê uma lanterna."

"Oh... claro..." Nano estendeu a sua manopla e uma pequena nuvem cinza metálica coalesceu. Ela logo se solidificou, gerando a ferramenta desejada.

Sortuda fez um beiço. "Agora magia é permitida?"

Generalíssima fitou ela intensamente.

A coelhinha levantou os braços. "Tá, tá, eu sei, eu sei... Eu não sou burra."

Com a lanterna em mão, Inquisidor inclinou sua cabeça e torso para dentro da abertura e começou olhar em cada canto, puxando os cabos.

"Cuidado!" Generalíssima avisou, "você vai acabar desligando os servidores."

Inquisidor não respondeu, ainda concentrado na busca.

Após uma certa espera, Generalíssima comentou, "Vai ser necessário remover todo o pavimento."

"Não será." Inquisidor se levantou. "Tudo está muito limpo e vazio, os cabos seguem ao longo da parede e não obstruem a visão."

Nano assentiu, orgulhosa. "Foi feito um bom trabalho."

"Você tem certeza?" Generalíssima semicerrou o olhar.

Ele ofereceu a lanterna. "Quer ver?"

Ela aceitou sem hesitar e fez o mesmo que Inquisidor havia feito.

As irmãs ficaram observando Generalíssima se arrastando na abertura e havia um certo peso no ar. Madre suspirou e acabou notando Invasora olhando para ela por um momento, com os seus olhos de gelo, e depois a Sortuda também, suas mãos próximas dos coldres dela.

Generalíssima se levantou, seu semblante já dizia tudo.

Madre quebrou o silêncio, "Então nós terminamos a busca aqui?"

Inquisidor assentiu levemente, "Alguma sugestão do próximo local?"

Generalíssima olhou para ele, sua voz em tom de suspeita, "Acho bom nós fazermos uma visita no segundo 'lar' de Matryoshka."

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A sala era bem iluminada. Um painel ocupava uma parede inteira, com botões, alavancas e muitas etiquetas em russo coladas sobre ele. Uma grande tela apresentava um esquema de uma cápsula e alguns canos conectados a ela, com informações de monitoramento sendo atualizadas constantemente.

"Entrem! Entrem!" Matryoshka se posicionou na frente daquele painel, de braços abertos. "Aproveitem a oportunidade para quem ainda não teve de comtemplar um dos frutos de nossa grande parceria. Com a minha expertise, e com os seus recursos e trabalho, nós temos um reator nuclear de sais fundidos plenamente operacional! Ele é capaz de gerar até quinze megawatts por hora de energia limpa e segura."

Inquisidor foi direto até o painel, mais especificamente em uma portinhola. Ela a abriu e se deparou com um painel elétrico.

"É claro." Matryoshka colocou as mãos no bolso. "Nós podemos procurar pelas sementes também..."

Todavia, não havia na sala muitos lugares onde se poderia ocultar o que eles buscavam.

"Precisamos checar a sala do reator," Generalíssima disse.

"Sem problema." Matryoshka caminhou até a saída. "Eu abro a porta para vocês."

Todos haviam retornado ao corredor principal do andar inferior da base, diante da imensa porta de metal com avisos de perigo.

"Hmmm..." Madre ergueu sua mão esquerda com o anel, pronto para usar. "Não é necessária uma proteção?"

"Esses avisos são para os idiotas," Matryoshka respondeu, enquanto inseria o código de acesso no painel, "nós somos uma ameaça maior para o reator do que ele para nós."

Assim que porta começou a abrir, um contínuo e forte barulho de máquina veio da sala.

"QUÊ QUEEE ÉÉÉ ISSOOOO?!" Sortuda tampou as suas orelhas.

A voz de Matryoshka soou nas mentes das irmãs. [Pessoal, por causa da turbina nós teremos que usar telepatia.]

A sala era bem espaçosa, era necessário para que o maquinário pudesse caber. Uma cápsula de sete metros de altura ficava pendurado acima de uma piscina seca. Alguns canos estavam conectados com a cápsula e iam para outros compartimentos próximos da turbina, e muitas varetas alinhadas estavam no topo da cápsula.

Inquisidor podia sentir o intenso calor emanando da cápsula, não parecia ser prudente chegar mais perto. [O que há dentro desses canos?]

A garota mágica mascarada pôs as mãos nos bolsos. [Apesar da sofisticação desse reator, a mãe da modernidade continua sendo o vapor. Quando não é água, é um fluído complexo composto de sais.]

Ele apontou para cápsula. [É possível esconder algo dentro daquilo?]

Matryoshka se virou para ele, sem dizer nada.

Os outros na sala também não ousaram dizer algo, sentindo que já haviam visto aquele filme.

Inquisidor ficou irritado. [O que foi?]

Matryoshka balançou a cabeça. [Isso me fez lembrar de uma vez em que duas colaboras iniciantes na União resolveram fugir do trabalho se escondendo em um depósito contendo rejeitos radioativos de um de nossos reatores. Elas se deram conta do erro em questão de minutos, quando começaram a vomitar. Horas depois, a pele e o cabelo delas começaram a cair, como uma casca de uma fruta podre. Por três semanas, elas foram espécimes vivos muito úteis para estudos de anatomia muscular.]

[Entendo...] Inquisidor olhou para Madre. [Mas nada que um feitiço de cura não possa resolver.]

[Parece que você foi muito teimoso em não trazer o cérebro hoje.] Matryoshka voltou a olhar para cápsula. [O fluído lá dentro está em alta temperatura e é extremamente corrosivo. A não ser que você acredite também que o nosso ladrão quisesse se livrar das sementes, ao invés de possuí-las.]

[Já chega!] Generalíssima começou a andar pela área. [Vamos procurar aonde puder.]

Dividindo em dois grupos, eles procuraram envolta de cada cano, atrás de cada maquinário e em cada canto dentro da piscina sob a cápsula, já que Matryoshka deixou claro que era seguro.

E nada foi encontrado.

De volta ao corredor principal, todos aguardaram a porta se fechar.

Invasora massageou as orelhas. "Eu estou surda..."

"Oh sim," Madre concordou enquanto fazia o mesmo, "esse reator é tão poderoso, fico com medo se um dia ele explode."

"Никогда! Никогда!" Matryoshka levantou o dedo e o brandiu agressivamente. "Esse reator foi projetado para não ter as deficiências de um reator nuclear convencional. É o futuro! Não é como essas piadas de suicida conhecidas como hidrogênio e plasma, muito menos essas deploráveis energia renováveis baseado em recursos não renováveis, que colocariam qualquer civilização cem anos para trás se fossem adotadas além de-"

Inquisidor segurou o braço dela e o forçou para baixo. "Ok, nós entendemos."

"Todo esse papo de energia me deu uma fominha." Sortuda passou a mão na barriga.

Revenante assentiu. "Nós deveríamos fazer uma pausa."

"Não antes darmos uma olhada no silo," Inquisidor afirmou.

Fazendo Nano arregalar os olhos. "Vocês vão procurar lá também?"

"Eu e Nano estávamos lá quando ocorreu o roubo," Invasora disse, "eu não creio que o ladrão iria se arriscar em esconder as sementes lá."

"Eu disse que vamos procurar em cada canto dessa base!" Inquisidor foi duro com as palavras. "Se esse ladrão conseguiu enganar as câmeras, ele pode muito bem ter feito o mesmo com os nossos sentidos."

Nano abaixou o olhar. "A busca levará dias..."

"Então é melhor que comecemos cedo," o homem concluiu.

Sendo corroborado pela Generalíssima. "Sim, não vamos desperdiçar tempo."

E por Matryoshka. "Sim, sim, eu gostaria de fazer essa visita."

Generalíssima olhou para a garota mágica russa.

"Ou você tem alguma objeção?"

"Nenhuma..." Generalíssima levemente cerrou o olhar. "Desde que Revenante fique de olho em ti."

"Ah... Eu já amo a companhia dela!" Matryoshka assentiu. "As caras que ela faz me entretêm."

"Como é que é?!" A mulher negra a encarou.

"Vamos!" Inquisidor levantou a voz, deixando claro que não iria esperar por ninguém.

As irmãs e Matryoshka o acompanharam com pressa, deixando Revenante para trás.

Exceto Sortuda. "Você não devia se deixar levar pelas palavras dela tão fácil. É o jeito dela."

Revenante tensionou os seus músculos. "Ela que enfie o jeito dela no cu, se ainda tiver um..."

Era um longo caminho até o silo e os sons dos passos ditavam a tensão entre os membros. Invasora olhou para Nano, a criança não tirava os olhos do homem que liderava o grupo.

[Invasora.]

Era a voz da Generalíssima, mas ela notou que a sua líder não havia olhado em sua direção e ninguém mais parecia ter ouvido aquilo. [O que posso fazer por ti?]

[Depois eu quero ter uma conversa particular contigo.]

A garota asiática segurou a respiração. [Entendido.]

A pesada porta dupla de metal se abriu lentamente e Madre expressou seu maravilhamento. "Nossa... Como está grande."

"Faz muito tempo que você não vem aqui," Invasora disse para ela.

"Sim." A ruiva assentiu. "Vocês ainda estavam preparando essa área. Eu nunca imaginei que em um dia na minha vida eu estaria diante de algo que pode chegar ao espaço."

Generalíssima olhou para Matryoshka, a garota mascarada mantinha o silêncio.

Inquisidor entrou no silo, seguido pelos outros, e olhou para as máquinas paradas. "Então você não está usando magia, Nano."

"Conforme me pediram," a criança respondeu em tom de desapontamento.

"Assim que encontrarmos as sementes, você poderá recomeçar." O homem não olhou para Nano, sua atenção ocupada em avaliar o lugar. "Nós temos um longo trabalho pela frente."

A porta dupla já estava quase se fechando quando Sortuda e Revenante entraram correndo. A coelhinha checou se ainda tinha o seu rabo felpudo. "Ufa..."

A mulher negra olhou para o foguete. "Esse lugar será um inferno pra procurar."

"Eu pensei que você tivesse ordens para ficar de olho mim," Matryoshka finalmente, e calmamente, falou.

"Pode apostar que eu farei isso," Revenante disse, sem esconder o rancor.

Sortuda apontou para o alto. "Ow, não daria pro ladrão escapar por ali?"

Todo mundo olhou para cima, onde ficava a tampa fechada do silo.

Invasora foi a primeira a dizer, "Se alguém tivesse conseguido abrir aquilo, receberia milhões de galões de água proveniente do lago. Mesmo se essa pessoa tivesse evitado de ser esmagada, esse andar estaria inundado."

Seguida por Nano. "É, por isso que esse silo tem um elevador para deixá-lo na superfície, mas eu não o construí para ser sútil. Se alguém tivesse ativado ele, a base inteira teria vibrado com o barulho."

Inquisidor assentiu e trocou olhares com Generalíssima. "Bem, vamos começar."

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De volta a encruzilhada de corredores, com a rampa que levava para a saída, a Irmandade e Matryoshka discutiam sobre o que haviam encontrado.

"Nada." Sortuda estava cabisbaixa, com a mão na barriga. "Não encontramos nada e eu ainda tô com fome."

Inquisidor disse, "Como Nano disse, isso vai levar dias."

Revenante cruzou os braços. "Mas a gente já vasculhou a área toda."

"Uma busca superficial," Inquisidor rebateu, "há ainda os tanques e, talvez, teremos que desmontar o foguete para ver dentro de cada peça."

Generalíssima encarou ele, com olhos bem arregalados em um semblante ameaçador. "Você não pode estar falando sério..."

"Os tanques contém o combustível do foguete em altíssima pressão!" Nano ficou pasma. "I-Isso é impossível!"

Matryoshka assentiu. "Eu acho que você está se precipitando com essa atitude drástica. Não há outros lugares para procurar?"

"Hmmm..." Inquisidor coçou a sua barba. "Podemos procurar em cada quarto das irmãs."

"Haha! O ladrão não iria ser tão burro," Sortuda disse, "se a gente encontrar as sementes, a gente já vai saber quem é o culpado."

"Não é verdade," Invasora falou, "o ladrão pode ter escondido as sementes no quarto de outrem com a intenção de incriminá-lo e afastar suspeitas."

"Ah é..." Sortuda abaixou o olhar e ficou puxando uma de suas orelhas compridas. "Eu não tinha pensado nisso."

"É porque tu não pensa," Revenante afirmou.

"Vamos fazer isso somente depois que comermos algo," Madre recomendou, "estamos cansados. Assim fica difícil se concentrar na procura."

"Vamos fazer isso." Inquisidor foi para escadaria que levava para o andar superior. "assim podemos aproveitar a oportunidade para procurar no refeitório e na cozinha."

Madre balançou a cabeça e suspirou em desânimo. Ela e os outros, começaram a subir a escadaria.

Contudo, quando Invasora olhou para Generalíssima, viu que ela não havia se movido, então ela fez o mesmo.

Já subindo a escadaria, Nano parou e olhou para trás.

Invasora sorriu levemente.

Nano trocou olhares com ela e Generalíssima, franziu um pouco o cenho, mas retornou a subir.

Com ninguém mais à vista, a mulher de cabelos rosa escuro começou andar pelo corredor.

Invasora entendeu a dica e a acompanhou.

Logo Generalíssima parou e se virou, dando o sinal para outra garota para que ela ficasse frente a frente.

Invasora hesitou, pois lhe acometeu uma sensação de perigo. Mesmo assim, ela obedeceu, pois não era prudente ir contra sua líder por algo que ela não sabia o que era.

Generalíssima botou mão no bolso de sua calça e então entregou o objeto para a bailarina azul.

Invasora sentiu o toque frio dos detalhes metálicos da semente da aflição.

"Entregue isso para Nano assim que possível, seja discreta," Generalíssima disse, "veja o que ela pode fazer com isso."

A semente era pesada, era uma das três que havia sobrado. Invasora escolheu as palavras com cuidado, "Mas... isso é para nós e as noviç-"

"As noviças não são prioridade."

Ela ficou boquiaberta, mas aqueles olhos rosa escuro deixavam claro que aquilo não era passível de discussão.

"Se elas não souberem, isso não será um problema."

Invasora fechou a palma da mão que segurava a semente e a trouxe próxima ao seu peito. "Isso será feito."

"Isso não é uma decisão fácil." Generalíssima desviou o olhar. "Mas poucos compreendem a importância desse projeto e Nano precisa das sementes para completá-lo o quanto antes."

Perto dali, aonde o corredor fazia uma curva, uma garota loira estava com as costas encostadas contra a parede. Ela segurava a respiração, enquanto o seu corpo inteiro tremia.

As lágrimas e os dentes estampavam sua tristeza e fúria.


Próximo capítulo: Fata Morgana