A brisa gentil fazia a grama balançar, criando linhas que se moviam pelas pradarias sem fim. O cenário era muito menos bucólico, no entanto, quando se olhava para o céu. Ele era azul, mas era como chamas ardendo, e entre as nuvens haviam cruzes imensas de ponta cabeça flutuando.
Como uma singular flor entre os morros verdes, havia uma mesa redonda branca, e sentada a ela, uma garota mágica de traje cinza e de ar acadêmico, distraída com um livro.
Ela não estava sozinha. Sentada em outra cadeira, havia uma garota mágica loira em um traje vermelho com adornos dourados e uma capa, era algo tão chamativo que combinava com alguém tão barulhento. "VAAAAI TART! VOCÊ CONSEGUEEEE!"
"Elisa," a garota mágica cinza disse, sem tirar os olhos do livro, "você acha realmente que ela vai te ouvir nessa distância?"
"Talvez não." Elisa olhou para a outra, sorrindo. "Mas torcer é forma de transferir energias positivas, você sabe."
Ela continuou lendo o livro. "Eu conheço muitas formas de transferência de energia, e gritar nomes e frases não é uma delas."
Elisa franziu o cenho. "Pernelle, você não devia estar assistindo também?"
"Eu estou prestando atenção." Ela folheou outra página do livro.
Elisa suspirou e retornou sua atenção para o duelo que estava prestes a começar.
O local da peleja era de fato distante, mas por uma grande razão, pois havia um colosso, uma armadura animada com quatro braços. Sua aparência era angelical, com lírios gigantes no lugar das asas e tiara de luz acima do elmo como se fosse um halo. Um dos pares de braços estavam com as mãos unidas, rezando, enquanto o outro par empunhava espadas, uma em cada mão, que remetiam as cruzes que flutuavam no céu. Nuvens de chamas azuis rondavam a armadura, incinerando a grama e deixando uma trilha de cinzas.
Uma grande sombra avançou em direção ao colosso. Ela podia ser facilmente confundida com sombras causadas pelas nuvens se não fosse por sua velocidade.
O colosso preparou suas espadas para o embate.
Quando a sombra passou pelo chão embaixo da armadura, uma foice emergiu, atacando rápido como o bote de um louva-deus.
O colosso foi incapaz de se defender, com a lâmina negra soltando faíscas ao colidir com a armadura. Contudo, apenas um risco foi o resultado de tal ataque. Ao invés de tentar bloquear o próximo, o colosso partiu para a ofensiva, brandindo suas espadas massivas contra o próprio solo à sua volta, fazendo a terra ser jogada ao alto com a sua força.
"Isso Tart! Não facilita pra ela!" A torcida de Elisa teve que ser interrompida quando ela notou rochas voando na direção em que ela estava. "Oh não." Ela estendeu seus braços e sua arma formou em sua mão, um rifle com alabarda e baioneta.
Portais circulares brancos apareceram em pleno ar. As rochas entraram neles e ambos desapareceram
"Hã?" Elisa olhou para Pernelle e a viu fazendo simples gestos com uma mão enquanto lia o livro. Ela então olhou para trás e viu os portais reaparecem, fazendo as rochas terem uma aterrisagem sem perigo.
A sombra se afastou do colosso e uma infinitude de arpões emergiram dela, voando em direção ao oponente.
Usando seus braços e espadas, o colosso conseguiu bloquear, mas era um ataque incansável. A armadura angelical então convocou suas chamas azuis, as intensificando ao ponto de incinerarem os arpões que ainda estavam vindo.
A luz do fogo formou sombras na armadura. Uma que estava sob um dos braços cresceu e rastejou pelas costas do colosso, subindo, passando por trás do elmo e então saltando.
Notando, o colosso olhou para o alto e viu uma nuvem formando acima da sua cabeça. Era escura como carvão e de seu interior emergiu uma máscara branca de feições humanas.
Como uma planta carnívora ao receber a visita de sua presa, a aparição obscura chamou várias foices para fechar na cabeça de sua vítima.
O elmo resistiu, mas o colosso sentiu o golpe, cambaleando. Como uma reação, as chamas ficaram mais fortes e a armadura gigante se encolheu, baixando a cabeça e cruzando os braços que empunhavam as espadas.
Elisa reconheceu o que aquilo significava. "Oh-oh..."
Pernelle suspirou e fechou o livro. Ela deixou a cadeira e se apressou para se posicionar na frente da mesa.
A armadura do colosso brilhou azul como as chamas e a luz foi ficando mais intensa e cegante ao ponto de parecer que vinha de uma estrela.
Elisa cobriu os olhos, gritando, "TART, NÃO FAÇA ISSO!"
Então um flash.
Pernelle já estava com os braços erguidos e as mãos aberta, gerando uma barreira protetiva, englobando a área envolta da mesa. Seria só por alguns segundos, mas ela tinha que pôr toda a sua magia, ou eles seriam os últimos.
A luz azul foi esmaecendo.
Elisa parou de cobrir os olhos e não ficou surpresa com o que viu, na verdade, ela estava desapontada.
Exceto dentro da redoma que Pernelle havia criado, as planícies paradisíacas, além do horizonte, haviam sido abrasadas.
O colosso se ergueu, imponente novamente, e olhou envolta, para o resultado da purificação. Se havia algum traço de pecado, ele fora expurgado.
Em uma sombra que armadura projetava sobre o pescoço do colosso, uma foice desabrochou. Surpreendido, o colosso não teve tempo de reagir quando a lâmina o puxou para trás. Ele desabou, levantando uma nuvem de brasas e cinzas.
Quando a nuvem se assentou, não havia mais um colosso, mas uma garota loira, em uma armadura rosa, deitada no chão. Ela estava suja, coberta pelas cinzas. Seus olhos verdes estavam abertos, mas ela não se movia, pois havia uma adaga negra pressionando contra o seu pescoço.
A mão que segurava a lâmina parecia vir do chão, mas na verdade estava vindo da própria sombra de Tart. A mão parou de ameaçar o pescoço da garota, mergulhando na escuridão.
No entanto, Tart ainda não se moveu, nem respirou. Somente quando sentiu um empurrão nas costas, ela rolou no chão e tossiu, ficando de quatro.
A sombra que Tart projetava no solo distorceu, ganhando comprimento enquanto se afastava. Então uma silhueta escura de uma garota emergiu, revelando ser o espectro de Riz Hawkwood quando as cores se estabilizaram.
Cabisbaixa, Tart arfava.
"Esse ataque mataria todo mundo," Riz falou, como se estivesse apenas dizendo a hora dia.
"Je suis désolé..." Tart sussurrou, "eu falhei."
Riz pôs sua adaga dentro de seu corpo etéreo. "Só precisamos começar de novo."
"Eu não posso falhar." Tart ergueu a cabeça, sua face estava trêmula, seus olhos esbugalhados. "Senhor, eu não posso falhar!"
Riz franziu o cenho e foi ajudá-la a ficar de pé. "O que está dizendo?"
"Eu tenho que ser a luz que guiará a todos." Tart rangeu os dentes. "Eu não posso perder."
"Tart! Tart!" Riz a chacoalhou. "Isso é um treino!"
"A influência da bruxa ainda permanece nela," disse Pernelle, logo após teletransportar, trazendo Elisa consigo.
Tart piscou os olhos, como se estivesse acordando, e fez uma expressão dor. "Eu... não consigo evitar esses pensamentos e quando eu os tenho é tarde demais. Esse lado pecaminoso de mim, eu sou fraca a ele. Eu sou fraca."
Elisa segurou uma tosse, devido ao intenso cheiro de queimado, e procurou sorrir. "Não seja dura consigo mesma. Aliás, você está brincando? Você já é forte, consegue derrotar qualquer bruxa com poucos golpes."
"É o bastante por ora," Riz disse, "mas não devemos negligenciar esse potencial que ela tem. Ele pode vir a ser necessário no futuro."
Tart assentiu e olhou nos olhos da garota mágica que a estava segurando, aquela que era uma parte de si. "Eu não irei desapontá-la. Essa é mais uma tribulação que irei superar."
Riz sorriu, mas seu sorriso foi interrompido por uma súbita luz colorida.
"Oooh, olha só quem veio fazer uma visita," Elisa disse, bastante surpresa.
Tart olhou e ficou boquiaberta.
Pelo portal divino que surgiu, Madoka gentilmente descia, em seu vestido branco e asas. Suas infinitamente longas mechas de cabelo balançando como se estivessem imersas em um líquido. Suas pernas sendo a única coisa se destacando à frente do breu absoluto da parte interior de sua imensa saia. Seus olhos de ouro carregavam um ar de eterna tranquilidade.
Tart ainda estava estupefata. Ela só começou a acreditar quando testemunhou as sapatilhas puras da santa tocarem o solo queimado, então a reação foi imediata. "Ah! E-Eu não sou digna de que entres aqui, ainda mais no estado que está."
"Guarde essa preocupação para depois," Riz disse, "ela deve ter algo urgente para nós."
"Você notou?" Madoka mostrou um modesto sorriso. "Então eu devo ir direto ao ponto."
Também sorrindo, Elisa exibiu a sua arma. "Mais bruxas para pacificar?"
"Eu preciso que vocês protejam uma," Madoka respondeu.
"Hmmm, proteger." Elisa continuava sorrindo, mas isso logo mudou. "Espera, eu ouvi direito? Proteger uma bruxa?"
Madoka estendeu seu braço esquerdo, oferecendo em sua mão uma semente da aflição com um laço rosa amarrado em seu topo.
"Ah, então temos que guardar isso conosco," Riz comentou, "é mais simples do que eu pensei."
"Até que fica bonitinho com esse lacinho." Elisa olhou para a pessoa ao seu lado. "O que você acha... Pernelle?"
A garota mágica cinza estava de olhos arregalados, algo muito raro de se ver.
Algo que deixou Elisa preocupada. "Pernelle? Tem algo errado?"
"Hã?" Pernelle olhou para ela, normalizando o seu semblante. "Eu só estou surpresa com a visita dela assim como vocês, mas devemos aceitar essa missão."
Elisa franziu o cenho. "Você dizendo isso? Você sempre arranja uma desculpa para evitar esses compromissos e continuar com as suas pesquisas."
Riz perguntou para a garota divina, "Qual é a razão disso?"
"Uma sensação ruim," Madoka disse, abaixando o olhar, "talvez não seja nada, mas eu quero garantir a segurança dela e eu confio em vocês."
Tart recebeu a semente, sentindo o toque frio dos detalhes metálicos em seus dedos e textura lisa do laço. Ela trouxe o objeto para perto de sua gema na forma cruz em seu peito e fechou os olhos.
Riz observou aquilo em silêncio.
Não demorou muito para que Tart os reabrisse, em uma resoluta expressão. "Eu a protegerei com a minha alma."
Madoka soltou um suspiro e sorriu. "Estou muito agradecida."
Extinção
"GAAAHH! Homura-chan! Desastre! Desastre!"
Homura abanou com força para afastar a fumaça, mas não havia mais o que fazer. Na forma, o suposto bolo parecia mais com um pedaço de carvão.
Isso, para Nagisa, era o desespero supremo. "Desaaaastre! Você não seguiu a receita?"
"Eu a segui." Homura colocou a forma na bancada. "Eu até lhe disse a temperatura e o tempo de forno."
Nagisa olhou no sagrado caderno com capa de flores, que pertencia a Mami. Logo, ela deu um tapa na própria testa. "Oh não... Você somou o tempo do pré-aquecimento do forno com o tempo de assamento. E nem precisava de pré-aquecimento, pois forno já foi usado para as outras receitas."
Homura abaixou a cabeça. "Eu... devia estar distraída, eu sinto muito."
"PfschhHahahahaha!"
Homura olhou para a garota que estava gargalhando com a situação.
"Hahaha..." Sasa esfregou os olhos porque eles chegaram a lacrimejar. "Como é que você consegue ser tão ruim?"
Homura a encarou com mais intensidade.
Sustentada pelo orgulho, Sasa não se intimidou dessa vez. "Você pode fazer essa cara o quanto quiser, mas não muda o fato de que mesmo com a ajuda da Nagisa-chan você consegue estragar tudo. Enquanto eu já consigo fazer o meu próprio bolo sozinha."
"Você está sendo rude, Sasa-chan." Madoka estava decorando o bolo dela.
"Sim, muito rude." Mami a estava ajudando. "E, Sasa-san, pelo que estou vendo, eu acho que você não acertou a receita desse bolo."
"Bolo?" Nagisa examinou o doce que Sasa havia feito. "Eu achei que era um pudim. Está muito molhado, parece até que está cru, quanto leite você pôs nisso?"
"A receita dizia que era para pôr duas xícaras e meia, mas vocês têm tantas xícaras diferentes..." Sasa pegou uma xícara. "Essa que usei é mais baixa, então eu coloquei mais vezes para compensar."
Nagisa suspirou, frustrada. "Você comparou a largura? Checou se o fundo é chato ou côncavo?"
Sasa deu de ombros. "Qual é, agora você vem me dizer que há uma ciência por trás das xícaras? Aiêêê!"
Nagisa havia dado um peteleco no braço dela. "A única coisa pior que um bolo arruinado é não ter queijo."
Mami sorriu. "Mas isso você já providenciou, não é?"
Nagisa jogou suas longas mechas brancas para trás e cruzou os braços, toda orgulhosa. "Hmpf! É claro! Queijo salva tudo."
Olhando para as outras garotas felizes na cozinha, Homura se sentiu agradecida em relação a Sasa. Ela havia sido zombada por ela, mas assim a atenção havia sido desviada. Quanto mais invisível e esquecida fosse, menos riscos haveria de notarem algo errado.
Madoka olhou para ela. "Homura, quer me ajudar? Assim você aprende a decorar bolos também."
A garota de longos cabelos escuros segurou a respiração, fez um leve sorriso e foi até ela.
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Homura estava observando Mitakihara através do vidro das janelas do apartamento da Mami. Estava escurecendo cedo, pois era um dia nublado. Não havia um sol, muito menos dois. Ela não devia se preocupar, pois Oriko deixou claro que o evento fatídico ocorreria em uma manhã.
Mas amanhã teria uma manhã, no próximo dia também, e no dia após estes. O tempo era seu inimigo, novamente, e sem poder ter ele como aliado dessa vez.
Madoka cortou fora a crosta preta e experimentou a massa do bolo. "Homura, seu bolo pode ter queimado, mas você acertou na mistura dos ingredientes. Está muito bom."
Homura olhou para ela. Elas estavam sentadas à mesa de vidro triangular junto com as outras garotas. Ela abaixou seu olhar violeta. "Você não precisa ser tão gentil..."
"Isso não é gentileza," Mami afirmou, "eu experimentei também, você acertou a receita."
"Uma pena que quase tudo vai pro lixo." Sasa sorriu, enquanto comia o próprio bolo que havia feito. Ele havia desmanchado, parecendo mais com um mingau.
Homura sorriu para Madoka. "O seu bolo está ótimo."
"Mami-san me ajudou muito!" Ela mostrou um grande sorriso. "Quando eu vi a quantidade de açúcar que eu tinha que colocar, eu quase não acreditei."
"Mas essa é a quantidade normal," Mami disse, "seu pai segue uma culinária peculiar, mais natural. Eu fico imaginando um bolo feito por ele."
Madoka olhou para o alto, tentando lembrar. "Hmmm, eu acho que ele nunca fez um, mas ele faz sobremesas. Ele gosta de combinar o doce das frutas com mel."
"Ah sim, mas o sabor das frutas é algo que varia, e elas têm que ser frescas..." Mami olhou para Nagisa, notando que ela estava mais interessada em manusear o smartphone do que a comida. "Bebe, não é hora para isso."
A garota de longos cabelos brancos mantinha os olhos na tela. "É que o Aki mandou algumas mensagens."
"Ele pode esperar, não é? Nós temos visitas."
"Só espera mais um pouquinho." Nagisa movia freneticamente os seus dedos na tela. Ela estava tão concentrada, que foi surpreendida quando o aparelho foi puxado de suas mãos.
Com um sorriso educado, Mami levou o objeto confiscado consigo.
Para Nagisa só restou soprar as bochechas.
Mami ignorou aquela reação, retornando sua atenção para Homura. "O que me deixa intrigado é você ter dificuldade na cozinha. Você fabricava explosivos, certo? Não é comida, mas você precisa seguir uma receita, e a mistura de químicos segue os mesmos princípios da mistura de ingredientes, mas deve ser até mais difícil, requer mais cuidado."
Sasa engasgou com o seu bolo mingau.
Homura sorveu um pouco de chá antes de responder, despreocupadamente, "Eu explodi o meu lar algumas vezes."
Mami ergueu as sobrancelhas.
"Eu só sobrevivi porque eu era uma garota mágica," Homura continuou, "eu relatei para os bombeiros e a vizinhança que era uma explosão por vazamento de gás."
"Você é maluca!" Sasa exclamou, "explosivos não é algo que dá pra controlar. A qualquer hora eles vão BUUUM!"
"Alguém mais se machucou, Homura-chan?" Nagisa perguntou, preocupada com o duro passado daquela garota.
"Não." Homura abaixou o olhar e murmurou, "mas o que isso importa agora?" Sentindo o peso do olhar das outras quatro, ela se levantou e olhou para janela. "Está ficando mais escuro lá fora, é melhor partirmos."
Após se limpar com um guardanapo, Madoka se levantou também. "É, você está certa."
Homura olhou para ela, um tanto surpresa que ela tenha concordado tão facilmente.
"Bom." Sasa sorriu com malícia. "Sobra mais bolo pra mim."
"Não acha que está ficando muito tarde para você também?" Mami questionou, "você mora em outra cidade e amanhã tem escola."
"Ahhh..." Sasa desabou para trás, ficando de braços abertos sobre o tapete. "Por que teve que me lembrar disso?"
"Nós também temos escola amanhã," Nagisa disse, "e vamos ter que lavar toda essa louça." Ela sorriu. "Mas se quer passar a noite aqui e nos ajudar, eu não me importo."
Sasa se levantou rápido. "Tô brincando, Nagisa-chan, escola é muito importante." Ela então deu uma piscadela. "Mas eu posso comer mais um pedaço como saideira, né?"
Mami acompanhou Madoka e Homura até a saída. Com as duas já no lado de fora, ela comentou, "houve uns tropeços aqui e ali, mas foi divertido."
"Sim, wehihi." Madoka se curvou. "Muito obrigada por sua ajuda."
A loira continuou segurando a porta. "Bem, bolos são minha especialidade, porém vocês devem estar aprendendo coisas mais simples no clube de culinária. Há muita coisa que eu apenas sigo a minha experiência, mas eu posso me lembrar de anotá-las e enviar para vocês como dicas. Vocês poderiam até vir outro dia aqui, para nós prepararmos um almoço juntas."
"Oh, isso seria ótimo!" Madoka ficou excitada, "Não é, Homura?"
A garota de longos cabelos escuros assentiu, com um sorriso comedido. "Sim, um outro dia, vamos dar um tempo para pensar e combinar." Após o breve silêncio que se sucedeu, ela fez menção de se despedir, "então..."
"Esperem."
As duas notaram que o sorriso de Mami se fora. Homura foi rápida em perguntar, "Algum problema?"
"Não..." Parecendo mais tensa ainda, a loira olhou para dentro do apartamento antes de voltar a sua atenção para elas. Ela baixou o tom da voz, "Na verdade, era justamente essa pergunta que eu queria fazer. Está tudo indo bem?"
Madoka voltou a sorrir. "Ah, sim, sim, tudo está bem."
Quase ao mesmo tempo, Homura disse, "Tudo está calmo."
Mami soltou um suspiro de alívio, balançando a cabeça. "Desculpe, é que eu me pergunto se tudo acabou mesmo, se teremos paz de agora em diante. Há dias em que eu até esqueço do que o meu corpo é realmente feito, e eu não sei se devo ficar feliz ou assustada com isso."
Madoka assentiu lentamente. "Eu fiz o meu desejo para que o nosso mundo não fosse mais como era antes. Isso nos mudou, e eu não vou pedir que você seja feliz, eu vou pedir desculpas."
Uma voz veio do fundo do apartamento.
"Posso usar o phone agora?"
Mami olhou para trás e levantou a voz, "Sim, Bebe!" Depois, mostrando um sorriso tenro, ela voltou conversar com Madoka, "Não, você não deve. Você nos salvou, você me salvou."
Garoa de longos cabelos rosas abaixou a cabeça e sorriu, ela fechou os olhos, parecia prestes a chorar.
Homura não compartilhava os sorrisos das outras duas, mas disse, "Eu estou feliz que ela tenha conseguido isso, pois ela nunca desistiu de você," ela reduziu o tom da voz, "ela nunca desistiu de ninguém."
Mami assentiu para ela. "Bem... o convite está dado. Não hesitem em pedir a minha ajuda. Se cuidem."
"Obrigada por tudo, Mami-san!" Madoka se curvou.
Assim como Homura, "Boa noite, Mami-san."
Elas deixaram o prédio e caminharam pelas calçadas da cidade crepuscular.
E todo esse tempo, em silêncio. Homura olhou para a garota ao seu lado. Ela entendia bem a razão do silêncio, ela já havia passado por essas situações incontáveis vezes. Aquele momento teve uma grande carga emocional, a Madoka do passado teria caído aos prantos, teria abraçado Mami com força, mas a garota ao seu lado carregava um fardo divino que ninguém tinha conhecimento, apenas uma vaga idéia de seu tamanho e por quanto tempo.
Nada disso podia ser em vão.
"Homura..."
Com silêncio quebrado por Madoka, ela respondeu, "Sim?"
"Eu gostaria de discutir algo contigo, agora."
Homura não estava mais olhando para ela, mais interessada nos topos dos prédios, um potencial lugar para ter alguém espionando. "Claro, amanhã haverá o clube culinária, nós temos que ver o que podemos aproveitar do que Mami-san nos ensinou."
"Não é sobre o clube, nem a escola, nada disso."
Homura parou e se virou para ela.
Madoka estava séria, olhando de relance para o movimento na rua, "Vamos encontrar um lugar melhor para isso."
Assentindo sutilmente, Homura a seguiu. A expressão de genuína de surpresa ajudava a mascarar a preocupação crescente. Madoka havia suspeitado de algo? Homura não tinha idéia de quando o seu comportamento havia causado isso.
Elas chegaram em um pequeno parque vazio, com um moderno chafariz, com efeitos de luz, e alguns bancos.
"Aqui está bom." Madoka escolheu um dos bancos para elas sentarem.
Homura tomou um cuidado extra para não tropeçar, para não criar mais suspeitas. Sua mente corria, juntando todas as desculpas possíveis, para qualquer coisa que Madoka pudesse ter notado.
Se Madoka descobrisse sobre a ameaça, sobre a Irmandade das Almas, nada a impediria de ir vê-los. Mesmo que pudesse acompanhá-la, para Homura era como se elas adentrassem em uma toca escura de leões, era um risco alto demais para tomar.
"Eu lhe deixei tensa, não foi?" Madoka sorriu um pouco.
"Há algum problema grave?" Homura fingiu ignorância.
"Eu não tenho sequer a certeza de que é um problema, você pode me dizer..." Madoka falou em um tom mais forte. "Sobre as anomalias temporais."
Homura franziu as sobrancelhas e estremeceu. "Anomalias... temporais?! Do que está falando? Que-"
Madoka se curvou sobre o seu próprio colo, exalando em alívio.
Homura ficou mais confusa e estarrecida.
Já Madoka estava muito feliz. "Ah, que bom, eu sabia que não era você. Claramente você não sabe, você também foi afetada."
"Me diga!" Homura sentiu um aperto em seu peito. "Q-Que tipo de anomalia temporal?"
Madoka recuperou sua compostura e disse, muito calma, "Isso começou antes de nós termos ido a Tóquio para encontrar com a sua família."
Homura estremeceu novamente.
"Nessas ocasiões, o tempo parava por um momento. Eu logo pensei que fosse você, mas a magia parecia diferente, pois a cores do mundo não mudavam."
Mais pensativa, Homura abaixou o olhar. Era verdade que a sua magia temporal deixava o mundo com cores mais mortas, dessaturadas, e isso não mudou quando passou a usar os seus poderes bruxas ao invés do escudo.
"Havia um grande intervalo de tempo entre esses acontecimentos, mas isso mudou nas últimas semanas." Madoka observava a reação de sua companheira com bastante atenção. "A frequência aumentou muito e agora o tempo não só para, ele retrocede."
Homura engoliu seco. "Retrocede?"
"Alguns poucos segundos, nada parece ter saído do lugar com isso." Madoka respirou fundo. "Eu sinto muito por não ter te avisado antes, mas eu não sabia que isso ficaria pior. Eu não queria que você ficasse preocupada por nada e, como você deve ter notado, eu não tinha plena certeza de que você não tinha alguma coisa a ver com isso."
O sentimento de surpresa havia passado, Homura estava completamente compenetrada, sua voz era inquisitória, "Então você não tem idéia de quem está fazendo isso?"
Madoka balançou a cabeça. "Eu consultei algumas das garotas mágicas que estão me ajudando com a missão pelo mundo. Nenhuma delas me relatou ter encontrado alguém usando esse tipo de magia, mas... não é algo fácil de perceber quando você é afetado por isso, certo?"
Homura teve uma epifania, sobre uma possibilidade que não havia sido levantada na reunião com Oriko e as outras garotas. Madoka podia ter ciência da existência da Irmandade das Almas, ela apenas não saberia que eles estariam planejando um ataque. Respeitando sua linha de raciocínio, ela escolheu bem as suas palavras, "Você não acha que essa pessoa estaria usando essa magia contra o que você está fazendo?"
Madoka olhou para o céu, como se estivesse procurando por algo, mas não havia nem sequer estrelas, apenas nuvem escuras com um fraco brilho provido pelo reflexo das luzes da cidade.
Ouvindo o som do chafariz, Homura viu a outra garota abaixar a cabeça, as mãos inquietas, esfregando uma na outra.
Madoka fechou os olhos, sua voz tinha um peso de admissão, "Eu estou causando um grande stress nesse mundo, mas eu não vou recuar. Eu tenho que aceitar que alguns não serão salvos, pois se eu pensar que eu posso salvar todos, você sabe melhor que ninguém para onde isso leva."
Escrutinizando a reação dela, Homura cogitou, "mas você teme que os seus atos, ao longo do tempo, tragam mais vítimas do que esperança."
Madoka olhou para ela e sorriu, sorriu para alguém que viu através de seu coração. "Eu já lhe contei que estimo esse sentimento. Nós humanos temos dilemas, nós tomamos decisões sem o futuro como guia, mesmo o ato de não decidir é uma decisão. O futuro que eu conheço é o que existe nos outros universos, ele é bom, para nós, para a humanidade. É isso que eu quero trazer aqui, pois que futuro esse mundo tem se eu deixar Kyuubey explorá-lo a contento?"
Homura se levantou do banco e ficou de pé na frente da Madoka. A luz do chafariz fazia que a sombra dela se projetasse sobre a garota sentada.
"Homura..." Madoka não tinha idéia de como reagir.
Com um olhar intenso, Homura pediu, "Se o mundo for contra você, eu quero que você me permita ser o seu escudo."
Madoka abaixou o olhar.
"Eu quero deixar claro que não estarei fazendo isso pela Lei dos Ciclos, eu estou fazendo por ti, então por favor..."
Madoka se levantou e segurou as mãos de Homura.
A expressão firme da garota de cabelos escuros se foi, ainda incerta da resposta.
Com um leve sorriso, Madoka disse, "Quando eu fiz o meu desejo, foi pensando em todas garotas mágicas, mas depois que tomei conhecimento de tudo o que você fez... Eu só consigo tolerar toda essa dor e desespero atemporal que testemunho, pois eu tenho você como inspiração. Você é o sinal que sigo, eu não desisto e luto por ti."
Madoka a abraçou. Atônita, Homura levou um tempo até permitir que suas mãos sentissem os longos cabelos rosas.
"Me desculpe, eu devia ter sido mais honesta contigo."
Aquele sussurro fora dolorido de ouvir, mas Homura tinha o abraço fornecendo todo o conforto e segurança para a sua decisão.
Os esguichos do chafariz estavam banhados com luzes rosas e roxas. O céu ainda estava nublado, parecia que no dia seguinte não haveria sol, muito menos dois.
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Com o quarto escuro sendo iluminado de repente, Oriko moveu rapidamente para pegar a fonte: seu smartphone.
Com o seu amor agora sentada, Kirika rolou na cama e massageou os ombros dela. "Amorzão, o que foi?"
Oriko não tirava os olhos da tela. "Akemi-san. Ela está pronta. Nós partiremos amanhã de noite, devemos chegar nas coordenadas antes da manhã do próximo dia."
Kirika a abraçou, recostando a cabeça no longo cabelo loiro. "Hmmm... Mas é você que ainda decide as coisas, né? Você pode mentir e dizer que precisa esperar mais."
"Por que eu faria isso? Eu quero pôr um fim nisso para não ser mais atormentada por esse futuro desolador." Oriko sorriu de leve. "Por acaso você ainda está com ciúmes?"
"Eu já disse que não tô com ciúmes dela!" Kirika a abraçou com mais força. "É que eu não quero que você corra perigo, enquanto eu não faço nada."
Oriko deixou o dispositivo no criado-mudo e segurou a mão de sua parceira. "Você vai estar fazendo muito ficando aqui e cuidando da Yuma." Ela ficou de pé. "Falando nisso, é melhor eu preparar uma refeição para vocês enquanto eu estiver ausente."
Com o seu amor se afastando, Kirika afundou a face no colchão. "Amorzão... hmmmmfff." Porém, quando parou de repente de ouvir os passos dela, ela levantou a cabeça.
Oriko estava parada.
Kirika ficou preocupada. "Amorzão?"
"Se você notar um flash de luz intensa, como um trovão," Oriko começou a falar, "use a sua magia em nosso lar inteiro e alcance Yuma o quanto antes."
Pelo tom que ela estava usando, Kirika sabia que devia seguir aquilo à risca. "Eu não irei falhar."
"Eu sei." Oriko deixou o quarto.
/人 ◕‿‿◕ 人\
Na intersecção de corredores, onde também ficava as escadarias que levavam para os outros andares da base, todas as irmãs da Irmandade e Matryoshka estavam reunidas, formando quase um pequeno círculo.
Quem que não estava gostando muito daquela situação era Inquisidor. "Outra reunião, Generalíssima? Ao menos essa parece ser realmente importante, pois todos estão aqui."
Com um sorriso sardônico, a mulher de cabelos rosa escuros respondeu, "Oh sim, essa você vai ter interesse, já que é sobre o roubo das sementes," o semblante dela ficou mais sério, anunciando para os demais, "eu estive conversando com Invasora, revendo as gravações, e cheguei em uma conclusão: o ladrão deve ter usado o sistema de ventilação."
O homem sentiu um leve arrepio na espinha e olhou de relance para Matryoshka, mas ela não esboçou um movimento sequer, mantendo suas mãos nos bolsos do casaco.
Com os braços cruzados, Madre inquiriu, "vocês encontraram alguma prova disso?"
"Não ainda." Generalíssima assentiu. "Mas seria a forma mais simples para o ladrão evitar o sistema de vigilância."
Invasora complementou, "não somente as câmeras, mas também evitaria o risco de topar com alguém enquanto estivesse levando as sementes."
"Uau..." Sortuda ficou boquiaberta. "Vocês duas são geniais!"
Revenante não estava tão entusiasmada, muito pelo contrário. "Ouvindo o que vocês falaram, isso parece tão simples que é até estranho que ninguém tenha pensado nisso antes, ou mencionado."
Inquisidor notou que a mulher negra havia olhado pelo canto do olho para ele.
Generalíssima continuou a falar, "Nano envia suas nano-máquinas com frequência pelos dutos de ventilação. Nós vamos precisar da ajuda dela para confirmar isso."
A criança hesitou um pouco antes de assentir. "Ahn, claro..."
Generalíssima olhou para o homem. "O que você acha?"
Inquisidor buscou evitar um franzir de cenho, ele não tinha certeza se teve sucesso. "Por que está me perguntando?"
Generalíssima ergueu uma sobrancelha. "Não é você que sempre tem algo 'certo' a dizer?"
Inquisidor cerrou os punhos. Não querendo olhar para face daquela mulher por um momento, ele direcionou sua a atenção para criança. "Nano, o que você acha dessa teoria?"
Ela deu de ombros. "Eu realmente não sei. Uma pessoa não consegue passar pelas hélices dos ventiladores, mas estamos falando de garotas mágicas."
"Correto," Generalíssima disse, "é por isso que pedirei para que Invasora use a magia dela para ter um controle compartilhado das nano-máquinas. Isso é para garantir que estaremos recebendo informações legítimas."
Nano arregalou os olhos. "E-Então você acha que fui eu?"
"Não exatamente," ela suspirou, antes de dizer com uma voz cansada, "mas todos são suspeitos, não é, Inquisidor?"
O homem sentiu que todos os olhares estavam sobre ele, a tensão em sua mandíbula era crescente e a respiração era mais ríspida. Maldita mulher, ela insiste em me forçar a-
[Não caia na armadilha dela, deixe ela ferir o seu ego. Você já deveria estar acostumado, por que você acha que eu vivo fazendo isso contigo?]
Ele estava surpreso em ouvir a voz de Matryoshka em sua mente.
[Continue esperto, esperto como você foi quando me ajudou enquanto as duas estavam ocupadas na sala de segurança, revendo as gravações.]
O homem engoliu seco.
Matryoshka falou, "Isso foi muito inteligente, mas como vamos poder monitorar essa busca?"
"Eu já acertei isso com a Invasora," Generalíssima respondeu, "nós vamos poder ver o que as nano-máquinas estão enxergando nas telas da sala de segurança."
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As horas passaram.
Contudo, os olhos de Generalíssima não se cansavam de olhar para as telas. "Invasora, você já checou esse setor?"
Sentada na cadeira, a bailarina respondeu, "As nano-máquinas já visitaram esses dutos três vezes."
Os outros na sala se mantiveram em silêncio boa parte do tempo, mas a paciência estava no fim. Sortuda acabou falando, "Então... não temos nada?"
"Ou é outra coisa," Madre afirmou, "nós sabemos que Invasora usou magia para ter o controle compartilhado dessas máquinas com a Nano, mas qual é garantia de que ela não está no controle total?"
"Isso não é possível." Depois de responder, Nano olhou para Generalíssima. "Posso?"
A mulher assentiu.
A criança explicou, "Eu criei mais nano-máquinas, sem ter sido alteradas pela Invasora, e enviei por um outro caminho."
"Eu dei essa ordem telepaticamente," Generalíssima complementou, "essas foi uma das razões de eu querer que fosse checado cada duto mais de uma vez pelo menos. O que vocês estão vendo nessas telas é o ponto vista tanto das máquinas com o controle compartilhado quanto das máquinas controladas somente pela Nano." Ela então se virou para a bailarina na cadeira. "Desculpe, mas eu precisava fazer isso."
"Não, você fez bem. Se eu tivesse acobertado algo, eu teria sido pega." Invasora sorriu. "É bom que assim não sobra dúvidas."
"Isso me deixa muito confusa." Matryoshka girou uma das torneiras e respirou fundo, o som de gás chamando a atenção dos outros. "Você tem essas idéias brilhantes, mas eu sinto que vocês estavam acreditando que ladrão iria esconder as sementes na ventilação."
"Eu não." Invasora girou a cadeira. "Se o ladrão é um de nós, ele teve tempo para estudar as nossas rotinas. Nano envia suas nano-máquinas com frequência pelos dutos, ele não se arriscaria em esconder algo ali. No entanto, Generalíssima insistiu que valeria a pena fazer essa busca."
"Valeria a pena?!" Revenante exasperou, "a gente gastou todo esse tempo e continuamos na mesma bosta!" Brandindo os braços a esmo, ela andou de um lado para o outro, sem saber para onde ir. "Nós vamos acabar morrendo nesse buraco."
Sortuda ficou assustada. "Calma, Revah!"
Olhando para a mulher negra, Inquisidor disse em tom de ameaça, "Ouça a sua amiga."
Rangendo os dentes, Revenante apontou o dedo para ele e depois para os outros na sala. "SÓ ME PEÇAM PRA ME ACALMAR SE TIVERMOS UMA PORRA DE UMA BOA NOTÍCIA!"
Os circuitos na testa de Nano brilharam e ela olhou para cima. "Nós temos um sinal."
Generalíssima franziu o cenho. "Hã? Sinal?"
"Sim!" Invasora girou a cadeira rapidamente e as telas passaram a mostrar informações detalhadas do sinal. "É de baixa frequência."
"Willa," Generalíssima concluiu.
Revenante ainda estava apontando o dedo, enquanto estava pasma. "Wi... Willa?"
Sortuda quase pulou na frente da sua amiga, em júbilo. "É Washington!"
"Washington..." Revenante abaixou o braço e ficou boquiaberta, sorrindo. "Washington!"
Madre prendeu a respiração e levou a mão ao peito com a súbita notícia. Ela consultou Inquisidor.
Assim que trocou olhar com ela, o homem virou a face e pressionou os lábios.
Madre piscou os olhos, sem compreender aquela reação.
"Nano, rápido!" Generalíssima demandou, abrindo a mão.
"Uhum!" A criança gesticulou com a sua manopla.
Uma nuvem metálica coalesceu na mão de Generalíssima, formando um dispositivo de comunicação. "Revenante! Sortuda! Eu quero vocês comigo na sala de reunião."
"Eu também vou," Inquisidor disse.
"Imagino que sim." Acompanhada, Generalíssima se apressou até a saída. "As outras ficam aqui com a Matryoshka."
Com eles saindo e a porta fechando. Matryoshka olhou envolta e viu as três garotas mágicas olhando para ela, em silêncio. Ela tirou a mão do bolso para ajeitar um dos seus capuzes. "Desde de quando eu me tornei tão perigosa?"
Eles chegaram logo na sala de reunião.
Inquisidor perguntou, "Esse dispositivo tem viva-voz?"
"Sim." Generalíssima apontou para as cadeiras. "Sentem se quiserem, eu vou permanecer de pé."
Bem ansiosas, Sortuda e Revenante aceitaram a sugestão prontamente. Inquisidor também, mas mais hesitante.
Generalíssima trouxe o comunicador para próximo da boca. "Nano, você está na escuta?"
Logo a voz da criança foi ouvida. "Sim. Invasora está executando os protocolos para uma linha segura de chamada."
"Você precisa assegurar também que somente nós nesta sala iremos ouvir a conversa," Generalíssima instruiu, "pode haver informações sensíveis referentes a Washington que Matryoshka não pode ter conhecimento."
Nano respondeu, "Ok, será feito."
"Estamos esperando." Ela afastou o comunicador e olhou para os demais.
Sortuda e Revenante estavam com a respiração bem tensa. Com os braços cruzados e a cruz sobre a mesa, Inquisidor parecia mais calmo.
O comunicador emitiu um som de estática, seguido por uma voz, "... alguém? Alô, alguém?"
A qual ela imediatamente reconheceu, "Sou eu, Willa, Generalíssima."
"Então vocês ainda estão aí."
"Nós estamos bem." Generalíssima assentiu como se fosse para si mesma. "Mas quanto a você? Achou alguma pista sobre o paradeiro de Washington?"
"Eu estou em Washington, eu estou na nova base deles."
Generalíssima arregalou os olhos.
"Isso!" Revenante comemorou.
Sem conter a alegria, Sortuda deu tapas na superfície da mesa repetidas vezes.
Inquisidor abaixou o olhar.
Generalíssima respirou fundo. "Isso... Isso são ótimas notícias, Willa. Eles têm mais informações sobre o inimigo? Eles têm algum plano?"
"Ehmm... Eu não posso compartilhar essa informação pra você, ainda."
"O quê?" Generalíssima ergueu as sobrancelhas.
"Você tem que me passar a localização exata da sua base."
Ela ficou olhando para o comunicador, sem palavras.
A alegria de Revenante e Sortuda já havia ido embora e agora até Inquisidor estava ficando tenso.
Generalíssima endureceu a voz, "Esse é um dos maiores segredos da nossa organização, muitos poucos sabem."
"Exatamente, essa é única forma que você tem de provar que é a Generalíssima."
A mulher exasperou, cuspindo no comunicador, "O QUÊ?!"
A voz de Willa ficou mais desesperadora. "Eles acreditam que você me enganou! Que você não é a Generalíssima, mas... mas uma bruxa que tá me usando pra encontrar a nova Washington."
Revenante e Sortuda trocaram olhares.
Enquanto Generalíssima expressava ainda mais raiva. "Isso é um ABSURDO! Eles ficaram insanos? Eu, uma bruxa?"
"E-Eu não sei! Eles só me disseram que essas novas bruxas se infiltraram em todas as bases, inclusive Washington, e estavam convertendo noviças e irmãs. Por isso que a comunicação com Europa foi cortada."
Generalíssima ficou boquiaberta e olhou para Inquisidor.
O homem retornou o olhar com um estreitamento de seus olhos e um leve aceno com a cabeça, mais seguro do que nunca de sua idéia.
A voz de Willa passou a ser chorosa, "Eu na verdade tô presa... uuu... Eu acho que eles vão me matar se você não me passar a informação correta, por eu estar em conluio contigo."
"Eles te ameaçaram?" Generalíssima rangeu os dentes. "Quem que está no comando?"
"Matriarca."
A face de Generalíssima paralisou por um momento, antes de perguntar, "Ela conversou contigo?"
"Sim! Ela sabe a localização da sua base, é assim que eles vão saber se você está mentindo ou não."
"Claro." Generalíssima voltou a trocar olhares com Inquisidor.
A expressão do homem agora tinha um ar de curiosidade. Ele até se inclinou para ouvir melhor.
Willa continuou falando, "Eu nem devia te dizer isso. Eles querem que poucos saibam da localização dela."
"Sim, eles estão certos," Generalíssima disse friamente, "e quanto a Pássaro do Sol?"
"E-Eu não sei, ela não tá aqui. Eu... ouvi falar que ela tá lutando em algum outro lugar, mas eu não tenho como saber mais! O meu tempo tá acabando! Eu preciso da informação!"
Generalíssima permaneceu em silêncio, olhando agora para Revenante e Sortuda.
As duas garotas mágicas estavam ainda mais agitadas com o desespero da Willa. Os seus olhares pediam por uma resolução daquilo.
Generalíssima fechou os olhos, respirou fundo e disse, "Ok, eu direi a nossa localização, mas eu quero ouvir Matriarca pedir isso."
"Hã?! Você quer ela na chamada? Eles vão recusar! Eu não te falei sobre eles quererem manter a localização dela em segredo?"
Generalíssima ergueu a voz, "Essa é a última coisa que te peço, Willa."
"Eu... Eu vou conversar com eles. Eu vou tentar convencer a Matriarca, ok? S-Só espera!"
A mulher revirou os olhos e suspirou. "Não, eu vou te poupar desse trabalho, bruxa. Eu cansei."
Revenante e Sortuda franziram o cenho, enquanto Inquisidor não estava nem um pouco abalado.
"Hã?! O-O quê...? E-Eu não-"
"Eu mudei de idéia!" Generalíssima a interrompeu, "diga a 'eles' o seguinte: nós iremos caçar cada uma de vocês. Cada irmã e noviça que vocês tomaram de nós, voltarão servir à Irmandade. Como sementes, como é agora e como sempre será."
Houve um longo silêncio, antes de Willa dizer, "Nós estávamos errados. A Lei dos-"
Generalíssima arremessou o dispositivo contra o piso e começou pisar nele com toda a força, expressada em seus gritos, "AAAAHHH! AAAAAAHHHH! AAAAAAHHHHHH!"
Diante daquela cena, Inquisidor ficou cabisbaixo, enquanto as outras duas ficaram assustadas com a reação da líder.
Arfando, após esmigalhar o objeto, ela olhou para a plateia daquele espetáculo de desespero. Seus olhos estavam esbugalhados, lágrimas desciam em seus pômulos. Compelida por impulsos primitivos, ela correu até a saída, deixando tudo para trás sem dar satisfação.
Vendo a porta fechar, Sortuda foi a primeira perguntar, "O-O que aconteceu? Willa é uma bruxa?"
Balançando a cabeça, Revenante tentava compreender. "Como ela sabia? Como ela descobriu que era uma bruxa?"
Inquisidor apoiou os braços sobre a mesa e começou a falar, "Willa não tinha como trazer Matriarca, porque Matriarca está morta."
A mulher negra franziu as sobrancelhas. "Que porra é essa que tu tá falando aí?"
Ele continuou, no mesmo tom sem emoção, "Ela é uma das garotas mágicas desaparecidas durante o Bastião de Nova Orleans, que participou na interceptação da Katrina."
"BESTEIRA!" Revenante exasperou.
"Matriarca não conseguiu chegar a tempo em Nova Orleans," Sortuda disse.
"É isso o que foi contado, porém ela chegou sim a tempo." Inquisidor olhou para elas, com um ar de indignação. "Vocês acham que as garotas mágicas que estavam na cidade iriam decidir interceptar a classe ômicron Katrina no mar? Foi Matriarca que queria salvar Nova Orleans, e ela tinha magia para isso. Foi ela que fez voar mais de setenta garotas mágicas e as protegeu da força do furacão." Ele balançou a cabeça e ergueu a voz. "Isso nunca foi um sacrifício heroico, nem um ataque suicida estúpido. Matriarca estava segura que iria prevalecer sobre Katrina, mas alguma coisa aconteceu e o resultado foi oposto." Ele bufou e sorriu, um sorriso triste e perdido. "Para então Generalíssima, sozinha, derrotar a bruxa. Ridículo, absolutamente ridículo, mas esse é o fato. Poucos sabem disso, apenas algumas lideranças em Washington. Eu, para ter a minha posição na organização, tive que jurar que iria proteger esse segredo, matando ou morrendo se necessário."
Pasma, ainda tentando processar tudo aquilo, Sortuda proferiu, "M-Mas há dois anos atrás a Matriarca fez um vídeo especial de natal. E-Ela até estava usando um gorro de papai noel!"
Ele respondeu, "Nossa organização tem ilusionistas, metamorfos..."
Revenante balançou a cabeça, cheia de raiva, "Você tem que tá mentindo, seu merda, você tá querendo se aproveitar dessa situação pra-"
"ESCUTA AQUI!" O homem apontou o dedo para ela. "Matriarca é a alma da Irmandade! Ambos são como um e você compreende isso quando a conhece pessoalmente. A revelação da morte dela levaria ao esfacelamento da organização e, anos depois, vocês duas não teriam sido resgatadas por nós. A essa hora, vocês estariam mortas, ou seriam bruxas."
A ojeriza de Revenante era palpável. "Vocês... nos mentiram esse tempo todo?"
"Então tá," Sortuda disse.
"Hein?!" A mulher negra se virou para a garota mágica coelhinha.
Sortuda olhou para ela, dando de ombros. "Matriarca morreu. Os peixes grandes decidiram que era melhor esconder isso pra que a Irmandade continuasse a funcionar. Graças a isso, eu pude conhecer você, a Valk, a nossa General... Eu tô de boa com essa mentira."
Revenante abaixou o olhar e pressionou os lábios. Ela teve o impulso de assentir, mas conseguiu disfarçar se virando novamente para o homem. "Mas quem tá comandando a organização agora?"
"Era a irmã mais próxima da Matriarca, Pássaro do Sol." Inquisidor engoliu seco. "Mas não há ninguém agora."
"Não sabemos," Revenante disse, "Willa falhou em encontrar Washington."
Inquisidor voltou a ficar irritado. "Acho que você não entendeu, ela encontrou Washington e o que ouvimos aqui é o que sobrou disso."
Revenante também. "Sem chance! Generalíssima disse que se Washington tivesse caído, todos lá fora estariam-"
"Mortos? É o que ela vive dizendo para poder acreditar que há ainda alguém lá fora que se importa conosco. Aceita os fatos! Pássaro do Sol está morta! Não há mais Washington!" O homem desviou o olhar. "E se isso aconteceu até com Washington, então a União da Terra Mãe não pode estar em uma situação melhor." Ele então murmurou para si mesmo, "eu devia ter pensado nisso, mas agora é tarde demais."
Revenante ficou confusa. "O que você tá querendo dizer?"
Sortuda cogitou, arregalando os olhos, "eu acho que ele quer dizer que agora a Generalíssima é a líder de toda a Irmandade, ou, talvez, de todas as garotas mágicas."
Inquisidor as fitou intensamente, a face dele tremendo. Então, ele deixou as palavras escaparem, "Nós somos os últimos..."
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No meio do banheiro, a mulher de longos cabelos brancos olhava para o seu reflexo no largo espelho na parede. Sua estatura era imponente, sua beleza era estonteante, sua face era serena, e sua gema na tiara era como a garganta de todas as aflições.
O fim estava próximo.
Passos apressados foram ouvidos e logo a mulher viu Generalíssima entrar. Ela estava chorando, isso ficou mais claro quando ela parou na frente da pia, bem próxima do espelho.
Generalíssima olhou para o seu próprio reflexo. A imagem era de completa derrota, o qual ela só tinha os seus punhos como resposta. "IIIÁÁÁÁÁÁHHHH!"
O fim estava próximo.
A imagem da perfeita mulher estilhaçou em dezenas de pedaços. Alguns caíram na pia, muitos se estilhaçaram mais ao encontrar com o chão.
Generalíssima ergueu a cabeça e exclamou, "Não há mais o que fazer! A Irmandade vai acabar e todos na Terra irão morrer!"
A mulher deu um passo em direção a ela.
Balançando a cabeça, Generalíssima continuou a se lamentar, "Eu fracassei, eu não mereço ser o que sou."
Outro passo.
"Eu não soube o que fazer," Generalíssima falou, soando mais como uma menina do que sua usual voz madura, "eu não sei ser uma líder."
E outro.
"Nós só tínhamos essa chance..."
E mais um. A mulher alta estava justamente atrás de Generalíssima, sendo capaz de sentir o cheiro do sabão usado naquelas mechas de cabelo rosa escuro.
"Me desculpe! Me desculp-"
A mulher segurou Generalíssima e a forçou a se virar.
"Ah...?" O par de olhos rosa escuro se encontrou com o par de cor rosa. As mãos de Generalíssima estavam juntas ao seu peito, seu corpo estava encolhido.
A mulher não aguardou mais e, em um bote, a beijou.
"Hmmpff?!" Pega de surpresa, a boca de Generalíssima foi invadida pela língua da outra mulher. Os lábios macios e quentes apertavam os seus, assim como os braços que envolveram o seu corpo. Suas mãos pousaram na pele lisa da mulher alta, deslizando até as costas, reconhecendo a firmeza da carne. As memórias que vieram à tona acabaram por fazer ela se render por um momento àquela luxúria, porém ela realmente não estava com humor para aquilo. Em um movimento repentino, ela empurrou a mulher para longe. "Para! Para, Estér! O que está fazendo?"
Sorrindo, a mulher ajeitou seus cabelos brancos enquanto lambia os próprios lábios. "Aceitando as suas desculpas, Leona."
"Mas o que isso importa?" Leona abaixou cabeça. "O que nós podemos fazer?"
Estér sugeriu, "Vamos embora."
Leona ergueu a cabeça imediatamente. "Hã?"
"Vamos passar os últimos momentos desse mundo juntas e felizes." A mulher chacoalhou o seu braço, fazendo com que as jóias penduradas nele fizessem barulhos. "Veja pelo lado positivo: onde quer que estejamos, nós iremos assistir isso de camarote."
Leona estremeceu, rangendo os dentes. "Você só pode estar de brincadeira."
"Ah..." Estér sorriu mais. "A Leona tristonha é fofa, mas eu prefiro mais essa versão."
"Você e seu senso de humor..." Após resmungar, Leona virou a face, melancólica. "Eu mandei aquela noviça para a morte."
"A única chance que ela tinha de sobrevivência era de encontrar Washington," Estér disse, "você não fez nada de errado."
Leona respondeu, "Eu poderia ter ido procurar por Washington."
Estér ficou mais séria. "Eu já fiz isso e, como já lhe contei, a base original está destruída, queimada e com marcas de combate. Eu não encontrei corpos, mas também não encontrei nenhuma pista de uma possível relocalização." Ela ergueu as sobrancelhas. "E nós temos outras prioridades, não é?"
Leona fez uma careta de frustração. "O foguete não está pronto, e sem as sementes roubadas..." Ela estendeu a mão até gema escura na tiara da outra mulher.
Rapidamente, Estér segurou o braço dela e o puxou para longe. "Quantas vezes eu já lhe disse para não fazer isso?"
Leona ficou olhando para ela com preocupação.
Estér sorriu. "Eu estou bem, eu posso durar muito mais do que você pensa."
"Mas a cada esperança que você devora, pior o fim será, não é?" Leona inquiriu.
Estér não respondeu.
Leona já esperava por isso. "O que você acha da teoria de Inquisidor? De que quem roubou as sementes é uma dessas novas bruxas?"
Estér não escondeu sua irritação ao ouvir aquele nome. "Esse homem tem lhe causado muitos problemas, eu deveria removê-lo."
"Não!" Leona clamou, "ele pode estar causando problemas, mas ele é um membro competente da Irmandade. Ele ainda é útil."
Estér franziu o cenho.
Dessa vez, foi Leona que sorriu. "Ele segue as regras, ele nunca será uma ameaça aos nossos planos. Eu posso lidar com ele. Agora, me diga o que você acha da teoria dele."
A mulher suspirou e jogou seus longos cabelos brancos para trás. "Eu nunca vi nada parecido com essas bruxas. Eu não sei se sou capaz de dizer a diferença entre elas e garotas mágicas."
Leona sugeriu, "Você não poderia ler a mente de todos?"
Estér balançou a cabeça. "Alguns poderiam recuperar as memórias durante o processo."
"Então não..." Leona fechou os olhos. "Nós já fomos longe demais... muito, muito longe."
"Você se arrepende?" Estér perguntou.
Ela reabriu os olhos, em um semblante firme, determinado. "Não. Essas vidas que você tomou seriam perdidas de qualquer forma. Incubator não pode vencer!"
"Ele não vencerá, eu te garanto." Os olhos rosas de Estér cintilaram. "Contudo, esse plano do foguete parece que vai falhar. Então eu volto a perguntar, agora seriamente, você iria embora comigo nesse caso?"
Leona abaixou a cabeça e pressionou os lábios.
Enquanto Estér levantou a cabeça, fechou os olhos e respirou fundo. "Eu sabia..."
"Há muitas crianças aqui, literalmente," Leona explicou, "elas acreditam em mim, em minha força. Eu não posso deixá-las sozinhas... eu não posso abandoná-las, como... como..."
"E você desejou ser livre," Estér comentou com certa ironia.
"É MINHA decisão!" Leona semicerrou o olhar. "Você está com ciúmes?"
"E se eu estiver?"
O tom era ameaçador, mas Leona conhecia aquela mulher muito bem. Ela sorriu e se aproximou.
"Oh?" Estér ergueu as sobrancelhas.
Leona pôs a mão seu próprio peito e depois a transferiu para o peito da outra mulher. "Você sabe onde o meu coração pertence."
Estér não sorriu, sua mão acariciou a face dela, seu polegar deslizando na pele dos lábios. "Mi reina. Nuestra viaje juntas está llegando a su fin y aún no sé a qué más lugares me llevarás."
Um pingo de tristeza transpareceu em Leona. Ela a abraçou, as faces ficaram próximas. Ela estava olhando nos lábios de Estér quando sussurrou, "Gracias por todo, no te olvidaré, lo prometo."
Estér se afastou, também empurrando Leona gentilmente.
A mulher de cabelos rosa escuro ficou confusa, mas então ouviu passos. Ela olhou para entrada do banheiro.
Logo Revenante apareceu. "Generalíssima! Você está... aqui?"
Vendo a reação de surpresa da mulher negra, Leona olhou de relance para Estér.
A mulher alta estava com uma face serena.
Leona então olhou para os cacos do espelho no chão e voltou a fitar o membro da Irmandade.
Revenante continuava em silêncio, tensa.
Generalíssima falou, "Eu estou melhor agora, o que foi?"
Revenante chacoalhou a cabeça, recuperando sua compostura. "Inquisidor quer conversar contigo, em particular."
Generalíssima assentiu. "Agora? Eu posso fazer isso." Ela caminhou para sair do banheiro, passando por Revenante. Contudo, a irmã segurou o seu braço com força. Generalíssima virou a cabeça imediatamente, a encarando.
Revenante não se intimidou. "Inquisidor falou algumas coisas sobre a Matriarca. É verdade?"
Após um breve silêncio, Generalíssima instruiu friamente, "Diga para os outros que Willa ainda não conseguiu chegar em Washington, mas conseguiu estabelecer uma curta chamada com eles. Esperem boas notícias em breve."
Incrédula, Revenante exclamou, "Isso é uma puta de uma mentira!"
"Revenante..." Generalíssima manteve a frieza. "Falsa ou não, a esperança é única coisa que ainda permitirá que a Irmandade exista. Se entende isso, me solta, ou farei isso a força."
A mulher negra abaixou o olhar e lentamente soltou o braço.
Generalíssima foi embora, dizendo, "Peça que Nano conserte o espelho, parece que alguém andou quebrando-o..."
Estér ficou observando Revenante pôr as mãos à cabeça, fazendo uma careta de desolação. A mulher negra murmurou algo, uma oração ou maldição, talvez, antes dela também deixar o banheiro.
Sozinha, Estér abandonou seu semblante sereno. Seu olhar perdido era amargo, cheio de culpa.
"HUHUHUHU!" "Hihii...hihihi... hahahaaa!" "Fufufuuu!"
"Houuhohohohoo!" "KyahahahaHAHAHAHAAA!"
Estér olhou para fonte daquela cacofonia de gargalhadas e se aproximou.
Cada fragmento do espelho mostrava o reflexo da parte inferior de uma face diferente, da boca de diferentes garotas.
"Estão rindo da minha miséria?" Estér sorriu com desdenho. "Tolas, eu ainda terei o que mais quero."
O reflexo fragmentado agora só mostrava a parte inferior da face de Estér, a boca dela em cada reflexo abriu ao mesmo tempo para proferir.
"O amanhecer final se aproxima, deusa."
Próximo capítulo: Síndrome do pesar
