Sala de reunião.

As irmãs, e Matryoshka, estavam de pé envolta da mesa. Com a sua magia, Invasora projetava sobre a mesa um holograma de uma cidade inteira em miniatura.

Generalíssima estava satisfeita com o trabalho da bailarina e começou a falar, "Antes de começar, eu quero avisar novamente que essa operação não tem o aval de Washington." Ela olhou para o homem. "Eu estou assumindo a total responsabilidade."

Inquisidor não expressou nenhuma reação de contentamento ao ouvir aquilo.

Madre disse, "Eu gostaria realmente de entender sobre como essa missão em Mitakihara irá nos ajudar a pegar o ladrão das sementes."

"Nosso ladrão está muito confortável em nossa rotina atual," Generalíssima respondeu, olhando para cada um na sala, "porém, ele gostaria de escapar, não é? Essa é uma operação grande e complexa, envolvendo todo mundo, é a melhor oportunidade para isso. Ou, se ele é uma bruxa, essa seria a chance para uma sabotagem."

"E se nada disso acontecer?" Madre ergueu as sobrancelhas.

Generalíssima sorriu. "Bem, se nada der errado, ao menos nós teremos reposto parte das sementes roubadas."

Dessa vez, Inquisidor fez um aceno com a cabeça.

Madre ficou em silêncio, abaixando o olhar.

Entendo que não havia mais perguntas, Generalíssima apontou para o holograma. "Invasora, faça um zoom dessa área, por favor."

A bailarina obedeceu prontamente.

"Vocês estão vendo essa construção marcada em vermelho?" Generalíssima explicou, "nossos alvos estão a uma distância similar a partir desse local. O topo da construção será o nosso ponto inicial e de extração. Se algo der errado, é para cá que vocês devem recuar." Ela olhou para a ruiva. "Madre, você guardará esse local junto com as noviças. Vocês podem ser eventualmente chamadas como reforços, então fiquem de prontidão."

Madre protestou, "As noviças não vão querer fazer isso e eu também não aprovo a participação delas nessa operação."

"Elas irão participar," Generalíssima afirmou, "e você irá convencê-las."

"Depois do show de horror e incompetência que você e Inquisidor promoveram na frente delas?" Madre retorquiu, "se não fosse a boa notícia sobre Washington, eu não ficaria surpresa se algumas estivessem tentando escapar daqui agora mesmo. Elas estão cansadas! Cansadas de terem medo, elas querem rever as suas famílias."

Generalíssima assentiu. "Nós todos estamos cansadas, ao ponto de eu ter tomado uma decisão ruim, sinto muito por isso." Ela então olhou para o holograma. "No entanto, não é por acaso que essa operação será em Mitakihara. Com toda essa confusão do roubo das sementes, você pode ter esquecido, mas eu tenho uma forte convicção de que essa cidade é onde essa crise dessas novas bruxas originou. Nós poderemos encontrar a chave para pôr um fim nisso. As noviças irão querer que suas famílias fiquem são e salvas, não irão?"

Madre suspirou, decepcionada. "Nem você acredita nessa última parte."

"Isso é uma ordem." Generalíssima olhou para ela, com um semblante mais duro. "Ninguém ficará aqui na base durante a operação."

Madre disse, mais impassível, "Eu farei o meu melhor pela Irmandade."

Generalíssima cerrou levemente os olhos. O silêncio foi um tanto longo, antes dela prosseguir, "Além das noviças, Matryoshka também ficará sob a sua tutela."

"Oh?" Matryoshka levou a mão ao peito, colocando dramaticidade em sua voz, "eu pensei que você iria me colocar na linha de frente."

"Você me disse que não luta bem," Generalíssima respondeu, enquanto mandava uma mensagem telepática para Madre. [Sempre mantenha olho. Nunca subestime a astúcia dela.]

A ruiva não esboçou nenhuma reação, nem mesmo olhou de relance para a garota mágica russa.

"Certo." Generalíssima olhou para Invasora. "Vamos analisar os alvos."

A gema da alma da bailarina brilhou e o holograma passou a mostrar outra área da cidade. Um prédio foi marcado em vermelho e duas imagens apareceram flutuando sobre ele, uma era de uma garota loira com um par de grandes cachos e a outra era de uma pequena garota com cabelo branco comprido. Invasora começou a explicar, "Mami Tomoe e Nagisa Momoe. Nós não temos muitas informações sobre as capacidades delas, exceto que Mami tem alguns anos de atividade como garota mágica."

"E o fato de que elas vivem em um condomínio residencial, com centenas de pessoas," Generalíssima complementou, olhando com intensidade para cada pessoa na sala, "eu estou assumindo a responsabilidade dessa operação, mas cada uma de vocês representam a Irmandade e suas virtudes. Baixas civis são inadmissíveis!"

Algumas irmãs assentiram com afirmação da líder.

"Sortuda," Generalíssima a chamou, "você esteve pessoalmente lá e conhece a área. Eu quero que cuide desse objetivo."

A jovem mulher sardenta disse, "É..."

A falta de entusiasmo na resposta fez Generalíssima questionar, com preocupação, "Você está bem?"

Sortuda arregalou os olhos, como se tivesse acordado em um susto. Ela nem estava olhando para Generalíssima! Ela tratou de corrigir isso, mas seus olhos se encontraram com os olhos pretos de Inquisidor. Ela paralisou.

Todos repararam na reação dela.

Com os músculos ficando tensos, Revenante bufou.

Generalíssima engoliu seco, considerando se deveria chamá-la de novo.

Porém, Sortuda olhou para ela e sorriu. "Eu não estou nos meus melhores dias, mas não irei desapontar a minha General fofa."

Generalíssima assentiu. "Nano irá contigo."

A criança ajeitou a sua postura ao ser mencionada.

Generalíssima continuou a falar, "A magia de vocês duas é versátil. Eu conto com a criatividade de vocês para encontrar uma solução sobre confrontá-las sem envolver os civis."

Nano olhou para a imagem da garota mais jovem no holograma. "Nós temos que matar elas?"

"Elas são bruxas, o que você acha?" Generalíssima indagou com rispidez, "você já esqueceu o que uma delas foi capaz de fazer quando esteve aqui?"

A criança abaixou o olhar.

Generalíssima respirou fundo e pediu, "Próximo alvo."

O holograma mostrava outra região. Uma casa agora estava marcada em vermelho, com a imagem de uma garota de cabelos rosa.

"Madoka Kaname," Invasora falou.

"Esse é um outro local que deve ser lidado com cuidado," Generalíssima comentou.

"Eu irei."

Ouvindo Inquisidor, Generalíssima olhou para ele.

O homem disse, "Eu cuido desse alvo."

Generalíssima semicerrou o olhar. "Você tem muito interesse nessa garota, não é?"

Inquisidor insistiu, ameaçando, "Eu quero Madoka, ou eu não vou participar dessa operação."

Sentindo que sua autoridade estava sendo testada, a mulher latina sorriu. Foi por um curto tempo. Séria, ela continuou olhando para homem enquanto levanta a voz, "Invasora, como está o seu japonês?"

A garota asiática respondeu, "日本語は苦手だ。"

"Ótimo," Generalíssima deu as instruções, "você irá acompanhar o nosso 'cavalheiro'. Há uma família morando lá, eles devem estar sob efeito de um beijo de bruxa, ainda assim, comunicação pode ser útil."

Invasora assentiu. "Eu acho que consigo improvisar uma ilusão que faça nós dois parecermos com cidadãos japoneses comuns."

"Faça isso." Generalíssima parou de olhar para Inquisidor, expressando satisfação. "Vamos prosseguir."

O holograma mostrou uma região da cidade onde as construções tinham uma arquitetura mais antiga. A imagem de uma garota de olhos roxos e cabelos pretos compridos flutuava sobre uma das casas.

"Homura Akemi," Invasora disse, "ela parece que vive sozinha, mas pertence a uma família muito rica de Tóquio. O 'desaparecimento' dela deverá trazer repercussões significativas."

Generalíssima cruzou os braços e ponderou. "Hmmm... Infelizmente, não temos como evitar isso." Ela olhou para a mulher negra. "Revenante."

"Tá, eu cuido dessa aí," Revenante concordou, "alguém vai comigo?"

"Não," Generalíssima respondeu, "só resta eu e estarei em outro alvo."

"Beleza, porque é isso que tá me incomodando."

Generalíssima ficou curiosa com a afirmação de Revenante. "O que quer dizer?"

A mulher negra olhou nos olhos de sua líder, sem piscar. "Ao menos um de nós é um traidor, talvez até uma bruxa, né?"

Generalíssima assentiu. "Correto."

"Até agora, você tava enviando duplas pra cada alvo," Revenante apontou para o holograma, dizendo em tom acusatório, "então você pode tá enviando uma das nossas irmãs com o traidor. Ela vai acabar em uma tremenda desvantagem numérica, além de tá sendo apunhalada pelas costas!"

Sortuda arregalou os olhos com a afirmação de sua amiga. Ela então olhou para a criança, sua futura colega de missão.

Nano retribuiu o olhar, enquanto mexia nervosamente os dedos de sua manopla.

Invasora olhou para o homem.

Sob o olhar frio, analítico, julgador da bailarina, Inquisidor apenas reagiu ajeitando o seu manto.

"Essa operação envolve riscos," Generalíssima disse.

"É, eu sei disso e tô dando o meu apoio," Revenante assentiu, mas o seu semblante era de desaprovação, "mas parece que você tá disposta a enviar uma de nós pra morte pra pegar esse traidor."

Generalíssima exclamou, "Eu estou enviando vocês para a guerra!"

Revenante estremeceu e a sala ficou em silêncio.

"Nós chegamos a esse ponto!" Generalíssima rangeu os dentes, pedindo, "quando estivermos lá, o perigo estará em toda parte! Vocês todas têm que estar prestando atenção à sua volta, por favor, pois eu não quero que ninguém morra."

A mulher negra abaixou o olhar.

Arfando, Generalíssima buscou se acalmar antes de falar, "os meus alvos serão Oriko, Kirika e a misteriosa aberração que estava com elas."

"Devia ser uma bruxa que ainda não tinha completado o seu disfarce," Inquisidor comentou, "ela deve ter a aparência de uma criança agora."

Ela o ignorou, continuando, "Após eu lidar com elas, irei ajudar Revenante, depois irei até Sortuda e Nano, e então Inquisidor e Invasora, nessa ordem. Esqueci de mencionar algo?"

A bailarina respondeu, "Há também Sasa Yuuki, Sayaka Miki e Kyouko Sakura. Nós não sabemos se elas estarão na cidade durante a operação, precisamos ter cautela."

Generalíssima concordou, "Sim, é o que peço, teremos que se adaptar à situação. Aliás, se vocês toparem com Incubator... mate-o, sem pensar duas vezes." A mulher assentiu para a garota. "Obrigada, Invasora."

Ela entendeu o sinal da líder e fez o holograma desaparecer.

Generalíssima olhou para o homem. "Purifique as quatro sementes. Eu vou precisar delas."

"Claro." Inquisidor olhou para o anel na mão esquerda da mulher.

"A operação se iniciará de manhã, então quem puder descansar, faça isso," Generalíssima falou olhando para outras irmãs, até que ela fixou o olhar em Nano. [Eu quero que fique no silo durante esse tempo, só por precaução.]

A criança fez um leve aceno com a cabeça.

"Manhã?" Revenante arregalou os olhos. "Essa manhã?! É daqui a algumas horas."

Generalíssima olhou de relance para ela, levantando a voz, "Eu não vou dar muito tempo para que o traidor possa planejar algo. Espero que tenha ouvido isso, quem quer que seja."


E os portões do inferno não prevalecerão

Homura tocou o solo seco gentilmente e manteve suas asas de energia escura abertas, de modo que pudesse liberar suas passageiras de pé.

Ainda assim, quando as mãos escuras a soltaram, Sayaka quase colapsou. Ficar com o corpo tanto tempo na mesma posição havia sido desgastante. Ela reparou que Kyouko estava pulando e comemorando.

"Ah! Que saudade que eu tava de você, chão," a ruiva disse.

Dentre os passageiros da outra asa, Kaoru foi a primeira a manifestar, "Não dá pra ver muito longe com essa escuridão, mas eu tô vendo muitos arbustos pra um deserto."

Com um leve gesto sobre a face e um pouco de magia, Umika criou seus óculos como parte de seu uniforme de garota mágica. "Nem todos os desertos são apenas dunas e areias."

Kazumi estava mais interessada em olhar para o céu. "Ahhhh... Olha! Quantas estrelas! Na cidade não é assim."

Oriko também prestou atenção ao céu, mas mais especificamente ao horizonte, onde havia um tom de claridade. "Nós não devemos ter mais de uma hora antes do Sol aparecer."

Kyouko se aproximou e encarou a loira.

"O que lhe aflige, Sakura-san?" Oriko sorriu.

"É bom que a gente ache algo nessas coordenadas, ou eu vou pedir que Homura te deixe aqui."

Oriko deu de ombros. "Bem, eu apenas forneci os números, Akemi-san é quem interpretou eles como coordenadas. Além disso, Kyuubey estava bem certo de que haveria uma base dessa Irmandade na Austrália."

"É..." Kyouko abriu os braços e foi se virando, olhando em volta. "Mas gente tá aqui e não tem porcaria alguma."

Enquanto fazia suas asas desaparecerem, Homura falou, "Você acha que eu aterrissaria nas coordenadas? Diretamente em cima de possíveis inimigos?"

"Hein?" Kyouko ficou surpresa, então abaixou o olhar. "Hmmm... Você tá certa."

Sayaka sorriu. "Ah, você até pensou nisso, mas nós estamos muito longe ainda?"

Homura olhou para a tela do dispositivo GPS e apontou com o dedo. "Nessa direção, se partirmos agora, chegaremos em breve."

"Ei! Ei!"

Todas olharam para Kaoru. A garota de cabelos laranja sorriu com vergonha. "Eu vou atrás daquele arbusto, bem rapidinho, hehe. É uma urgência que eu tenho que resolver."

"Ah!" Kazumi levantou seu braço. "Eu também tenho que ir atrás de um arbusto!"

Umika cobriu a face com palma da mão. "Eu disse para vocês não tomarem tanta água antes da viagem."

Depois que a urgência foi resolvida, as garotas caminharam pelo deserto, sendo lideradas por Homura e seu dispositivo.

Sem haver sequer uma trilha, o terreno era ruim e a vegetação castigava, também havia um vento frio constante que, felizmente, uma garota mágica podia tolerar. Contudo, Sayaka cogitou se não era melhor ir saltando. Homura estava sendo muito cautelosa, mas a claridade no horizonte estava ficando mais evidente.

Elas chegaram em uma larga rocha. Homura rapidamente se recostou na superfície da rocha, em um claro sinal de estar usando-a como cobertura.

As outras garotas imitaram o gesto. Sayaka sussurrou enquanto ajeitava a sua capa branca, "Nós estamos perto?"

Homura respondeu no mesmo tom, "Vocês viram o pequeno morro rochoso justo à frente? As coordenadas são ali."

Kazumi ergueu as sobrancelhas, exclamando, "Ah sim! Mas não parece ter nada de especial, nem sequer uma luz."

"Abaixe a sua voz." Umika conjurou um livro, ele flutuou na frente dela e se abriu. As páginas viravam sozinhas em uma rápida frequência. A garota não se importava com isso, mais concentrada na aura envolta de sua ferramenta mágica. "Hmmm... Eu não consigo sentir nenhuma magia de larga escala. Esse morro é real, não é uma camuflagem ou ilusão."

"Então é dentro dele," Homura concluiu.

Kyouko revirou os olhos. "Ótimo, isso era tudo o que eu queria ouvir..."

"O que nós vamos fazer agora?" Kaoru perguntou, "nós vamos lá procurar por alguma pista? Ou esperar alguém aparecer?"

"Heh, esperar não tem sido parte dos nossos planos," Kyouko comentou.

"Face sul do morro."

Todas prestaram atenção na súbita declaração de Oriko.

"Há a entrada de uma caverna."

Sayaka balançou a cabeça. "Como você sabe disso?"

Oriko sorriu para ela. "Porque você irá encontrá-la."

Sayaka franziu a testa e abaixou o olhar.

"Certo, vamos confirmar a existência dessa entrada." Uma luz lilás envolveu Homura e seu vestido de funeral negro deu lugar para o seu antigo uniforme de garota mágica. Em seu antebraço esquerdo surgiu o seu escudo, com os dois compartimentos de areia roxa expostos, um vazio e o outro completamente cheio. Como esperado, o mecanismo estava destravado e era possível virar o escudo de cabeça para baixo, não que essa fosse a intenção.

Contudo, qualquer intenção fora postergada, pois Umika havia aproximado de repente. Ajustando os óculos, ela olhou para Homura da cabeça aos pés, com um semblante de surpresa.

Homura nada disse, aguardando ouvir a razão daquilo.

Umika perguntou, "Você tem dois uniformes de garota mágica diferentes?"

Kazumi também estava espantada. "Ela é que nem tipo um Kamen Rider!"

Já Kaoru não teve a mesma a reação. "Não sei o porquê de vocês estarem assim. Nós também usávamos uniformes diferentes."

Umika assentiu. "Sim, mas nós não podemos trocar para os nossos uniformes antigos."

Kyouko ergueu uma sobrancelha. "Vocês tinham uniformes diferentes?"

Umika, Kaoru e Kazumi responderam prontamente, "Longa história."

Homura colocou o dispositivo de GPS dentro do escudo e retirou dele uma garra plástica cheia de água.

Sayaka ergueu as sobrancelhas ao notar aquilo.

Homura entregou a garrafa para Oriko. "Compartilhe com quem estiver com sede." Ela então tirou de dentro do escudo alguns pequenos pacotes.

Kyouko reconheceu a embalagem. "Opa! Mandou bem agora."

"Essas são barras de cereais." Homura foi arremessando os pacotes para cada garota. "Essa foi uma viagem muito longa e essa parece ser a última oportunidade para repor forças."

Segurando o pacote, Sayaka sorriu e acenou com a cabeça. "Obrigada por nos levar em consideração, Homura."

Oriko concordou, "Ah sim, uma atitude louvável. Estou agradecida."

A garota de longos cabelos negros abaixou o olhar e virou a cara.

Sayaka jurava estar vendo um enrubescimento na face de Homura. Vendo-a daquele jeito, Sayaka não pôde deixar de lembrar da Homura com óculos e um longo par de tranças. No entanto, ela tratou de evitar essa idéia, ela já havia cometido esse erro uma vez. Homura não era alguém que podia ser resumida com uma imagem do passado.

Enquanto isso, Kazumi estava prestes a terminar de devorar sua barra de cereal. "Hmmm~~ Eu tava precisando disso!" Nesse momento, ela ouviu um bufar alto e sentiu um jato de ar quente em seu cangote. Ela se virou e teve um sobressalto. "WHOAAA! Um cavalo selvagem aparece!"

"Isso não é um animal selvagem." Sayaka estava com os olhos arregalados. "É... É a égua da Kyouko!"

"Por que tu tá aqui?" Kyouko se aproximou do animal e acariciou sua cabeça. "Hein? Eu não deixei água e comida pra você? Eu disse que iria voltar em um dia."

Oriko sussurrou para Homura, "Se alguém ainda tinha dúvida se esse animal era sobrenatural..."

Sem dizer nada, mas bem séria, Homura cruzou os braços.

"Vocês são cheias de surpresas." Umika se curvou para examinar a parte debaixo do animal. "Eu sinto magia, mas eu não tenho a sensação de que é um lacaio de bruxa. Essa égua é uma mascote mágica sua?"

"Ela é mais como uma dor de cabeça mágica que eu aprendi a amar." Kyouko esfarelou o que restava da barra de cereal, colocando na palma de sua mão e oferecendo para a égua comer. "Na verdade, ela até que se comporta, desde de que não tenha ninguém fritando camarão por aí."

"Tá meio escuro, mas a cor do pêlo dela é pêssego, né?" Kaoru perguntou, "ela tem nome?"

Kyouko respondeu, "Homura."

"Eh?" Kaoru olhou para garota de longos cabelos pretos. "Haha, ela tem o mesmo nome que o seu."

Homura pressionou os lábios.

"Bela homenagem," Oriko comentou com um sorriso.

"Sem comentários." Homura fechou os olhos e suspirou.

"Awww... Ela é tão bonitinha e mansinha." Kazumi afagava o corpo do animal. "Se a Satomi-chan tivesse aqui, ela iria adorar ter uma conversa com ela."

"Ter uma conversa?" Kyouko indagou, "Essa Satomi gosta de animais?"

Kazumi pousou a cabeça na pelagem, sentindo o seu calor. "Sim, ela me compartilhava histórias incríveis que eles contavam pra ela."

Kyouko franziu o cenho.

Homura pegou a garrafa de água e colocou de volta para dentro do escudo. Então uma sombra cobriu ela e seu uniforme de garota mágica deu lugar ao seu vestido funerário negro. "Kyouko-san, espero que seja capaz de manter a sua égua aqui. Nós temos que nos aproximar do morro sorrateiramente."

Oriko disse, "Isso não importa mais."

As garotas olharam para a loira, Homura estava especialmente tensa. "O quê?"

Com um olhar perdido e voz mais séria, Oriko anunciou, "Eles sabem que nós estamos aqui."

/人 ◕‿‿◕ 人\

[TODAS AS IRMÃS! COMPARECER À SALA DE SEGURANÇA! É URGENTE!]

Observando as telas, Invasora disse ao homem de pé ao seu lado. "O aviso foi feito."

"Bom." Inquisidor estava olhando especificamente para a tela contendo uma foto de satélite em infravermelho.

"Você já está aqui?"

Inquisidor se virou e viu Generalíssima se aproximar a partir de um canto da sala.

A mulher semicerrou olhar. "Eu pensei que eu tivesse pedido para você purificar as sementes para a missão."

"Eu fiz isso." Inquisidor apontou para as quatro sementes sobre o balcão que ficava sob as telas. "Eu terminei rápido e vim aqui pedir para Invasora para que nós revessemos as gravações do dia do roubo das sementes. Eu tinha uma idéia vaga em mente e queria confirmar, mas não encontrei nada. No entanto, para a nossa surpresa, há fotos de satélite de um grupo de pessoas lá na superfície."

"Grupo de pessoas?" Generalíssima olhou para as telas.

A porta de metal se abriu, era Revenante e Sortuda. A jovem mulher com sardas já entrou perguntando, "O que foi? A operação já vai começar?"

Generalíssima respondeu, "Há pessoas lá fora. Ameaças em potencial. Sete no total."

"SETE?!" A mulher negra chegou mais perto. "Garotas mágicas?"

"Bruxas," Inquisidor comentou como se quisesse corrigir Revenante.

"Você consegue mais imagens, Invasora?" Generalíssima perguntou.

A bailarina na cadeira fez a sua gema da alma brilhar. "Infelizmente, esse satélite não provê imagens noturnas em tempo real. Eu estou aguardando as próximas fotos."

"Tudo bem, isso não é tão necessário. Eu consigo ver que uma das pessoas está vestindo uma saia bem larga..." Generalíssima pressionou os lábios e assentiu. "Valquíria deve ter sido seguida."

Inquisidor especulou, "Ou o traidor conseguiu avisar alguém de fora."

Sortuda perguntou, "O que vamos fazer?"

"Permanecer escondido e esperar. Dessa vez, esse grupo não tem um membro da Irmandade para guiá-los até a entrada." Generalíssima olhou para o teto enquanto mandava uma mensagem telepática. [Nano, Madre, vocês não precisam vir até a sala de segurança. Há pessoas lá fora, possivelmente bruxas. Elas não sabem que estamos aqui, apenas sigam o protocolo. Madre, relembre as noviças a não usar nenhuma forma de magia. Elas devem estar descansando, mas garanta isso.] Ela continuou olhando para o teto, esperando por uma confirmação.

[Eu irei ver isso.] Madre respondeu.

[Ótimo.] Generalíssima voltou a olhar para as telas e cruzou os braços. "Certo, vamos esperar."

/人 ◕‿‿◕ 人\

Os Hope Conveyors estavam no morro, diante de um buraco que havia sido revelado quando elas afastaram alguns arbustos e galhos.

Kyouko ergueu as sobrancelhas. "Isso é uma caverna? Tá parecendo mais com a toca de um animal."

Homura examinou um galho quebrado. "Esses arbustos foram dispostos de propósito para esconder essa entrada."

"Um animal pode fazer isso." Kyouko ainda não estava muito convencida.

Oriko conjurou uma de suas esferas e a fez emitir luz. Então ela enviou o objeto flutuante pelo buraco. "Esse túnel vai fundo para dentro do morro."

Umika questionou, "De acordo com a sua visão, a Irmandade sabe que estamos aqui. Se entrarmos nesse buraco, não vai haver uma emboscada? Nem armadilhas?"

"Não," Oriko respondeu sem hesitar.

Kyouko afirmou para a loira, "Duvideodó."

Ignorando a discussão, Homura foi a primeira a entrar no buraco, surpreendendo a ruiva.

Sayaka foi a próxima. "Vamos Kyouko, chega desse medo. É um bom sinal se não há emboscadas ou armadilhas. Isso significa que eles devem estar dispostos a conversar."

"Tch..." Kyouko virou a cara.

Depois de Sayaka, o trio Plêiades começou a entrar no buraco.

Vendo que iria acabar sendo deixada para trás, Kyouko foi até a sua égua. "Ei Homura, fica de guarda, ok? Se alguém aparecer, relincha pra gente." Após passar as instruções, ela retornou e viu que Oriko estava se preparando para entrar.

A loira notou que a ruiva estava sorrindo com certa malícia. "Qual é a graça?"

Kyouko respondeu, "Heh, quero ver tu rastejar nesse buraco com essa saia enorme."

Sem dizer nada, apenas encarando a garota mágica vermelha, Oriko rasgou sua saia com as mãos, a dividindo em duas partes e revelando suas pernas com meia-calça branca.

Mantendo o sorriso maroto, Kyouko assentiu.

Oriko criou mais esferas para iluminar o buraco antes de entrar, seguida pela ruiva.

A descida era íngreme e a rocha era lisa, era necessário um esforço para evitar escorregar e descer rápido demais. O túnel foi ficando mais estreito, o que facilitava uso das paredes como suporte para evitar escorregar, mas também trazia uma sensação claustrofóbica sufocante.

Kyouko tinha apenas a luz e a sola dos calçados da Oriko como guia. Se ela parasse, acabaria ficando na plena escuridão. A pele estava molhada e ela não tinha certeza se era suor ou a umidade das rochas. Como elas continuavam descendo, Kyouko não podia deixar de imaginar como iria ser pior quando tivessem que retornar e subir.

De repente, os pés de Oriko desapareceram.

"Ei! P-Peraí!" Kyouko rastejou o mais rápido que pôde. Se agarrando as rochas, ela deu um grande impulso, mas então seu torso não sentiu mais o chão. "WhoaaaAAAHHH!"

"Peguei você!"

Foi uma breve queda. Quando Kyouko se deu conta, viu Sayaka sorrindo para ela. Pudera, ela estava nos braços da heroína de capa branca. "ÔoÔi! Me põe no chão!"

Sayaka atendeu ao pedido, mas não muito contente. "Hmpf!Não custa nada dizer 'Obrigada'."

"Obrigada..." Kyouko viu que Oriko já estava com Homura e as outras três garotas mágicas. A loira estava controlando esferas para iluminar o local, uma grande câmara com estalactites. Uma das paredes de rocha tinha uma larga fissura, era onde o túnel havia terminado e ela caído.

Kazumi estava maravilhada com formas das rochas. "Parece que estamos em outro mundo."

"Ou em uma barreira de bruxa." Kaoru olhava envolta, preocupada com o som incessante de goteiras.

Umika estava mais incomodada com a situação, especialmente em como ela estava suja por ter rastejado. "É apenas uma caverna."

Sayaka e Kyouko se aproximaram do resto do grupo. A ruiva logo disse, "Tá, isso é uma caverna, mas não tô vendo nada demais aqui."

Oriko abriu os braços e uma luz caiu sobre ela, reparando as suas roupas e criando a mitra em sua cabeça. "Nós precisamos aguardar." Ela olhou de relance para Homura.

A garota permaneceu em silêncio, cruzando os braços como resposta.

/人 ◕‿‿◕ 人\

"Elas não aparecem mais nas fotos do satélite," Invasora falou, "a última posição delas era no morro, isso significa que elas devem ter encontrado a caverna."

Revenante pôs as mãos à cabeça. "Droga!"

"Calma." Generalíssima mantinha um semblante firme. "Elas podem estar na caverna, mas elas não sabem da parede falsa e nós não iremos abrir."

Sortuda indagou, "E se elas resolverem explodir tudo pra ver se encontram algo?"

Generalíssima sorriu. "Nesse caso, é provável que a caverna colapse e nos poupe do trabalho."

Inquisidor conjecturou, "Essas bruxas talvez criem uma barreira para distorcer a realidade das paredes da caverna e então aparecerem aqui dentro."

Generalíssima olhou para o homem, agora mais preocupada. "Vamos rezar que elas não sejam capazes disso."

Invasora anunciou, "Movimentação na rampa de entrada, no portão!"

"O quê?!" Generalíssima aproximou sua face para perto da tela onde mostrava a imagem da câmera de segurança. Ela reconheceu a pessoa imediatamente. "O que ela está fazendo ali?"

Inquisidor também a reconheceu, ficando pálido no mesmo instante e então ele começou a recuar lentamente.

Invasora fez um zoom da imagem para dar a resposta para Generalíssima. Ela arregalou os olhos quando percebeu o que estava acontecendo. "Ela... está abrindo."

"Como é?!" Revenante exclamou. "Mantenha-a fechada!"

"Não dá!" Invasora estava desnorteada, tremendo em sua cadeira. "Ela fez uma abertura manual."

Começando a compreender a situação, Sortuda sentiu suas pernas ficarem fracas, enquanto seu coração parecia estar prestes a cair fora.

Revenante exasperou, "Impeça ela, Generalíssima! IMPEÇA-A!"

"Mesmo que eu faça isso agora..." Generalíssima abaixou a cabeça. "Esse é um procedimento de emergência, o portão de entrada não pode ser mais fechado."

Inquisidor continuou a recuar até as suas costas tocarem a parede. Boquiaberto, ele arfava, seus olhos esbugalhados denunciavam a perda em sua alma.

Revenante ficou em silêncio. Ela entendeu tudo que precisava entender. Só lhe restou ranger os dentes e guardar as forças para o que estava por vir.

Generalíssima voltou a olhar para a imagem da câmera. Os músculos de sua face contraíram em raiva, nojo, mas a luz da tela fazia as lágrimas em seus olhos brilharem, denotando sua grande tristeza. Seu fôlego compelido pela frustração fez ela sussurrar, "Não, não ela..."

/人 ◕‿‿◕ 人\

A espera das garotas na caverna foi interrompida pelo som alto, mas abafado, de um mecanismo destravando, logo seguido de um ruído.

Uma nova luz, não mais vindo das esferas da Oriko, mas da parede, enquanto a mesma começou a se mover.

A luz ficou mais forte e as garotas levaram um tempo para discernir que a parede era uma grande porta, e a luz vinha de um túnel largo de concreto, uma longa descida por uma rampa.

Oriko sorriu.

Do túnel veio uma silhueta escura, mas sob a luz das esferas, as características ficaram claras. Era uma mulher em uma armadura e com um escudo nas costas, parecendo com uma freira ou cavaleira, com uma coroa negra com três cruzes, com uma pequena gema vermelha na cruz do meio. Com as mãos juntas, um rosário vermelho estava enrolado em uma de suas manoplas. O sorriso em sua face era maternal e convidativo. "Saudações."


Próximo capítulo: Agnus Dei