OS KINOMOTO

Capítulo 12

"Hey papai!" – a filhinha caçula de Touya mal pôs os pés em casa e correu até o pai. – "Eu estava pensando... O que você acha de eu fazer umas aulas para aprender a me defender?"

"É sério? Você quer se defender de selvagens e de cabeludos?" – Touya a encarou incrédulo e, após ver a menina balançar a cabeça confirmando, abriu um grande sorriso. – "Que alegria! É claro que o papai deixa... E já escolheu que tipo de luta que vai aprender?"

"Sim. Arte marcial chinesa!"

BUUUMMMM

"Mãe! O papai caiu!"

"Ele fez isso de novo..." – Kath aproximou-se correndo e começou a dar tapinhas de leve no rosto do marido. – "Querido! Acorde!"

"Cadê esse chinês?" – Touya levantou-se subitamente já em pose de luta – "Traga-o aqui que eu acabo com a raça dele!"

"Como?" – Kath piscou algumas vezes sem entender e depois dirigiu o olhar à Marjarie. – "Minha filha, o que você aprontou dessa vez?"

"Nada! Eu estava falando que quero aprender arte marcial chi..." – a garota não completou a palavra ao ver os olhos arregalados do pai – "você-sabe-qual."

"Ai Touya! E você já faz esse escândalo? Não tem vergonha?"

"Bem... é que eu ando meio traumatizado com esses..."

"Você-sabe-quem... – Marjarie completou a frase do papai."

"Sim! Eles surgem do nada, roubando o que é meu!" – colocou as mãos no coração de modo dramático. – "Eu não sei se agüentarei mais um golpe dessa raça cruel e sanguinária!"

"Você não toma jeito mesmo..." – Kath balançou a cabeça de um lado para o outro e em seguida virou-se para a garota ao seu lado. – "Pode deixar que matriculo você nessa aula."

"Brigada mamãe!" – Marjarie falou enquanto abraçava Kath e logo saiu correndo para o quarto. – "hihihihi... mal posso esperar para ter aulas com aquele professor saradinho..."

Algum tempo depois...

"Já cheguei!" – Marjarie falou ao entrar em casa saltitante. Largou os tênis e a mochila num canto e saiu correndo até a sala, tropeçando no tapete e caindo de cara no chão. – "Ai não, de novo... "

"Você está bem?" – Touya perguntou, preocupado.

"Sim..." – a garota levantou-se envergonhada. – "Foi só um dos meus costumeiros tombos..."

"Nunca vi ninguém tropeçar e bater de cara na parede tanto quanto você... Tem certeza de que enxerga direitinho?"

"Tenho... – Marjarie sorriu sem graça." - Eu só sou muito desastrada mesmo..." – deu mais alguns passos e bateu no sofá. – "Ops! Hehehe..." - começou a olhar em volta estranhando o silêncio. – "Mas você está sozinho em casa?"

"Sim..." – Touya respondeu enquanto sentava-se no sofá. – "Sua mãe saiu com a Rô para fazer compras, conforme me falou... mas eu aposto que elas estão conspirando contra mim! Ai, meu coração..."

"Deixa de ser desconfiado, você sabe que elas nunca fizeram nada de mal para o senhor..."

"Não! Só quiseram me matar." - começando a enumerar nos dedos. – "Primeiro a Patty, quando se casou com aquele cavaleiro de meia tigela, depois a Rô quando caiu inocentemente nas garras daquele... daquele lá! E ainda com as inúmeras tentativas de fuga dela e também..."

"Mas deixa eu te contar..." – Marjarie preferiu interromper o drama do papai. – "Hoje na minha aula de artes marciais eu aprendi de montão! Agora já quase sei lançar, o olhar frio igual ao do meu sensei." – cruzou os braços e lançou um olhar com farpas de gelo na direção de Touya. – "Legal né?" – concluiu com um baita sorriso.

"Desde que não seja lançado em minha direção..." – Touya resmungou ao livrar-se dos cristais de gelo.

"E eu também aprendi uns golpes super massa!" – a menina continuou empolgada – "O sensei Ren é mesmo um ótimo sensei!"

"Como?" – Touya falou com os olhos muito abertos.

"É mesmo um ótimo sensei..." – repetiu.

"Não! O nome dele!"

"Ren..." – Marjarie respondeu hesitante.

"O Rin ambulante!" – gritou e levantou-se indignado.

"Não é Rin, é REN!"

"Rin, Ren, é tudo farinha do mesmo saco... mas eu não acredito que ele está de volta... o que ele quer?" – parou um segundo para pensar e logo ficou com uma expressão horrorizada – "Não! Ele quer roubar a Kath de mim! Eu sabia! Esses chineses não prestam!" – com um movimento rápido, pegou uma almofada e começou a socar. – "Toma! Seu chinês destruidor de lares! Desgraçado!" – nesse ponto já estava atacando a pobre almofada com os dentes.

"Pai! Acalme-se! O sensei já sabe que a mamãe gosta de você, não precisa se preocupar porque ele não vai roubá-la."

"Então..." – Touya parou um segundo para pensar e em seguida ficou com a expressão ainda mais horrorizada – "Ele quer roubar você de mim! Ah! Esses chineses, vivem querendo o que é meu! Eu vou acabar com esse Rin, e nem um transplante será capaz de salvá-lo!"

"Pai, olha o escândalo... o que os vizinhos vão pensar?"

"Pouco me importa os vizinhos! Eles não são diariamente ameaçados por chineses! Aaahhhh! Ele quer a minha princesinha!"

"Pai! Ele não quer nada! O Ren é só meu sensei de artes marciais... Eu também não quero nada com ele... tá certo que ele tem uma barriguinha maravilhosa, mas não é por isso que eu vou fugir para casar..."

"Fugir para casar! Eu sabia! "

"Pai! Calma! Senta no sofá... fecha os olhos... isso... agora respira fundo e sinta o cosmo..."

"Cosmo!" – Touya abriu os olhos num rompante – "Isso é coisa daqueles cavaleiros desmontados! Não me diga que você está namorando um também?"

"Eu não estou namorando ninguém... E agora se aquieta e sinta a energia shaman..."

"AAAAAAHHHHHHHH!"

"Ops... falei bobagem..."

"Eu sabia! Eu sabia!" – já preparava mais um interminável falatório sobre o quanto era maltratado por sua família quando escutou um ruído na porta de casa. Levantou-se de um pulo e se pôs em posição de defesa. – "Deve ser o Rin... ele veio seqüestrá-la! Marjarie esconda-se embaixo da mesa. Aquele chinês não conseguirá nada sem uma boa luta!"

"Pai, estou começando a achar que o senhor não bate bem da cabeça... "

"O que está esperando? Esconda-se!" – vendo que a menina continuava estática, empurrou-a com tudo para trás do sofá e apagou a luz. – "Agora faça silêncio!" – segurando fortemente a almofada recém detonada pelas mordidas, ficou pronto para enfrentar a batalha da sua vida.

Escutou os passos aproximando-se, logo distinguiu um vulto, esperou pacientemente até que ele adentrasse em sua área de ataque, mirou e jogou com tudo.

"Touya, eu e a Rô estávamos pensando em..." – Kath entrou calmamente na sala, mas parou subitamente ao levar uma almofadada babada bem na cara. – "Mas o quê?" – perguntou irritada procurando o autor de tamanha ousadia, encontrando apenas Touya com uma estranha expressão lunática no rosto.

"Mamy, onde que eu..." – Rô entrou com algumas sacolas, mas também parou ao ver a inusitada cena.

"Cadê o chinês?" – foi a única coisa que Kinomoto pai conseguiu falar.

"Que chinês?"

"Aquele! O tal de Rin safadinho. "

"É Ren saradinho!" – Marjarie respondeu com a voz abafada pelo enorme sofá à sua frente.

"Ah! Ele..." – Kath falou sem dar muita importância.

"Rá!" – Touya gritou triunfante – "Agora você lembra! Diz aí, cadê o infeliz? "

"Como é que eu vou saber?"

"De onde você tirou a idéia de que ele apareceria?" - Rô falou dividida entre a vontade de cair na gargalhada e a preocupação pela sanidade mental de seu pai.

"Eu sinto o perigo se aproximando..." – Kinomoto falou com ar de suspense.

"Ih, papai agora já está até usando o sétimo sentido... daqui a pouco ele vai querer elevar seu cosmo até o infinito..." – Rô falou achando graça.

"Ainda posso sentir..." – Touya falou baixo sem prestar atenção nos diversos termos técnicos dos cavaleiros usados por Rô, depois, virou o rosto para a janela a falou com o olhar vidrado – "Marte está brilhando essa noite... "

Kath deu um cascudo na cabeça do marido.

"Pára de loucura e vá preparar o jantar!"

Touya obedeceu, ainda resmungando sobre a nuvem conspiratória que pairava sobre sua cabeça.

"Acho que agora ele pirou de vez..." – Kath suspirou balançando a cabeça e foi atrás de Touya, vendo que o marido estava revirando as compras como se esperasse que Ren saltasse subitamente de dentro do pacote de massa.

Rô finalmente caiu na risada.

"O papai consegue sempre se superar... ficar achando que o Ren apareceria assim, do nada."

"Na verdade, não seria bem, assim, do nada..." – Marjarie comentou meio sem jeito, enquanto se levantava espanando as mãos na calça.

"O que você quer dizer?"

"É que... sabe as minhas aulas de artes marciais?" – continuou após a afirmação de Rô – "Pois é, o meu sensei é o Ren."

"O Ren?" – Rô riu mais ainda. – "Irmãzinha, não sabia que você se interessava por homens mais velhos..."

"Não é nada disso, eu realmente queria ter essas aulas e..." – parou ao notar o olhar incrédulo da irmã. – "Ok, ok, eu confesso, é que o Ren é muito gostoso!"

"Só podia ser por isso mesmo..." – a irmã mais velha falou ainda rindo.

"E ainda tem um aluno dele... ele é ruivo, de olhos verdes... um gato! Isso sem falar no Shun... e também o Heero..."

"É, pelo que eu estou vendo, acho que você vai ser pior do que eu e a Patty juntas."

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

A campainha tocava de modo insistente na residência Kinomoto. Kath, Rô e Marjarie estavam arrumando a cozinha, enquanto Touya lia seu jornal sentado no sofá.

"Querido, pode abrir a porta?"

"Ok..." – Touya grunhiu a resposta e levantou raivoso, amaldiçoando todas as gerações do ser que ousava interromper sua leitura. Fez sua pior cara de poucos amigos e abriu a porta, encontrando um rapaz com uma expressão pior que a sua. Franziu a testa e começou a encarar o estranho à sua frente com um olhar mortal que foi retribuído com a mesma intensidade.

KKKKKK

"Touya está demorando..." – Kath comentou enquanto lavava mais um prato – "Marjarie, você pode ver o que ele está aprontando na porta?"

"Claro!"

KKKKKK

Continuaram lançando raios pelos olhos até que o barulho de algo caindo os assustou. Num reflexo, o rapaz sacou seu revólver.

"Droga! Tropecei outra vez!"

O estranho se permitiu um sorriso ao ouvir a voz da garota.

"Que susto!" – Touya virou-se para trás com as mãos no coração. – "Marjarie, vê se toma mais cuidado!" – voltou a encarar o misterioso rapaz e percebeu que ele estava armado. Caiu sentado com as mãos para o alto e os olhos saltados. – "O que você quer?"

"Quero falar com a Marjarie." – o rapaz disse enquanto guardava a arma.

Touya rapidamente se recuperou do choque e se pôs de pé.

"Você não fará mal à minha princesinha." – com um movimento rápido agarrou um espanador e apontou-o de modo ameaçador. – "Prepare-se!"

"E para quê exatamente devo me preparar?" – levantou a sobrancelha com um olhar de desdém. – "Para ter a poeira arrancada de mim?"

"Grrr..." – Touya atirou-se para o lado, pegando também a pá de lixo, e se pôs em posição de defesa.

O rapaz apenas o encarou com um sorriso superior, achando que o homem à sua frente era um completo maluco. Desviou os olhos para o lado e viu Marjarie chegando saltitante, com um curativo na testa devido ao tombo barulhento.

"Heero!" – a garota abriu um grande sorriso ao ver quem estava na porta.

"Olá."

"Que bom que você veio..." – virou-se para o lado e viu as armas de Touya. – "Papai, você vai fazer a faxina?"

Touya bufou e atirou espanador e pá de lixo longe.

"Você conhece esse marginal?"

"Ah não, ele não é marginal, ele é o Heero."

Touya apenas ficou encarando a filha com os braços cruzados, esperando uma explicação de quem raios era esse tal Heero. Respondendo a pergunta silenciosa, Heero passou um braço pela cintura de Marjarie, deixando Touya possesso.

"Sou o namorado dela."

"Hã?" – Marjarie não entendeu a artimanha.

"O QUÊ?" – Touya conseguiu gritar antes de tudo escurecer.

BUUUUUMMMM

"Papai!" – Marjarie gritou assustada. – "Heero, por que você falou isso? Eu disse que papai é sensível a essa palavra."

"Eu só queria fazer um teste." – Heero respondeu sorrindo.

"Bobo!"

"Pelo menos ele fica preparado para quando você realmente tiver um namorado."

"Duvido que isso aconteça." – sacudiu a cabeça para evitar pensar num certo ruivo. – "Vem, me ajuda a levá-lo até o sofá."

Aproximaram-se para carregar o Kinomoto adormecido quando este abriu os olhos e levantou pronto para a briga.

"Namorado. Na-mo-ra-do! NAMORADO! Eu não vou permitir! Marjarie você ainda é uma criança! E ainda por cima, escolheu justamente esse meliante? Ele anda armado! No mínimo é um fugitivo da prisão. Olha só essa cara de mal que ele tem! Espera! Não me diga que ele é chinês? Ah, como se não bastasse eu ter que aturar aquele Rin, você ainda me aparece com esse outro aí!"

Marjarie apenas ficou abrindo e fechando a boca ante a loucura de seu pai. Provavelmente no último BUM havia batido a cabeça e soltado os poucos parafusos que ainda estavam no lugar. Heero, no entanto, começou a rir.

"Ora, seu moleque!" – Touya já estava a ponto de voar no pescoço do rapaz.

"Papai, pára com isso. O Heero é meu amigo e veio me explicar a matéria de física. Você sabe que semestre passado eu levei bomba."

"Física é? Eu sei bem que esses delinqüentes só entendem é de contato físico! Buáááá! Minha filhinha, tão inocente!"

Ao ouvir o escândalo, Kath e Rô foram até a porta, encontrando Touya aos prantos e um rapaz rindo às gargalhadas.

Marjarie correu até Kath.

"Mamãe! Põe algum juízo na cabeça do papai. Ele pirou!"

"Isso não é nenhuma novidade..." – Rô comentou – "Bem que o Choco o chamava de velho gagá."

A palavra Choco foi capaz de causar efeito imediato, Touya num instante parou de gritar e derramar toneladas de lágrimas.

"Srta. Rô, o que foi que você disse?"

Rô devolveu o olhar feio do pai.

"Eu disse que o Cho..."

"Ela não falou nada..." - Kath disse tapando a boca da filha para evitar que falasse novamente a palavra proibida. – "E agora Touya, pode, por favor, se comportar? Não vê que sua filhinha trouxe visita?"

Touya esqueceu o pequeno probleminha com a palavra Choco, e recomeçou o ataque.

"Ele não é visita, ele é um delinqüente que quer namorar nossa filha! "

"Olha só o que você fez!" – Marjarie deu um tapinha no braço de Heero.

"Mas é divertido." – Heero respondeu ainda rindo.

"Concordo." – comentou Rô unindo-se às risadas com Heero.

"Eu já sei como resolver tudo!" – Touya falou após instantes de choros e lamentações. – "Marjarie, faça suas malas! Você vai agora mesmo para a Sibéria."

"Hã?"

"Gostei da idéia, hey Kinodoido, se quiser eu mesmo a levo com meu Gundam... Imagina só..." – nesse ponto já estava fazendo um grande esforço para conseguir falar, em meio às gargalhadas. – "Nós dois, bem juntinhos na cabine apertada do Wing Zero".

"Hum... gostei..." – a garota falou após imaginar a cena. – "E aí, quando é que a gente vai?"

"Como é?" – Touya chegou a cuspir junto ao grito, Marjarie apenas soltou uma risadinha safada, ainda imaginando como seria a viagem. Rô apenas balançou a cabeça.

"Essa minha irmã..."

"Mudei de idéia!" – o pai falou de súbito – "Vocês não vão para canto algum! Marjarie, você queria estudar? Pois bem, estude, mas será debaixo das minhas vistas!"

"Sem problemas!" – pegou Heero pela mão e levou-o até a mesa da cozinha. – "Vem Heero, eu tenho várias dúvidas."

"Não se preocupe, eu te ensino tudinho..." – Heero falou com uma voz que deixava margem a segundas interpretações, desviou o olhar para ver a reação de Kinomoto.

"Tudo o quê?" – veio o grito em pânico.

KKKKKK

"Não estou gostando disso..."

"Touya, ele só veio ajudar sua filha." – Kath falou de modo calmo.

"E o que ele disse que é mesmo? Piloto Gundam... rá! Isso não é trabalho! E além do mais... Eles precisam sentar um ao lado do outro!"

"Queria o quê? Que eles ficassem a metros de distância conversando telepaticamente?"

"Exatamente! Eu vou até lá separá-los!"

"Fica aqui!" – Kath segurou o braço do marido.

"Grrr, gronf... grau..."

"E pára de rosnar!"

Emburrado, Touya cruzou os braços e começou a vigiar cada movimento do delinqüente.

Heero ajudava Marjarie a resolver alguns exercícios quando sentiu o olhar fixo de Kinomoto. Deu um sorrisinho e se aproximou ainda mais da garota, a envolvendo em um meio abraço.

"GRAU!" – Touya saltou de pé. – "Agora eu acabo com ele!"

"Touya!" – pegou a almofada e atirou com tudo no seu morenão que tornou a se sentar, bufando.

Heero apenas ampliou o sorriso, descobriu que irritar o pai de Marjarie era muito mais divertido que uma batalha com seu Wing.

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Touya e Kath estavam sentados abraçados assistindo a um filme quando a campainha tocou.

"Já vai!" – Kath levantou-se.

"Não!"

"Algum problema Touya?" – ela fitou o marido com curiosidade.

"Claro que não querida..." – Touya respondeu colocando um sorriso inocente em seu rosto. – "Eu só ia dizer que você não precisa se incomodar. Pode ficar sentada que eu abro a porta."

Kath começou a encará-lo de modo desconfiado, mas por fim, sacudiu os ombros e tornou a sentar.

"Aposto que é o delinqüente." – Kinomoto falou transformando seu sorriso inocente em malvado. – "Mas hoje eu estou preparado." – retirou um canivete suíço do bolso e começou a rir de modo lunático. – "Huahuahaha."

Devidamente armado, Touya respirou fundo preparando-se para o embate e abriu a porta. Mas não era Heero quem estava à sua frente. Ficou decepcionado ao ver que teria seu duelo mortal adiado.

"Boa tarde. A Marjarie está?"

Touya apenas começou a analisar a pessoa à sua frente, parecia uma garota. Mas a voz definitivamente não era de uma. Pensou alguns instantes, será que era um goiabinha? Se fosse, não representaria o menor perigo.

"Está... já vou chamá-la." – respirou fundo e soltou o berro. – "MARJARIEEEEEE!"

A casa tremeu, Kath já se preparava para ir puxar a orelha do marido quando Marjarie passou feito um furacão, indo até a porta. Poucos segundos depois, Rô também desceu as escadas e juntou-se à mãe na sala.

"Que foi?" – a garota abriu um sorrisão ao ver quem era. – "Shun!" – correu e deu um abraço bem apertado no seu lindinho.

"Não estou gostando disso..." - veio o resmungo de Touya. – "Ei vocês! Podem parar com o agarramento! Só porque esse matinho tem jeito de goiabinha não significa que possa..."

"Goiabinha? O meu Shun não é nenhum goiabinha! Francamente papai!" – respirou fundo para se acalmar. – "Bem..." – virou-se para Shun que estava com os olhos arregalados. – "Vamos entrar?"

"Sim..." – conseguiu balbuciar antes de ser puxado pela garota.

"Só mais uma coisinha papai... O Shun é meu namorado." – falou virando-se por alguns instantes para trás, logo voltando a caminhar tranqüilamente.

"Ei, por que você falou isso?" – Shun perguntou baixinho. – "Você sabe que eu gosto da June.?"

"Ah, relaxa! Tá tudo sob controle."

Touya permaneceu alguns segundos processando a informação até que.

"O QUÊ?" – berrou.

"Ai, ai dois berros no mesmo dia é demais..." – Shun reclamou tapando os ouvidos.

Marjarie soltou uma risadinha e caminhou até Kath e Rô.

"Esse é o Shun."

"É um prazer conhecê-la senhora Kinomoto..." – Shun inclinou-se respeitosamente.

"O prazer é meu..."

"Oi Rô, tudo bom?" – o rapaz falou alegre e recebeu um aceno da amiga. – "Depois eu te passo um recadinho do Seiya." – completou num sussurro.

"Valeu!" – ia abrir a boca para dizer mais alguma coisa quando foi interrompida por um descontrolado Touya que chegou correndo desesperadamente.

"Marjarie Kinomoto, me explica direito essa história. Esse aí..." – apontou Shun com o polegar – "É o seu namorado?"

"É isso aí."

"Sério?" – Rô perguntou interessada.

"UAAAHHHH!"

"Querido acalme-se." – Kath falou preocupada. – "Você não tem mais idade para ter esses ataques."

Touya interrompendo o grito no ato.

"Como é? Tá me chamando de velho?"

"Claro que não! Só estou preocupada com você!"

"Ok, me desculpe..." – passou as mãos pelo cabelo de modo nervoso. – "E você!" – dirigiu um olhar assassino para Shun que chegou a se encolher. – "Quem você pensa que é para namorar a minha filha? Aposto que não tem a menor condição de dar um futuro digno para ela! Diga, o que você é? Cabeleireiro?"

"Ele é um Cavaleiro de Bronze." - Marjarie respondeu já que Shun estava meio assustado para sequer abrir a boca.

"NÃÃÃOOOOO!" – foi o estridente grito soltado pelo papai. – "UM CAVALEIRO? GRRRUUAAAARRRR!" – virou-se para Shun com olhos saltados e rangendo os dentes.

Marjarie atirou-se na frente de Shun para impedir que o coitado fosse assassinado.

"Pai, calma! Eu vou dizer a verdade... O Shun não é meu namorado. Eu só disse isso para que você não o chamasse de goiabinha."

"Não é?" – perguntou, parando de arrancar os cabelos e em seguida abraçou a filha. – "Ah minha princesinha eu sabia que você não arrumaria um namorado tão cedo!"

"Sabia?"

"Sim, claro! Foi por isso que eu mantive a calma durante todo o tempo."

"Sei..."

"Ah... já acabou a briga?" – Rô perguntou decepcionada.

KKKKKK

"Então esse aí é cavaleiro de lata... e eu que pensava já ter visto, representantes, o suficiente dessa espécie."

"Existem 88 cavaleiros ao todo, mas tem algumas amazonas no meio..." – Marjarie começou a explicar o esquema.

"88? Ai meu coração! Mas você não conhece todos, não é?"

"Ah não! Só o tio você-sabe-quem, o tio Dragão e o Ikki... Mamãe também o conhece."

"Fica quieta, Marjarie." – Kath falou com os olhos arregalados.

"E quem é esse?" – Touya perguntou praticamente espumando.

"É irmão do Shun." – a filha mais velha respondeu.

"Irmão do matinho?" – Touya não pôde evitar um suspiro de alívio. – "Então não deve ser de nada."

"O Ikki?" – Marjarie continuou sem noção do perigo - "Não! Ele é super sar..." – parou assustada, quando percebeu o ar de pânico da mãe, quase tinha dito bobagem. 'Ai, ai, ai e agora? Que palavra é parecida com sarado? Safado? Não, daí eu pioro a situação...'.

"E então... ele é o quê?" – Touya perguntou com os olhos estreitos enquanto Kath tentava de todas as formas fazer gestos para que a garota desse um jeito na situação. Rô observava a tudo divertida enquanto acariciava a barriga de leve.

"Ele é sa... sar... sarnento!"

"Sarnento?" – Kath começou.

"O Ikki?" – Shun completou.

Marjarie cutucou Shun para ele confirmar a história

"É... e é terrível. Isso foi culpa daquele mestre, aquele lá é a própria sarna em pessoa."

Kath apenas balançou a cabeça achando que sua filha não levava o menor jeito para inventar desculpas.

"Sarnento! Hahahahaha... Só podia ser um cavaleiro mesmo... hahahaha"

"Ele acreditou..." – Kath e Rô ficaram totalmente incrédulas.

"Hahahaha..." – continuou gargalhando enquanto secava as lágrimas de riso. – "Mas me fala... hahaha... e essa deusa que eles protegem? Deve ser uma fracote inútil."

"A Bruxaori?" – Marjarie adotou uma postura indignada na hora. - "Rá! Aquela lá não serve para nada! Só sabe ficar gritando." – juntou as mãos na frente do coração e fez voz de falsete. – "Seiya!"

"Que eu me lembre, esse nome foi proibido nessa casa." – Touya falou extremamente sério.

"É? Ah, é... Eu tinha esquecido..." – a garota deu um leve tapinha na testa – "Pois bem, continuando... Olha, não sei como a mana ainda não mandou uma bomba para aquela criatura, eu até posso fazer umas armas químicas super potentes."

"Sério? Então que você está esperando irmãzinha?" – Rô perguntou com uma expressão de extrema alegria ao imaginar um fim bem trágico para a mosca morta.

"Marjarie, é melhor você não ficar dando idéias, senão a Rô vai mesmo mandar a panqueca pelos ares." – Shun estava preocupado.

"Isso aí!" – veio a afirmação entusiasmada da garota.

"E qual o problema?" – Marjarie perguntou sem entender.

"O problema é que daí, eu e os outros cavaleiros teremos que proteger a bruxa."

"Vendo por esse lado..." – Rô falou pensativa. – "É, é melhor deixar a Peruori quieta no canto dela."

"Hum... então, se eu ameaçar essa tal bruxa eu consigo meter os cavaleiros em problemas... bom saber disso." – Touya falou enquanto um sorriso malvado surgia.

"Ai, ai, ai no que você tá pensando papai?"

Como resposta Touya começou a rir feito louco, deixando todos assustados.

"Touya! Comporte-se!" – Kath ralhou com o moreno.

"Hahahaha o cabeludo e aquele-que-não-deve-ser-nomeado não perdem por esperar!"

"Ah, não! Vai implicar com eles de novo?"

"De quem o Sr. Kinomoto está falando?" – Shun cochichou para Marjarie.

"É do Shiryu e do Seiya. Papai vive implicando com eles. Na verdade, ele implica com qualquer um que se aproxima de suas filhas."

"E tudo piorou ainda mais depois do que aconteceu comigo e o Choco." – Rô, que estava sentada do outro lado de Shun aproximou-se para cochichar também.

"Sim, Seiya me contou..."

Touya continuou mais algum tempo com seus planos maléficos até que notou a proximidade entre suas duas filhas e Shun. Imediatamente fez a carranca, marca registrada de Touya Kinomoto.

"Hey vocês! Podem ir se separando! Que pouca vergonha é essa?"

Marjarie apenas rodou os olhos.

"Pronto, começou."

By Marjarie

Nota da Rô: oi pessoal que lê as loucuras da Família Kinomoto. Desculpem a demora em postar capítulo novo, mas ultimamente eu ando uma preguiçosa de primeira. Esse capítulo é todinho da mana Marjarie, e ficou muito engraçado, coitado do Touya...ehehehe...

Agradeço aos reviews que estão deixando...

Obrigada em nome da família.