Disclaimer: Harry Potter é propriedade de JK Rowling. E a história que engatilhou a escritura dessa fanfic não é minha. Pertence, originalmente, a um doujinshi/fanzine de Harry Potter, cuja autora, perdoem-me, não sei o nome. Letra e melodia da música 'Com açúcar, com afeto' também não me pertencem.

Aviso: Slash. E o adjetivo 'sentida', da música, foi passado para o masculino por mim, para se adequar melhor ao contexto da história. A música foi 'cortada e colada' em um determinado momento, também pelo motivo de coerência contextual; nada grave.


Com açúcar, com afeto
Fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa

Qual o quê
Com seu terno mais bonito
Você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa

Quando a noite enfim lhe cansa
Você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão

Qual o quê
Diz pra eu não ficar sentido
Diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração

E ao lhe ver assim, cansado
Maltrapilho e maltratado
Ainda quis me aborrecer

Qual o quê
Logo vou esquentar seu prato
Dou um beijo em seu retrato
E abro meus braços pra você


Foi um erro, uma trivialidade.

Eu... Me machuquei de uma forma horrível.

E isso foi tudo.

Remus estava sentado, segurando fracamente a xícara de chá já fria, acorrentado pelos pulsos e calcanhares.

Não foi nada.

O cachorro negro foi mordido pelo lobo durante a lua cheia.

Mas, dessa vez, as feridas foram mais profundas.

Sirius estava sentado numa cadeira, apoiado nas costas de madeira, seus olhos fixos em Remus.

Geralmente minhas feridas cicatrizam antes d'ele acordar.

Mas dessa vez eu me confundi com o feitiço e levei um pouco mais de tempo,

As garras de um lobo eram feitas para ferir mortalmente. Sirius não iria nunca dizer nada para Remus, mas, daquela vez, as garras quase cumpriram sua utilidade existencial.

e

Seu ombro ardia, mas o que mais ardeu foram os olhos castanhos de Remus queimando contra sua pele sangrenta. Sirius sabia que não era uma imagem bonita.

ele me viu.

Eu era o único ali que estava sangrando até a alma pelas feridas,

Remus levantou seus olhos para os deles. Sirius não sabia o que ele pensava, e isso o enlouquecia.

ele era o único ali que tinha nos olhos expressivos um rastro flamejante de dor.

Então seus olhos se acalmaram de repente.

Remus caminhou serenamente até o cesto de roupas, pegando-o em seus braços.

-Você deveria pôr o lobo em suas correntes - foi tudo o que ele disse.

A manhã após a fase mais exuberante da lua - a lua cheia - passou.

Então tudo o que Sirius pôde ouvir foram os passos calmos de Remus porta afora, enquanto seu ombro ainda ardia numa dor silenciosa.

Se ele tivesse visto a dor que sangrava dentro de mim, ele não teria me deixado. Teria?

Então ele deixou o quarto, Remus sempre esteve preparado para partir.

Mas doeu mesmo assim...

Sirius fechou os olhos e veio em sua mente o dia em que ele fora para a cozinha, para fazer para Remus qualquer coisa que fosse com suas próprias mãos.

O resultado fora um macarrão refogado ao alho e óleo, algo comestível, pelos deuses.

Mas Remus sorria, enquanto enrolava os fios molhados de óleo no garfo.

-Está muito bom - disse gentilmente, e Sirius sentiu que não podia ser mais feliz.

Por mais que tentássemos,

Um dos tantos beijos consentidos que compartilharam veio aos seus lábios.

nada nunca mudou.

Os poucos pertences que ele preservava sempre haviam se mantido dentro da mala de couro velha, e eu nunca cheguei a me importar.

O casaco marrom continuava pendurada, e a mala, encostada na parede.

Então um dia eu acordei,

-Remus? Bom dia!

e sua mala e seu casaco haviam desaparecido.

Sirius enlouqueceu de raiva.

As roupas,

Pegou o pedaço de papel que estava na mesa.

os pertences,

Leu-o em dois segundos.

haviam sido deixados para trás.

Assim como eu.

"Não nos veremos por um tempo. Estou lhe devolvendo as coisas das quais me apossei.

Obrigado,

Remus."

E então eu saí à procura dele.

O Bar Blueberry era um dos bares de uma cidade pequena que havia a muitas milhas de onde Sirius morava.

Eventualmente, eu o encontrei.

Remus tomava um whisky quando seus olhos se encontraram com as orbes selvagens de Sirius. Aqueles olhos que o faziam tremer...

Tirei a carta do meu bolso; a rasguei bem em sua frente.

Sirius o pegara pelos braços e o levara de volta para seu lado, à outras milhas de distância.

Remus foi, sem dizer uma palavra.

Remus veio comigo.

E por causa dessa experiência tão "doce", por meses seguintes eu não me senti vivendo realmente.

Toda manhã meus pensamentos se paralisavam, e eu parava meus olhos na mala velha de couro encostada na parede.

Sem Remus saber, Sirius contava silenciosamente os dias até a próxima lua cheia.

Então, numa manhã, quando faltavam 4 dias para a lua cheia, eu acordei em pânico.

Pulei e fui comprovar que a mala de couro não estava mais lá;

Seu coração voltou a bater.

mas estava.

"A comida está quase acabando, Sirius. Fui fazer compras na cidade mais próxima.

P.s.: Sim, a comida realmente está acabando, pode ir lá na dispensa comprovar. Eu não fugi, Sirius.

Moony"

Um pedaço minúsculo de papel, que Sirius guardou apertado em suas mãos pelos próximos 4 dias sem Remus.

Dia 11.

O tamanho da lua.

Dia 12.

O tamanho da lua.

Dia 13.

O tamanho da lua.

Eu tinha certeza que ele não voltaria,

-Desculpe por ter demorado tanto.

então ele voltou, com os braços cheios de compras.

Remus abastecia a dispensa com todo o novo estoque de comidas dos mais vários tipos, quando Sirius percebeu um pacote intocado, deixado silenciosamente de lado por Remus.

Alguns minutos depois, quando tinha acabado de arrumar a comida na dispensa, Remus, sem dizer uma palavra, pegou cuidadosamente aquele pacote misterioso. Sirius ficou alarmado quando Moony o olhou tão intensamente, e sentou-se a sua frente na mesa, empurrando o pacote.

-Pra que isso? - Sirius perguntou, os olhos vagos no "presente" recebido.

-Abra - foi sua resposta.

Sirius estava com medo de abrir... E não importava o quão deplorável temer era para ele e seu orgulho, Sirius estava realmente apavorado. Então, engolindo todo o seu temor, sentindo-o passar como uma bola de pêlos por sua garganta, suas mãos se movimentaram inconscientemente até o pacote. Puxou com suavidade a fita que mantia o pacote fechado, e tudo o que se pôde ouvir foi o barulho seco do papel se abrindo. Uma caixa metálica, não muito grande, foi revelada diante aos olhos de Sirius.

Que diabos...

Um estalo e ele ficou profundamente chocado ao perceber o que era aquilo. Não, não, acorde Sirius, claro que não é..., ele dizia para si mesmo, mas não restava dúvidas quanto ao conteúdo daquela caixa de metal. Lobo maldito, e abriu a caixa sem cuidado algum. Um barulho alto se ergueu quando o metal colidiu com a madeira da mesa.

Uma arma, um punhal, e uma caixa de madeira repleta de balas reluzindo prateadas sob a lua.

Sirius pegou uma bala da caixinha. De repente se perguntou como Remus teria conseguido aquilo, já que onde moravam não existia comércio, e a cidade mais próxima com vida inteligente era realmente um tanto longe.

Por isso toda essa demora...

Era tudo de prata pura. Ele só não esperava que Remus tivesse sequer a mínima esperança de que Sirius usasse aquilo contra ele.

-Obrigado - agradeceu Sirius secamente. - Mas decidi levar em consideração o que você me disse uma vez.

Sirius tirou do armário correntes de prata, estendendo-as até a visão de Remus.

Ele ficou um pouco surpreso, mas logo me deu um meio sorriso.

Estendeu seus pulsos para mim, e acorrentei seus braços com ódio pulsando dentro das minhas veias.

Era quase hora.

-Aceita um pouco mais de chá?

-Oh não, obrigado - ele sorriu. - E já está quase na hora.

E,

-É.

a transformação começou.

Eu sabia que ele era um lobisomem... Sempre o soube, por 20 anos.

Mas eu podia contar numa mão as vezes que eu o havia visto se transformando na minha forma humana. Não acho que eu tenha conseguido ver sem desviar meus olhos dele, para não ver a dor, a dor nos olhos daquele a quem eu mais amava...

E quando Sirius moveu seus olhos corajosamente na direção de Remus,

Um gigante lobo prateado parado em suas correntes, era o que ele era.

havia um lobo olhando-o, no lugar onde deveria estar seu amante. Então era aquilo que a poção fazia, Sirius pensou vagamente.

"-Sirius, pense nisso, - a lua cheia brilhava por trás dos vidros da janela, iluminando James Potter - por que nosso Moony tem medo da lua?

-Porque ele se transforma num lobisomem durante a lua cheia, é claro! - foi a resposta imediata de um Sirius intrigado.

-...é porque ele é humano - James respondeu sua própria pergunta, ignorando a manifestação de Sirius. - É uma regra natural de que lobos cacem suas presas em ordem de sobrevivência. E os humanos são as presas do lobisomem."

Sirius colocou lentamente a bala de prata num dos buracos da arma. O metal era pesado e frio.

"-Apenas as pessoas os temem e pensam que são monstros ensandecidos.

-James..?

-Se sua alma fosse o de um lobisomem, você não teria nada a temer. De fato, você seria feliz, - garantiu James de forma hipnótica - na noite em que você estivesse liberto de todos as condições éticas humanas impostas, seguindo apenas o seu instinto. A fragrância doce do sangue - a lua se tornava cada vez mais assustadora, em todo seu esplendor. - O deleite do som da carne sendo estraçalhada... É a vibração mais linda, a valsa com a melodia mais sedutora...

-...Para com isso, James! - interrompeu Sirius. - Não insulte Remus dessa forma... Remus... Remus é humano!

-Oh, é verdade - James sorriu. - Remus é humano."

Sirius ainda sentia o metal frio em contato com sua pele. A arma pesava.

"-Nós o fizemos humano" - a voz de James ecoava em sua cabeça.

-Nem o céu nem o inferno vão te condenar - sussurrou Sirius, lembrando das palavras de James naquele dia. - Os únicos que vão condenar lobisomens como você...

Sirius levantou a arma lentamente, parando-a com o cano diretamente apontado para a cabeça do lobo Remus, que permaneceu em sua posição inicial, impassível.

-São os humanos - sentiu o frio do cano de metal em sua têmpora direita. Um movimento em falso e sua cabeça iria explodir; era tão simples e fácil.

Reação imediata; o lobo Remus grunhiu, mostrando seus caninos brancos e ferozes. Quando Sirius ameaçou puxar o gatilho em sua cabeça, o lobo Remus se agitou ferozmente em suas correntes de prata.

Remus sustentou seu olhar. Ele era tão lindo.

-Eu vou puxar o gatilho - disse Sirius suavemente. O lobo Remus se desesperou.

Então Sirius o fez, e ele não sabia se a bala seria disparada ou não.

Um uivo cortante e infinitamente triste e feroz silvou no ar, cortando-o como se fosse manteiga.

Os olhos de Sirius se encheram d'água.

"-Nós o prendemos com amor - disse James. - Remus nunca vai ser um lobisomem."

-Nunca vai ser um lobisomem...

"Nós o prendemos nas correntes da 'humanidade'."

A lua vai mergulhar de novo, e o sol vai nascer de novo.

Mas os pecados nunca serão apagados, ou queimados, mesmo assim.

O sol nascia.

Moony...

Você sabe qual é o nosso pecado?

Nós te tornamos um ser que só pode ser contaminado com a dor. Você é humano. Nós te fizemos humano.

Entretanto, será que você pode...

O sol inundou com seus raios todo o quarto, e Remus, Sirius viu, era Remus novamente.

Nos perdoar?

Remus levantou os olhos cruelmente adoráveis para ele, e lá tinha dor, tinha amargura... Lá estava a prova de que seu Remus era um ser humano. Seu humano, pensou Sirius.

A figura de Remus Lupin, brilhando com o sol, estava lá, bela e irreal, olhando para ele.

Um sorriso brincava em seus lábios.

Eu não posso parar de desejar que você seja humano,

Sirius envolveu a face de Sirius com suas mãos, olhando fundo em seus olhos dourados.

Mesmo que seja por minha inacreditável arrogância... Minha arrogância humana.

-Bem vindo de volta, Moony - sorriu ele, levando seus lábios aos de Remus.

O sol aquecia o quarto escuro e sem luz que era o quarto de Sirius e Remus.

A lua cheia iria demorar pra voltar.

-Você aceita um pouco mais de chá, Remus?

-Claro...