POEMAS
Capítulo 1 – No porta-retratos
No porta-retratos
Michelle Santos
Perdida e só estou dentro do meu próprio quarto...
A música de fundo é a chuva.
Tudo parece fora do lugar!
Meus objetos, meu mundo...
Não dá nem para falar.
Existem em mim, uma saudade e tristezas ridículas!
Em um porta-retratos, você me sorri...
Os seus olhos parecem olhar para mim...
Mas sei que no fundo é tudo uma doce ilusão!
Seu sorriso está congelado, não escuto mais o som;
Seus olhos estão distantes, não vejo o brilho que me alegrava!
Não tenho sua voz, nem calor.
No porta-retratos, tudo o que tenho é dor...
Você está longe e ao mesmo tempo, dentro de mim.
Quem sabe um dia, Deus nos una, enfim?
Lágrimas quentes rolam por minha face, a chuva fria, dá o contraste...
Onde estás? Por favor, preciso de você.
Pedirei a Deus em oração, para que faça de nós um só coração.
Pois, quero o movimento dos seus lábios sorrindo, quero ouvir o som da sua risada; quero rever os seus olhos com aquele brilho único, quero ouvir a sua voz, e sentir nas mãos o teu calor!
Não quero apenas uma foto muda...
Quero dar uma chance ao nosso amor.
OoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooO
Aperto o fofo travesseiro contra meu peito enquanto meus olhos lacrimejantes fitam a sempre tão tranqüilizante árvore de mais de 500 anos... A angústia corrompendo minha alma aos poucos junto com a penetrante solidão sempre tão negra... A penumbra da noite começa a deixar-me mais triste e mais reservada àquele cantinho de minha casa... Teu cheiro ainda permanece impregnado nesse maldito travesseiro que eu insisto em apertar contra o peito vazio e sofrido... Teus orbes importunam-me ao que fecho os meus, o que me custa algumas noites de sono... Tua face permanece em mim, permanece no retrato que tiramos no dia anterior da nossa despedida que há muito tempo aconteceu...
A lua, que agora está desaparecida, encoberta pelas nuvens, tenta fitar meu desespero interior... Tenta ajudar minha alma perdida como uma amiga que me aconselha a te esquecer de vez, já que tu não és meu... És de outra...
As lágrimas borram minha face, já há muito tempo úmida. A chuva molha a terra lá fora, sim, do mesmo modo que as lágrimas já molham o chão de meu quarto ao que me viro para dentro notando sua feição a me fitar tão sorridente.
-Maldito! Gosta de me ver sofrer! É? – quase gritei esquecendo-me de que encarava um porta-retrato prateado às duas horas da madrugada...
O que me resta agora é saudade... Saudade do tempo antes daquele porta-retrato enfeitar minha escrivaninha... Só espero que mamãe não torne a perguntar o motivo de eu ainda guardar essa foto já que ela me machuca acima de tudo. Mas não a colocarei fora de modo algum! Quero ao menos uma recordação do garoto que mais me fez sofrer... Do meu primeiro amor...
Amor... Por que ele tem que existir? Nos ilude de forma tão cruel, para depois matar-nos de pouquinho em pouquinho... Maldito sentimento que um dia existiu em meu coração partido! Maldito sentimento que me fez persistir em ficar ao seu lado! Maldito sentimento que acaba com minha vida de forma tão drástica! Maldito sentimento que me faz, ainda, crer em ser correspondida do mesmo modo ou de maneira ainda mais intensa!
A saudade de teus braços torna a me atormentar... Das noites que passamos juntos, sobre o mesmo luar, as mesmas estrelas, o mesmo cenário agora devastado em minha mente... Há saudade do teu sorriso sarcástico, da tua voz doce e carinhosa me indagando sobre minha saúde, seu sorriso apresentear meu coração com uma caixinha de presente onde a felicidade se mantinha escondida... Teus lábios tão quentes e brandos saboreando os meus com tanta cobiça, arrancando-me gemidos, fazendo-me delirar!
Ah... teus malditos lábios que me inquietam toda noite! Teus toques carinhosos e protetores! Como eu o odeio! Seu imbecil que fingiu me amar e agora me largou como se eu não valesse nada! Seu maldito! Por mais que eu diga e repita e esperneie e jure que te odeio, meu coração insiste em me lembrar e me fazer sofrer por você, meu único amor!
Quatro da manhã... meus olhos pesam, mas eu não quero dormir... Não quero ter que sonhar contigo outra vez! Não quero! Acho que a insanidade está tomando conta de mim, de meu coração, de minha mente... Maldito sejas tu, ó feiticeiro cruel! Encanta-me apenas com teu mais singelo movimento... Com sua mais irritada frase! Por que não me deixas em paz? Deixo que sigas teu caminho! Por que motivo não me deixas seguir o meu?
As lágrimas cada vez mais velozes partem minha face do mesmo modo que meu coração parte-se com a nossa distância que pode ser desfeita atravessando um simples e profundo poço... Meus lábios agora se entreabrem orando para que tudo passe e para que, ao menos uma última vez, eu possa sorrir sinceramente...
Ah... um sorriso... O que eu não daria para poder soltar um enorme sorriso agora? Esse teu retrato já não satisfaz meus olhos... Preciso te encarar outra vez e tentar adivinhar teus sentimentos e teus segredos mais profundos... Quero encarar teus olhos tão inocentes e poder satisfazem minha ambição de tocar-lhe a tão amena pele e saborear teus lábios tão calidamente... Quero ter-te em meus braços! Quero estar em teus braços! Quero e preciso estar com você, antes que me mandem para o hospício... Sim... estou enlouquecendo de saudades...
Por pouco não pego esse maldito retrato e não o atiro pela janela. Controlo-me e acabo apenas sentando-me encolhida ao lado da escrivaninha... A cabeça baixa, os lábios entreabertos, a respiração falhada, o peito doendo... As lágrimas cessaram apenas deixando a face úmida e fria... sem vida... Murmuro teu nome...
Elevo-me pegando o retrato em mãos... Meus dedos deslizam calmamente por sua feição branda, meus olhos cansados analisam cada detalhe seu... Sorrio ao notar o tom púrpura de tuas bochechas... Tão bela e corada face... Tão vívidos orbes doirados... Tão mais maravilhoso pessoalmente... Tão mais mortal pessoalmente...
Posso sentir algo aquecendo meus rígidos e gelados braços. Pude ter certeza que era sua manta vermelha-sangue aquecendo-me com seu amor. Meu coração acelerou e uma esperança se apoderou de mim... Meus olhos tornam a morrer ao ouvir a doce e suave voz de minha mãe pedindo para que eu descansasse um pouco...
-Posso ir ver TV? Não estou com sono mamãe... – murmurei... Os olhos baixos cheios de água cristalina que queria se atirar para minha face e escorrer por meu pescoço.
-Pode sim querida... – sem mesmo vê-la eu podia ter certeza que ela me sorria. É o que ela sempre faz... ela sempre me sorri levemente confiando cegamente nas minhas mais loucas decisões.
-Obrigada... – soltei um falso sorriso largando o seu, ou melhor, o nosso retrato de volta na escrivaninha.
Atravessei o quarto, desci a escada me dirigindo para a sala onde o novo sofá que mamãe comprara estava me esperando gentilmente para passarmos algumas horinhas juntos.
Lá estava eu outra vez... A televisão ligada, a janela levemente aberta, eu enrolada na manta de minha mãe com os pensamentos ainda concentrados em você... Em sua face tão amena, em sua voz tão determinada, em seu adeus tão demorado... Tão mortífero quanto uma picada de uma cobra como a cascavel...
-Já terminamos nossa missão. Pode voltar para sua maldita casa e para suas malditas provas agora!
-O-oque? – indaguei-lhe surpresa com tais palavras.
-Pode voltar para sua maldita Era, Kagome! Você não tem mais nada pra fazer aqui? Tem?
-Pare de falar assim com ela, Inu-Yasha!
-Deixa ele, Sango... Eu nunca servi pra nada mesmo... Só para juntar esses malditos fragmentos da Jóia! – exclamei mais alterada do que pensei ficar em um momento como aquele.
-Não é verdade Senhorita Kagome! Não se deixem levar por briguinhas tolas!
Ah... sábio Miroku... se eu tivesse escutado suas palavras talvez agora não estivesse aqui sozinha agora... Talvez eu estivesse aí com vocês todos, meus queridos amigos e meu odiado/amado Inu-Yasha...
-Ah! Claro! Ela também serviu direitinho pra atrair aquele maldito lobo-fedido, não foi? Por que não vai pros braços dele agora, hein? Kagome? – seus olhos miravam-me com raiva... sarcasmo...
-Kagome...!
-Éh... talvez seja melhor mesmo... – sorri maléficamente após interromper Sango com brutalidade – Já que o Kouga me trata melhor do que esse Hannyou, acho que é o melhor a fazer...
-Ah! Claro! Aquele imbecil fala um monde de baboseiras que você acredita que sejam verdades, mas que nem de longe são!
-Ao menos, meu querido Inu-Yasha, o Kouga está VIVO... Ao contrário da mulher que tentou me matar que você ama de paixão!
-Ainda não sei por que ela não te matou...
-Por que você não deixou... – abaixei a face marejada de lágrimas que eu tive certeza que ele percebeu... Virei-me na direção do Poço-come-ossos começando minha caminhada. Respirei fundo antes de me virar na direção de meus amigos – Pegue isso, é o que você tanto quer não é? Poderá se tornar um youkai muito poderoso, ou até mesmo reviver sua sacerdotisa... – dei um leve sorriso atirando-lhe a Jóia de Quatro Almas, agora, completa – Só não esqueça... Aquela nossa noite sozinhos sobre a luz da lua... Ninguém me tocou com tanto fervor Inu-Yasha... Guardarei aquele momento dentro de mim... – virei-me novamente começando uma corrida para minha casa. Pude jurar ouvi-lo exclamar meu nome antes que eu adentrasse a floresta... Mas eu nunca poderei ter certeza disso...
De volta a realidade... Acordei ao ouvir meu irmão descer as escadas correndo e gritando que tinha que se encontrar rapidamente com Hitomi... sua namorada... Respirei fundo desligando a televisão bem a tempo de vê-lo me encarar como se pedisse desculpas... Tonto! Seja feliz! Ande! Não dê bola pra titia da sua irmã! Um dia ela vai ser feliz! Ou vai parar num manicômio...
Sorri brevemente cruzando por ele e acariciando levemente seus cabelos curtos... Segui em direção da cozinha onde, poucos segundos depois, adentrei. Desejei um "Bom dia" enquanto sentava-me à mesa para desfrutar do café da manhã. Nove horas marcava o relógio acima da geladeira... Deixe-me ver... Quatro horas e meia de sono! Nossa! O Record da semana! Ah... eu já estava me acostumando a dormir só uma e meia... Uh... que pena...
Mamãe disse que lavaria a louça poucos minutos antes de eu adentrar meu quarto em busca de uma roupa. "É isso! Vou sair com minhas amigas agora! Vai ser divertido! Vamos ao cinema, depois no Mc Donald's e...!"
-E então Kagome... – começou Yuka fazendo uma pequena pausa para dar uma lambida no sorvete que derretia – como vai sua relação com o seu namorado, o Inu-Yasha?
-O-o que? – senti meu coração disparar. Como eu não pensei que elas me perguntariam sobre ele? Céus! Quando terei sossego?
-Seu namorado Kagome. Tudo bem entre vocês agora? – Eri repetiu a pergunta de Yuka com palavras diferentes, mas que me causaram a mesma dor da primeira pergunta.
-É que...! Eu...! Ele...! – eu não sabia como começar... Afinal... quem deu o fora em quem? Ambos nós?
-O que? Não me diga que brigaram outra vez? – Ayumi indagou deixando o sorvete de lado.
-Não...
-Ah! Ufa! Menina, me assustou! – Yuka riu junto com minhas amigas enquanto eu permaneci séria encarando o sorvete a minha frente que parecia não ter gosto algum para mim.
-Não só brigamos como terminamos...
-Como? – foi o que o coro pronunciou.
-Acabou... Acabamos o namoro... Nos demos um pé na bunda... Saí da casa dele e nunca mais posso voltar... Só ele pode vir aqui, o que eu acho impossível, então... acabamos... Sem namoro... Estou solteirona outra vez e... o perdi pra sempre... – expliquei provando do sorvete ainda sem sabor.
-Mas... vocês se davam tão bem!
-Não tão bem ao ponto dele confiar em mim... Yuka... – murmurei alto o suficiente para elas ouvirem.
-Ele não confiava em você?
-Não... – ri com sarcasmo encarando Eri. As lágrimas querendo descer outra vez – Tanto que me mandou correr para os braços de um dos garotos que ele odeia. É... – ri outra vez – Agora ele deve estar lá em sua casa... todo feliz! Curtindo a namoradinha dele!
-Namorada? – elas indagaram outra vez em coro.
-Éh.. éh, sim... Ele deve estar com a Kikyou agora... Afinal, ela sempre foi o amor da vida dele! Eu sempre estive em segundo plano... Um pneu reserva...
Elas se calaram... Eu não chorei... não derramei uma lágrima! Não por fora... mas por dentro eu afundava em milhões de lágrimas... E eu sei que posso gritar por socorro que ele jamais vai chegar, então... vou morrer afogada sem reclamar... Vou afundar nas trevas em meu coração... Nas trevas que consomem minha alma da forma que o fogo consome a madeira. Estou morrendo...
Fomos nos cinema àquela tarde... Um filme de comédia! Uma comédia da qual eu não ri... Uma comédia da qual eu não desfrutei... Uma comédia que não me animou... Uma comédia que fez as trevas aumentarem dentro de mim... Como uma represa que arrebentou e agora quer destruir tudo o que está no seu caminho... Quer me destruir...
Voltei para minha casa, tomei um bom banho e fui para o conforto de meu quarto. Sorri sarcasticamente para a fotografia sobre a escrivaninha... Você foi minha perdição... a causa da morte de meu espírito... O feiticeiro maldito que roubou meu coração com sua magia negra.
Meu coração se partiu em mais pedaços... Espalhando os estilhaços pelo chão de meu quarto... pelo chão do corredor, pelo chão da sala, pelo chão da cozinha, pelo chão do jardim, pelo chão do poço, pelo chão de tua Era... Jamais terei meu coração inteiro já que você está com a maioria dos fragmentos dele com você.
Posso implorar para que você volte para reconstituir os meus pedaços, mas eu sei... tenho plena certeza que você não voltaria nunca... Pode até me custar a vida, mas você não voltará... Eu posso dar uma nova chance para o nosso amor, para nossa vida, mas mesmo assim você não voltaria... Resumindo... estou morta... Mas não se incomode! Você sempre foi cruel, Feiticeiro...
OooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooO
Oie! Olha eu aqui! Nem terminei de postar "December Love" e já estou começando a postar outra fic! Hehehehhe! Fazer o que se me senti inspirada hoje pela tarde? E devo tudo a Ryeko-Dono! Eu estava lendo a fic dela "Retrato em branco e preto" quando eu tive essa vontade inesperada de escrever algo desse jeito. Minha mãe disse que ficou muito "drástica", minha amiga ( hihihihi! Dale neni!) disse que ficou "gótica", e vcs o que me dizem? Esse é o primeiro capítulo online! Divirtam-se!
Bjuxxxx!
