Harry olhou o rapaz, tão jovem, tão inocente, tão vivo... não pode deixar de sentir saudades do tempo que ele mesmo fora assim.

-Por favor continue.- disse Alisson deixando a taça vazia sobre a mesa.

Taça que tornou a encher juntamente com a sua.

"Foi quando abandonei tudo que era uma ligação com qualquer coisa que fosse, abandonei tudo mesmo, mochila ás costas, um pouco de dinheiro e mandei pelo mundo... procurando encrenca em cada canto sombrio que pude achar, nesse ponto alguns perderam meu rastro, os que me encontraram não passaram adiante minha localização, ou passaram aos que me seguiam, não havia um dia em que eu não duelasse como antes, não havia um dia em que eu não enfrentasse alguma criatura medonha... enfiado numa luta sem fim..."

-Porquê? Qual o propósito?

Parou em silêncio, verdade nua e crua brilhando nos olhos.

-Porque eu estava esperando...

-Esperando? Alguém?

-De certa forma... De certa forma o que eu estava esperando parecia ter vindo na forma de uma pessoa.

"Seria algum amor? Alguém especial?"Pensou Alisson.

Harry riu, uma risada fria, uma risada triste.

-Eu disse que seria uma história bonita, mas com certeza Alisson, nesse ponto não é uma história de amor...

O rapaz corou.

"Enfiado numa autopiedade medonha e insana eu me tornei um ermitão errante, vagando aqui e ali nos bares, nas estradas, onde eu estivesse, naquele dia eu estava num bar exótico no meio da Jamaica, um lugar onde turistas normais não iam, ponto de drogas e prostituiçao entre os trouxas, e ponto das transações mais escusas entre bruxos, o interessante nesses lugares do mundo, é que trouxas e bruxos convivem quase indistintamente, eu estava bebendo com uma prostitutazinha qualquer, minha única ambição naquela noite, quando aconteceu... apareceu o que eu procurava, ou eu assim o achei."

A garota ainda massageava seu peito por dentro da camisa com a pequena mão macia de unhas compridas enquanto depositava umas carícias bem úmidas em seu pescoço, outra mão perdida no meio do cabelo negro, ela tinha uma das pernas por cima da sua, morena, olhos amendoados, pele escura e longo cabelo negro numa trança, típica menina local, que estranhamente lembrava-lhe Parvati Patil, mandou a lembrança para o buraco mais escuro da anatomia humana enquanto tragava um cigarro e olhava no palco uma garota seminua rebolar com uma serpente, a infeliz cobra chiando que aquilo era a coisa mais enfadonha que podia existir depois de alguns anos...

-Quem diria que eu iria encontrar o menino de ouro, São Potter, no meio do maior antro de decadência da Jamaica!!!- disse uma voz cristalina e levemente arrastada ao seu lado.

Olhou a criatura ao lado, um segundo eterno para a ficha cair e balbuciar como um idiota.

-Mal... Malfoy?

O loiro lhe deu um sorriso cínico que só ele conseguia dar.

Identificação imediata apesar de não bater com o que poderia imaginar de um Draco Malfoy com vinte e quatro anos.

-Então Potter? Fala algo... ou a garota está roubando sua atenção?

-A minha ou a sua?- perguntou apontando com a mão que segurava o cigarro para a acompanhante de Malfoy, tão pouca roupa que a garota da cobra estava muito mais vestida.

O outro sentou-se em sua mesa.

-Draco Malfoy? O filho do Comensal Lúcio Malfoy? O que você matou?-Alisson perguntou incrédulo olhando se a pena estava registrando tudo.

-Exatamente.- sorriu e acendeu um cigarro.- Você não se importa não é? Apesar de ser um péssimo habito que eu não recomende.

Alisson fez um aceno para que continuasse.

"Ele riu ao comentar que sabia que eu matara seu pai... pra ele nada tinha importância, gostara da mãe, e quando ela morrera tinha ido embora, não pretendia servir um mestiço disse se referindo a Voldmort por isso fugiu assim que se formou, não que negasse que havia covardia no ato, queria viver, não lutar, tive que concordar que de nós dois ele ficara com uma parte muito mais agradável, trocamos insultos infantis á guisa de comprimento e deixamos o assunto ameno rolar, saímos do bar para uma boate da moda, numa velha disputa infantil, devoramos nada mais nada menos que dúzias de garrafas de bebida junto com nossas acompanhantes e quando dei por mim estávamos na cobertura de um prédio com umas dezessete garotas, alguns conhecidos dele, só no meio da festa é que ele teve a bondade de me informar que era a residência de um traficante local."

Alisson o olhou surpreso.

-Isso surpreende você?- riu batendo o cigarro.- Isso é só o começo Alisson, foi ali que eu percebi.

-Percebeu o quê?

-O que estava acontecendo, foi naquela cobertura que eu achei que resolveria definitivamente meus problemas, foi ali que me entreguei. Como me enganei...

"Draco fez questão de me apresentar a cada figurinha do lugar, me apresentar como um velho conhecido de infância, eu não me importava, era bom compartilhar algo com alguém daquela época que estivesse vivo para variar, ele também parecia estar muito feliz, tanto que não largou de mim, literalmente, me apresentou Inuíe o traficante sobrinho do promotor da cidade, e um tal Algro Romeo, um bruxo que achei que ia ter um ataque ao me conhecer, porque só faltou me beijar..."

-Se controle Algro.- riu Draco ainda abraçado a Harry.- Ou vou começar a ficar com ciúmes.

-É, não provoque um Malfoy, digo por experiência.- Harry riu enfiado entre o braço de Draco e os abraços sensuais de uma garota loura como o rapaz.

-Vocês dois são do mesmo tipo eu vejo...- riu Algro.- Não quero correr riscos, já recebi Cruciatus do Malfoy antes... Agora sério Draco, estou indo, podemos falar de negócios amanhã?-disse se levantando e jogando o conteúdo da taça no chão, um hábito local.

"Foi a confirmação de minhas suspeitas quando Draco me olhou e sorriu antes de responder, um sorriso cínico que a muito tempo eu não via, o que aumentava a semelhanças com o garoto que eu conhecera."

-Não. Acho que amanhã estarei ocupado- estalou o dedo e apontou o dedo para as taças vazias.- Mas não se preocupe resolveremos isso antes de terça feira, muito antes.

O bruxo deu um suspiro olhou os três a sua frente e sorriu.

-Claro que estará ocupado... estarei nos lugares de sempre, você sabe me encontrar.

-Claro.- ele respondeu.

"Ainda ficamos um tempo ali, suficiente para ver uma luta de garotas, que se estapearam por um maço de dinheiro até arrancarem sangue e toda a roupa uma da outra... foi quando Draco catou um dos amigos e disse ainda me segurando."

-Vamos antes que comecem os fogos...- disse olhando para Inuíe que estava armado e bem alterado.-Harry você está em algum hotel?

-Pra falar a verdade não, deixei minhas coisas num motel de quinta perto do aeroporto, não tinha plano algum...

-PERFEITO!!!!- ele disse animado.- Vamos para meu humilde canto!!!Pegaremos uma carona com Alecssis!!!- disse sorrindo para o amigo que olhava para Harry como se o avaliasse.

"Conhecendo Draco, o humilde canto devia ser um palácio... me surpreendi que Draco estivesse levando uma vida tão... Trouxa, o amigo dele nos levou no seu carrinho até o canto de Draco junto com umas garotas, era um apart hotel enorme, como eu estranhei ao subir, ele riu muito."

-Esperava dúzias de elfos domésticos como o velho Dobby não?Ou algumas corujas e lareiras...-disse quando o rapaz da portaria o comprimentou.

-Não vou dizer que não estou surpreso Draco, - sorri enfiando a mão no traseiro da acompanhante ruiva, fazendo-a rir.

Era impossível definir que estava mais bêbado, porque ao chegar no andar da cobertura Malfoy teve que passar o cartão da porta umas três vezes para perceber que estava ao contrário.

"As garotas, profissionais, deram um jeito de nos jogar o mais rápido possível em cima delas, afinal a noite ia alta e elas precisavam do dinheiro, não vou dizer qu fiquei constrangido em fazer sexo no meio da sala do apartamento com o dono olhando, porque não fiquei, nem ele muito menos... fazia um bom tempo que eu não me divertia, na verdade por mais que fizesse não era divertido."

-Espero que você esteja preparado Alisson.- sorriu ao ver o olhar vidrado do rapaz.- Ali, do modo como Malfoy agira, como ele se comportava, eu já comecei a desconfiar...- balançou a cabeça- não vou adiantar a história, mas preste a atenção.-disse e apagou o toco do cigarro.

Alisson só fez um sinal positivo com a cabeça.

"De algum modo eu estava bem sonolento quando me estiquei no sofá, mal vestido, com outro cigarro aceso, o último da carteira, bebendo, escutando música trouxa e vendo Draco gritar com as prostitutas que não achavam as peças das roupas, ou estavam tentando afanar alguma coisa, então escutei a porta bater, creio que sorri nessa hora."

Draco suspirou e jogou o cabelo prata para trás, voltou da porta e se apoiou na parede, o silêncio imperando por uns momentos, ele sorriu ainda o encarando.

-Como dizem, finalmente a sós.

Harry deu um risinho cínico e voltou a tragar.

-Seu pai morreria de desgosto se te visse assim, morando como um trouxa, transando com prostitutas trouxas, falando com o menino-que-sobreviveu.- soltou a fumaça.

-Mas você o livrou do desgosto.- riu.- E eu quero lhe agradecer...

Harry ergueu as sobrancelhas.

"Já tentou definir a beleza Alisson? A beleza de um tigre na frente da presa? O modo como o predador mira-a nos olhos? Chamam de encanto fatal, era o que estava acontecendo... eu podia ver naqueles olhos, e não pude conter minha felicidade, eu podia deixar acontecer..."

-Eu queria deixar acontecer.- disse olhando o rapaz.- Foi quando ele se aproximou, sentou-se no meu colo e me beijou, chocado?- perguntou acendendo outro cigarro.

-Vocês eram... inimigos, quer dizer, era o que diziam...- disse o olhando meio aparvalhado.- Draco Malfoy era seu inimigo mortal!

Harry colheu da mente do rapaz tudo que se passava, as dúvidas, o assombro, o leve preconceito.

-Não Alissom, meu amigo mortal era Voldmort, Draco era meu reverso. E não pretendo lhe dar os relatos de meus sórdidos casos amorosos, você ainda não captou a essência do que estava acontecendo, apesar do sexo ser tão óbvio? Acho que não, deixe-me continuar e vai entender, que isso e nesse momento sexo é a coisa menos chocante, e quanto a Malfoy, não sei como ninguém, nem nós dois percebemos antes o quanto nos complementávamos.

"Como eu ia dizendo, ali estava Draco, tão bonito, tão diferente do que eu imaginara, ele se sentara no meu colo com uma intimidade impressionante, apesar de ser quase um estranho, colou os lábios nos meus com uma fome que só podia ser explicada por anos de desejo contido,"

O loiro separou os lábios e olhou o rapaz que o olhava ainda com uma estranha expressão de assombro.

-O que foi Potter... o gato comeu sua língua?- disse e passou a língua nos lábios vermelhos.

-Não que um certo gato em meu colo não esteja tentando não é?- disse voltando a tragar.

Malfoy sorriu, bons tempos em que se provocavam, mão dele se enfiando pelo cabelo de Harry...

-E não parece que você não esteja gostando...

-Eu não disse que não estava gostando.- disse segurando a cintura do outro.- Pelo contrário não?

O rapaz no seu colo parecia um gato extremamente satisfeito, porque mesmo sem ronronar não teve parte de seu corpo que não se enroscasse felinamente no seu, as pernas cada uma de um lado de seu corpo comprimindo-lhe o quadril, a mão enroscada por dentro da camisa, um encontro de peles, odores e toques muito leves, mas muito provocadores, a pele fria do loiro apenas aumentou seu desejo, a certeza, podia sorrir com descompromisso, seu sofrimento finalmente acabaria.

-Ugh, Potter!- disse tomando o cigarro de sua mão.- Essas piranhas te deixaram algumas marcas..- disse abrindo-lhe a camisa, cigarro pendurado nos lábios..

-Grande novidade... todo mundo tenta tirar um pedaço de mim...- disse afanando o cigarro.

O loiro o olhou o colocou ambas as mãos no seu rosto.

-Você envelheceu.- disse traçando as profundas olheiras que nunca amainavam.- Engraçado é que em anos eu nunca te vi realmente bem.

-Ora, ora, Malfoy preocupado com meu bem estar? Eu não ia ser um garotinho pra sempre... muito menos encarando Voldmort duas ou três vezes por mês... no entanto...-disse com um olhar penetrante.- incrível como os anos lhe foram gentis Draco, não parece ter mais que vinte anos, dezoito eu poderia dizer, fazer o quê... o tempo deve poupar os seus.- disse afagando os cabelos finos de seda do loiro que voltou a dar um sorriso cínico.

-Com certeza...

E voltaram a se beijar.

-Malfoy tinha a mesma idade que você.- disse Alisson.

-Exatamente, apesar de aparentar mal ter saído de Hogwarts, se não fosse um ar mais velho eu poderia confundi-lo com o mesmo rapaz que vi no último dia no Expresso, mas eu estava acabado, apesar de ter vinte e três aparentava mais de trinta, a guerra tinha me presenteado com cabelos brancos suficientes para serem visíveis e olheiras que nunca saíam por mais que eu dormisse, e tinha voltado a dormir porque apesar dos pesadelos com o que vi eu não tinha a mente de Voldmort me atrapalhando, me perseguindo, mesmo assim não tinha paz, por isso continuava exaurido, atormentado.

-E Malfoy, era magia?- perguntou o rapaz.

Harry sorriu.

-Agora você está entendendo a idéia, por isso é que me entreguei, achei que tinha encontrado, mas me enganei.

As roupas espalhadas indicavam o caminho do quarto no andar superior, estava nu quando o loiro lhe jogou na cama, uma bela, grande, macia e cheia de almofadas cama de dossel, se jogando em cima como um tigre faminto que lhe devorava, literalmente, pois podia sentir os dentes em sua carne, não que não fizesse o mesmo, lábios, língua e dentes passeando na pele branca e fria do rapaz, sentindo-o colado em seu corpo, boca fria e doce descendo até seu sexo, retirando de Harry gemidos lânguidos que nunca ninguém tirara até então, sentiu o loiro subir, deitar-se inteiro sobre ele beijá-lo.

-Como você tem a pele quente.- disse Malfoy com as mãos enterradas no cabelo dele- Parece que tem febre.

-E você tem a pele fria, é mesmo o príncipe do gelo...

-Algum problema Potter?- sorriu mordiscando o seu queixo.

-Não... porque deveria?- disse correndo as mãos pelo corpo do rapaz.

-Não sei... seria um problema se eu fizesse isso?- disse correndo a mão por sua perna e puxando-a para que enlaçasse sua cintura, outra mão postada em seu quadril.

-Não... ainda não vejo problema, a menos essa sua delicadeza...- puxou o loiro pela nuca dando-lhe um beijo muito profundo.- Não combina com você...- sussurrou na orelha de Draco.

O loiro riu, então o puxou com força, afastando-lhe as pernas.

-Creio que você não está mesmo habituado a delicadeza não?- disse passeando as mãos pelo seu flanco.- Admito, prefiro um pouco mais de intensidade.

O rapaz loiro segurou-lhe, do mesmo modo que com certa violência lhe penetrou arrancando o grito que foi estrangulado contra as costas da mão de Harry, que sentiu lágrimas teimosas marcarem o fim de uma inocência que praticamente não tinha, era verdade, nunca tinha ido para cama com um homem.

-Não vou pedir desculpas.- Malfoy soprou em sua orelha.- Devia ter-me dito que era virgem.

-Não estou pedindo que se desculpe.- disse rouco.- Apenas que pare de enrolar... quem diria Malfoy...está mesmo preocupado comigo?

-Ah Potter, eu estava com saudade dessa sua voz... mesmo não sendo exatamente a mesma.- disse ele derramando beijos pelo corpo do moreno.- Certas coisas são imutáveis... desse modo não me sentirei culpado com seus protestos.

Segurou seus pulsos, o corpo frio totalmente apoiado contra o corpo quente do rapaz sob ele, não demorou para que Harry esquecesse a dor e se deixasse levar pelas sensações, se deixasse levar pela boca de Malfoy que passeva de seus lábios para seu pescoço, pelo movimento dos corpos, pela fricção de seu sexo contra o ventre macio do outro, pelas mãos firmes que o seguravam, abandonado, sem obrigação nenhuma de comandar, apenas sentir, ser guiado, até entrar num frenesi, movimentos fortes, bruscos, gemidos, frases incoerentes.

-Não fizemos amor ali, porque definitivamente não nos amávamos.- disse passando a mão de leve pelo pescoço embalado nas lembranças sem se importar com ar espantado do rapaz a sua frente.- Mas de certa forma não fizemos sexo, sexo não define o que estava acontecendo... Alisson você ainda não entendeu o motivo de eu ter me entregado?

Negativa muda do outro, levantou-se e tornou a encher as taças, suspirou, não conseguia evitar, aquela lembrança era eterna, entregou a taça do outro e olhou o vinho vermelho na sua.

-Eu estava ali, sob ele, esperando, entregue, porque eu já sabia, e queria, não me importava mais, achei que tinha encontrado, que era o fim... e me enganei...- deu um riso de conformação.-Então finalmente chegamos juntos ao ápice... e foi aí que ele me mordeu.

O rapaz engasgou com a bebida, Harry lhe sorriu tristemente.

-Agora você entendeu.