Alisson ergueu olhos incrédulos.
-Mo... mordeu? Por... ele era um vampiro! UM VAMPIRO?
Voltou a olhar sua taça, voltou a passar a mão pelo pescoço.
-Era, eu sabia, por isso me entreguei, estava tão descansado achando que tinha encontrado finalmente aquele que ia me banir do mundo... achei que ele adoraria me matar... me enganei.
-Foi um suícidio?- perguntou o rapaz.- Você queria...
-Que ele me matasse.- sorriu.- Insano não? Eu disse que não estava realmente em meu juízo perfeito, se estivesse, tinha pensado no óbvio.
Alisson passou a mão no rosto incrédulo, ele estava procurando, a morte, o tempo todo.
-Sempre fui um imenso covarde, não consegui cometer suícidio, tentei inúmeras vezes, me feri, me envenenei, de certo modo parece que o céu ou o inferno não me querem... acordava detonado, ferido, mas vivo, miseravelmente vivo, por isso caí no mundo, esperando trombar com a morte em uma luta ou na boca de alguma criatura, na boca...- bebeu.- Achei extremamante interessante a idéia de partir desse mundo na cama de um vampiro, principalmente porque achei que Malfoy me odiava o suficiente...
-Mas ele não...- disse Alisson arrepiado, porque agora sabia o que tinha a sua frente.
-Ah, não.- sorriu.- Quem diria, ele tinha planos... e não se preocupe Alisson, se me escutar atentamente perceberá que não tem o que temer de mim... mas me deixe contar como Malfoy me surpreendeu.
"Ainda inebriado com o prazer que me inundava cheguei a sorrir quando ele se ergueu, caninos evidentes, olhos tão brilhantes que pareciam feitos de puro azul celeste, não protestei, deixei ele agarrar meus cabelos forçando minha cabeça para o lado e inclinar-se sobre meu pescoço, dói. A mordida dói, a dor da carne sendo perfurada pelos dentes, do maxilar forte prendendo a veia, sugando sangue, então surge uma onda diferente de prazer... "
-Um prazer de esvair-se, de sumir, consumir-se, de adormecer, desfalacer, é estranho.-disse voltando a fechar os olhos com a mão no pescoço sentindo um arrepio.
-Um prazer de sentir-se morrendo?-Alisson engoliu seco, estendeu a mão trêmula para sua taça.
-Não posso afirmar, afinal como vê, de certa forma nunca morri, ao mesmo tempo que sim, estava morrendo.-disse sem abrir os olhos, mão discretamente agarrando um tufo do cabelo longo.
Harry sente a vida se esvaindo do corpo, enfraquecendo, ainda tem um sorriso leve nos lábios e algumas lágrimas contidas nas pestanas negras, mas sem dúvida está desfalecendo, então sente o frio no pescoço, uma enorme tristeza quando o outro se ergue novamente, parece doer um pouco a distância.
-Ah Potter, quem diria que teu gosto seria tão diferente dos outros...-disse o outro de leve no seu ouvido.- incrível como você é calmo... tão bonito.- diz acariciando a face dele.
Harry deixou escapar um suspiro triste, fechando devagar os olhos, deixando ir, conformando-se em ir, quando sente o outro lhe endireitar a cabeça, mãos dos dois lados de seu rosto.
-Uma beleza tão abandonada, tão marcada...- o vampiro suspirou.- Não posso deixar de lamentar o desperdício do tempo que não o possuí em vida...
Grudou os lábios pegajosos de sangue contra os seus, ali Harry nem pensava mais, se preparava para o nada, o vazio do conforto que queria, mal sentiu a lingua do outro entreabrir sua boca, sentiu os lábios se desgrudarem, a respiração... mas sentiu quando os lábios do outro voltaram com força e sua boca foi inundada com o líquido grosso, de gosto salgado e metálico, tentou protestar mas fraco demais, a boca do outro e a força das mãos que seguravam seu rosto o fizeram engolir o sangue.
-Meu... isso engula.- disse Draco fechando a boca do rapaz.- Não tente resistir Harry, torna tudo mais doloroso, apenas deixe fluir, deixe meu sangue agir.
"Mas isso era exatamente o que eu não queria, isso ia contra tudo que eu planejara, eu queria abandonar a vida, não me condenar á eternidade, que ironia..."
-Duvido que alguém da sua geração tenha sofrido uma tortura sob a maldição Cruciatus.- disse abrindo os olhos e encarando o rapaz que estava pálido.- A transformação é muito parecida, sofri com ambas, e sei muito bem que para a parte humana morrer é necessaria muita dor... e como sei... como doeu, porque eu resisti, me contorci naquela cama para desgosto de Malfoy.
-Pare!-disse o outro segurando-o pelos pulsos.- Droga Harry! pare de resistir!!!-rosnou caninos a mostra.- PARE!!!
Mas o rapaz ainda se contorcia, olhos fechados e dentes cerrados, músculos tensos, o corpo mudando sob seu olhar, respiração presa, gemidos guturais, então foi devagar relaxando, pele empalidecendo, corpo rejuvenecendo como o vampiro desejava, cabelo crescendo e escurecendo, tomando o brilho jovem que tinha perdido, os caninos crescendo a sua frente enquanto a boca se abria com a respiraçao ofegante, então dois imensos olhos esmeraldas o encararam, mais verdes, mais brilhantes, não haveria esmeralda que se comparasse com aqueles olhos.
-Finalmente.- sorriu Malfoy.- Lindo... Por todas as criaturas da noite, como você é lindo...
-Porquê?- perguntou deseperado.- Droga Malfoy! Porque não me matou?!- tentou se levantar, mas estava fraco, exausto, doente.- Maldito Vampiro! Era pra me matar!!!
Draco riu.
-Então você sabia o que eu era Potter?Em nenhum momento pensou que eu queria você?-disse soltando-lhe os pulsos.- Harry, como você é inocente... achou mesmo que eu ia deixa-lo abandonar o mundo?-riu encostando o nariz a sua bochecha.- Nunca, eu nunca deixaria você partir, e não vou deixar agora que sei o quanto você é especial...
-Não...-gemeu.- Não... não!- tentou empurrá-lo.- Não era pra ser assim, por favor não... eu não quero...- soluçou sob o abraço do loiro.- Não...
O outro o beijou, tentou virar o rosto mas foi preso pelas mãos frias.
-Engraçado... você continua quente... maravilhoso...- Draco se levantou de súbito e o puxou.
Sentiu a dor dos músculos fatigados ao ser puxado para fora da cama, Draco o envolveu com os braços, impressão sua ou estava menor?O vampiro o postou na frente do espelho, abraçando-o por trás.
-Olhe.- disse apontando o reflexo.- Olhe o seu melhor, tomei a liberdade de deixá-lo como eu me lembrava... como eu queria.-disse enfiando os dedos nos cabelos do rapaz menor.
Harry tocou o próprio rosto, mal se reconhecendo, era ele mesmo, mas muito mais jovem, como se tivesse vinte anos, só que sem vestígios das lutas que lutara, das dores que passara e teve que admitir para si mesmo que parecia... bonito.
Um jovem de dezenove, vinte anos, claro que nessa idade era menor que Malfoy, que agora o segurava com força, seus músculos esguios, pálido, o que contrastava com o negro de seu cabelo, agora sem nenhum fio branco, seus olhos pareciam ainda mais verdes. Uma imagem estranha, refletido ali, nú, abraçado pelo loiro, sangue na boca e escorrido do pescoço.
-Você é lindo Harry.-disse o outro beijando seu ombro.- Lindo e meu pra sempre.
-Porquê?- perguntou ainda se olhando no espelho.
-Porque eu sempre quis.-disse o loiro o segurando pelo quadril e o virando.-Eu sempre quis.-voltou a colar os lábios nos seus.
-Foi só isso que ele alegou?- perguntou Alisson.
-Obviamente eu não acreditei.- olhou o céu noturno da janela.- Eu não acreditei mas estava cansado e nervoso demais para protestar, tudo que eu queria tinha me sido arrancado de novo.- olhou a própria mão, dedos longos e delicados, unhas razoavelmente compridas e cerrou o punho.- Engraçado como a vida fez questão de me tirar tudo que desejei... desejei a morte... e não posso tê-la.
-Posso fazer uma pergunta... simples?- perguntou o rapaz encabulado.
-Sim?- retornou o olhar ao rapaz com um sorriso sabendo da dúvida antes que fosse dita.
-Como você pode se ver no espelho... vampiros não refletem...
-Mito.- disse com um sorriso.- Cruzes? Mito, Estacas? Mito, Alho?Esse sim é um estorvo pode fazer um estrago em tanto, mas podemos nos servir de alho... só que o cheiro é insuportável, Caixões? Mito... Draco amava aquela cama de dossel com almofadas e mais almofadas e colchas a ponto de parecer um ninho... um vampiro só teme o fogo, a decapitação e obviamente a luz do sol e até essa é tolerável no amanhecer e anoitecer, quer dizer, essa história de nunca mais ver o pôr-do-sol é mito.
-Você disse que ele comentou...- Alisson parou com a frase de gosto duvidoso.- que você não esfriou... como assim?
-"bvio Alisson.-apenas sua voz.
O rapaz teve um arrepio quando sentiu as mãos de Harry no seu rosto.
-Então? Elas são frias?-perguntou sério.
-Na...Não...normais.- disse com um novo arrepio.
-Se outro vampiro o tocasse você saberia, eles tem a pele fria, não gelada, apenas fria como quem está descoberto no inverno, isso não aconteceu comigo.-disse e voltou a sentar-se na frente do rapaz que tremia.
-Porquê?
-Nunca ficamos sabendo... a teoria mais aceita é que a magia que me protege era forte demais, me protegendo da deteorização total da transformação. Eu não esfrio, ainda tenho corpo quente de uma pessoa normal.- deu um sorriso torto.- a ruína de outros vampiros... mas isso é para depois.
-E o que aconteceu depois, vocês se separaram? O que aconteceu?
-Eu tive vontade de sair correndo, mas não podia, uma das leis, algo que é instintivo é que um jovem vampiro é totalmente dependente de seu mestre, como um filhote, como um servo, eu não podia desobedecer Malfoy, não podia ferí-lo.
"Eu pertencia a ele..."
