Harry suspirou com a lembrança, com a angústia de cair naquela armadilha, Alisson verificou o pergaminho, lhe dirigiu um olhar para que continuasse.
Abriu os olhos, era de manhã, no corpo as marcas de um noite intensa, Draco não suportou um segundo em tomá-lo de novo, aproveitando para deixar bem claro sua condição, estava fraco, faminto, sentidos latejando e totalmente desorientado, mão na cabeça cobriu-se com o lençol, para escutar o risinho cínico.
-Seus sentidos vão voltar ao normal,-disse Draco encostado no pilar da cama afastando a cortina.- Felizmente você não vai precisar nem das lentes de contato, vai aprender a farejar uma presa decente, ver e ouvir o que não era possível.- sentou-se na cama e deu-lhe uns tapinhas na nádega.- Levante-se meu querido, venha comer algo.
-Vai se fuder Draco, me deixa em paz.
Malfoy deu um suspiro.
-Não seja uma cria difícil Harry, não tive dificuldades com Alecssis, e não sou paciente, herdei o mesmo instinto paterno de meu pai.
-E daí?
-Daí que guardo minha varinha comigo e não tenho pena de usar uma cruciatus quando me contraríam!-disse puxando o lençol, sorriu.- Está com vergonha? Já mandei buscar suas roupas, embora eu ache que agora vão ficar um pouco largas em você... não que isso em você não seja um charme.
Riu com a lembrança...
-Como pode ver Alisson- disse se levantando.- Nunca fui um bruxo de grande estatura... meu tamanho era uma piada em Hogwarts... Draco adorava o fato, naquela noite o homem que fui era um pouco mais alto, e mais massivo também... embora sempre tenha sido um moleque pequeno e magrela que usava roupas largas e velhas... ah, isso parece ter sido uma eternidade atrás... Draco não me deixou esquecer.
Desceu contrariado vestindo a única coisa que ficara cabível de sua mala, nunca percebera o quanto estava gordo, na verdade é que estava menor... e parecia um moleque com o moletom folgado caindo no ombro e calça larga, tênis mais que velho e cabelo desgrenhado.
-Eu geralmente diria que está horrível, mas as coisas mais ridículas lhe acentam bem.-disse sentado a mesa com o café da manhã.
-Café da manhã?- perguntou Alisson.
-Eu também me surpreendi, podemos comer, na verdade vamos pedir o jantar, está com fome?
O rapaz fixou-lhe um olhar desconfiado.
-Não me olhe assim, não pretendo devorá-lo.- riu.- Apenas partilhemos uma refeição porque como eu disse é uma longa história.
Foi o próprio Alisson que fez o pedido ao serviço de quarto, voltou e sentou-se conferindo o pergaminho e o olhou.
-Eu estava no café da manhã... a segunda lição que tive...
-Segunda?
-A primeira foi naquela noite lembra? Malfoy soube me colocar no meu lugar... debaixo dele.
-O que é isso?
-Café da manhã... seu cérebro ainda está desligado?-disse Draco abocanhando um pão doce.- Alegre-se por ter sangue dos mais antigos vampiros em suas veias agora, sente-se e coma, é prazeroso embora não sustente, vai alimentar-se de verdade depois.
-Como assim?- perguntou sentando-se e antes que o outro lhe desse uma resposta atravessada gemeu.- Não quero chegar perto de ninguém.
-Não venha com choramingos, mais cedo ou mais tarde vai morder alguém... isso não me aborrece.
-"timo, então não vou morder ninguém.- disse bebericando o suco e fazendo uma careta, forte demais.
-Sentidos aguçados.- disse o loiro se levantando e parando ao seu lado.- vai se adaptar, agora.- lhe deu um tapa forte.- pare de bancar a criança birrenta!
Se levantou furioso.
-Pois eu não sou uma criança! E você sabe muito bem disso!
Draco agarrou-o pelo moleton.
-Escute, vou repetir o que te disse na cama, me obedeça, é para seu bem, e fraco desse jeito o que vai conseguir é mais uma surra!-o jogou por cima da mesa.- Beba o sangue! Se fortaleça e talvez consiga romper o laço que nos une como Alecssis!
-Pra quê?- disse se eguendo batendo a comida de sua roupa.- Não tenho ilusões que me deixe partir.
Malfoy sorriu largamente.
-Que bom. - tirou a varinha do bolso da roupa.- Limpar!
Tudo estava imaculado.
-Coma, vai ajudar com esse enjôo, seu irmão mais velho está subindo, como viu ontem ele está no andar de baixo, é bonito, mas muito mau-humorado.-disse ajeitando o cabelo e o terno impecável que vestia.
Podia sentir, assim como sentia a presença de Malfoy, sentia o outro se aproximando escutou batidas na porta principal,Draco o deixou na sala para abrir a porta, suspirou contrariado e pegou uma torrada, pensando na ironia de alimentar um corpo morto.
Alecssis tinha um ar irritado quando subiu até ali abraçado com Draco.
-Então é ele mesmo, ele ficou.
-Não comece Alecssis.- riu Draco voltando a sentar.- Alecssis como todo primogênito é ciumento Harry.
Deu um suspiro e observou o outro vampiro que o olhava parecendo querer arrebentá-lo, era o maior de estatura e apesar de bonito nem tinha comparação com Draco, ele tinha olhos negros, cabelos de um castanho aloirado, um eco de beleza dura, sentou-se entre Harry e Draco, O mestre de ambos na ponta da mesa.
-Vamos ás compras assim que entardecer.- disse Draco.- Temos que arranjar roupas decentes para ele.
-Suponho que não iremos ao encontro com Algro então.- disse irritadamente olhando de lado para Harry.
-Não, eu já tinha falado com Algro ontem. Vamos Alecssis você adora sair ás compras.
-Suponho que não tenha escolha.- disse baixo e olhou para Harry.- Acha que é capaz de se controlar?
-Claro.- deu de ombros.
Não pode nem perceber o que tinha acontecido até ter sido novamente levantado pelo moleton e atirado por sobre a mesa, o outro tinha os olhos totalmente negros como um animal e lhe arreganhava as presas.
-Não me dê de ombros, sua coisa!-rosnou.- Você me deve obediência!
-Não me enche.- disse com raiva.
-Alecssis solte-o.- disse Draco ainda bebericando o café.
Se encararam, Harry segurou a mão do outro e o forçou a largar, o outro deu um sorriso torto, e ergueu a mão, deu um ganido ao levar a patada, patada porque a mão do outro apresentava garras longas como de um urso, Harry rolou por sobre a mesa e caiu no chão apertando o ferimento, gemeu e escutou.
-Crucio!
Alecssis caiu se contorcendo, gritando, berrando, viu os pés de Draco se aproximar, o outro ainda gritou e se retorceu mais um pouco, que pareceu muito para a mente atordoada de Harry, então Malfoy desfez a maldição.
-Eu mandei soltar, Alecssis seu teimoso... menino mau.- disse sarcasticamente.- Harry ainda está se adaptando, e ele só deve obediencia a mim, assim como você.-deu um chute no vampiro caído.- Não ouse tocar em Harry de novo, não sem que eu mande. Vá! Se recolha, e trate de melhorar o humor até a tarde. Ande!
Alecssis se ergueu trêmulo e se pôs a caminho da saída, ainda reservou um olhar de raiva para o rapaz caído no chão.
Draco se virou para Harry assim que escutou a porta.
-Não se preocupe com Alecssis Harry, é ciúme, normal.- disse o loiro o amparando.-Hum, você está muito fraco, mau sinal...
Harry não conseguia firmar as pernas e o sangue corria pelo ferimento, só deu um gemido em protesto quando foi erguido no colo.
-O que foi? Prefere que eu o levite?- disse depositando um beijo na sua testa.- Prefiro segurá-lo, vamos, vamos limpar isso e lhe colocar roupas decentes...
Subiu até o banheiro, um feitiço e havia agua quente na banheira, Malfoy o despiu e o mergulhou como uma criança, Harry apenas tremia, muito fraco e sentindo muita dor.
-Dói ainda?- disse apertando de leve as três valetas no peito do rapaz.
-Dói.- gemeu, queixo tremendo.- Estou com frio.
-Certo.- disse fazendo um novo feitiço que deixou a água mais quente.- Espere aqui.
-O que ouve?- perguntou Alisson.
-Eu não estava pronto, meu corpo não estava recuperado do choque, não é como nos filmes, -disse rindo.- ele te morde, você levanta morde e todo mundo morre feliz... demora para se adaptar, no meu caso eu ainda fiquei muito fraco, talvez por já estar debilitado antes, o fato é que a crise de ciúme de Alecssis me deu muita dor de cabeça, e fez Draco ter uma crise de raiva, o que acarretou apenas mais ciúme por parte de Alecssis.
-Alecssis amava Malfoy?
-De certa forma... vampiros são familiares por incrível que pareça, são como leões, os parceiros se unem de forma duradoura, geralmente o mais velho e suas crias até elas decidirem partir ou ele as expulsar, era isso que Alecssis temia, como todo filho único, ele ficou com ciúme do caçula, medo de ser substituído, medo de ser tocado do ninho e muita coisa aconteceu por causa disso.
-E você?
-Confuso... queria morrer ainda, mas não conseguia mais, precisava de Draco por causa do elo, podemos dizer que me conformei em ficar, além de que precisava de ajuda para entender minha nova condição.
Draco retornou com uma vasilha, olhou o rapaz pálido naquela banheira de água rosada por causa do ferimento, os cortes ainda abertos, tremendo o olhando como um filhote muito pequeno e perdido, sorriu.
-Beba, é para emergências como essa.- e estendeu a vasilha.
Harry sentiu o cheiro, duas partes se revoltaram, uma que refutava o cheiro e a possibilidade de beber o sangue oferecido, outra que desejava aquilo e mais, muito mais.
-Beba, você está muito fraco.-disse se ajoelhando ao lado da banheira.
-Não quero.- gemeu.
Draco soltou um bufo de contrariedade.
-Vai ficar assim doente, ande beba.- disse e puxou-o pela nuca.
Harry ainda protestou quando a vasilha se aproximou mas sentiu a fome, sentiu desejo, sentiu algo mudar.
-Olhe pra mim.- sorriu Draco.- Abra a boca, isso.- deu uma risadinha.- Ah, Harry não me canso de dizer o quanto é bonito, mesmo essas presas lhe caem bem, agora beba, vejo que sentiu a fome.-disse e forçou a vasilha contra os lábios do outro e virando-a sem se importar que escorresse.
"Bebi, era pouco na verdade, apenas para me recompor, é como beber conhaque depois de andar na neve pouco agasalhado, você sente aquilo aquecendo cada parte de seu corpo, sente a vida, mas aquele era um sangue fraco, guardado, apenas para amortecer a fraqueza, como um caldo para um doente."
Olhou o loiro, amolecendo de sono, sentindo-se entorpecido pelo sangue, confuso por tudo.
-Vamos limpar isso.- disse Draco pegando a água e passando no seu rosto, limpando o queixo.- Ah, nisso você é tão calmo... Alecssis fez a maior sujeira... eu podia tê-lo deixado beber sozinho.
-Quanto tempo?- perguntou baixo enquanto o louro ligava a ducha e abria o ralo para escorrer a água sangrenta.
-De quê?- perguntou experimentando a água.
-Que você é vampiro... que Alecssis é vampiro.
-Eu? faz algum tempo.- desviou o olhar.- Mordi Alecssis a três anos, agora, se comporte com ele sim? Gosto de meu primogênito.
-Ele não vai gostar de mim nunca.-disse fechando os olhos enquanto o outro o lavava.
-Percebeu o quanto eu estava entregue?- disse ao escutar anunciarem o "serviço de quarto".
Alisson parou a pena e se levantou junto com o vampiro, não conseguia visualiza-lo como uma criança, mesmo sendo pequeno, Alisson era mais alto e parecia mais forte, pois o bruxo era esguio aparentando uma certa fragilidade, mas Alisson não o via assim entregue porque ele parecia um grande felino, uma pantera, gracioso quase inocente, mas sabendo o que era, sabia o quanto era perigoso.
-Quem pediu uma pizza alho e óleo com uma dose extra de alho?-disse da entrada.
Alisson sorriu.
-Sentiu o cheiro?
-Por todos os duendes calvos de Gringotes é claro que sim.- disse sentando-se na saleta onde dois empregados do hotel colocavam a mesa.-Espero que não pretenda me forçar a comer isso...
-Não...-sorriu.- Espero que o cheiro não o enjoe.
-Esperemos, porque você não vai querer descobrir o que bebi hoje de manhã.
