-Hum... digamos que você arriscou um pouco...- Alissom sorriu.

-Arrisquei? Nada me daria mais prazer que ser pego pelo próprio Antonius aquela hora... pelo menos a idéia me pareceu boa... queria entender os motivos dele e Draco não se entenderem... principalmente, não via a hora de ser chutado dali.

-Pensei que tinha gostado da companhia....

-Amei, adorei todos eles... com excessão do próprio Antonius.

-Você tem olhos lindos.- ela disse ainda nua por baixo dele, segurando seu rosto.- Não parecem humanos...

-Obrigado... - disse dando outros beijos no colo brilhante dela.

-Agora entendo o apreço que Draco tem por você... - ela se esticou e lhe segurou pela cintura com uma das pernas.- Você é um amante em tanto...

-Hum... vai ficar me elogiando pra não me contar sua história não é?-sorriu.

-Podemos fazer mais que ficar falando não podemos?- falou descendo as mãos pelo corpo dele...

-Posso entretê-la um pouco mais... se me falar o que houve entre vocês...- disse passando o dedo no contorno das coxas dela.

-Curioso...

Apoiou-se a olhando, ela o olhou de cima abaixo e suspirou contrariada.

-Antonius fez questão de trazer Draco pra cá... a algum tempo... Draco veio... era tão diferente de nós... ele é diferente.

-Sei.

-Bom... apesar de toda atenção de Antonius... Draco não se afeiçou a família.

-Draco não gosta de ser mandado.

Ela riu.

-Não mesmo... vocês se parecem... e são tão diferentes.- ela passou a mão no seu rosto... na sua boca.- Draco é tão... frio... e tão intenso...

-Ah... e porque não fugiu com ele?

-Antonius é terrivel quando quer.

-Por medo... com certeza isso decepcionou Draco.- disse se sentando.

-Você não imagina como Antonius é!- ela disse se levantando... e catou sua roupa.- isso não devia ter acontecido... ah... você vai ser a ruína de Draco.

-Com certeza não.- disse a olhando firmemente.

Captando toda a raiva da outra... Ciúmes.

-Antonius vai... ah! Esqueça! Esqueça o que eu disse! Esqueça o que fizemos... se ele souber...- disse saindo.

Esticou-se ali, nú por um tempo... com um sorriso torto na cara... por fim se vestiu devagar e continuou andando.

Estava no jardim algum tempo depois quando as motos retornaram... observava a lua refletida no lago cheio de carpas... as motos retornaram e um carro partiu, encostou-se numa arvorezinha e escutou os passos e foi puxado pelos três vampiros.

-Sabe a diferença entre e dentro e fora da casa?- perguntou André.

Deu de ombros e bocejou.

-Não fuji... e estava razoalvelmente chato... vim ver o lago.

-Aow... tá chato... a gente já te anima...- disse Natan que o agarrou junto com Carol.

Um leve sofrimento para se desvencilhar dos dois.

-Tenho uma idéia!- disse Carol.- André?- ela sorriu piscando os olhos.

-NÃO! NÃO! E... Ah...

-Não seja enrustido André... Antonius e Gathe não voltam tão cedo... uma caçada só... ah...

André os olhou... olhou na direção ao portão como se esperasse que Antonius retornasse, e um sorriso se espalhou pela face dele.

-Certo então... vem baixinho.

E o puxou a tempo de escutar um "sem graça Dré!" de Natan.

E as motos partiram na madrugada, vento batendo no cabelo...

-Porque vampiros não ligam a mínima de se foderem se baterem a moto estando sem capacete.- disse rindo.

-Aconteceu?

-Em outra vez... ah, estou misturando lembranças.- disse enfiando o toco de cigarro no cinzeiro.- Deve ser a idade.

A praia era linda, Carol os liderou até um lual que estava acontecendo, se enfiaram na areia... não podia descrever o prazer de ir até a praia, sentir a maresia de perto, enfiar o pé na areia... fechou os olhos e inspirou fundo.

Lá na frente Carol e Natan correndo se enfiaram na água, junto com uma multidão que acompanhava cinco surfistas até certo ponto da arrebentação, tudo iluminado pelo farol dos carros.

-Reclusão forçada faz mal Harry...- disse André ao lado dele.

-Minha reclusão não foi de todo forçada André...- disse o olhando.

-Dois anos e meio que Draco retornou da Jamaica... E você nunca saiu, nunca foi visto.

Sorriu para o outro inspirando a maresia novamente, voltando a fechar os olhos.

-Eu não desejava sair.

-Tolice, como pode ficar tanto tempo no mesmo lugar? Eu já estou irritado com a cidade inteira!

Harry sorriu ainda de olhos fechados.

-Me acostumei a ficar muito tempo preso em um mesmo lugar...

-Você já foi preso?- arriscou André.

-De certa forma...- abriu os olhos.- Liberdade está na mente...

O pássaro negro abriu asas e saiu pela noite... livre. Deixando o vampiro abobalhado para trás... até cair em si.

-Ele é um maldito zoomorfo! Maldição!- André pôs a mão na cabeça.- Eu perdi ele! Antonius vai me matar!

E saiu a cata de Carol e Nati.

-Não foi uma coisa estranha para se revelar? Quer dizer? Não era melhor manter o segredo?

-Houve alguma vez que você simplesmente quis algo e chutou tudo para conseguir? Por exemplo... já mandou seu chefe praquele lugar?- sorriu.- Eu queria voar! Eu só queria isso... não estava fugindo... estava esticando as asas... sequer os perdi de vista... eles é que me perderam... ah... como foi bom!-esticou os braços... cansado Alissom?

-Nem um pouco.- sorriu o rapaz mal contendo um segundo bocejo...

-Que bom.- disse se levantando.- se importa se eu ficar de pé?

O grupo se reuniu... se aproximou e pousou na cabeça de um André histérico...

-...eu faço?! Que eu faço? Caralho... Seu MERDA!- disse se desiquilibrando quando braços e pernas se materializaram, Harry estava sentado nos ombros do rapaz.

-Você é muito nervoso.- disse ao ser jogado na areia por um André furioso.- Eu falei que ia embora por um acaso?

-Adoro ele.- disse Natan.

-Imagino porque... é doido que nem você...- retrucou Carol.

-VOCÊ NÃO FALOU NADA SEU BOSTA! SE HOUVESSE UM CORAÇÃO BATENDO AQUI, ELE TINHA PARADO! SEU ZOOMORFO DESGRAÇADO!

-Zoomorfo?- perguntou Alissom.

-Sim... bruxos que viram animais se chamam de Animagos... vampiros que se transformam em animais são chamados de zoomorfos... a metamorfose em animais é um dos presentes da trevas... ou dom das trevas como são chamados poderes especiais que alguns vampiros recebem ao se tranformar... alguns nunca recebem dom algum... outros os desenvolvem com o tempo e outros recebem vários poderes... na verdade se transformar em animais é muito comum... morcegos normamente, ratos, cobras, gatos, cães... André achou que minha animagia era uma zoomorfose.

-E qual a diferença?

-Um presente das trevas só se manifesta depois de morta a primeira vítima...

-E você?

Harry apenas sorriu e olhou longamente para a janela.

Assim que saíram a caça, Harry se deixou vagar pela areia branca... e só retornou ao grupo quando as motos buzinaram na rua acima da praia e André o chamou.

-Anda baixinho! Se Antonius estiver em casa quando chegarmos vai ser um inferno.

-Ah e vem cá!- Nati o puxou.- Você veio com o André e vai comigo!

-Ah... me sorteiem da próxima vez!- disse pulando na moto de Carol.- Se importa?

-Com certeza não!- ela acelerou.

Chegaram na casa vazia... se jogaram na imensa sala de televisão e colocaram no canal de música... depois da caçada e da madrugada, os três vampiros pareciam muito animados, mas tinha que admitir... estava cansado. Acabou apagando na terceira rodada de tequila.

-Fracote!- disse Natan o cotucando.

I can kill 'cause in God I trust!

It's evolution baby!

Tudo que conseguia perceber é que fedia a bebida, e tinha Carol se esguelando (ou seria uivando?) em frente da televisão... e estava com sono... André de repente estava muito concentrado num show de airguitar...

Admire me, Admire my home

Admire my son, he is my clone...

-O que eles estão fazendo?- perguntou olhando os dois... e Natan se ajeitando ao seu lado com uma garrafa e um maço de cigarros...

It's evolution baby!

I'm a priest... I'm a liar...

-A mesma besteirade sempre.- disse Natan acendendo um cigarro e passando para ele, na verdade enfiando em sua boca.- O turista que Carol pegou hoje, tinha umas pílulas no bolso... os dois ajuizadamente resolveram experimentar... devem ser anfetaminas e estimulantes, porque estão ligadões a duas horas... ao contrário de você!

It's evolution BABY!!!

-Pearl Jam?- enfiou a mão na orelha.

-Especial... quer sair? Fracote?- disse o puxando.

-Vai se catar...- disse se levantando.

Andaram até o jardim... Natan lhe oferecendo a bebida que recusou, sobre a chuva de gozações do outro, mas não recusou os cigarros.

-A fim de ficar olhando o amanhecer?- perguntou Natan.- Ah, vem... eu quero ver o amanhecer hoje! Do meu canto!

Seguiu o outro até um jardim japonês de areia... mais abaixo o terreno terminava onde a base de rocha se perdia no mar... uma queda feia e fatal. Natal o puxou para o lado e subiram no deck de madeira, onde o vampiro loiro de pele morena sentou-se em pose de lótus...

-Meditação Zen?- perguntou um tanto cinicamente.

-Quando me entreguei a Antonius o único medo que eu tinha era não ver o amanhecer de novo...- Natan sorriu.- Então na noite do abraço ele me trouxe aqui... um pouco antes do amanhecer...

-E?

Natan riu.

-Fodemos muito!

-Isso é mais do que eu precisava saber...- disse olhando a linha púrpura no céu escuro.

-Ele me me tornou imortal e ficou comigo aqui... abraçado comigo... até amanhecer...

-Caramba.- disse friamente.- Fiquei todo arrepiado.

-Sem graça.- retrucou o outro.

-Não foi incomodo? Despertar assim? A luz?- perguntou acendendo mais um cigarro, vendo o céu ganhar um tom rosa sob o púrpura.

-Um pouco... mas foi a melhor coisa que fiz com a desgraçada da minha vida...

-Não consigo imaginar alguém escolhendo viver pra sempre... -disse olhando o céu.- O que havia na sua vida Natan? Pra você escolher isso? Por mais fascinante que seja?

Natan riu, riu muito.

-Eu nasci no lixo Harry... minha mãe era piranha... me vendeu por um punhado de droga e um dinheiro para ir fazer a "América!", sabe o que é ficar na rua com medo dos traficantes, do seu gigolô e dos polícia? Sabe o que é apanhar para não se levantar e ter que estar de pé no dia seguinte urinando sangue mas na rua para não apanhar de novo? Estou no paraíso. Morrer foi o melhor caminho pra mim.

-Desculpe... não quis ser... insensível.- disse olhando o outro.

-Já parei para perguntar se era certo... não é... mas ainda assim, é melhor do que eu vivia antes... o que eu vivia também não era certo.

O globo luminoso apareceu quase branco... a luz tênue os iluminou.

-E você? Porque escolheu esse caminho? Quer dizer... Você escolheu?

Olhou o sol... quente mesmo sendo apenas os primeiros raios da manhã... aqueciam sua pele como se estivesse sob o sol do meio-dia.

-Não... pelo contrário.- confessou.- Eu queria morrer quando me entreguei a Draco.

-Ah... entendi.- Natan disse baixo.- Entendi.

-Mas acho que foi melhor assim...- disse o olhando.- Foi melhor, porque eu nunca tinha vivido antes...

Nunca.

-Eu e Nat ficamos amigos... muito... eu causei a morte dele, de certa forma, seu raciocínio romântico o impediu de ver o óbvio... mas ali nasceu uma grande amizade... eu mudei muito graças a essa criatura.

-E Antonius?

-Bom uma hora ele teria que mostrar as garras... maldita hora.

-E?

-Na última noite... Eu e Nat adormecemos na sala do jardim de inverno... ficamos lá conversando por horas... até cairmos no sono... bom eu caíria no sono a qualquer hora...