Experiências
PARTE 6
"Por que tem que ser assim?" - Mu refletia, deitado na grama.
Então Shaka não gostava dele... devia estar irritado, estressado, deprimido... Ao invés disso, estava paralisado. Após chorar demasiadamente, não queria mais saber de fazer nada. A imobilidade de seu corpo o confortava, mesmo que pouco.
Talvez fosse melhor assim, pelo menos, não teria mais esperanças falsas, não perderia seus dias e noites pensando no impossível. O que podia fazer de Zeus queria assim? Aceitar, nada mais.
Apesar do estado, a angústia ainda tomava conta de seu corpo, não o incomodando como inicialmente. Era um aprendiz, tinha que aprender a lidar com os problemas e enfrentá-los, mesmo sendo difícil, teria que aceitar e dar a volta por cima.
Sentiu-se mais relaxado. Era tão bom organizar o que sentia. Mesmo que sofresse para fazer tal coisa. Horas da vida, não importando o tamanho de sua existência, em que se deve deixar rolar, nem que para isso, apagasse.
Aioria entrava na casa de Áries após Shion avisa-lo, no jardim, de que já poderia subir, constatando que o dono não estava lá. Ótimo. Seria horrível explicar para Mu o porquê de mudar de casa, mal sabendo que a criança de Áries não estava em condições para ouvir tal coisa.
Caminhou até uma cama onde estavam suas malas, deduzindo ser a sua. Empurrou o que havia no chão e deitou-se, encolhendo as pernas dentre os braços, sujeito a qualquer tipo de sofrimento, não apresentava resistência.
Agora sim, havia estragado tudo. Mas talvez... tivesse sido a melhor coisa que pudesse fazer. Se Shura gostava de Milo, quem era Aioria para impedí-lo de tal coisa?
Sabia que não ia conseguir suportar vê-los juntos novamente. Shura tratando-o com carinho. Carinho o qual havia faltado em seus momentos juntos... Teria que tentar. Não podia se render á tristeza. Tinha que levantar.
Lembrando dessas palavras, sai da cama e começou a arrumar suas coisas na nova casa, limpando as lágrimas. Mu era um bom amigo, iria ser bom conviver com ele.
Na casa de Capricórnio...
Shaka já havia organizado suas coisas e agora estava em posição de lótus, tentando concentrar-se, inutilmente. A imagem de Mu não saía de sua cabeça.
-" Por que ele não sai da minha cabeça? Ao ficar longe dele o problema devia se resolver!"
Shaka não queria reconhecer os seus sentimentos. Preferia fazer o outro sofrer a admitir que gostava dele, ou talvez até... o amasse...
Balançou a cabeça, a fim de espantar seus pensamentos, voltou-se à meditação, ainda não conseguindo fazê-la.
Afrodite estava no gramado, observando, de longe seu "amado". Kamus treinava chutes em uma árvore. Como era belo, visivelmente esforçado e persistente.
Afrodite deleitou-se com aquela imagem, atento a cada detalhe.
Por um espaço de tempo, desviou o olhar para o lado, avistando o aprendiz de Câncer. Socava outra árvore com força, parecendo despejar raiva na mesma.
"Pobre árvore" - pensou enquanto observava-o socar mais e mais a superfície de madeira.
MM parou o que fazia ao perceber o olhar de peixes sobre sua silhueta, caminhando até o garoto, agachando-se, olhando fixamente para seus olhos.
- Que foi Afrodite? Perdeu alguma coisa? - foi grosseiro como sempre, assustando a criança, a qual já estava se acostumando com o lado "doce" do amigo.
- Não! É que... - não teve a oportunidade de continuar.
- Afrodite, eu estou treinando! Vai olhar pro Kamus já que gosta tanto dele! Está me atrapalhando! - levantou-se, não dando tempo nem para o outro responder.
Afrodite ficou estupefato. Não pelo modo como o tratou, com isso ainda não havia se desacostumado, mas, se ele não estivesse enganado... MM estava com... ciúmes!
Não podia ser... aboliu os pensamentos de sua mente, fazendo o que Máscara disse e voltando a observar Kamus.
Saga e Aioros estavam definitivamente em guerra.
Aioros tomava banho enquanto Saga lia um livro em sua cama, esperando sua vez.
- Aioros! Vai logo! Eu quero tomar banho, droga!
- Calma, já vai! - parecia tramar algo.
A porta do banheiro abre, revelando Aioros com uma toalha minúscula envolta da cintura.
Saga babou, abaixou o livro que lia e olhou para a figura à sua frente. Como ele era lindo! Ainda havia gotas por todo o corpo, explorando-o, e seu cabelo ainda estava levemente molhado.
De repente sentiu uma mão levantar seu queixo, a fim de fechar sua boca.
- Ei... você vai babar na cama. - riu provocante, em seguida fechou os olhos, transportando a mão que estava no queixo para a boca, massageando-a levemente, chegando a fazer cosquinha. Saga fecha os olhos esperando o que viria de Aioros no momento, ansioso.
- Pode entrar. - levantou-se, frustrando o pobre garoto que estava abobalhado, ainda passando para o cérebro que havia sido pego!1 x 0 para Aioros!
O sangue de Saga subiu rápido à cabeça, aquele safado! Ele ia ver só!
Saga começou a despir-se, tirando primeiro os sapatos, meias...
Aioros arregalou os olhos...
"O... o que diabos Saga está fazendo?" - pensou curioso, porém ainda atento aos movimentos do "adversário".
Saga tirava a camisa, jogando os cabelos para trás. Desceu a mão para a calça, fazendo Aioros tossir desesperadamente de vergonha, porém sem tirar os olhos do corpo do colega.
Mesmo diante da reação, Saga não parava de provocar. Vingativo, queria ver Aioros suando frio, como ele ficou.
Abriu a calça e abaixou-a, sensual e lentamente, mesmo que "sem querer", ficando apenas de cueca. Fez menção de que ia tirá-la, percebendo o rubor no rosto de Aioros, o qual ainda olhava fixamente para o que fazia.
Brincou com o elástico, desceu-o um pouco, deixando a mostra seus ossos do quadril. Aioros já não agüentava. "Ele quer me matar!" - era em tudo que conseguia pensar.
- Puf!
Soltou o elástico, mandando o pedaço de pano de volta ao seu lugar, frustrando mesmo que involuntariamente o rapaz que o olhava com todo o ímpeto, não fazendo questão de esconder.
- Então eu vou indo! - correu até o banheiro, feliz da vida, trancando a porta.
Aioria soca a cama com força, suando, ainda lembrando-se do que QUASE viu.
1 x 1! Empate!
- Você me paga... não perde por esperar... - sussurrou com um sorriso malicioso nos lábios.
Milo estava próximo à margem do lago. Olhava para a água cristalina, lembrando-se de como Kamus gostava daquele lugar. Deitou-se no chão, agora observando o céu. Pensava em como antes achava que seria difícil conviver com Kamus por não saber o que falar ou fazer. Vendo que na realidade o problema não era o que ia fazer, e sim o que podia fazer. Conviver tão próximo de Kamus estava deixando-o incomodado.
Como queria que Kamus correspondesse a seu sentimento... como queria...
- Kamus... - em um sussurro quase inaudível, pronunciou o nome do amado...
Na casa de Aquário...
Após treinar, Kamus subira exausto, necessitando mais do que nunca de um banho.
Entrou no quarto, indo até o banheiro e girando toda a válvula de água fria do chuveiro. Voltou ao quarto, abrindo o armário separando a roupa que vestiria.
De volta ao banheiro, despiu-se e entrou embaixo do jato de água gelada, aliviado.
"O que você sente pelo Milo?" - a pergunta de Mu não saia de sua cabeça, ecoando na mesma, incomodando intensamente o aprendiz. Afinal... o que sentia por Milo? E... por que procurava não pensar nisso?
"Eu acho ele... um bom amigo." - algo nessa resposta o importunava.
"O que tá acontecendo? Bah... não deve ser nada..." - afastando seus pensamentos, desligou o chuveiro, pegando a toalha e enxugando-se, logo após se vestindo e saindo do quarto, rumo a Sala de jantar... já estava na hora do almoço.
Na sala de jantar...
Saga e Aioros estavam sentados um de frente para o outro, encarando-se, raivosos. Ambos tinham planos, os quais não eram lá muito bons. Mas parece que Aioros foi mais rápido, incentivado pelo doce sabor da vingança, o que queria sentir mais que tudo no momento.
Ergueu o pé, acariciando levemente a batata da perna de Saga, fitando-o fixa e maliciosamente, com um sorriso nos lábios. Saga suou frio, já imaginando o que estava por vir, mesmo assim, deixando transparecer a raiva contida em seus olhos. Aioros subiu mais o pé, deixando a "vítima" mais desesperada do que anteriormente, a qual não fazia idéia de como isso satisfazia a mente sádica de Aioros.
- Saga... você está bem? - sorriu ironicamente, elevando mais o pé, deixando-o próximo à virilha, continuando com as carícias, arrancando gemidos baixos de Saga, quase como sussurros. - Me parece um pouco... nervoso...
Saga arregala os olhos com o toque. "O Aioros tá malucooooooo! Ahhhhhhh" - pensou, quase explodindo tamanha tensão e raiva que sentia.
- T... tô... - faíscas saíram de seus olhos, deixando transparecer o quanto a situação era... desconfortável para ele, nem imaginando em o quanto isso satisfazia a mente sádica de Aioros.
- Hum... mesmo? - elevou o outro pé, acariciando dos dois lados da virilha, fazendo-o tossir compulsivamente enquanto Shion e os outros o olhavam, confusos.
- Saga... - Shion manifestou-se - Você está mesmo bem? Há algo de errado? - perguntou, preocupado, deixando-o mais nervoso ainda, soluçando a cada espasmo de seu corpo.
- S... sim... m... mestre... estou...! - tentou ser firme em suas palavras, fracassando. Agora nem podia mais desvencilhar os pés inoportunos, ia ficar muito na cara.
Aioros estava amando ver seu "adversário" naquele estado, cedendo "voluntariamente" a seus carinhos.
Shion voltou sua atenção para Aldebaram o qual já havia criado uma confusão, chamando a atenção de todos lá presentes.
Vendo-se livre dos olhares, Saga retirou bruscamente os pés do local, fuzilando os olhos claros que ainda o observavam, agora muito mais satisfeitos. 2 x 1 Aioros!
Após a confusão de Aldebaram e o "mal estar" de Saga, o resto do almoço ocorreu bem, surpreendendo Shion e Dohko, os quais já estavam mais do que acostumados às confusões por parte dos pequenos.
Ao terminarem, pediram licença e se retiraram. Os mestres continuaram a mesa, conversando sobre coisas diversas.
No jardim...
Mu encontrava-se um pouco afastado, como de costume ultimamente. Era apenas uma criança, uma criança que precisava se concentrar em seu treinamento, para virar um jovem digno de possuir a armadura de Áries. Mas no momento estava difícil.
Ainda pensava em Shaka. Por que disse aquilo? Sempre o odiara? Foi alguma coisa que ele fez? Não sabia...
Continuaria se martirizando até achar algo aplaudível à situação.
Sente alguém aproximar-se.
- Mu? - uma voz conhecida chamou-o, era doce, cativante, era Shaka.
Vira-se, surpreso, avistando dois olhos azuis encarando-o insistentemente.
Shaka sentiu de novo aquela sensação, aquela que procurava esquecer.
- Sh... Shaka... - abaixou a cabeça, segurando uma lágrima.
- O mestre Shion mandou você receber Aioria em sua casa. - foi frio.
- Tudo bem, eu estou indo. - levantou-se, correndo, antes que chorasse ali mesmo. Ao distanciar-se um pouco, desabou em lágrimas, era Shaka, o causador de seu sofrimento.
"Shaka... eu te odeio" - foi levado pelo momento, pensando em quanto tempo levaria para arrepender-se dessa declaração.
Shaka continuou imóvel, inexpressivo. Havia sido rude com Mu, não restavam dúvidas.
"Por quê? Por que recuso isso que tá dentro de mim?"
Refletia a pobre criança. Odiava ver Mu sofrer. Odiava ver qualquer um sofrer, mas, não podia se deixar levar por coisas desse tipo. Não era para isso que tinha nascido e fazia questão de lembrar-se isso o tempo todo.
"Desculpa Mu... eu não posso..."
Caminhou pelo jardim, aproximando-se dos outros, procurando esquecer o que seu coração lhe dizia.
Na casa de Aquário...
Já era noite, Kamus estava no quarto, vendo TV. Via um canal francês, lembrando de sua língua, seu país... ainda podia lembrar-se das belezas daquela terra. Algo chamou sua atenção a porta. Era Milo. Chegara com os olhos inchados, perecia ter chorado.
Kamus desviou sua atenção para o joelho do menino, sujo de sangue. Logo notando as mãos igualmente sujas.
- Milo, o que houve? - surpreendeu-se, ainda assim mantendo a mesma expressão de sempre.
- Nada, eu caí... só isso... - abaixou a cabeça, envergonhado, tentando segurar a dor emitida pelo ferimento.
- Mesmo assim, é melhor passar alguma coisa. - sua expressão era algo entre preocupado e indiferente. Milo estava mais nervoso com as perguntas do amigo do que com o próprio machucado, mas teve que manter sua sensatez.
Kamus levantou-se da cama, indo até o banheiro, voltando com alguns potes de remédios e algodão nas mãos.
- Senta na cama pra eu passar o remédio. - foi mais para uma ordem do que qualquer coisa, mesmo assim, o aprendiz de escorpião assentiu, logo em seguida sentando-se. Não negaria a ajuda de ninguém, muito menos a de Kamus. Kamus aproximou-se, ajoelhando em seguida. Limpou o local com água oxigenada, logo depois depositando o medicamento.
- Aiii - tentou conter um gemido de dor, fracassando. Ao perceber a falha, forçou seus dentes contra os lábios, procurando cerrá-los. De algum modo aquilo era muito satisfatório, não queria atrapalhar.
- Calma... arde só um pouco... - olhava fixamente para o machucado. Mesmo assim notando o sofrimento do amigo, que se remexia a cada contato com a pele atingida.
Aquelas palavras apenas o incentivaram a manter-se calado. Kamus estava sendo tão atencioso, carinhoso, mesmo que involuntariamente.
Após terminar o processo, fez um curativo. Levantou-se, levando tudo para o banheiro, lavando as mãos e voltando ao quarto, de aonde Milo ainda o olhava.
- O que foi? O machucado ainda dói? - perguntou ao notar os olhos azuis sobre si, estranhando aquele olhar.
Ao notar onde fixava seus olhos, virou o olhar, inventando qualquer desculpa que passou por sua cabeça.
- Não! Tá tudo bem... obrigado. - sorriu docemente.
Kamus paralisou. Aquele sorriso. Sim, havia algo errado, muito errado.
"O que é isso?" - sentiu um aperto no peito.
- Kamus? - chamou ao perceber o garoto encarando o nada, em pé, parecendo não escutar o que dizia.
Voltou a si - Anh?
- Eu perguntei se você já vai dormir.
- Ah, não... vou ver um pouco de TV antes. - respondeu andando para a cama, deitando-se em seguida.
- Tá bom então... - foi até o banheiro escovar os dentes, em uma questão de minutos. Percebendo ao voltar que Kamus já dormia profundamente. Admirou-o por alguns segundos, logo depois balançando a cabeça e indo se deitar.
CONTINUA...
