Título: Amor, 8º Pecado Capital
Ficwriter
: Kaline Bogard
Classificação
: yaoi, AU, angust, preconceito
Pares
: 1x2, 3x4
Resumo:
Todas as dificuldades que um casal homossexual pode encontrar no início do século XVII
Aviso
: Essa fic participou do Contest "Um Novo Amor", e vou dedicá-la a Evil Kitsune, pois se não fosse essa garota, eu não teria participado do concurso! B-jos, mestra!!


"Se amar com toda a alma é considerado pecado,
então admito que desse crime sou culpado."

Amor, 8º Pecado Capital
Kaline Bogard

EPÍLOGO

Quatre abriu os olhos e fechou-os rapidamente. Depois de alguns minutos tornou a abri-los e dessa vez a luz do dia não o incomodou.

A primeira coisa que notou foi Trowa Barton, sentado em uma cadeira ao lado do leito, segurando um livro em suas mãos. O garoto mais alto viu que seu amante despertara, e interrompeu a leitura.

- Bom dia.

Quatre apenas sorriu, sem forças para responder.

Por muito pouco não perdera a vida.

O médico dedicado fazia visitas diárias, e recomendava repouso total e absoluto. Quatre não deveria se mover por longos meses.

Trowa abdicara de seu trabalho como tradutor e interprete de Portugal, e discretamente passava dias na casa de seu 'amigo', preocupado com sua recuperação.

Enquanto se recuperava, Trowa o colocava a par das loucuras de Relena. A garota fora levada por seu irmão Zechs, para repousar em Birmingham, num daqueles asilos para pessoas instáveis, supostamente para recuperar-se de toda a situação.

Na verdade, o primogênito dos Peacecraft tivera medo de que Relena fosse acusada por aqueles crimes, e acabasse na forca, então fugir fora a coisa certa. Isso, e o fato de que seria embaraçoso permitir que todos soubessem da loucura de sua irmã caçula.

Felizmente tudo se passara na casa de Quatre, entre poucas pessoas, por isso a repercussão fora mínima. Quase inexistente.

Suspirando, Quatre cerrou os olhos. Aqueles poucos minutos foram o suficiente para cansá-lo. Estava tão debilitado... mas sua natureza forte e obstinada logo o colocaria em pé outra vez, e assim, a vida continuava.

Meio triste, Trowa percebeu as lágrimas secando nos cantos dos olhos de quem tanto amava. Quatre já sabia de toda a história, e lamentava o desfecho da mesma. Mas sabia que não podia ser diferente.

A cena final fora extremamente desagradável.

Durante a luta entre Relena e Duo, a garota acabara ferida, machucando seu rosto. A pele ficaria para sempre marcada por uma horrível cicatriz.

Totalmente dominada pela loucura e pelo ódio, despejara seu veneno amaldiçoando e xingando. Deixando claro que não permitiria que Heero e Duo tivessem paz, enquanto permanecesse viva.

Perdendo a pouca paciência que tinha, e mal se importando pelo fato da garota estar ferida, Heero a erguera do chão com maus modos, e por alguns segundos... tivera a tentação de esganá-la, chegando inclusive a fechar os dedos longos ao redor do pescoço daquela víbora. Seria tão fácil torcê-lo e quebrá-lo. Mas Duo, que assistia a tudo ainda meio sentado no chão, implorara a Heero que não cometesse aquela loucura. Seu coração generoso não permitiria que assistisse a morte de outro ser humano passivamente, apesar de se tratar de uma mulher insana, vingativa e egoísta, que apenas desejava o mal para ele.

Não queria o sangue de ninguém sujando as mãos de ambos. Nem mesmo de Relena.

Cedendo ao pedido bondoso do americano, Heero o ajudara a se levantar e o apoiara de um lado, enquanto puxava a garota em direção da casa de Winner, tentando não escutar os gritos e ameaças, e as juras de vingança que a Peacecraft despejava em seus ouvidos.

Tantas maldições, preferidas numa voz rouca de ódio, refletiam a amargura e despeito de sua inimiga. Ela era vítima não só da inveja, mas do preconceito e abominação a pessoas que ousavam agir diferente da maioria. Apenas achava que tinha o direito de julgar Heero e Duo conforme seus conceitos, e não hesitava em condená-los da pior maneira possível.

Os jovens enamorados entenderam que não teriam paz, enquanto Relena estivesse perto deles.

A solução fora dada pelo estado crítico de Quatre Winner.

O loirinho estava de malas prontas para partir, mas não poderia fazer isso nos próximos meses... seria uma pena perder a viagem... e Trowa nem hesitou em sugerir que Heero e Duo escapassem de Londres através da embarcação, e viajassem com Treize, rumo a liberdade.

Só assim ficariam em paz.

E talvez um dia, quem sabe... os quatro pudessem se encontrar outra vez.

Mais do que nunca, Trowa tinha a certeza de que a vida seguia em uma única direção. Mesmo que tivessem a falsa impressão de que controlavam o destino, era apenas uma ilusão arbitrária. Escolher um caminho, ou moldar suas vidas eram coisas que estavam além do alcance de suas mãos.

A maior prova disso, era que, apesar de Relena estar errada, e tentar cometer dois assassinatos, Heero e Duo é que haviam fugido, pois se ficassem em Londres, corriam o risco de serem julgados mais rigorosamente que a Peacecraft.

E não acabava aí. Quatre também teria que ser afastado de Londres assim que se recuperasse. Trowa sabia que se tivesse a menor oportunidade, assim que saísse da casa de repousos, Relena ainda podia querer se vingar do loirinho. Quem sabe descontar a raiva sobre ele mais uma vez...! E isso, era algo que Trowa não permitiria jamais!

Quando fosse possível, o garoto de franja colocaria o amante em um navio, e partiria com ele de volta para o oriente, onde sabia que Relena, e todo seu ódio jamais o alcançaria...

Teriam que fugir... mas enfim, na vida, não passavam de meras marionetes...

O futuro era uma incógnita, e então, talvez um milagre fosse possível, e aí se encontrariam novamente.

Talvez, então, o loirinho não mais chorasse, por não ter tido a chance de se despedir de seu querido amigo...

oOo

Duo olhou desconfiado para Wufei.

O chinês conduzia o leme de maneira decidida e firme, mas apesar disso, o americano gostava mais quando era Treize que estava no comando.

- Olha lá, hein... vê se não vai nos levar para uma ilha perdida...

Wufei nem se dignou a responder. Achava Duo muito barulhento, xereta e por demais abelhudo. Não mudara nada desde a primeira vez em que haviam viajado juntos, naquela mesma embarcação.

Cansado de atormentar o chinês, Duo suspirou e voltou para onde Heero estava, encostado na amurada, observando o mar azul.

- Você está bem?

- Hn. E você?

- Muito bem! Só meio chateado... ainda penso em Quatre e oro todas as noites para que ele esteja bem... foi tão ruim sair sem me despedir... eu gostaria mesmo de ter dito adeus... mas ele estava inconsciente quando saímos de Londres... e tão fraco...

- Ele ficará bem. Tem ao Trowa.

- Verdade! - o americano se animou um pouco - Fugir é ruim... mas...

Heero sondou as feições de Duo, querendo descobrir se ele se arrependia por ter abandonado Londres. Logo a dúvida passou. O garoto de tranças não se cansava de dizer o quanto achava Londres uma capital tediosa e cansativa. Logo, a tristeza do americano tinha relação a não ter se despedido de Quatre. No entanto essa era uma tristeza que Heero também carregava, apesar de não demonstrar. Intimamente o japonês desejava se encontrar com o jovem árabe, e pedir desculpas por ter colocado a vida dele em risco daquela maneira...

- Mas Relena nunca nos deixaria em paz, não é? - a voz baixa de Duo cortou as reflexões do antigo embaixador.

- É.

Então Duo aproximou-se mais de Heero, debruçando-se sobre a amurada e encostando a cabeça no ombro do japonês.

- Ela disse coisas horríveis. Não somos demônios, não é, Heero? Nem filhos de Satanás... somos apenas duas pessoas que se amam.

- Hn.

- E isso não é um pecado terrível. É somente... um sentimento. Não podemos ser julgados por amor. Deus não criou o amor para ser um pecado...

Heero não respondeu. Apenas passou o braço envolta dos ombros de Duo e o puxou para mais perto de si. Para o japonês pouco importava a opinião de Deus. Se o Ser Sublime criara um amor tão profundo, então nunca poderia condená-los. E se assim o fosse, azar. Pouco importava ir para o inferno conforme a crença católica, ou ganhar um karma ruim, de acordo com a tradição japonesa.

Agora tudo o que importava era aproveitar a carona que Treize lhes dava, usufruindo a bela visão marítima, e o ventinho agradável que sempre soprava. O tempo nunca estivera tão bom, nem o mar tão calmo. Tantas coisas boas alegravam as almas dos garotos enamorados, enchendo-os de sonhos e esperanças. Talvez o futuro lhes reservasse uma coisa boa finalmente, e talvez, quem sabe, ainda encontrassem com Quatre e Trowa algum dia de suas vidas. Afinal de contas, o mundo era enorme, mas a vida era cheia de surpresas. O inesperado e aparentemente impossível poderia acontecer...

Enquanto isso buscavam um lugar onde se esconder. Um lugar onde apenas deixariam a vida acontecer, e viveriam com ela. Aproveitando os dias que viriam, e os sonhos que as noites trariam.

Seria fácil encontrar uma ilha esquecida do mundo, habitada por poucas pessoas. Pessoas que não haviam sido tocadas pela amargura do 'mundo civilizado' e que não condenariam Heero e Duo pelo sentimento puro que abrigavam em seus corações.

Sim... ainda existiam paraísos assim. Longe dos amigos, é certo, longe de seus lares e família. Mas, também longe da hipocrisia, da falsidade e do ódio.

Paraísos onde amar não era pecado.

FIM


#anotando no caderninho# Mais um final que vai pro lixo. Céus...

Nota: A cena do baile e a idéia de Duo se vestir de mulher para pregar uma peça foram inspirados no zine YOKUMO de K.M.S., da história Tenchi no Buto Kai (O baile dos anjos), que eu amo de paixão.

Bem, aproveitando para justificar alguns dos comentários que essa fic recebeu durante todo o contest... bem, vou direto as que me chamaram mais a atenção, e que achei mais relevante...

Buahuahauauua: Não pedi pra ninguém betar a fic, eu estava off, e com os prazos em cima, resolvi testar a sorte e confiar no santo corretor ortográfico do Word. Alias, queria agradecer a Evil Kitsune, afinal, como eu disse, eu estava sem net, e nem sabia desse concurso. Ela (como a grande amiga que é) se deu ao trabalho de me ligar e avisar do que estava acontecendo, além de me incentivar a participar.

Valeu Pipe!!: a história do banho foi deveras engraçada! He he, he, ainda dou risada soh de lembrar! Seu comentário foi muito construtivo, me deu o que pensar, exceto a cena da cruz. Como te disse em PVT, eu queria mesmo uma cena que chocasse, que fosse forte. Pode não parecer, mas sou católica!

A idade do Heero: considerando-se a época em que eu ambientei a história, e o local, não é absurdo que o Heero seja mandado para uma missão assim tão jovem. Se a minha pesquisa não basta, tem um anime chamado Rurouni Kenshin, escrito por Nobuhiro Watsuki, mangaka profissional, onde são narradas as aventuras de um espadachim no começo da Era Meiji. Esse anime tem uma série de 04 OVA's do período Bakufu, quando aos 14 anos, Kenshin Himura já era um dos assassinos mais importantes para os rebeldes, o que significa que ele começou a matar pessoas antes dos 14 anos. Tem também o Okita, chefe da Primeira divisão do Shinsengumi, que liderava os ataques aos 15 anos, ou seja, suas mãos se mancharam de sangue quando ele era bem jovem.

Seppuku: Assunto sério. Sim, o Heero deveria mesmo ter cometido esse ato terrível, pois descomposturas muito menos graves do que essa terminavam em seppuku. A vida tinha muito pouco valor, e os samurais acreditavam que se punindo dessa maneira poderiam conseguir um karma melhor na próxima vida. Ah, e as mulheres samurais também tinham direito a seppuku, mas o suicídio feminino consistia em cravar a kodachi na própria garganta. Asseguro que muita mulher que não queria aceitar casamento arranjado deu fim a própria vida cometendo seppuku.

Pra terminar: Talvez eu seja uma das últimas românticas da face da Terra... mas SIM! Eu acredito que dois beijos são suficientes para mudar a vida de duas pessoas. Imagino que Amor quando é forte do bastante tem o poder de reescrever o destino, mudar caminhos e tornar tudo possível... n.n