Notas: Essa one-shot é uma resposta ao desafio "Contos de Fodas Severísticas", uma coletânea organizada pelo grupo Severo Snape Fanfictions. As palavras sorteadas para mim foram: grande, de jeito nenhum, fragmentado, praia e cuspir. A coletânea pode ser encontrada no perfil severosnapefanfictions no Archive of Our Own.
O universo de Harry Potter não é meu. Apenas brinco com ele com frequência.
Essa fanfic também está postada nos sites Spirit Fanfics, Wattpad e AO3.
Capítulo Único
Os cabelos longos e loiros balançavam conforme a mulher caminhava pelos corredores do Ministério da Magia. Os ouvidos estavam bem atentos ao seu redor, mas os olhos verdes estavam grudados no Comensal da Morte que andava mais à frente. Ela suspirou ao apertar a varinha com mais força entre os dedos da mão que estava escondida dentro do bolso do sobretudo. A vestimenta era um tanto inesperada para o verão, mas ninguém parecia perceber isso — imaginando que se tratava de um uniforme. O canto da sua boca se curvou levemente para cima, satisfeita. Ser metamorfomaga era uma dádiva, Tonks pensou consigo mesma. Ainda mais sendo uma Auror.
Continuou a seguir o Comensal; pelo saguão do Ministério até as ruas movimentadas de Londres. Tonks o investigava há quase um mês e meio. Suspeitava que Stephan Gibbon — o Comensal — estivesse envolvido no desaparecimento de duas universitárias trouxas. A abdução das jovens chamou a atenção do Ministério quando um dos interrogados delatou ter visto vislumbres luminosos seguidos de gritos. Quando virou a esquina do campus, correndo, não havia ninguém. Um dos muitos infiltrados bruxos dentro das instituições trouxas entrou em contato com a Seção de Aurores no final de junho, e Tonks investigava o caso desde então.
As primeiras pistas que colhera foram os danos causados aos arbustos da possível cena do crime. Os galhos estavam queimados e apresentavam um tom arroxeado. Os peritos trouxas ainda tentavam entender a cor inesperada da planta. Tonks, entretanto, sabia que a planta havia sido alvo de um feitiço errante. Extraindo uma amostra do arbusto, um dos herbologistas forenses do Departamento de Execução das Leis Mágicas junto do perito infiltrado na polícia conseguiram traçar algumas informações muito interessantes. Dentre elas, que o autor do feitiço era canhoto e que o núcleo de sua varinha era de fibra de coração de dragão. Foi preciso puxar toda a papelada de registros de bruxos que eram — ou possivelmente eram — Comensais da Morte. Uma visita até a loja de Ollivander lhe deu um norte a seguir, agora sabendo quais Comensais (ou possíveis) possuíam varinhas com esse núcleo.
O que pôs Gibbon no radar de Tonks, a despeito dos outros sete nomes que integravam sua lista de suspeitos, foi a própria estupidez do homem. Ele frequentava o Ministério com certa frequência para visitar Nott — a relação entre os dois, além de ambos serem seguidores de Voldemort, ainda não estava clara para Tonks — e durante uma dessas visitas, a Auror teve a infeliz sorte de tomar o mesmo elevador que ele. No dedo mindinho da mão direita ele usava um bonito e grosso anel de ouro. Algo estalou na mente dela. Quando as portas do elevador se abriram no andar em que trabalhava, ela correu até à papelada que jazia sobre sua mesa. Na foto de uma das desaparecidas era possível ver o anel que mostrava com orgulho para a câmera. A joia fora um presente do pai, orgulhoso pelo ingresso da única filha na universidade.
E era por isso que Tonks o seguia, devidamente disfarçada pelo seu dom de metamorfomaga. Scrimgeour, Chefe dos Aurores, fora incisivo quando lhe disse para ter calma, que cuidariam daquela situação com cautela. Durante uma das reuniões da Ordem da Fênix, Moody a alertara para a "vigilância constante" e que não caísse em uma armadilha. Nymphadora Tonks era uma Auror exemplar, mas também era conhecida por seu temperamento difícil e impulsivo.
Porém, ela estava muito certa da sua investigação. E era por isso que seguia Gibbon.
Uma das partes mais difíceis de ser uma Auror era que os bruxos possuíam a capacidade de aparatar e isso tornava as perseguições muito complicadas e perigosas. Tonks o seguia, mantendo uma distância segura e discreta entre eles, atenta para qualquer movimento mais brusco. Uma vez que estavam nas ruas de Londres, Gibbon podia aparatar a qualquer momento, uma vez que encontrasse uma viela menos movimentada. Ela, infelizmente, não poderia agarrá-lo para aparatar junto a ele, é claro. Mas o seguiria até onde fosse capaz.
O Comensal começou, então, a virar em ruas cada vez menos movimentadas. Em breve Tonks teria que cessar a perseguição; segui-lo por calçadas totalmente vazias era perigoso e burro. "Não se coloque em risco desnecessário." Moddy havia a ensinado. "Saber quando fugir também é demonstrar coragem."
Não demorou muitos minutos até se ver obrigada a pôr um fim naquilo. Quando assistiu Gibbon seguir por um caminho muito deserto, adentrou o primeiro estabelecimento que avistou. O aroma de livros velhos, amarelados e clássicos invadiu as narinas de Tonks quando abriu a porta do sebo. Ela marcou pelo menos um minuto dentro da loja, fingindo procurar por algum livro específico. Saiu do sebo assim que se desvencilhou de uma funcionária muito solícita e simpática — e bonita, ela pensou com um leve sorriso.
Presumindo que não encontraria mais Gibbon, que provavelmente ele já havia aparatado para Deus sabe onde, Tonks desfez suas mudanças físicas enquanto virava mais uma esquina; a última para qual vira Gibbon caminhar. Era uma rua sem saída. Aquela constatação fez com que parasse de supetão; havia algo estranho. Não saberia dizer o que era, apenas sentia. A mão que segurava a varinha saiu do bolso do sobretudo e agora estava devidamente erguida. A ponta da varinha acendeu sem precisar de um feitiço verbal, e quando a luz alcançou os muros cinzas ao seu redor, o anel de ouro brilhou, solitário, sobre o chão sujo. Um feitiço de inspeção mostrou que a joia não estava envolta em nenhuma magia nociva ou das trevas, então ela se curvou para pegá-la.
A capa negra e esvoaçante foi flagrada pela sua visão periférica e em um segundo Tonks estava com a varinha erguida para o Comensal mascarado. Ele, contudo, não estava com a varinha à vista, tampouco demonstrava nenhuma pretensão em se aproximar. O anel na palma de Tonks brilhou de repente, e a última coisa que viu antes da chave de portal a levar para o desconhecido foi o Comensal da Morte, zombeteiro, acenando para ela.
. . .
O vento frio foi a primeira coisa que registrou quando seus pés alcançaram o chão; um chão fofo, macio… Areia. Então o cheiro da maresia lhe invadiu com força enquanto ela ainda tentava se estabilizar do torpor e enjoo provocados pela chave de portal. A praia parecia acinzentada conforme o Sol sumia no horizonte, o mar era quase negro e não havia uma única alma viva à vista além dela. Porém, isso mudou quando um som de aparatação soou alto atrás dela.
Tonks foi a primeira a lançar um feitiço, pegando o Comensal desprevenido. O homem se desequilibrou, o chão irregular dificultando seus movimentos, mas conseguiu devolver o ataque, que foi devidamente desviado pela Auror.
— Você é muito burra! — exclamou o Comensal, quase a acertando com um Feitiço de Corpo Preso.
— Estupefaça!
— Realmente não acredito que caiu nessa. — Ele desviou. — Incarcerous!
— Protego! Expelliarmus!
A varinha, por um breve momento, escapou da mão do homem, mas ele a recuperou antes que caísse ao chão. Foi tempo o bastante para que Tonks o atingisse com um Everte Statum, que o fez ser jogado a alguns metros de distância. A queda fez com que ele batesse a cabeça na areia e a máscara caiu ao seu lado, revelando que realmente tratava-se de Gibbon.
Tonks se aproximou com cautela, a varinha sempre erguida. Gibbon parecia desacordado e um filete de sangue escorria da sua têmpora. Ela se permitiu suspirar alto; desacreditada e irritada com a sucessão dos últimos eventos. Fora extremamente descuidada.
Ela encerrou com a distância entre os dois e se abaixou para inspecionar os bolsos do Comensal. Porém, antes que pudesse tomar a varinha que jazia ao lado dele, Gibbon abriu os olhos repentinamente e a acertou com um soco no rosto. Espontaneamente, Tonks levou a mão ao rosto e sentiu o ângulo estranho do nariz e o sangue quente que saía de sua narina.
— Flipendo! Seu filho da puta!
Gibbon mais uma vez foi arremessado para trás, embora, desta vez, tivesse se levantado rapidamente.
— Estu-
— IGNEM! — Gibbon foi mais rápido.
Uma grande bola de fogo saiu da varinha do Comensal da Morte, tão grande que tinha, pelo menos, o dobro da altura de Tonks. A bola — que não era um círculo perfeito — voou na direção dela com velocidade absurda. Ela sentiu uma forte ardência em sua perna, um tanto camuflada pela adrenalina, antes de conseguir desviar a bola de fogo para o mar. Quando a grande esfera entrou em contato com a água, ela se esvaiu com um chiado alto e uma fumaça cinzenta.
A dor a fez cair sobre a areia. Ela tentou se levantar, mas não conseguia se manter em pé. Sua varinha voou quando Gibbon lançou o Expelliarmus e com medo e orgulho assistiu ao Comensal se aproximar.
— Você caiu como um patinho, sua vagabunda. — Ele pisou sobre a perna ferida dela, arrancando-lhe um grito. — Boa sorte com isso.
E então ele aparatou. Era uma conduta extremamente sádica. Ele poderia ter a matado de uma vez, até mesmo poderia ter a sequestrado, mas optou por deixá-la lá para morrer, sofrendo.
As espumas das ondas alcançavam cada vez mais os trechos de areia, e algumas vez molharam as roupas de Tonks. Ela se arrastou, com muita dor e dificuldade, pelo chão até conseguir recuperar a varinha, que temeu que fosse levada pelo mar, o que não demoraria muito a acontecer, considerando as alturas cada vez maiores das ondas. Uma vez que a varinha de pando estava segura entre os dedos de sua dona, Tonks ainda conseguiu pensar no seu aniversário de onze anos, o mais feliz de sua vida, e o patrono foi expelido da ponta da varinha.
— Fui atacada por um Comensal. — Sua voz estava chorosa por mais que tentasse ignorar suas dores. — Estou ferida. Estou numa praia, mas não sei onde. Use o anel — ela entregou a joia ao animal prateado que a pegou na boca —, ele é uma chave de portal. — Antes de enviar o patrono, ela disse para a lebre¹: — Encontre o primeiro membro da Ordem que puder, e rápido!
E ela realmente esperava que fosse rápido — o mais rápido possível —, porque a dor começava a diminuir conforme ela sentia sua consciência ficar turva.
. . .
Camuflado por entre as árvores em algum lugar de Silpho, a figura escura de Severus Snape colhia algumas plantas e cogumelos da floresta íngreme. O céu ficava cada vez mais escuro conforme a tarde se transformava em noite, e a luz de sua varinha — presa entre seus dentes tortos — iluminava o trabalho exímio de seus dedos.
Outra luminosidade se uniu à da sua varinha e ele se virou para encontrar um patrono em forma de lebre. A voz de Tonks soou por entre as árvore altas e ele revirou os olhos. Sem pressa alguma, ele colocou as plantas nos recipientes próprios e os guardou dentro do bolso da calça, após encolhê-los. Finalmente — já irritado com a lebre que saltava ao seu redor, tentando apressá-lo —, ele estendeu a mão para o patrono que depositou o anel sobre sua palma e sentiu-se ser teletransportado até o paradeiro da Auror.
Assim como aconteceu com Tonks, Snape foi acometido, antes de mais nada, pelo vento gélido, que fez seus fios negros chicotearem ao redor do seu rosto, e por algumas gotículas salgadas que pingaram contra sua pele.
— Snape!
Tonks tentou gritar, mas sua voz não passava de um sussurro quase obstruído pelas ondas que quebravam à beira-mar. Próximo dela havia pequenas poças ensanguentadas conforme cuspia o sangue da boca. Snape franziu o cenho, enojado, para aquilo.
Ele se aproximou calmamente, como se tivesse todo o tempo do mundo; como se a mulher à sua frente não estivesse em risco de vida. Snape, na verdade, não era tão sádico assim, embora confessasse certa satisfação por aquela cena — Tonks o irritara por três encarnações durante seus anos em Hogwarts. Contudo, realmente não estava ciente da gravidade do ferimento da Auror.
— Gibbon! Ele—
— Cale a boca. — Foi tudo que, a princípio, saiu dos lábios finos do professor.
Ela o obedeceu por estar em sofrimento e por confiar nele, apesar de tudo. Observou-o se agachar ao seu lado e segurar sua perna entre as mãos geladas. Sua calça estava chamuscada, e o que viu quando Snape cortou o tecido com a varinha a assustou.
— Merlin! — Ofegou. — O-o quê...?
Sem nenhuma palavra, ele se levantou novamente e sumiu quando aparatou. Tonks vociferou com ódio e usou um pouco de sua reserva de energia para xingar até a quinta geração da família de Severus Snape.
Alastor Moody havia lhe dado um treinamento excepcional e os anos atuando como Auror terminaram de lapidá-la, mas Tonks ainda era uma pessoa muito intensa, e por mais que tivesse tentado segurar, não conseguiu conter as lágrimas que vieram. Ela cuspiu sangue mais uma vez, já não suportando mais o gosto férrico em sua boca, e permitiu que um soluço se mesclasse ao som das ondas.
Snape, entretanto, retornou com outro som alto de aparatação, e dessa vez trazia uma pequena maleta com ele.
— Não diga que pensou que eu a largaria aqui — disse quando a flagrou secando as lágrimas.
— É muito grave? — ela perguntou ao ignorá-lo. — Eu não estou sentindo muita dor, na verdade. Mas não consigo me levantar, isso me deixou apavorada...
A voz dela morreu quando assistiu, com profundo horror, Snape remover uma parte da pele de sua perna, completamente solta pela queimadura. Sentiu uma certa vontade de vomitar — não pela visão do ferimento, mas pelo medo que estava sentindo — e virou a cabeça para o lado, cuspindo o sangue mais uma vez.
— Você pode parar com essa nojeira? — resmungou Snape, entredentes.
— Eu poderia. — Tonks reuniu forças para debochar. — Se minha boca parasse de sangrar. — Ela cuspiu outra vez, agora próximo aos pés do professor.
Snape mordeu a própria língua, literalmente, para refrear diversos palavrões e maldições que lhe vieram à mente, além de uma boa dúzia de azarações. Cobrindo o sangue cuspido com um punhado de areia, ele se aproximou dela — mais do que seria comum — para segurá-la contra si.
— Se segure — ele avisou.
Snape os aparatou para uma construção em ruínas a poucos quilômetros de onde estiveram anteriormente. Tonks ainda podia ouvir o barulho do mar e sentir o cheiro de praia.
— Não posso aparatá-la por grandes distância por enquanto. E era arriscado continuar lá.
— Onde estamos? — Sua voz parecia mais alta entre as paredes de pedras.
— Em Scarborough. No Castelo de Scarborough, mais precisamente.
— E onde você estava? — perguntou com amabilidade.
— É um interrogatório?
— Mas que porra, Snape! — esbravejou. — Você é incapaz de agir como uma pessoa normal?
— A habilidade de metamorfomagia me fascina. Mas, então, lhe pergunto, Tonks: a personalidade também pode ser facilmente alterada? Ou você sofre de algum distúrbio?
— Vá à merda!
— Eu seguraria a língua se fosse você, Srta. Fragmentada. — Um sorriso maligno pendeu em seus lábios.
De repente, antes que Tonks pudesse rebatê-lo e o tirar do sério, ele segurou o queixo dela entre seus dedos com mais força do que seria necessário. Ele verdadeiramente a apertou, obrigando que abrisse a boca, e aproximou-se para analisar. Seu nariz de gancho não encostou na bochecha dela por uma questão de milímetros e Tonks arregalou os olhos com assombro. Ele, então, lançou um feitiço que fechou o corte na parte de dentro da bochecha que vertia sangue e enfiou um chumaço de algodão dentro da boca teimosa, também cuidou do nariz quebrado.
— Você teve uma queimadura de terceiro grau. — informou enquanto retornava a atenção para a maleta.
Ela murmurou algo inaudível antes de cuspir o algodão ensanguentado. Por fim, disse:
— Como? Não está doendo tanto assim.
— Exatamente. — Havia certo tom de prazer na voz grave do professor. — A queimadura foi profunda, suas terminações nervosas foram danificadas.
— O QUÊ?
— Não. Grite. — Deitou sobre ela seu melhor olhar mortífero, que foi o bastante para a calar. — Não acho que queira ser ouvida, ainda mais se o Comensal retornar. O que me leva a um questionamento: o que aconteceu?
— Estou investigando o desaparecimento daquelas garotas trouxas.
— Anne Harrington e Eleonora Louis?
— Sim…
— Mortas. — respondeu sem rodeios ou sentimentos.
— Como…
— Amycus Carrow sequestrou elas. O Lorde das Trevas as matou.
Ele estendeu um frasco de poção para ela. Quando não sentiu o peso do recipiente sumir da sua mão, olhou para ela. Tonks o mirava com ódio e descrença. Ainda havia um rastro seco de sangue no canto da sua boca e na sua narina, seus cabelos estavam revoltos e cheios de areia. Ela parecia uma louca.
— Você não tem compaixão? Não se sente incomodado?
— Beba a poção.
— Não está doendo! — Insistiu uma vez que identificou a poção analgésica.
— Mas vai doer… — murmurou.
Snape pingou cinco gotas roxas de outra solução sobre a queimadura. Logo, Tonks tomou a poção analgésico e a engoliu em dois goles. Ele estava certo.
Iria doer.
Ela tentou se ajeitar para que pudesse remover o sobretudo. Surpreendendo-a, Snape se aproximou para ajudá-la. Não conseguiu evitar sentir suas bochechas arderem com a proximidade dele, e usou o sobretudo para esconder o rosto, com o pretexto de que estava o usando para abafar seus gritos de dor conforme a poção pingada regenerava suas terminações nervosas.
Era um segredo que guardava a sete chaves. Era comum, e esperado, que muitas meninas passassem pela fase da paixonite por um professor. Grande parte das garotas da sua época de Hogwarts rendiam olhares demorados para o Professor Jackson, que deu aulas de Estudo dos Trouxas antes da Prof.ª Burbage, e também para a Professora Sinistra. Tonks, contudo, nunca revelou para as amigas, ou qualquer outra pessoa, que seu objeto de atração era o professor de Poções, Diretor da Sonserina: Severus Snape.
Ela o desprezava desde que botou o pé nas masmorras pela primeira vez para sua primeira aula em Hogwarts e sabia que o ódio era mútuo. Tonks não havia sido uma aluna desobediente ou arruaceira, como os gêmeos Weasley, mas ela com certeza tinha uma língua esperta e jamais perdia uma boa piada. E isso irritava Snape até deixá-lo colérico. Ainda se lembrava de quando, em seu quarto ano, o professor chegou à sala de aula no exato momento em que ela fazia uma imitação fidedigna dele para seus colegas lufanos. Ela jurou naquele momento que estava morta, que morreria e traria sofrimento para seus pais por uma brincadeira boba. Na melhor das hipóteses, ela ganhou um longo sermão — em que se encolheu a cada palavra dita em tom cortante — e um longo mês de detenções.
Então não sabia como a atração se iniciou, mas sabia quando. Estava em seu sexto ano e ela combinara de ir à Casa de Chá da Madame Puddifoot com Charlie Weasley. Eles eram bons amigos; na verdade, Tonks arriscaria dizer que, na época, ele era seu melhor amigo. Havia uma certa expectativa dos outros colegas e da família para que namorassem, e eles eram dois adolescentes curiosos e cheios de hormônios, então optaram por se dar uma chance. Charlie era um garoto super legal — embora Bill, seu irmão mais velho, fosse mais carismático e bonito —, mas ainda lhe faltavam experiências, não só emocionais, mas também… físicas. Então após uma tarde de beijos e amassos encabulados, Tonks retornou para o calor do castelo se sentindo frustrada.
Para seu infortúnio, encontrou o Professor Snape também retornando para a escola. Ela mirava as costas largas cobertas pela capa longa sem realmente percebê-lo enquanto pensava sobre sua tarde fracassada com Charlie. Em algum momento, o vento gelado do inverno soprou, levando o perfume marcante do homem até Tonks. Sua mente, então, registrou aquele cheiro como algo que realmente a agradava, e ela finalmente notou que Snape estava alguns passos à sua frente. Uma vez dentro do castelo, ele seguiu para as masmorras e ela continuou na direção de sua sala comunal; sua mente ainda perambulando sobre o aroma gostoso de ervas e perfume masculino caro.
Na segunda-feira seguinte, quando entrou na sala de aula ministrada por Snape, Tonks o encontrou sentado à mesa folheando alguns pergaminhos. Após uma breve explicação sobre a poção que deveria ser feita, a atenção do professor mais uma vez retornou ao seu trabalho. A atenção de Tonks, por sua vez, não estava nos ingredientes e caldeirões, mas nas mãos grandes e magras que seguravam os papéis. Eram mãos como aquelas que desejou quando Charlie a puxou para um beijo que não encaixava.
Ao fim da aula, sua poção era um completo desastre e ela fez sua Casa perder vinte pontos. Ao fim da aula, também, ainda suspirava e imaginava as mãos do professor nas mais diversas situações e nos lugares mais inadequados do seu corpo.
Ela apenas esquecia aquela atração quando Snape fazia questão de ser o bastardo que sabia ser, o que acontecia com bastante frequência.
Depois que ela se formou, nunca mais o viu novamente até a Ordem da Fênix ser reativada e ela ser convidada a ingressar à organização. Quando o encontrou no Largo Grimmauld semanas atrás, não havia nenhum resquício daqueles sentimentos passados. Ela o tratou com respeito, hoje mais madura e entendendo o papel importante que ele exercia, embora ainda o achasse um rabugento escroto.
Mas então, naquele anoitecer ventoso por entre as ruínas do Castelo Scarborough, aquela atração adormecida começava a se manifestar conforme ele cuidava dela. Sentiu um arrepio pelo seu corpo — que não tinha nada a ver com suas dores — quando ele se aproximou para ajudá-la a se livrar do sobretudo. Sentia um certo calor toda vez que os dedos dele tocavam sua perna, e não negaria que se sentiu excitada quando ele a segurou pelo queixo.
Talvez fosse um efeito adverso das poções em seu organismo. Talvez fosse um delírio causado pela dor pungente enquanto suas terminações nervosas se reconstruíam. Mas aquele perfume estava lá, de novo, e Tonks xingou por isso.
— Olhe a língua, Nymphadora. — Cutucou, sabendo que ela detestava ser chamada pelo primeiro nome.
— Não… — disse ofegante entre a dor — me chame de Nymphadora!
— Você dizia que estava investigando o desaparecimento das garotas. — Snape agora limpava o ferimento.
— A perícia conseguiu algumas… — gemeu — informações interessantes. Gibbon entrou na minha mira quando o vi usando o anel que pertencia a uma das garotas.
— Este anel? — perguntou pegando a joia do bolso.
— É. — Tonks tomou-o da mão dele, guardando o anel no bolso da sua calça. — Eu o segui até o perder de vista em Londres. Achei o anel, peguei… Mas era uma chave de portal. Sim, eu sei — disse antes que ele pudesse falar algo. — Não foi uma atitude prudente.
— Foi uma atitude estúpida! Não achei que cairia nessa.
— Ok, eu já enten… — Ela franziu o cenho. — Espera aí, você sabia?
— Eu talvez tenha ouvido uma coisa ou outra de uma conversa do Lorde das Trevas sobre enganar uma Auror. Não sabia quem era nem o que era.
— Mas que porra!
— Inteligência não é uma virtude lufana, Tonks. — Sua voz permanecia inalterada, embora aquele meio-sorriso sonso estivesse em sua cara. — Mas você foi incrivelmente burra. Acho que te dei muito crédito.
— Isso é o mais perto de um elogio seu que já cheguei. — Conseguiu rir.
— Bom, porque é o máximo que vai conseguir de mim. — Ele massageou a perna dela, enquanto a poção finalizava seu trabalho. Tonks gemeu, não de dor. As sobrancelhas de Snape se arquearam tão alto que quase alcançaram seus cabelos.
Houve um momento de silêncio constrangedor entre eles. Tonks aproveitou-se do sobretudo ainda próximo do seu rosto e voltou a enterrar o rosto, rubro, no tecido. Snape afastou as mãos da perna dela e por um momento não soube o que fazer em seguida. Estava surpreso — muito surpreso —, confuso e, principalmente, envergonhado. Por fim, ele decidiu por pigarrear antes de declarar:
— Agora vou passar a pomada regeneradora e fazer um curativo.
Em situações comuns, como a de alguns minutos atrás, ele não se daria o trabalho de explicar o que fazia. Contudo, foi a saída que encontrou para aquela situação inusitada. Tonks assentiu com a cabeça, o rosto ainda escondido na roupa, mesmo que a dor agora não passasse de uma lembrança.
— Como funciona? — Pegou-se perguntando. Afastou o sobretudo do rosto e o viu confuso. — A pomada.
— Bem — ela parecia tão disposta quanto ele a ignorar o gemido —, ela provoca a proliferação de células. Isso fará com que as células lesadas sejam substituídas por células-tronco teciduais. Basicamente, essa pomada vai reconstruir a pele queimada.
— Vai doer? — Ela observou ele pegar a pomada alaranjada com dois dedos longos e engoliu em seco.
— Você deve sentir uma ardência, um desconforto.
Ele besuntou o ferimento com a pomada sob o olhar atento e ainda envergonhado de Tonks. Por fim, cobriu o local com uma gaze e a prendeu com duas tiras grossas de esparadrapo.
— Obrigada.
Ele não a respondeu. Apenas balançou a cabeça e virou-se para guardar os fracos de volta na maleta. Se fosse outra pessoa, qualquer outra pessoa, Snape estaria lidando com aquilo de maneira natural, até mesmo teria usado aquilo contra ela, a constrangendo. Porém, ainda não sabia a razão para estar se sentindo encabulado.
Sim, ela era uma ex-aluna. Contudo, não a via mais como aquela pirralha insuportável — embora ainda a achasse insuportável. Snape lidava com tantas crianças e adolescentes todos os anos que era difícil lembrar de todos eles. Tonks era uma que ele havia apagado quase totalmente de sua mente assim que ela se formou. Quando retornou a vê-la, naquele mesmo verão, encontrou uma mulher decidida, uma Auror competente e respeitada. Deveria existir um motivo para ser pupila de Moody, e Snape sabia que o ex-Auror não era alguém fácil de lidar.
Talvez fosse pela situação incomum em que se encontravam, talvez fosse pelo total assombro de que um mísero toque seu pôde acender uma fagulha numa jovem mulher. Snape não era velho; com certeza não. Tinha apenas trinta e cinco anos, mas toda sua vivência e postura faziam com que sentisse que possuía muito mais anos do que realmente tinha. Além disso, estava há tanto tempo trancafiado em Hogwarts, rodeado de cabeças-ocas e professoras com idade para serem sua mãe que ele havia esquecido de como era despertar interesse em uma mulher. Ainda mais uma mulher bonita como Tonks.
A metamorfomagia era útil, podendo se tornar até mesmo uma trapaça. Não acreditava que ela mudava sua aparência ao seu favor, além dos cabelos pink; às vezes lilás. Era uma beleza natural e incrivelmente comum. Severus nunca fora dado a grandes padrões de belezas, atraído por mulheres que mais pareciam esculpidas. Ele não era um homem bonito — na verdade, evitava se olhar no espelho —, então nunca almejou nenhuma mulher que estivesse fora do seu alcance, com exceção de Lily. Então talvez fosse pelo fato de achar Tonks muito bonita, o que tornava qualquer interesse dela pela sua pessoa algo surreal.
— E agora? — questionou ela.
— Esperamos. — Ele diminuiu o tamanho da maleta com um feitiço para guardá-la em seu bolso. Sentou-se do lado oposto de Tonks, encostando-se na parede em ruínas. — Não quero correr o risco de aparatar com você ainda.
— Quanto tempo vai demorar?
— Para poder aparatar? Uns vinte minutos.
— E quanto tempo até eu estar curada?
— A pomada leva umas doze horas.
— Você tá brincando, né? — Ela, de repente, levantou a voz com indignação.
— Seu humor é realmente fragmentado, não é? — Apertou os olhos com os dedos, cansado. — A primeira versão dessa pomada agia em quatro horas, mas era cheia de falhas. Ela foi reformulada com a minha tutoria e todo o estudo mostrou que seria necessário mais tempo de ação para um bom resultado.
Ela estalou a língua em desagrado. Já estava sendo ruim o suficiente tudo aquilo, ainda mais com aquele pedaço de mal caminho que era Severus Snape a poucos metros de distância. Ter que esperar todo aquele tempo para estar curada seria um martírio.
Tonks cogitou puxar assunto para que os vinte minutos passassem mais rápido, mas desistiu logo em seguida. Snape não era um tagarela como ela. Verdade fosse dita, o homem evitava ao máximo falar; o que era uma pena. A voz dele era muito agradável. Portanto, os próximos vinte minutos foram de total silêncio entre os dois bruxos. Apenas o bater violento das ondas era ouvido, além do vento que murmurava.
Quando Snape se aproximou para pegar Tonks no colo, o céu já estava escuro. Ela era leve sobre os braços dele. Ela cheirava a suor, sangue e maresia. Ele torceu o nariz. Ela se segurou firme nele, com os braços ao redor do pescoço de Snape, sentindo mais uma vez suas bochechas corarem perante a situação. Estava muito consciente, também, dos braços dele a segurando como se ela não pesasse um quilo — um braço sob seus joelhos e outra mão em volta da sua cintura.
Permaneceu de olhos fechados por alguns segundos. Sua debilitação fazia com que o deslocamento mágico lhe provocasse um grande desconforto. Quando abriu os olhos novamente, não reconheceu a sala escura que o homem atravessava nem a escada que rangia sob os passos dele.
— Onde estamos?
— Na minha casa — respondeu a contragosto. — Ainda precisarei administrar algumas poções e refazer seu curativo até o final das doze horas.
Surpreendentemente, Tonks não reclamou. Snape pensou que estava cansada demais para isso, quem sabe estaria adormecida dentro de alguns minutos. Ela, entretanto, não encontrou motivos para se opor. Compreendia a sua atual situação e que os cuidados do Mestre de Poções eram necessários. Além disso, é claro, ela não era boba para menosprezar a estadia na casa do homem que se sentia atraída, principalmente quando ele a depositou sentada sobre a cama, o que provocou uma aproximação interessante do rosto dos dois.
Ele a deixou sozinha por alguns minutos, saindo do quarto sem nada a dizer. Ela se manteve devidamente sentada, se mexendo apenas para extravasar uma expressão de dor. O efeito da poção analgésica se dissipava e ela achou necessário comprimir os lábios para refrear o desconforto. Até mesmo esqueceu de sua curiosidade e não foi capaz de inspecionar o quarto em que estava.
— Aqui, tome. — Ela nem mesmo o viu retornar. Pegou o frasco da poção para dor rapidamente das mãos dele. — Tem toalha e uma escova de dente nova no banheiro. Vá tomar banho, você está um pesadelo.
"Charmoso", ela pensou com amargor. Levantou-se com certa dificuldade, pois não conseguia descansar o pé da perna ferida totalmente no chão. Ela cambaleou por alguns centímetros sob o escrutínio de divertimento de Snape antes que ele a impedisse de cair. Uma mão se fechou em volta do braço direito dela enquanto os dedos da outra pareciam queimar a pele da sua cintura. A mão dele não deveria estar mais acima?
— Quer ajuda para se despir também? Ou para esfregar suas costas?
O objetivo dele era constrangê-la ainda mais, mas surtiu o efeito oposto. A insinuação não fez com que ela corasse, mas com certeza sentiu uma onda de calor pelo seu corpo. Snape engoliu em seco e sentiu um formigamento na sua região pélvica. O feitiço virara contra o feiticeiro; ele não deveria estar imaginando suas mãos removendo as roupas de Tonks ou seus dedos percorrendo o corpo dela.
— Não será necessário — respondeu ela, após um breve silêncio. — Mas se for preciso, sua ajuda será bem-vinda.
Ele apenas pôde assentir com a cabeça antes de deixá-la sozinha.
. . .
Quando se deitou, ela se permitiu suspirar de alívio. Sentia-se muito mais confortável agora que havia escovado os dentes, livrando-se do gosto do sangue e das poções, e tomado banho. Snape havia transfigurado algumas roupas para ela: um conjunto de pijama formado por um blusão e calças cinzas.
Enquanto se alimentava do jantar preparado por ele — que a surpreendeu com um gosto muito agradável —, Snape refazia seu curativo. Já podia ver que a vermelhidão diminuíra e o ferimento também.
— Obrigada, de verdade. — Ela agradeceu genuinamente. — Ainda me pergunto como não morri… Por que ele não me matou?
— Porque essa não era a ordem do Lorde das Trevas. Ele não liga para a maioria das pessoas, mas sabe reconhecer quando alguém pode ser útil. — Perante o olhar inquisitivo dela, ele explicou: — Você é uma membra da Ordem da Fênix, pode vir a ser útil um dia.
— Então por que não me sequestrou?
— Porque não era a ordem. Acredito que o Lorde das Trevas ainda não acha que seria de grande utilidade no momento. Contudo — ele se levantou para sair do quarto —, poderia ter morrido sem cuidados médicos. Gibbon pode não ter a matado, mas ele certamente não se importava se acontecesse.
— Você avisou a alguém que estou aqui?
— Dumbledore. — ele respondeu antes de fechar a porta, deixando Tonks na escuridão.
Ela, entretanto, não conseguiu dormir. Sentia-se cansada. Na verdade, estava exausta, mas não era capaz de fechar os olhos. Estava se sentindo ansiosa, uma sensação engraçada, principalmente sabendo que Snape estaria no quarto em frente ao seu. Aos poucos sua respiração começou a ficar descompassada e um frio terrível se fez. Ela puxou a coberta para mais perto do seu corpo e se ajeitou em posição fetal, mas o frio insistia e logo seu queixo começou a tremer, fazendo com que seus dentes batessem uns nos outros.
— Snape! — gritou.
Em três segundos ele estava abrindo, assustado, a porta do seu quarto. Ele vestia apenas uma calça e uma camisa de botões pretas, mas parecia bem desperto. Ela se perguntou se Severus Snape nunca dormia.
— Tá muito — tremeu — frio.
— Não, não está.
— Está! — Insistiu com o cobertor na altura de seu queixo.
Ele se aproximou a contragosto, após revirar os olhos, e pôs a palma grande sobre a testa dela.
— Está com febre.
— Ah… — suspirou.
— Era só isso?
— Oi? — Seu tom era de irritação. — Estou com febre!
— E?
— E você não deveria me medicar?
— Não posso — disse com um sorriso maldoso.
— Não pode ou não quer?
— Não posso. — Assumiu uma expressão mais séria. — É um efeito colateral da pomada, mas não posso te dar nenhuma poção, pode entrar em reação com as que já te dei.
— Então me dê outro cobertor.
— Você quer se cozinhar? — Ralhou com ela. — Não posso superaquecer seu corpo!
— Um feitiço de aquecimento então.
— Duraria pouco tempo, e mais uma vez: não posso superaquecer você.
— Mas que droga! — esbravejou.
Ela bufou para o nada sabendo do olhar de divertimento que ele direcionava a ela. Tonks, então, o mirou de volta com uma sobrancelha arqueada, numa imitação horrível dele.
— Bem — ele disse —, eu posso… Você sabe. — Ele apontou para o espaço vazio ao lado dela no colchão.
— O quê? — Ela roçou as pernas uma na outra. — De jeito nenhum!
— Por quê? — Era surreal que Severus Snape estivesse rindo.
— De. Jeito. Nenhum. — disse entredentes. A ideia, na verdade, era muito tentadora. Seu medo era o que faria se aquilo realmente acontecesse.
— Tudo bem, então. Boa noite.
— Severus! — Ela o chamou assim que ele deu as costas. Snape virou-se para ela; sua face sem expressões era uma máscara. — Tudo bem.
— Tudo bem o que, Srta. Tonks? — Aquele maldito meio-sorriso sarcástico estava de volta.
— Você pode me comer. Não! — gritou com os olhos arregalados enquanto Snape a fitava com surpresa. Os cabelos dela tornaram-se negros. — Me aquecer! Você pode me aquecer!
Severus a observou por mais alguns segundos, ainda pego de surpresa. Ele arrastou os pés até o outro lado da cama, puxando o cobertor de Tonks para também se cobrir.
— Teria sido um ato falho? Uma manifestação do seu inconsciente?
— Não.
— Tem certeza? Freud explica.
— Não foi um ato falho. Foi apenas uma confusão.
— Se você diz… — Deu de ombros. — Eu vou te comer, então. Opa! Aquecer. Me desculpe.
Com os olhos bem abertos fitando o teto branco, Tonks não teve mais dúvidas: Severus Snape definitivamente estava flertando com ela. Esta constatação a deixou incrédula, verdadeiramente surpresa. Porque era o Snape.
O Snape!
Nunca, nem nos seus sonhos mais loucos, nem mesmo quando era uma aluna atraída por ele, imaginou que ele fosse o tipo de homem que flertasse. Na verdade, a pequena parcela de estudantes que algum dia pensou sobre a vida sexual do seu professor de Poções suspeitava que Snape era um hétero totalmente fracassado ou assexual, pois era difícil, muito difícil, pensar numa pessoa como ele — rabugenta, grosseira e descuidada — despertando interesse em outrem. Uma Tonks de dezesseis anos achava isso muito maldoso, embora jamais tenha defendido seu professor desse tipo de comentário, pois sabia que, se o fizesse, estaria levantando suspeitas sobre si, já que ninguém, com exceção dos sonserinos, defendia Snape.
Hoje, já com uma mentalidade diferente e perante os acontecimentos daquele dia, ela via que Snape possuía mais de uma faceta. Ele não era apenas o professor carrasco que favorecia sua própria Casa. Também era um espião habilidoso e muito corajoso, além de um pocionista talentoso que possuía conhecimentos impressionantes sobre medibruxaria. O mais chocante, sem dúvida, era descobrir que por trás de toda aquela pose amedrontadora existia uma pessoa divertida, com um humor ácido que irritava tanto quanto entretinha. Não só isso, como também havia um homem comum, que se atraía e era capaz de atrair.
Era muita coisa para assimilar de uma só vez, ainda mais quando seu corpo ainda tremia de frio.
A mão de Snape veio para sua cintura, sugerindo que virasse de costas para ele. Ela o fez, porém, propositalmente provocando um roçar entre sua bunda e a pelve dele.
— Desculpa — murmurou ela.
— Sem problemas.
Era quase obsceno como seus corpos se encaixaram perfeitamente, como duas peças de LEGO. O braço dele estava em volta dela e a ponta do nariz era açoitada pelos fios escuros da cabeça de Tonks. Ainda havia frio, sim, mas com certeza também havia uma onda de calor muito agradável agora. Ela sabia, exatamente, que era tanto pelo calor do corpo dele quanto pela excitação que ele a provocava.
Sentindo-se corajosa, Tonks mais uma vez mexeu-se de encontro a ele, desta vez descaradamente. Severus precisou a segurar com força pela cintura, obrigando-a a parar.
— Nymphadora… — sussurrou em tom de alerta.
— Não me chame assim. Ah!
Num movimento tão veloz que ela demorou a entender o que acontecera, Snape, de repente, puxara a coberta para longe e agora estava sobre Tonks. O corpo dela estava ofegante entre as pernas dele, ajoelhadas sobre o colchão, e as mãos dele prendiam os punhos dela aos lados de sua cabeça.
— E como quer que eu a chame? — As palavras foram derramadas como mel pelos lábios finos dele. — Diga, Srta. Fragmentada.
— Não me chame disso, com certeza. — Ela riu.
— Tonks?
— Não… — respondeu após alguns breves segundos. — Seja criativo. — Ergueu sua cintura para se esfregar nele mais uma vez.
A boca de Snape, então, encontrou seu esterno e depositou ali um beijo molhado. Ele deixou um rastro quente com a língua conforme subia pelo colo e pescoço dela, por fim chegando ao lóbulo da orelha.
— Vadia… — ele sussurrou no ouvido dela, e Tonks não o decepcionou ao gemer logo em seguida. — Você me surpreende.
Ele fez o caminho de volta para o colo dela e aspirou o perfume que provinha da linha entre os seios dela. Os dedos de Tonks — que havia conseguido soltar seus braços do aperto dele — se embrenharam por entre a floresta de fios negros do homem e o puxaram para um beijo que não aconteceu. Snape outra vez conseguiu segurar as mãos dela e sorriu perante a sua frustração. Aquele homem a levaria à loucura.
— Só me deixe esclarecer algumas coisas antes. — disse ele. — O que você não gosta?
Ela respirou muito fundo ao procurar por clareza em sua mente. Snape talvez fosse a primeira pessoa que a perguntava sobre seus gostos sexuais. Ele estava genuinamente interessado e absorveu com atenção cada coisa que ela apontou, entre o que gostava e o que não gostava, e também o fato de usar uma poção contraceptiva. Ela devolveu o questionamento, porém, Snape a ignorou.
— Apenas deixe comigo e não se preocupe. — Foi o que ele declarou.
Ele pôs um joelho entre as coxas dela e Tonks logo enroscou suas pernas ao redor dele. Snape ainda desfrutava da pele perfumada do colo e pescoço enquanto empurrava seu quadril na direção do dela.
— Severus…
Snape largou um punho dela para a segurar firmemente pelo rosto, à semelhança da cena de horas antes quando forçou o algodão para dentro da boca da Auror. Desta vez, o que ele inseriu foi a própria língua, finalmente deixando-a provar dos seus lábios. As línguas se circularam devagar e Tonks sugou seu lábio inferior, o que arrancou, pela primeira naquela noite, um grunhido dele.
A próxima coisa que registrou foi um braço em volta da sua cintura enquanto ele a erguia para que sentasse sobre seu colo. As mãos grandes de Snape caíram sobre sua bunda, ajudando-a a esfregar a boceta contra o membro aprisionado dentro da calça de tecido grosso. Ela murmurou algo que ele não conseguiu identificar, mas repetiu o movimento e a assistiu jogar a cabeça para trás.
O frio já havia sido completamente esquecido.
A blusa que Tonks trajava foi jogada em algum lugar do quarto. Severus dedicou breves segundos para apreciar a visão dos seios redondos e o piercing no mamilo que brilhava para ele.
— Gostosa. — disse ao desferir um tapa na bunda dela.
A auréola do peito esquerdo foi envolvida por uma boca faminta que a chupou com desejo ardente. O mamilo do outro seio estava preso entre os dedos de Snape, que o apertou até provocar a dor fina que a fez gemer novamente e apertar o cabelo dele em resposta, mostrando como aquilo a agradava.
Afastando-se dela com uma única linha de saliva ainda conectando seus lábios e o peito, Snape a deitou novamente. Ele pegou a varinha que estava no bolso da calça e lançou um feitiço que fez com que as mãos dela fossem presas acima da cabeça, embora não houvesse cordas à vista. Removeu com lentidão a calça que ainda escondida as pernas torneadas dela, arrastando preguiçosamente seus dedos pela pele da barriga, dos quadris e coxas. Então, a única coisa que ainda havia no corpo de Tonks era o curativo bem feito na canela.
Quando o corpo dele se afastou, o dela tremeu. Sua pele ainda era febril e muito quente sob os toques dele, e ela lamentou o abandono momentâneo entre eles. Severus se levantou, ficando em pé ao lado da cama, e se despiu lentamente enquanto mantinha a mira dos seus olhos de obsidianas sobre Nymphadora. Ela ofegou conforme mais e mais centímetros da pele pálida do homem eram revelados, e ao fim do espetáculo estava tão excitada quanto surpresa: Severus Snape era um homem delicioso por debaixo de todo aquele tecido negro.
Ele logo retornou para a cama, não se demorando a morder algumas partes do corpo da mulher. Tonks arqueou as costas quando os dentes de Snape cravaram a pele macia da sua coxa esquerda e soube que a marca das presas do Morcego das Masmorras ficaria ali. Ele não precisou afastar suas pernas, já que ela se abrira tal qual uma flor para ele. Era uma visão esplendorosa: a antera inchada e as pétalas brilhantes.
Snape afundou o nariz na camada de pelos do monte de Vênus para depositar um beijo delicado sobre o clitóris. Tonks gemeu:
— Por favor… Severus, não me faça implorar!
— Pensei que já estivesse fazendo isso. — Massageou o nervo com o polegar. — Mas qual seria a graça se eu não fizesse minha menina implorar pela minha boca?
— Convencido — sussurrou e foi recebida com um tapa na sua boceta, que a fez sorrir enquanto gemia.
— Já entendi qual é a sua, sua vagabunda! Não vou te dar o que quer.
Tonks se arrependeu no mesmo momento ao agir desobedientemente. Geralmente, era uma atitude que sempre funcionava ao seu favor: desobedecia e irritava para ter o que queria, o que na maioria das vezes, nessas situações, tratava-se de uma boa dose de dor proveniente de punições. Contudo, nenhum outro homem ou mulher com quem se relacionara antes possuía metade da inteligência que Snape tinha. Afinal, o homem em questão era um espião, um agente duplo. Ela já deveria imaginar que Severus estaria atento a todos os sinais e não se deixaria ser enganado.
Tonks implorou quando ele se afastou:
— Não, senhor. Me desculpa, por favor!
— Tarde demais.
Ele então a puniu com toques tortuosamente delicados, retornando aos seu pescoço e seios. Tonks obrigou-se a se comportar. Apenas teria o queria quando fosse recompensada. Permaneceu quieta — com exceções de alguns suspiros — sob o controle carinhoso de Snape. Ele a libertou do feitiço eventualmente para que as posições pudessem ser invertidas. Deitado, o professor de Poções a conduziu até seu pau.
— Me faça mudar de ideia, e quem sabe eu tenha misericórdia de você.
Ela assentiu, calada e obediente, antes de abocanhar a cabeça que já expelia algumas gotas de pré-gozo. Uma das mãos veio para masturbar o restante do órgão enquanto sua língua ainda dava atenção especial à glande. Os olhos pretos e afiados não deixavam escapar nem mesmo o descompassar de sua respiração, então Tonks se certificou de fazer um bom trabalho para seu senhor e de manter seus olhos presos nos dele.
Sua mão continuou a tocá-lo quando sua boca desceu para os testículos. As pálpebras de Severus fraquejaram rapidamente, mas ele logo se recompôs para observá-la. Tonks, por fim, retornou ao membro ereto e, a princípio, desceu-o pela sua boca até onde podia. Tinha uma carta na manga para usar em breve.
Quando ele menos esperava, quando já tinha se rendido ao prazer e deixou a cabeça cair sobre o travesseiro, ela inspirou fundo pelo nariz e o colocou todo na boca, garganta abaixo. Os olhos de Snape se abriram de supetão e ele a fitou com assombro, mas rapidamente voltou a deixar a cabeça cair de encontro ao travesseiro. As mãos dele se enroscaram no lençol e Tonks deu descanso à sua garganta voltando à cabeça rosada do pau. Severus gozou sobre suas papilas com um suspiro pesado.
Quando voltou a si, Tonks estava ajoelhada sobre a cama; as mãos sobre as coxas e o queixo baixo, obediente. "Pro inferno com essa mulher", ele pensou. Pegou-a, novamente, pela mandíbula e a puxou para um beijo profundo, cheio de língua, saliva, suspiros e o gosto da sua porra na boca da mulher.
— Você se comportou agora. — Snape observou. — Vou dar o que quer, minha menina. Fique de quatro.
— Obrigada, senhor — disse antes de se ajeitar na posição ordenada.
Um arrepio de antecipação passou pelas suas costas. Sentiu uma mão quente sobre sua omoplata, forçando-a para baixo. Abaixou seu tronco até que sua bochecha estivesse pressionada sobre o colchão macio, enquanto sua bunda estava empinada, totalmente à mercê dele. Um dedo passou rápido pela sua intimidade, apenas sentindo sua lubrificação. De repente, um tapa forte veio sobre uma das suas nádegas — tão repentino, bruto e gostoso que os cabelos de Tonks tornaram-se rosa.
— Obrigada, senhor. — ela agradeceu num murmúrio, após um gemido curto.
Outro tapa desceu sobre sua outra nádega, depois sobre suas coxas e novamente sobre sua bunda. Ela já não saberia dizer quantas vezes fora recompensada. Apenas se certificou de agradecer todas as vezes e demonstrar como estava feliz com aquilo, enquanto sentia sua pele arder e duas lágrimas caírem dos seus olhos. Antes de dar o próximo passo, Snape admirou a bela vermelhidão que pintava aquela bunda perfeita.
Ele se abaixou atrás dela e finalmente a provou em sua boca. As pernas de Tonks tremeram, Snape a segurou firmemente pela cintura. Sugou a boceta dela como se fosse um homem sedento que acabara de encontrar água. A ponta da língua circulou incansavelmente o clitóris de Tonks, que só não havia caído ainda sobre a cama porque Severus a segurava. A posição fazia com que o nariz dele roçasse de vez em quando sua entrada — o cheiro dela o enlouquecia. Ela sucumbiu ao orgasmo quando ele a bateu outra vez no mesmo momento que chupou o nervo inchado.
Tonks ainda estava aérea quando ele a puxou pela perna saudável e a fez virar-se de frente para ele. Snape a penetrou com um único movimento direto e forte. A perna que estava ferida foi colocada sobre o ombro dele, tirando-a do caminho para que não se machucasse ainda mais. Com os dedos enterrados na perna e na cintura dela, ele começou a se mover. Seus movimentos iniciais não eram rápidos, porém, eram fortes e profundos. Ela ainda estava sensível pelo orgasmo recente e parecia que as sensações estavam sendo intensificadas. Sua boceta estava tão encharcada que o som molhado ecoava junto do chocar das peles suadas. Aquela posição era a preferida dela. Amava a sensação do outro corpo sobre o dela, olhos nos olhos e como a glande de Severus alcançava o colo do seu útero; isso lhe provocava pequenas pontadas de dor que ela amava. Suas unhas cravaram-se nas costas dele e sua cabeça estava afundada no colchão, o queixo apontado para o teto. A mão dele se fechou ao redor do seu pescoço. A asfixia provocou a redução de oxigênio, intensificando seu orgasmo e seu corpo convulsionou debaixo do dele. Snape continuou penetrando-a por mais alguns segundos até gozar dentro dela.
Ele deixou-se cair sobre a cama; cansado, ofegante e satisfeito. O movimento ao seu lado o despertou do torpor. Assistiu com seus olhos negros Tonks se levantar — com pernas ainda bambas — para se dirigir ao banheiro. Enquanto ela permanecia trancada no cômodo ao lado, Snape observou o teto enquanto sua mente corria.
Que coisa mais absurda! Havia acabado de transar com Nymphadora Tonks. Nem nos seus devaneios mais surreais ele imaginaria isso. Ao mesmo tempo que isso o assombrava da mesma maneira que o admirava, não pôde deixar de sentir certo receio. Severus sempre procurava se envolver com pessoas que não faziam parte de sua vida profissional; isso evitava muitas dores de cabeça. E Tonks até poderia não ser uma funcionária de Hogwarts, mas os dois trabalhavam juntos na Ordem da Fênix. Além, é claro, de que Snape era um Comensal da Morte, por isso era meticulosamente cuidadoso sobre quem se envolvia — não poderia pôr a vida de mais ninguém em risco.
Porém, quando Tonks retornou e não direcionou nenhum carinho a ele — nenhum olhar demorado, um sorriso de canto, um abraço —, apenas colocou o pijama novamente e se deitou, Snape respirou aliviado. Era mais fácil lidar com uma pessoa que entendia suas maneiras e estava ciente que não passara de sexo casual do que alguém que o puxasse para dormir de conchinha.
Essa era uma das coisas que ele mais gostava em Tonks. Ela tinha uma maneira prática de encarar a vida.
— E sua febre? — perguntou enquanto caçava suas roupas pelo chão.
— Agora que a adrenalina passou — ela riu —, estou sentindo um pouco de frio ainda.
Uma vez vestido, Snape descansou uma mão novamente sobre a testa dela. Já não estava tão quente quanto antes.
— Durma, Tonks. Foi um longo dia.
Ela o desejou boa noite aos murmúrios, já sendo tomada pelo sono e cansaço. Snape seguiu para fora do quarto, direto para o seu laboratório. Trabalhou por mais algumas horas entre seus caldeirões fumaçantes enquanto sua mente ainda girava e gritava, muito ciente de que o cheiro de Nymphadora Tonks estava por toda parte.
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Na manhã seguinte, Tonks despertou com muito cansaço. Não havia dor alguma, porém, havia sido um dia difícil. Seu corpo estava cansado e sua mente sonolenta, tanto pelo duelo e pelas poções quanto pela noite de sexo.
Sexo.
Então era real, não fora um sonho. Ela realmente havia transado com seu ex-professor de Poções. Afundou novamente a cabeça no travesseiro, rindo. Havia sido um dia louco, de fato. Não pôde evitar pensar na Tonks de dezesseis anos, atraída por um homem tenebroso e escondendo aquele segredo como se fosse um crime bárbaro. Quem diria… Quem diria que anos mais tarde o teria — ou melhor, ele a teria.
A vida era uma caixinha de surpresas. Há algumas semanas um outro homem vinha ocupando a mente dela, e estava ainda muito determinada em seu projeto para fisgar Lupin. Contudo, ainda era uma mulher com vontades — principalmente quando Lupin não colaborava, fazendo-se de difícil, e a deixava desejosa — e Snape estava ali: disposto, gostoso e talentoso. Muito talentoso! Estava positivamente surpresa.
Assim, ela se levantou para se arrumar. Um feitiço impermeável protegeu seu curativo durante o banho, e ela transfigurou as calças para um short que sumia sob a camisa grande. Guiou-se pelo cheiro do café e encontrou Snape na cozinha; a mesa já posta.
— Bom dia.
— Dia — ele respondeu ao indicar para que se sentasse à mesa.
Eles comeram num silêncio total. Não era algo ruim, não era um silêncio constrangedor. Era agradável, na verdade.
Uma vez que as torradas e ovos acabaram e as xícaras ficaram vazias, Tonks gentilmente retirou a louça para levá-la até a pia, ciente de que os olhos dele admiravam suas pernas desnudas. Lançou um feitiço de limpeza no mesmo momento que sentiu o peitoral de Snape contra suas costas. Ela deixou-se relaxar, sentindo aquela sensação deliciosa do pau meio ereto contra suas nádegas.
— Me deixe ver seu ferimento. — Severus pediu aos sussurros e correndo a ponta dos dedos pela pele morna da coxa dela.
Tonks se moveu para o lado e se sentou sobre a bancada, sem fugir do olhar repreensor do homem. Ele segurou delicadamente seu tornozelo; os dedos frios dele lhe causando um arrepio. Snape removeu o curativo e o descartou na lixeira próxima. Não havia mais nenhum ferimento, nem mesmo uma cicatriz. Apenas uma pequena mancha avermelhada indicava que alguma vez houve uma queimadura feia ali.
— A vermelhidão vai sumir até o fim do dia. Sua pele precisa respirar, curativos não são mais necessários.
Ela balançou a cabeça em compreensão, mas seu queixo caiu com surpresa quando assistiu a Snape se ajoelhar e descansar um beijo no seu joelho. A língua dele percorreu a pele atrás do joelho e seguiu para cima, prendendo a carne da coxa entre seus dentes. Tonks gemeu.
— E quais são os cuidados que devo tomar?
— Não abafe a pele — ele respondeu antes de voltar sua atenção para a outra perna e deixar um chupão na parte interna da coxa. — Você ainda pode sentir alguma dor, basta tomar uma poção para dor.
— Algo… — Mordeu o lábio inferior quando Severus puxou seu short pelas suas pernas. — Algo a mais?
— Apenas abra essas pernas para mim, meu bem.
Ela fez tal qual lhe fora pedido — ou ordenado — pela voz de veludo de Snape. O movimento provocou também o afastamento dos seus pequenos lábios, e um fio de lubrificação se formou entre eles, fazendo com que o homem respirasse fundo perante a visão estonteante e promíscua à sua frente. Quando ele aproximou o rosto, entretanto, sua língua não foi de encontro ao clitóris, mas, sim, direto para o ânus, após ter puxado Tonks pelas pernas e ter a feito se inclinar para trás.
As mãos dela se agarraram na borda da bancada enquanto sua cabeça descansou contra a janela atrás de si. A posição fazia com que a ponta do nariz de Snape roçasse de vez em quando a sua entrada, o que a deixava ainda mais enlouquecida somando-se aos movimentos delirantes da língua dele em sua bunda.
— Severus!
A voz de Tonks se perdeu entre um gemido e um grito quando Snape rondou sua entrada molhada com o nariz e seguiu para cima, até o nariz alcançar seu nervo inchado e a língua dele, desta vez, penetrar sua intimidade. Os dedos da sua mão direita se enroscaram no cabelo dele, com força, mantendo-o ali. Por fim, ele vagou ainda mais para cima, sugando o clitóris e a fodendo com dois dedos. O rosto de Severus era uma bagunça total, lambuzado com seus fluidos, e ela imaginou que também não deveria estar muito diferente: ofegante, trêmula e gemendo tão alto que suspeitava que os vizinhos poderiam a escutar. Sim, ela estava uma bagunça.
Já podia sentir seu orgasmo chegando; seus músculos começavam a se contrair e ficava cada vez mais difícil não gritar. Subitamente, então, ele se afastou, ficando em pé de novo. Antes que pudesse reclamar, a mão dele desceu sobre sua boceta, acertando-a com um tapa na medida certa. O choque em seu clitóris fez com que se encolhesse, embora suas pernas tivessem se afastado ainda mais.
— Por favor… — suplicou.
— O quê, Nymphadora?
— Me faça gozar, por favor!
Bastou apenas mais um tapa, meticulosamente calculado para acertar seu nervo, e o corpo de Tonks tremeu com violência quando o orgasmo intenso a acometeu. Sua mente ainda flutuava quando sua blusa foi removida e seu corpo foi puxado de cima da bancada. Suas pernas apenas não sucumbiram porque Snape a segurava e mantinha seu corpo preso entre o dele e a bancada fria de mármore.
— Severus… — Sua voz tinha um singelo tom de incerteza agora que estava voltada para a janela, sendo possível ver claramente a cozinha da casa vizinha.
— O que foi, Nymphadora? — questionou após mordiscar o ombro dela. — Nervosa com a possibilidade de ser vista? Achei que gostasse de chamar atenção, gritando desse jeito.
Qualquer resposta morreu em seus lábios quando Severus adentrou nela com um único movimento, forte e preciso. Seus fios rosados foram enlaçados pela mão dele, que puxou seus cabelos com força para mantê-la olhando pela janela. Ela podia ver o reflexo quase invisível dela mesma sendo fodida impiedosamente por Snape e as sombras nas paredes da casa da frente. A qualquer momento alguém poderia adentrar aquele cômodo, poderia flagrá-los naquele ato promíscuo; e por mais que esse medo a deixasse inquieta, também intensificada sua excitação.
— Olhos abertos! — ele ralhou após uma puxada mais forte nos cabelos dela quando Tonks ousou fechar as pálpebras.
As palmas das suas mãos começavam a escorregar sobre a bancada e aquela sensação de nó em seu ventre se apertava cada vez mais. Sentiu Severus gozar dentro dela com um grunhido alto, mas ele continuou a penetrá-la sem parar ou diminuir o ritmo. O sêmen dele escorria pelas suas pernas, mesclado com sua lubrificação; e quando seu orgasmo chegou não conseguiu evitar fechar os olhos, ciente que vira, sim, o vizinho entrar na cozinha.
O braço de Snape enlaçou-se em volta da cintura da Auror para evitar que ela caísse. Tonks pôde abrir os olhos novamente quando sentiu os dedos do homem afastarem seu cabelo para o lado e um beijo ser depositado em seu pescoço. Curiosamente, o vizinho da janela à frente lavava a louça completamente alheio à cena.
— A janela está encantada, não é? Ninguém vê.
— Sim, está. — respondeu ele.
— Eu deveria ter imaginado. — Riu com alívio e exaustão. — Você jamais permitiria que desconhecidos xeretassem sua casa.
— E tampouco a colocaria em constrangimento, Tonks. — Pegou-a no colo sob o escrutínio curioso dela. — Que tal um banho?
— Seria perfeito. — Sorriu-lhe.
— Vou separar algumas poções analgésicas para você levar. Depois vou te aparatar em casa.
— Vai me devolver aos meus pais, tio Snape? — Brincou, ciente que o apelido provocara alguma coisa no homem, uma vez que o toque dele em seu corpo se intensificou.
— Vou… — suspirou ao colocá-la de pé quando chegaram ao banheiro. — Já vi Andromeda brava uma vez, não pretendo ver de novo. Dumbledore disse a ela que está sob meus cuidados. Quero provar que tratei a filha dela bem.
— Se ela ao menos soubesse… — Tonks riu, levando Snape junto consigo.
¹Antes de mudar para um lobo, o patrono de Tonks era uma lebre. (Fonte: Harry Potter Wiki).
Notas: Bem, durante a produção da história eu passei por um acontecimento repentino e muito difícil. Eu estou bem agora! Agradeço pelo apoio e carinho que recebi dos membros do SSF, isso foi muito importante.
Snape/Tonks (Snonks?) é um shipp que cada vez mais me desperta curiosidade e arrisquei a escrevê-lo pela primeira vez. Espero que tenham gostado. Beijo grande!
