Tocou, tocou… tantas vezes… A esperança escorrendo por seus dedos tão rapidamente como seus sonhos se quebravam, estilhaçando seu coração. Se deixou cair, finalmente derrotada, as costas batendo na madeira da majestosa porta de entrada da casa. Chorou como nunca tinha feito antes, ela sabia que não conseguiria aguentar mais, perdera tudo o que a mantinha viva.

Atirou sua varinha no meio das ervas daninhas que se erguiam naquele jardim, antes glorioso. Não iria precisar mais dela.

Se levantou e, num acesso de raiva, esmurrou a porta até não conseguir mais.

O dia reflectiu tudo o que ela sentia, nuvens negras se formaram no céu, dando início a um temporal furioso, enraivecido, triste…

O cheiro a chuva, antes reconfortante, neste momento servia apenas para espalhar suas lágrimas. A roupa encharcada se colava no seu corpo, a atando, cooperando com sua tristeza.

Caminhou até à saída, deixando todas as memórias para trás, deixando sua felicidade, sua esperança… deixando a si mesma para sempre presa naquele lugar. Passou os velhos portões de aspecto fúnebre e caminhou ao longo da rua molhada, sombria… Suas lágrimas continuavam rolando ao longo da sua face, embaçando a visão. Um ultimo olhar para trás. Saudade, podridão, era do que aquela paisagem a fazia lembrar. Voltou lentamente o seu olhar para a frente. Luzes fortes, um barulho agudo ensurdecedor de travões. Ficou olhando estática enquanto seu corpo era violentamente projectado para trás, caindo em frente dos portões da Mansão Malfoy, que pareciam sorrir de uma forma irónica para ela. Era assim que ia morrer? Em frente daquela casa amaldiçoada, de todas as memórias que queria esquecer? Era tão nova… Todos os seus planos haviam sido esquecidos quando o conhecera, ele fora abandonado quando o perdera, as esperanças de o rever acabaram poucos minutos antes e agora até a esperança de conseguir uma reles sobrevivência tinha um fim…

Dois homens saíram do carro correndo. Distinguiu um moreno estranhamente familiar com um ar de preocupação genuína se ajoelhando ao seu lado.

- Merda! Gina, você está bem! Está viva?

Oh, ele a conhecia? Que maravilha, ia ter alguém no seu funeral. Deixou pender a cabeça para o lado, não fazendo a mínima tenção de responder, sabia tão bem sentir a morte vindo, finalmente. Parou o movimente a meio, todos os seus músculos agora paralisados pareciam se direccionar no sentido de seu olhar. Como a vida podia ser tão injusta? Sentiu toda a esperança, toda a felicidade, tudo o que perdera voltarem para dentro de si quando cruzaram os olhares. Mas se ia morrer, porque Ele tinha que ser tão injusto? Lutava com todas as suas forças para manter o olhar, falavam através dele, sem dizer uma palavra. Mas as pálpebras pesavam tanto… se lembrava de ver aqueles olhos com todas as expressões… tristeza, ódio, rancor, paixão, amor, desolação… mas nunca com aquele desespero… era tudo por causa dela? Percebeu o pedido de perdão, o "eu te amo", percebeu até o pedido de ajuda silencioso a Deus… logo ele, que nunca fora crente… perguntou-se se valia tanto. Não aguentou mais, entregou as armas, sua cabeça bateu com força na pedra irregular do passeio e seus olhos se fecharam. Sentiu o peso reconfortante de Draco caindo sobre si, ele gritava palavras desconexas, tentou alcançar seus lábios mas ela não conseguia nem abrir os olhos… Ele a apertou com tanta força… Como ela queria permanecer assim… Mas o sono, o sono parecia tão tentador…

- Virgínia, fica comigo, por favor… - O desespero estava lá, a tristeza, a dor e a saudade também. Até o amor que ela pensava já não existir dentro dele estava.

Era seu ultimo esforço, a ultima força, sabia não conseguir mais…

- Estou aqui não estou, querido? – Ele a apertou ainda mais, quase a esmagando. Foi essa a ultima memória de Virgínia Weasley durante muito tempo.