9. Educando Sr. Tumble

Às oito da manhã eu estava no corujal. Depois de algumas horas ensaiando uma carta para o meu pai, ela estava pronta para ser enviada. Não posso dizer que foi uma carta obediente e cheia de amor filial. Merda, nem uma carta aquilo era.

Eu estava furioso.

Transcrição:

"Querido pai,

o que diabos você acha que está fazendo? Encontre-os, tranque-os em Azkaban, problema resolvido. Você sabe que é disso que eles precisam.

James."

Quando a coruja levantou vôo, eu percebi que estava me arriscando, mas se meu pai não quer voltar a si por conta própria, alguém tem que fazer o serviço!


Eu continuei furioso o resto do dia e me tranquei no quarto o tempo todo naquele sábado nublado, aguardando uma resposta e maquinando planos homicidas e sanguinários contra os Black. A resposta chegou às cinco da tarde.

"Meu querido filho,

Eu acredito que tenho uma confortável vantagem de 37 anos à sua frente. Então, independente de meu devoto amor por você, eu peço para que você se concentre nas coisas que dizem respeito a você e o recomendo a nunca mais usar esse tom de escrita comigo, ou ordenar o que devo fazer no meu trabalho. Caso contrário, eu terei que azará-lo, coisa que eu farei de coração partido, mas farei.

Estamos conversados.

Com amor,

Pai."

Não precisamos de muito pra deduzir de quem vieram os genes impulsivos e marotos, não?

E droga, ele está certo. É o trabalho dele. Mas eu espero que ele saiba o que está fazendo, eu não quero que ele acabe como Archibald Jones.

Ele NÃO vai acabar como o Jones.

Eu preciso relaxar. Sem mais planos sangrentos contra os Black, por enquanto.

Mas eles que nem tentem...


Fazem, aproximadamente, seis semanas desde que nós chegamos em Hogwarts para o nosso ano, e desde então os Marotos não tiveram nem uma singela oportunidade de alegrar o espírito das pessoas. Traduzindo: seis semanas sem detenções em grupo. ISSO é um recorde. Moony diz que eu estou aprendendo, me adaptando à vida de monitor-chefe, e Padfoot diz que é minha culpa porque eu estou virando a menininha da Evans. Bem, na verdade, ele disse isso uma vez apenas, porque a azaração foi tão forte que ele nunca mais arriscou repetir a frase.

O fato é que os Marotos estão em férias forçadas - graças a uma gripe do Peter e uns relatórios que a McGonnagal me fez preencher, meu excesso de mau-humor por conta da história com meu pai, e nem na Casa dos Gritos com Remus nós dois pudemos ir - e, por causa disso, nós estávamos no auge do tédio.

Então, na última terça-feira, as coisas pareciam querer mudar. Nós tivemos uma manhã sem aula (destinadas ao estudo de matérias de nível N.I.E.M's, mas isso é um mero detalhe), então nós acordamos bem cedo - com exceção do Peter, que ficou roncando alto, de boca aberta, na sala comunal - e decidimos que, naquele dia, nós íamos nos divertir decentemente!

Ok, talvez esse nós não seja exatamente sincero: Remus não teve participação nenhuma na citada decisão, e nós tivemos que convencê-lo a largar os livros por meia horinha.

- Vá, Moony, nós não temos esse tempo livre em quanto tempo? - Sirius reclamou.

- Hmmm, considerando que toda semana nós temos as manhãs de terça-feira livres, seis dias. - ele resmungou detrás de um livro chamado "A Época Enfeitiçada - Guia de Feitiços para Alunos N.I.E.M's". (Onde eles arrumam esses nomes, Merlin?)

- Quando digo "tempo livre", eu não quero dizer tossir e dividir a sala com traças de livros, Moony. - Sirius respondeu, irritado. - Cara, você tem que parar com isso. É uma medida nem um pouco saudável, e muito menos popular.

- Ok. - Remus fechou o livro com um ruído seco. - O que você sugere, Senhor Sociabilidade? Qual é sua idéia de uma vida toda de diversão em apenas uma tarde?

Oh, não, a teatralidade de Sirius está contaminando as pessoas!

- Você quer mesmo saber? - Sirius respondeu com um sorriso malicioso.

- Eu pensei que você estava cheio de torturar alunos jovens e inocentes. - Remus revirou os olhos, rindo.

- Ei, nós nunca torturamos alunos inocentes, Moon. Pense, quem é inocente nesse castelo? - Eu apontei.

- Prongs tem razão nesse ponto. De qualquer maneira, não era o que eu estava planejando.

- Nem passou pela sua cabeça a idéia? - Remus perguntou, ingenuamente.

- Você me conhece de verdade? - Sirius fingiu um ar indignado e Remus soltou uma gargalhada.

- Nós estávamos apenas planejando um dia sem estudos, Moony. - eu completei.

- Nós todos precisamos de um pouco de descanso. - Padfoot olhou pra mim e me deu um tapa nas costas. Moony sorriu. A famosa compreensão telepática dos Marotos. Eu precisava de um dia em que não pensasse em Jones e nem em meu pai.

- Ok. Faz sentido, eu preciso parar um pouco mesmo. Então tá, sem estudar, sem azarar pessoas no corredor por nenhum motivo aparente. O que vamos fazer?

Silêncio. Nós não havíamos pensado nisso. O que mais havia pra fazer?

- Nós podemos voar um pouco. - Sirius sugeriu, balançando o ombro.

- É, faz um tempinho que eu não vôo... - Remus sorriu, distraído.

- Então vamos voar!

Nós saímos pelo retrato da Mulher Gorda animados (Sirius assobiando uma música folclórica bruxa da época de meus tataravós), paramos no armário de vassourar para pegar as nossas (a Comet Deluxe do Remo estava bem empoeirada), e chegamos à Porta de Entrada. Eu percebi, nesse momento, que o dia não seria tão agradável assim. Com os corredores vazios e quietos porque grande parte dos alunos estavam em aula, nós pensamos que não encontraríamos problema nenhum na nossa ida até o campo. Nós encontramos três.

Dois sonserinos do sexto ano estavam conversando "amigavelmente" com o Professor Tumble; "amigavelmente" significando que eles estavam observando o professor com um olhar desconfiado e agressivo, enquanto Notorius Tumble parecia perturbado, encostado desconfortavelmente na parede. E nós estávamos bem familiarizados com os dois moleques que cochichavam com o professor: o de cabelos negros, grossos e curtos e porte ligeiramente esguio e bem aristocrático era Rabastan Lestrange, cujo irmão Rodolphus tinha se casado com Bellatrix Black, prima de Sirius, cerca de um ano e meio antes, no Inverno. O outro garoto era o alto, ossudo e briguento Raphael Nott.

Eles não nos perceberam por muito tempo, por isso continuaram sussurrando um para os outros. Nós escutamos palavras jogadas, como "desapontado", "mestre", "marca" e "imperdoável", e mesmo assim, jogadas, elas pareciam comprometedoras.

- Prongs, faça alguma coisa. - Remus disse no meu ouvido, me dando uma cotovelada leve. Eu o olhei confuso. - Algo que o monitor-chefe faria! - ele completou.

Claro! Eu sempre esqueço!

- Professor Tumble, olá. - eu exclamei, calmo mas firme. Todos os três giraram nos seus calcanhares, nos encarando boquiabertos.

- Sr. Potter. - ele tentou recuperar o tom autoritário, mas sua voz falhou. Eu podia ver seu lábio inferior tremendo de tensão, e eu confesso que me agradou a oportunidade de dar o troco nesse maldito metido a besta.

- O que dois sextanistas fazem aqui no corredor, conversando com o senhor? Eles deveriam estar na sala de aula, como o senhor. - eu exclamei, brincando "inocentemente" com o meu distintivo de monitor-chefe. Sirius olhava para Lestrange de uma maneira psicótica e Moony segurava a respiração.

- Eu..er, eles..

- Nós viemos entregar uma mensagem ao professor. - Lestrange o interrompeu, devolvendo o olhar de Sirius com desprezo.

- Mensagem de quem?

- Não é da sua conta, imbecil! - Nott gritou. Rabastan Lestrange virou-se para ele com olhar de reprovação.

- Senhor Nott, não há necessidade de ser rude. - Tumble falou finalmente, recuperando seu ar ditatorial de sempre. - Não vamos responder à impertinência do senhor Potter no mesmo nível.

Há! Impertinência! Eu vou enfiar um pouco de impertinência no seu...

- Eu não estou sendo impertinente, professor. - meus olhos se estreitaram. - Estou apenas fazendo o meu trabalho, que é cuidar para que as regras da escola sejam respeitadas. Se a mensagem foi entregue, então vocês dois devem retornar à aula. E professor Tumble, tenho certeza que seus alunos do segundo ano estão esperando ansiosamente pelo senhor. Lá embaixo. - eu apontei as masmorras com a cabeça.

- Vocês o ouviram. Estão dispensados. - A voz de Tumble ecoou no corredor, tremida. Eu percebi que, de alguma maneira, ele parecia aliviado. Os sonserinos se olharam e caminharam para longe. Mas antes de desaparecer na esquina, Lestrange se voltou e exclamou uma última vez.

- Eu espero que você tenha entendido a mensagem, professor. Até mais.

Remus voltou a respirar. Padfoot estava batendo o pé no chão distraidamente, olhando para Tumble de uma maneira divertida.

- Você não ouviu o James? Segundo ano. Lá embaixo. - ele sorriu, maliciosamente.

- Cuidado com o que diz, moleque! Eu sou seu professor! - Tumble deu um passo à frente e Sirius, como eu esperava, não se intimidou nem um pouco.

- Você deveria ir, professor. - eu cruzei os braços, já enfezado com tudo aquilo.

- Quanta ousadia, vocês deviam me respeitar!

- E você deveria respeitar seus alunos! Quer que eu reporto o que aconteceu ao Diretor? - eu perguntei, num tom de falsa ingenuidade. E funcionou, porque Tumble me olhou, assustado, e sai andando. Nós saímos para o lado de fora do castelo.

- Mas que porcaria foi tudo aquilo? - Sirius gritou, gesticulando.

- Aquilo foi muito suspeito! - eu ajuntei, balançando minha cabeça.

- Suspeito? Aquilo foi preocupante! Você deve contar pro Dumbledore o quanto antes. Dois alunos pressionando um professor contra a parede! Eles só fariam uma coisa dessas se achassem que estão protegidos. Que estão acima da lei.

- Eles são sonserinos, é lógico que eles acham. - eu bufei.

- Você sabe o que eu quis dizer. - Remus retrucou, fechando a cara. - São aqueles Comensais de novo. Se pegaram Snape e Regulus, podem pegar o Nott e o Lestrange deve estar envolvido até o pescoço.

- Exatamente. - Sirius sentou-se no degrau da escada principal. Ele estava com as mãos encaixadas uma na outra e com o queixo apoiado nelas, o olhar longe. - E se o pivete do Rabastan está nessa, Rodolphus também. E Bellatrix. Se existem duas pessoas indicadas para o trabalho de sair por aí assustando famílias que apóiam os nascidos trouxas, e que o fariam com prazer, são eles dois. Eu nunca vi alguém tão sádica quanto Bellatrix, e ela encontrou o par perfeito.

Padfoot murmurava daquela maneira que eu conheço, como se estivesse falando mais para si mesmo do que para nós. Remus fechou os olhos por alguns segundos.

- Ok. - eu rompi o silêncio. - Eles querem alguma coisa. Aquelas palavras... Mestre. O Tumble é o mestre de poções, eles poderiam estar querendo algo do gênero. Imperdoável...algo a ver com os feitiços imperdoáveis? Desapontado...hmmm...

- Havia mesmo uma mensagem, Lestrange não estava blefando. - Sirius concluiu. - Seria do tal Voldemort?

- Isso são suposições, apenas. Leve os fatos ao Dumbledore, James. Talvez ele já saiba de alguma coisa. - Moony pediu.

- Eu vou procurá-lo hoje à noite. Eu tenho outros assuntos a tratar com ele.

- Hoje à noite? - Remus ergueu uma sobrancelha. Ah, droga! Lua Cheia! Esqueci!

- Eu vou na sala dele logo após o jantar e encontro vocês lá depois.

- Ei! Meninos!

Eu me virei em direção ao lago e vi um vulto bem ao longe. Apertei meus olhos. O vulto estava chegando mais perto e agora acenava. Era Arista. E Krakowsky e Evans vinham logo atrás. Fomos em direção a elas, e pude distinguir a expressão de tédio de Anne e de agitação de Lily. Ela parecia mais bonita do que nunca, ansiedade estampada no rosto dela. Por que tinha que ter tanta gente por perto?

- Ei, onde vocês estão indo? - Riz perguntou.

- Voar um pouco. - Sirius respondeu.

- Eu achava que você ia ficar estudando. - Evans disse, irritada, para Remus. Ele deu um sorriso amarelo.

- É, bem, eles me convenceram.

- Ah, puxa! Eles devem ser bem persuasivos, já que eu estou há uma semana tentando convencer você a relaxar um pouco!

Vejam só, Lily Evans mais marota que um próprio maroto!

- Ah, Lils, como eu posso dizer? - ele coçou a cabeça.

- Remus está cheio de ouvir as conversas de garotas de vocês. - Padfoot completou, quase que automaticamente. Eu e Moony rimos.

- É, mais ou menos isso.

- Oooh, eu não te culpo, Remus. Ai, Anne! É verdade, nós falamos de garotos o tempo todo! - Arista exclamou.

- O tempo todo? - eu perguntei, interessado.

- Não o tempo todo. - Lily se defendeu, depressa.

- E não são necessariamente vocês. - Anne sorriu, maliciosamente. (Como eu digo, quando pessoas são feitas uma pra outra...bem, se eu não dizia antes, digo agora!)

- Tá, é justo. Vocês não são as únicas em nossas mentes também. - Padfoot mexeu os ombros. E se ele queria irritar Anne, conseguiu, pois a menina saiu pisando firme em direção às arquibancadas, as pisadas com um som que parecia um exército de trasgos. Nós a seguimos.

- Acho que já vi essa cena antes. - Arista soltou uma risadinha.

- Ah, fique quieta. - Lily revirou os olhos. - Eu vou ir falar com ela.

- Lily. - Sirius segurou seu braço. - Permita-me.

- Definitivamente, não uma boa idéia, Sirius! - Evans insistiu. - Vocês não parecem estarem se entendendo muito ultimamente.

- Tá brincando, Lily? Nós estamos ótimos. Licença. - Sirius balançou a cabeça e se dirigiu ao degrau da arquibancada onde Anne estava sentada, emburrada. Arista e Remus deram de ombros e saíram caminhando para o centro do campo.

- E você, vai fazer o quê? - eu perguntei a Evans, quando vi que estávamos sozinhos.

- Vou ir sentar com a Anne.

- Não mesmo. - sorri. - Você vai voar com a gente!

- Eu não gosto de voar. - ela respondeu, indiferente.- E eu não tenho uma vassoura.

- Não importa, tem várias reservas no armário, no castelo.

- Eu não sei controlar uma vassoura, Potter. - ela piscou os olhos com força.

- Tudo bem. - eu subi em cima da vassoura, oferecendo minha mão. - Você vem comigo então.

- Ah, mas é claro que não! Eu...tenho que fazer companhia a Anne.

Ela virou-se para apontar a garota com a cabeça e eu segui seu olhar. Nesse momento, Anne e Sirius estavam abraçados, e em seguida, vimos Sirius entregar a Anne uma vassoura extra. Lily virou-se de novo para mim.

- Eu prometo que vou devagar. - sorri mais ainda. Ela hesitou, mas pegou em minha mão e subiu.

- Potter. - ela me advertiu, insegura.

- Calma, Evans, eu não vôo muito alto.

- Meu problema não é com altura. Eu só acho vassouras tão...desconfortáveis! E sem segurança. Quem me garante que eu não vou cair desse troço?

- Eu. É só segurar firme, Evans. Pode apertar, eu não me importo. - eu respondi, rindo.

- Espertinho. - eu ouvi a voz dela no meu ouvido, e pude notar que ela escondia uma risada. Segurei-me para não tentar beijá-la e arrebentar meu pescoço. Decolamos. Remus e Arista já estavam lá em cima, e Sirius e Anne vinham atrás. Moony não estava nada enferrujado, e passou logo debaixo por nós, dando em giro e voltando por cima de nossas cabeças. Lily segurou a respiração.

- Ele não devia se arriscar tanto! Ele não está bem, hoje à noite...

- Deixe ele se divertir, mãe. - eu a interrompi.

- Eu me sinto tão bem quando você fala desse jeito...tão pouco entediante. - ela reclamou.

- Quê? - eu fingi não ouvir.

- Eu disse que me acho desinteressante quando você fala desse jeito! - ela aumentou a voz, e se aproximou mais do meu ouvido. Ah, a respiração dela...James Potter, você é incorrigível.

- Desculpe, Evans querida. - eu respondi, rindo. - Você me interessa muito, na verdade.

- Eu não sou sua querida, Potter! E você não devia flertar com garotas quando você tem uma namorada.

Eu resmunguei. Porque ela insistia na situação, eu não sei.

Seria por que você ainda não falou com a Mia mesmo?

Cala a boca, consciência. Como eu ia dizendo, ela não podia ver que a Mia tinha uma quedinha boba e adolescente por mim, e o que eu sentia por ela era bem maior e mais forte? Não. Eu sou Lily Evans e eu sou teimosa e birrenta até os poros dos meus ossos.

O aro do gol estava chegando cada vez mais perto. Eu fiz a vassoura girar repetidamente em seu eixo e o atravessei, zunindo. Enquanto meu cabelo espetava meu rosto com o vento, Lily cravou suas unhas nos meus braços, escondendo seu rosto nas minhas costas. Nós voltamos a voar calmamente pelo campo.

- Qual é o seu problema? - ela gritou.

- Eu não tenho uma namorada, Evans. - eu disse, no mesmo tom de voz.

- Você poderia ter nos matado ali, seu idiota!

- Eu não tenho culpa se a garota gosta de mim, ué. Você preferiria se eu simplesmente a ignorasse?

- Nós poderíamos ter batido a cabeça contra o aro, e se você tivesse errado o cálculo!

- Você não confia em mim?

Silêncio. Eu acho que ela captou a ambigüidade da pergunta.

- Às vezes. - ela suspirou, por fim. Então, ela riu, baixinho. - Anne não parece estar se dando muito bem com a vassoura.

Virei-me e vi Sirius estendendo a mão a uma Anne atrapalhada, que tentava a todo custo controlar a vassoura e, ao mesmo tempo, não cair de cima dela. Não dava pra segurar o riso com uma cena daquelas, e eu me desatei a rir, mas o cutucão que Lily me deu me fez pensar que, na opinião dela, talvez desse pra segurar sim. No fim, ela gargalhou também.

- É feio rir das pessoas assim, Potter. Além do mais, eu devo ser pior que ela...ei, onde estamos indo?

Sim, ela logo percebeu, droga. Eu saí da área do campo, propositalmente, pois queria levá-la a um lugar que eu mesmo não visitava desde o quinto ano.

- Lily Evans... você não confia em mim? - eu repeti. Mais uma vez, ela suspirou.

- Bela paisagem. Eu não sabia que Hogwarts era tão grande!

- É gigantesco... os campos da escola vão até depois daquelas árvores mais altas. - eu apontei. - Não que eu já tenha ultrapassado pra saber.

- Claro, claro. - ela deu uma risadinha. Pousamos numa colina não muito longe da cabana do Hagrid. Lily sentou-se na grama, as pernas flexionadas e os braços por cima, apoiando seu queixo. Eu me aproximei dela e sentei-me da mesma maneira ao seu lado. Ela observava o castelo com um sorriso.

- Como você descobriu esse lugar, Potter? É lindo! - ela exclamou, sem tirar os olhos da paisagem.

- Ah, vagando por aí...quando eu era menor, eu adorava ficar voando sem rumo. Principalmente quando eu brigava com o Padfoot.

- Vocês brigavam muito? Eu nunca notei nada, vocês sempre...bem, sempre pareceram que pensavam com uma cabeça só.

- Bom, nós somos como irmãos, lembra? Isso implica que a gente discutia um pouco quando éramos menores. - eu ri, lembrando-me de várias briguinhas idiotas que tivemos. - Nada muito grave, lógico. Mas eu gostava de me esconder aqui pra irritar ele. Claro que logo eu sentia falta até de discutir com ele e voltava...

- Que bonitinho! - ela sorriu, dando um tapinha simpático em meu braço. - Eu queria que eu e Petúnia fôssemos assim, mas bem, irmã de verdade a gente não escolhe. - ela suspirou. Eu aproveitei a chance e me aproximei um pouco mais dela.

- Verdade. Mas é tudo meio destinado, Evans. Eu nunca pensei que seria amigo do Sirius, afinal, meu pai trabalhou com Julius Black, ele é o pai da Narcisa e das outras duas, sabe? Eu sempre conheci a fama deles, e tinha prometido a mim mesmo que nunca teria nada a ver com um Black. Então, logo na minha primeira semana em Hogwarts, nós conseguimos entrar numa confusão e ficar em detenção juntos. Mesmo que eu não quiser, eu vou ter que agüentar o Padfoot pro resto da minha vida.

Nós nos olhamos e começamos a rir.

- Petúnia tem sete anos de diferença. O que significa que, até os meus três anos, eu era apenas um enfeite a mais na casa pra ela. Mas então ela entrou na pré-adolescência, e eu comecei a demonstrar meus sinais de não ser uma criança muito normal...já viu. Quando eu entrei na escola, ela fingia que não me conhecia. Um dia, eu fiquei irritada com uma menina e os ouvidos dela começaram a inchar horrivelmente. Outra vez, um garoto tentou puxar meu cabelo e sentiu as mãos queimarem. Pequenas coisinhas para as quais todo mundo tinha uma explicação trouxa, menos Petúnia, que ordenou a minha mãe que não voltaria mais da escola comigo. No fundo, ela sempre soube que eu era diferente e era minha culpa que aquelas coisas aconteciam. E quando a carta de Hogwarts chegou, as suspeitas dela apenas se confirmaram. Desde então, eu sou mais esquisita pra ela do que elefantes cor-de-rosa voadores.

Ela suspirou e voltou a encarar o castelo.

- Que chato isso, Evans. Eu percebi naquela visita que vocês não eram mesmo próximas, mas bem, eu achei que Petúnia era chata com todo mundo! - eu exclamei, me repreendendo depois. - Quer dizer...

- Mas ela é mesmo, Potter. - ela apertou os olhos e os abriu de novo. - Ela é arrogante, mal educada, estúpida e antipática. Eu não entendo da onde ela puxou isso, meus pais são uns docinhos. Porém, comigo ela é bem pior, claro. Eu já era o ser que não deveria ter nascido, imagina depois que ela descobriu que eu sou uma bruxa? Ela nem sabe o que isso significa, lógico, mas pra ela, só o som da palavra é algo extravagante demais, e pra certinha e entediante da Petúnia, nada que seja fora do padrão tem algo de bom. Até o namorado dela é um tédio.

Novas risadas.

- Bom, você pode sempre contar com os Marotos pra mostrar pra ela o que é ser bruxo de verdade. Principalmente agora que somos maiores de idade.

- Sabe que não é uma idéia tão ruim? - ela sorriu pra mim. Por alguns instantes, o mundo parece ter congelado. Eu, me sentindo confiante, me inclinei em direção a ela, prestes a beijá-la de novo, mas ela se afastou. Contudo, dessa vez, ela não se irritou nem saiu chutando coisas e me dando tapas. Ela simplesmente me empurrou com delicadeza e murmurou: - Lembra-se do que eu disse, Potter? Sobre você ter uma namorada?

- E você se lembra do que eu respondi? - eu bufei, revirando os olhos.

- Sim. Mas não importa, você a beijou, ela está achando coisas, e não sem razão, e agora você vai ter que se virar.

- Evans... - eu resolvi arriscar de novo. - Se eu terminar com a Mia, você sai comigo?

- Potter, Potter. - ela se levantou, cruzando os braços. - Eu te disse uma vez que ia pensar, e olha que você nem estava merecendo naquela época e muito menos agora, então não abuse. Agora vamos voltar que os outros devem estar preocupados.

Eu tentei argumentar, mas Evans era irredutível, então nós voltamos ao campo de quadribol. Achei estranho ao ver que estavam todos no chão, e só segundos depois que fui perceber que eles estavam em volta de alguma coisa. Ou alguém. Acelerei pra baixo e Evans desceu da vassoura num salto. Ela correu até Remus, Arista e Peter (que havia chegado momentos antes, ele me disse), que cercavam um Sirius ajoelhado ao lado de Anne Krakowsky. Eu a segui.

- Onde dói? Dói se eu mexo...

- AI!

- ...aqui. Ok, ok. - Padfoot parecia aliviado, apesar de tudo. - Eu acho que você só quebrou o pulso, Annie, mas é melhor eu levar você até a Ala Hospitalar.

- Quê? Ah, não, não há necessidade, eu consigo and-...ai! - Anne reclamou, tentando levantar.

- O Sirius tem razão, Anne. Pode ser algo pior, do jeito que você caiu, e da altura... - Arista argumentou.

- O que for que seja, a Madame Pomfrey vai consertar. - Remus disse.

- É pra já. - Sirius exclamou, colocando seus braços embaixo do corpo esguio de Anne e erguendo-a no alto. Ele se dirigiu para a entrada do castelo e nós o seguimos. Paramos em frente a Ala Hospitalar e eu virei-me para espiar a reação de Lily. Percebi que ela começava a roer as unhas.

- O que foi, Evans?

- Eu estou preocupada com a Anne. - ela murmurou.

- Bem, ela parece ter tido uma queda feia, mas ela vai sobreviver. - eu sorri, piscando.

- É. É, bem...er...é. - ela sacudiu a cabeça. Eu senti minha sobrancelha direita se erguer, havia algo de errado, e Evans não sabe mentir muito bem. - Eu acho melhor eu entrar pra ver o que está acontecendo.

Evans entrou e nós a seguimos, mas logo Madame Pomfrey chegou até nós, empurrando-nos pra fora com os braços.

- Fora, fora agora! Sem multidão na minha enfermaria, por favor!

- Mas Madame Pomfrey, eu tenho que...

- Srta. Evans, eu já disse, todos pra fora!

- Madame Pomfrey, por favor, deixe a Lily ficar. Só a Lily está ótimo.

Nos entreolhamos. Krakowsky olhava suplicante para a velha.

- Ok, mas apenas a srta. Evans. Potter, tchau, agora!

Fomos todos enxotados da Ala Hospitalar - Sirius estava com uma cara emburrada e magoada.

- Por que é que ela caiu? - eu perguntei a Padfoot, curioso. Ele balançou os ombros.

- Num minuto ela estava lá, e quando eu pisquei, ela estava caindo. Não faço a mínima idéia, foi muito estranho. - ele coçou a cabeça.

- Credo, esse dia está bem sinistro. - Remus comentou, cruzando os braços. Arista havia aberto a boca para, provavelmente, perguntar algo quando Melissa Bernhardt, a monitora, aproximou-se de nós.

- Ah, que bom que eu o encontrei, Potter. A professora McGonagall pediu para que eu o entregasse esse bilhete. É do diretor. Até mais! - ela sorriu, acenando e retirando-se do corredor.

- Acho que as surpresas do dia ainda não acabaram, Moony. - eu lancei um olhar para Remus, desembrulhando o bilhete. E olhe só. Bem quando eu quero falar com o diretor, ele me chama em sua sala? Eu realmente tenho medo da capacidade do Dumbledore de saber das coisas antes de qualquer outra pessoa.


N/A: Olá, olá! Estão vendo, eu estou sendo uma garota boazinha! Já com outra atualização! E vocês também, muitas e muitas reviews! E já que a campanha de dez reviews está funcionando bem, ela continua mais uma vez :)

Só por curiosidade: o nome do capítulo é uma alusão ao filme "Teaching Mrs. Tingle", que ora eu vejo chamando "Tentação Fatal", ora "O Rapto da Senhora Tingle". Bem, eu nunca assisti ao filme, mas eu adorei a ironia do título em inglês quando vi.

Responderei às reviews das pessoas logadas pelo "reply" do fanfiction . net, ok?

Agradeço a todos os logados que comentaram: Paty Evans, Mylla Evans (obrigada pela comun, obrigada!), JhU Radcliffe, Washed Soul, Dani Potter e Lily 'Evans' Lied. Thanks!

Tally: Que bom que a campanha surtiu efeito! Não comentar nas fics é muito feio, viu? Hehehe. Espero que você comente sim mais vezes, e obrigada pelos elogios!

Luiza: Você vem ver todos os dias? Isso que é leitora dedicada. :) Obrigada, obrigada, e aproveite a atualização!

mamai black: Mia é uma garotinha ingênua e apaixonada, coitadinha. Mas James tem que agir rápido mesmo...principalmente se ele captou a mensagem desse capítulo

Naty: Obrigada pela paciência, pela betagem e pelas reviews, mate! E eu, que mal posso esperar pra postar "aquele" capítulo...será que vão gostar? Hehehe. Beijão, amo você, girl!

Pikena: Lily não sofrerá por muito tempo, devo confessar. Ou sim. Hehehe. Mas a verdade é que agora, só depende dela. Bem, pelo menos uns 55 hahaha... beijos!

May: Você é das minhas! Lily tem que sentir na pele... XD Mia é um doce mesmo, mas ela se transforma quando mexem com ela. Você verá! E eu estou fazendo meu papel, viu?

Sassah Potter: Hmmmm, isso depende bastante de como a Lily vai reagir daqui pra frente, sabe? Obrigada pela review!

Um comunicado!

A Mylla Evans, muito gentil, fez uma comunidade no Orkut para as minhas fics. Que vergonha... de qualquer maneira, acho que lá seria um bom lugar para eu divulgar quando a Prongs for atualizada e tal...então, recomendo que vocês entrem! Mesmo que for apenas pra me ver feliz. O endereço dela está no meu profile, aqui no site.

Beijos a todas, e até a próxima atualização!