11. Queda de Barreiras
-Eu estou bem. Só estou um pouco cansado. Apenas um pouco...
-Deprimido? – Evans completou o pensamento de Remus. Estávamos todos reunidos na mesa da Grifinória, na hora do almoço, numa sexta-feira após mais uma aula entediante com o idiota do Tumble. Remus estava de volta, depois de mais uma semana de Lua Cheia.
-Moony está precisando de uma distração, só isso. – Sirius disse com seu velho sorriso de quem está querendo consertar as coisas ou fazer elas parecerem melhores. – Acho que zoar por Hogsmeade já se tornou monótono, não Moon?
-Quem sabe eu quebre sua monotonia te dando umas detenções hein, Sr. Black? – Evans disse, estreitando os olhos mas com um meio-sorriso nos lábios.
-Contanto que elas envolvam eu trancado na Torre de Astronomia com a sua amiga loirinha, pra mim tá ótimo. – ele cruzou os braços, olhando-a marotamente. Evans soltou uma exclamação e tentou golpeá-lo do outro lado da mesa. Remus, eu percebi, revirou os olhos e, provavelmente temendo que a conversa viesse pro seu lado, pegou um livro da mochila e começou a folheá-lo. Arista, que não estava conosco na mesa sabe-se lá porque, chegou com o rosto corado e com pressa.
-Horário para os treinos. – ela sorriu. – Amanhã provavelmente terá algo para o Halloween, mas eu chequei e temos o domingo à tarde livre, a Corvinal vai estar no campo pela manhã. O que acham?
Eu e Sirius nos entreolhamos, e eu respondi pelos dois.
-Beleza, Riz. Domingo tá bom.
-Aliás, não é estranho que nós ainda não estamos sabendo do que vai ter amanhã pro feriado?
Mal Evans terminou de pronunciar essas palavras, o burburinho normal do almoço no Salão Principal cessou e eu percebi diversas cabeças virando-se na mesma direção. Virei-me com elas e vi que Dumbledore havia se erguido de sua cadeira. Ele bateu com delicadeza três vezes no cálice que segurava, mas não era nada necessário. Toda a atenção já estava nele.
-Olá, meus queridos alunos. Boa tarde! Como vocês devem já saber, nosso querido e festivo feriado do Halloween está bem perto. E esse ano, nós temos algo bem especial a oferecer a vocês. O Sindicato dos Lojistas Bruxos de Hogsmeade uniu seus membros e criou uma feira com várias atrações e performances para celebrar essa data mágica, o Festival Outubrino. E nós, Hogwarts, fomos convidados para participar da primeira edição dessa maravilhosa festa. E por Hogwarts, vocês devem entender todos os alunos do colégio, do primeiro ao sétimo ano.
Houve um grande barulho de palmas e assovios e gritos de animação, principalmente dos alunos mais jovens. Eu mesmo havia ficado empolgado! Hogsmeade era sempre a mesma, e principalmente pra alguém como eu, que havia estado lá centenas de vezes...ela certamente precisava de uma mudança mesmo.
-Porém – ele continuou, quando o barulho foi diminuindo – há algumas pequenas condições, como sempre. Vocês, alunos do primeiro e segundo ano, não devem deixar a condução e proteção de seus representantes, sendo eles os seus diretores de Casa, monitores e monitores-chefes. Os nossos docentes Minerva McGonagall, Filius Flitwick, Notorius Tumble e Clarinda Merryham, os alunos Lily Evans e James Potter e os monitores de cada casa estarão de prontidão para qualquer problema, e os mais jovens devem estar sempre sob a supervisão de algum deles.
Oh, merda. Nada de diversão para mim. Eu ouvi Sirius sufocando (e muito mal) uma gargalhada do meu lado e acotovelei o amigo da onça. Grande ajuda dele.
-Eu não acredito que...
-Shhhh! – Evans sinalizou com o dedo para que eu entrasse em silêncio de novo. Dumbledore, o traíra, voltara a falar.
-Mais uma vez, friso que o vilarejo de Hogsmeade foi muito simpático e cordial de nos convidar para esse evento. Por isso, gostaria muito que todos fossem gratos a esse convite e não causassem nenhum problema à organização. E recomendo cautela, como sempre. Todos que andarem na linha estarão em segurança, por isso, repito: não deixem de estar por perto de seus representantes. E boa viagem a todos! – ele terminou com um sorriso acolhedor e retirou-se. Alguns alunos levantaram-se, conversando animadamente e caminhando para a próxima aula.
-Nós vamos ter que ser babás dos pirralhos? Não é mais fácil deixa-los aqui? – eu reclamei.
-Potter, você o ouviu, todos têm direito de comemorar o Halloween em Hogsmeade. Aposto que terá várias atrações para as crianças.
-Ótimo. A gente vai ficar vendo showzinho de marionete e essas coisas idiotas. – bufei.
-Deixe de ser rabugento, Prongs. – Sirius deu um tapa nas minhas costas, ainda rindo.
-Nós podemos ajudar vocês dois. – Remus sugeriu.
-Peraí, nós podemos? Primeiranistas, Moony. Primeiranistas. – Sirius disse, lentamente, como se estivesse falando com um garoto do primeiro ano em pessoa. – Crianças irritantes e...
-Você já foi uma, não há muito tempo. Aliás, desconfio que você ainda não tenha passado dessa fase. – ele replicou, um sorriso maroto. Sirius bufou como se dissesse "muito engraçado". Arista tossiu.
-Bem, eu acho que não vou poder ajudar vocês, sabe, já que eu...
-Ah, eu entendo, Riz. – Lily soltou uma risadinha.
-Mas eu não! O que você vai fazer, hein, senhorita Skyler? Se encontrar com quem, hã?
-Você precisa se renovar, Potter. – ela acelerou o passo, deixando-nos pra trás.
-Eu odeio essa mania dela de esconder coisas da gente! – eu exclamei para Sirius, e ele balançou a cabeça, aprovando. - Quem é o namorado dessa menina?
-Puxa, eu não sei porque ela faz guarda segredos de vocês. É algo realmente inexplicável, né? – Lily respondeu, irônica. Ela virou a cara pra mim, mas o que ela viu do outro lado também não a agradou. Cruzando os braços, ela evitou ver Miranda Jones se aproximando.
-Oi, James!
-Hey, Mia. – eu sorri, constrangido.
-Bem...nos vemos amanhã em Hogsmeade, presumo?
-Ah sim...amanhã. – eu balancei a cabeça. Evans parou e começou a bater o pé no chão, deliberadamente.
-Pelo que o diretor disse, vocês vão estar bem atarefados. - ela sorriu, olhando pra Lily com simpatia, enquanto essa pareceu soltar facas pelos olhos na direção de Mia. - Bem, mas isso não significa que a gente não possa se encontrar e talvez...tomar uma cerveja amanteigada juntos, não? - ela virou-se novamente para mim, com ansiedade nos olhos. Eu pude sentir que ela havia juntado muita coragem para vir dizer isso. Bom trabalho pra uma Lufa!
-Er, acho que não, né? - eu mexi os ombros, sorrindo, e pensei ouvir claramente Evans bufando atrás de mim. - Talvez eu descole um tempinho.
-Legal. – Mia disse, prendendo o olhar por instantes no meu. – Até mais, pessoas!
Apenas Evans não respondeu. Ah, era tão encantadora a maneira com a qual ela torcia uma mecha do cabelo, escondendo sua raiva agora. Ela desviou-se de nós para encontrar Anne entre os corvinais. A loirinha a abraçou e entregou a ela uma pequena caixinha com uma enorme laço.
-O que é aquilo? – Sirius apontou para as duas.
-Um presente. Você não sabe que hoje é aniversário da Lily? – Remus exclamou, levemente surpreso.
-Como vou saber? Ela nunca me disse! – ele sacudiu os ombros. – É melhor eu ir lá e dizer algo. Prongs, você sabia disso?
-Aham. Ela me contou, esses dias. – eu sorri, mexendo as sobrancelhas.
-Você disse alguma coisa pra ela, não? – Moony me perguntou, lentamente.
-Não. – eu respondi, simplesmente, vendo Sirius ir na direção das duas garotas e caminhando com as mãos nos bolsos.
-Isso é mais uma espécie de plano para conseguir a garota? Porque eu já te digo que ignorar o aniversário dela não é a melhor maneira. – Moony sacudiu a cabeça, desaprovador.
-Ah, é sim, Moon. Principalmente quando você é James Potter e está preparando algo muito, muito melhor. – eu olhei para cima, com um olhar sonhador. – Eu não direi nada. Eu quero que Evans pense que eu esqueci. Eu quero que ela fique furiosa ao pensar isso. Vai ser uma ótima preparação, sabe?
-Eu me pergunto como o Padfoot faz para te compreender. Porque, pra mim, você não faz sentido algum. – ele soltou uma gargalhada, que me fez sentir mais leve. Era bom ver Moony gargalhando e perdendo aquele mau-humor mordaz e atípico.
-Obrigado pelo elogio, cara.
E foi dessa maneira que o resto do dia se passou. Eu fiz questão de ficar longe de Evans o dia todo, para que ninguém chegasse de repente e dissesse algo sobre seu aniversário e eu tivesse que cumprimenta-la ou algo do gênero. Eu estava ansioso, e tentava esconder isso de Moony, Padfoot e Wormtail, que agora sabiam que eu havia preparado algo pra ela e estavam morrendo de curiosidade. Contudo, estava bem difícil de esconder a própria surpresa dela, especialmente quando Minerva McGonagall nos escalou para monitorar os corredores àquela noite. No começo, ela estava bem calada, e eu me fingia de distraído. Nos separávamos em alguns andares, e voltávamos a nos encontrar em outros, e nesses momentos eu sempre dizia algo como "Ei, Evans, você por aqui?", enquanto ela...bem, ela apenas sacudia a cabeça na maior parte das vezes. Eu sabia que ela estava sentida porque eu parecia não ter lembrado que dia era aquele, mas eu precisava me segurar pra manter a surpresa...Então, quando era cerca de dez e meia da noite, nós nos encontramos novamente no corredor do terceiro andar.
-Hoje está tranqüilo por aqui...as pessoas foram dormir cedo para a excursão de amanhã, decerto. - ela comentou.
-Verdade. Se você me perguntar, aliás, isso tá quieto demais. Nós devíamos ter checado mais uma vez as masmorras...
-Deixa de ser desconfiado, Potter! E preconceituoso. Por que as masmorras, hein?
-Às vezes eu penso que você deveria estar na Sonserina, Evans. - eu cruzei os braços.
-Oh, devo levar isso como uma ofensa, não? - ela riu. - Bem, na hora que eu estava por lá, eu encontrei Snape vagando por aí, mas ele já estava voltando pra Sala Comunal deles, nem me viu.
Eu virei-me depressa pra ela. Que oportunidade eu tinha perdido, droga!
-Ele estava fazendo alguma coisa suspeita? Carregando algo?
-Apenas uns livros, o que é muito normal pro Ra-er, digo, o Snape. Bom, mudando de assunto, Potter, nós termos que armar um esquema para amanhã.
-Esquema?
-Sim! Nós temos que cuidar de quase 200 alunos em Hogsmeade! Nós temos que nos organizar e dividir.
-Organizar? Dividir? – Eu não podia acreditar em como Lily é metódica! – São pivetes, Evans.
-São alunos, Potter! Sob nossa responsabilidade!
-Os professores também vão estar lá, você ouviu o diretor! E os monitores.
-Sim, mas você não percebe? Dumbledore aceitou o convite, mas está preocupado. Ele frisou a parte sobre a segurança dos alunos diversas vezes.
-Mas...o que poderia acontecer em Hogsmeade? – eu exclamei, gesticulando.
-Nunca se sabe, Potter. Alunos podem se perder, sei lá, qualquer coisa. Eu estou surpresa dele ter deixado os primeiranistas e segundanistas irem. Aliás, acredito que só fomos avisados hoje porque ele demorou pra decidir sobre essa excursão.
-Você é perspicaz, não? – eu sorri. Ela se corou. Ficamos em silêncio, ela ruminando algo que eu não podia prever, e eu esperando o momento certo de...
-Bem, então vamos de volta para o dormi-
-NÃO! – eu praticamente gritei. – Digo...eu não sei se lá é uma boa idéia, sabe. – eu sorri de novo, dessa vez utilizando meu sorriso convincente e coçando os meus cabelos despenteados, que caíam em minha nuca. Preparem-se para mais um momento teatral com James Potter!
-Por que não seria? – ela cruzou os braços, me olhando curiosa e desafiadora.
-Porque...porque... – Oh, por que seria? Com certeza, um motivo bem esdrúxulo e descabido como... – Porque... lá tem pó.
-Hã? - ela balançou a cabeça, não me entendendo. Tive que segurar para não sorrir frente à minha genialidade.
-Lá tem muito pó e as elfas estão limpando. – Ela não esperava que eu fosse um mentiroso tão ruim assim, esperava?
-A essa hora? – ela fez uma cara de quem se esforça para procurar o que dizer. – Bem, ok. Então talvez...mas espera aí. Os móveis de Hogwarts têm um feitiço auto-limpante. Os elfos raramente tiram pó das coisas, Potter. Você tem certeza...ah, não.
Evans parou no meio do corredor, um olhar bem significativo para mim, que eu não conseguia decifrar. Mas uma coisa eu conseguia entender: ela tinha descoberto. Mais rápido do que eu esperava! Ela arregalou os olhos e, pra complementar toda a situação, dei um (sempre eficaz) sorriso eu-estou-escondendo-algo-de-você-e-não-vou-dizer.
-Você não fez isso. – ela levou as mãos à boca.
-Fiz o quê, Evans? – eu fingi um James atrapalhado e tentando disfarçar.
-Ah, Potter. – ela suspirou, e também sorria. – Você fez.
-Escuta, Evans...
-Não precisa falar nada. Eu quero saber o que você fez. – ela começou a caminhar de novo, dessa vez, decidida e com pressa. – Eu disse que detestava aniversários, Potter. Você não precisava fazer isso! – ela dizia, ao mesmo tempo em que sorria e corria mais. Lily Evans é realmente a deusa de todas as ambigüidades!
-Eu não faço idéia do que você está dizendo, Evans! – eu respondi, apertando o passo para alcança-la, continuando com meu teatro. Porém, admito que agora estava surpreso com a euforia dela.
Chegamos à entrada da Sala Comunal dos monitores-chefes. Eu segurei o braço de Lily.
-Espere! Ok. Você me pegou. – eu exclamei, ofegante e com um falso desapontamento. - Acho que isso será bem mais divertido se você fechar os olhos.
Ela piscou, e eu notei um brilho passar pelos olhos dela. Ela assentiu com a cabeça e fechou os olhos. Eu murmurei a senha e caminhei pra dentro da Sala, certificando-me que não havia ninguém ali.
Mas havia alguém ali. Cerca de dez ou doze pequenos elfos-domésticos circulavam pelo cômodo feito diabretes confundidos, pendurando laços brancos por todos os lados, espalhando vasos com lírios pelas mesinhas e prateleiras, ou simplesmente chocando-se um com o outro e com o piano branco, uma novidade chegada no dia anterior, presente do Sr. Evans. Libby veio me receber.
-Senhor Potter! Libby e os outros fizeram como o senhor mandou!
-Libby! Vocês não deveriam estar aqui! - eu sussurrei. - Ela já chegou! Escute... - eu caminhei até meu quarto e voltei com uma caixinha de madeira. - Aqui estão as bolinhas de gude, e muito obrigado por tudo, mas agora vocês vão ter que dar o fora!
-Ok, senhor Potter. É pra já! Adeus! - ela acenou pra mim e com um PLOC, desapareceu. Eu dei um passo para trás, e ouvi diversos PLOCs por volta da sala. Como eles fazem isso dentro do castelo? Bem, era a hora. Meu coração, nessa altura, estava acelerado. Eu me sentia como se estivesse prestes a abrir um presente de Natal. Puxei-a para dentro.
-Algum problema? - ela perguntou, daquela maneira solícita típica dela.
-Agora está tudo perfeito, Evans. Ok. Abre.
Ela abriu os olhos, animada. Seu olhar, contudo, foi mudando lentamente... Evans, antes, estava empolgada como qualquer pessoa que vai receber um presente, não importa de quem seja. Então, devagar, ela foi percebendo o que ela havia recebido, e agora, sem os elfos-domésticos ali, eu mesmo podia reparar melhor no que eles haviam preparado: havia um grande e belo vaso de vidro ao lado da janela, cheio de lírios brancos. Pendurada no meio da sala, uma faixa, verde-esmeralda e com letras brancas, que diziam "Feliz Aniversário, Lily Evans". Ela se assemelhava muito à faixa que estava em minha casa no dia do meu aniversário, e não era por acaso. E pregados na parede, emoldurados e decorando todo a sala, estava uma série de desenhos feitos à mão. Todos tinham Lily desenhada. Libby não só tinha seguido minhas instruções satisfatoriamente, como tinha também melhorado todo o projeto.
-Feliz aniversário, Evans. – eu sorri, orgulhoso de meu plano bem sucedido. Aquela elfazinha merece mesmo as bolinhas de gude.
Ela estava boquiaberta. Caminhou devagar até o vaso perto da janela.
-Lírios.
-Eu sei, meio clichê, mas...
-Eu adoro lírios. – ela estava sorrindo. O sorriso mais lindo que ela havia dado. E estava destinado a mim! – E o que são aquilo? São...aquela sou eu?
Ela apontou para os quadros na parede. Eu respirei fundo.
-Sim. É você em todos eles. São alguns desenhos que fiz em todos esses anos. Nunca tive a melhor oportunidade de entrega-los, sabe? E eles não são lá muito bem acabados, mas bem...esse aqui é do quarto ano. Você havia acabado de entrar na nossa cabine, no Expresso, pra entregar uma mensagem pro Moony. Eu estava desenhando outra coisa, só pra praticar, mas ele meio que migrou pra isso. Você vê os estudos de claro e escuro aqui? – eu murmurei, e minha voz parecia soar um pouco mais grossa. Peguei seu braço novamente, levando-a pro outro lado da sala. – Esse aqui, você vai lembrar disso! Ano passado, nós aparecemos na sua casa sem avisar, perto do Natal. Eu nunca vou esquecer a sua cara quando veio nos receber à porta! Dá pra ver o Remus descendo a escada ali atrás? – eu ri. Ela balançou a cabeça, sem dizer nada. – Ok. Hmmm, esse aqui é legal. Quinto ano. Naquele balãozinho está escrito "você me dá nojo", se não consegue ler. Essa frase ficou na minha cabeça por dias, sabe? Acho que eu consegui capturar bem o olhar de desprezo em seus olhos... – eu soltei uma gargalhada.
-Eu nunca te desprezei. – ela murmurou, e sua voz saiu praticamente inaudível.
-Desprezou sim, um pouquinho, naquele dia. E eu entendo, eu mereci, eu e Padfoot exageramos. – eu pisquei. - Mas esse, esse é meu favorito, Evans. É o primeiro. Terceiro ano, logo após as provas finais, faltava alguns dias para voltarmos para casa. Você estava sentada à beira do lago com Anne, Arista e outras garotas. Foi quando a Arista começou a andar com vocês, acredito. Bem, eu não vou dizer que nunca tinha notado você, mas aquele dia, eu olhei pela janela e vi seu cabelo brilhando no Sol, e eu nunca tinha visto cabelos brilharem tanto. E então, alguém disse algo, e você soltou uma risada sonora que eu não ouvi daquela distância, lógico. Mas o seu rosto...era perfeito quando você ria. Eu tive a certeza de que era o riso mais lindo que eu já tinha visto nesse colégio naquele momento. Na verdade, eu arrisco dizer que foi nesse momento que tudo começou. – eu abaixei os olhos, falando tudo isso mais pra mim do que pra ela. Eu nunca pensei que confessaria esses sentimentos a Evans, assim, tão facilmente. O fato é que as palavras foram saindo de minha boca e, se Sirius pudesse me ver agora, com certeza estaria rindo muito de toda essa pieguice. Mas apesar de tudo, eu estava me sentindo muito confortável. Estava sendo mais fácil do que eu pensava. – E agora, o último. – eu tirei um pedaço de papel de meu bolso e entreguei a ela. – Desculpe, ainda não está terminado, mas acho que você deveria ficar com ele mesmo assim. Nós estávamos caminhando no corredor, e você mencionou que gostaria de estar com o Remus durante a Lua Cheia, como nós. E você olhou para seus pés na hora que disse isso e...caramba, Evans. Você é linda quando sorri, muito atraente quando está brava e tão bonita até quando está triste, mas você nunca fica mais bela do que quando demonstra que se preocupa com alguém. Principalmente quando esse alguém é o idiota aqui. E, apesar de eu ser um dos maiores imbecis que você já conheceu, e provavelmente continuar sendo pra sempre se o Sirius não fizer algo pra roubar meu posto, e apesar de eu ter alguns probleminhas em me comprometer com alguém, eu realmente acho que é injusto que você duvide do fato de que eu estou mais do que apaixonado por você. Mesmo para James Potter, agüentar três longos anos, vários tapas na cara, milhares de foras e apenas alguns raros e esporádicos beijos é uma tarefa bem árdua, e mais do que sinal de que eu realmente não quero desistir de você, né? E como eu poderia, Evans? Você vale muito à pena, muito mais do que você poderia imaginar e...bah, eu estou me alongando. Eu só queria, na verdade, dizer a você "feliz aniversário", e compensar por todas as outras vezes que eu não fiz.
Minha cabeça, a essa altura, fervilhava com milhares de pensamentos. Meu coração, eu tenho certeza, parou de bater por alguns instantes. A única coisa que importava no mundo naquele momento era a reação dela, e ela parecia demorar uma eternidade para chegar. Lily Evans me observava com os olhos marejados, a boca entreaberta e os dedos entrelaçados, brincando apressadamente uns com os outros.
-Evans? – eu sussurrei, depois do que pareceram ser séculos. Minha mão continuava esticada na direção del, segurando meu último desenho. A cena parecia ter se congelado. Eu estava preocupado já! – Você está aí? Diga alguma coisa?
-Uau.
-Uau. – eu repeti. – Ok, "uau" é bom.
-"Uau" é muito bom. – ela sorriu. E eu sorri. E ficamos nos sorrindo, ali, bobamente, no meio da sala dos monitores-chefe, agora com Fedorento, meu gato, nos observando languidamente do sofá. Ela pegou o desenho de minhas mãos e o encarou, sorrindo mais ainda.
-Mas "uau" é um tanto...monossilábico. – eu arrisquei. Ela riu.
-Eu nunca pensei que você poderia fazer algo assim. – ela exclamou.
-Ah, puxa, obrigado. Assim é bem melhor. – eu fingi estar magoado.
-Ops, eu não quis dizer isso...foi lindo. Foi o melhor presente que eu já recebi, em toda a minha vida.
-Mais do que esse piano que seu pai enviou ontem? Você estava esperando ele há milênios...– eu disse, rindo. Ela deu uns passos à frente, aproximando-se de mim. A distância entre meu rosto e o dela era muito pequena agora. Ela pegou a minha mão e um frio correu pela minha espinha. Eu poderia beija-la milhares de vezes agora, mas James Potter, você não vai estragar tudo hoje.
-James.
Era mais difícil de segurar a vontade agora. Eu nunca tinha ouvido Lily dizer meu primeiro nome daquela maneira, carregado de...de doçura. (taí uma palavra que eu nunca achei que utilizaria! Ok, Sirius, ria à vontade.) Na verdade, eu mal consigo lembrar da última vez que ela pronunciou meu nome.
-Lily?
-Você gostaria de sair comigo? – ela sussurrou, e seu olhar era pesadamente risonho e maroto.
-Eu não sairia com você nem se fosse uma escolha entre você e a Lula-Gigante, Evans. – eu ri, esticando minha mão e tocando seus cabelos macios.
-Ah, mas aposto que a Lula Gigante não faria algo assim. – ela murmurou de volta e, segurando meu rosto nas mãos, puxou-me para um beijo, na minha opinião, rápido demais. Foram o quê, três segundos de contato? Mesmo assim, meu corpo todo pareceu eletrizar-se. Eu sentia o perfume de seus cabelos, e o aroma de seus lábios, e o toque de seus dedos, e tudo parecia bom demais pra ser verdade. (Sirius estaria às gargalhadas agora...)
-Por que isso não funcionou com você antes? – eu perguntei, rindo, quando nos separamos.
-Porque eu não sou uma das maiores imbecis que você já conheceu. – ela riu gostosamente, e eu me senti mais leve do que nunca. – Boa noite, James.
-Boa noite, Lily. E até amanhã.
Ela acenou pra mim, com um sorriso um tanto quanto tolo, antes de fechar a porta.
-Isso aconteceu de verdade, não Fedorento?
O gato soltou um miado de aprovação.
-É isso aí! – eu gritei, socando o ar. – Boa, muito boa, James!
-Eu estou te escutando! – eu ouvi a voz abafada dela soar do outro lado da parede. Rindo, eu caminhei para o meu quarto. Quando deitei minha cabeça no travesseiro lembrei, com orgulho, de que tinha feito Lily esquecer completamente sobre sua iniciativa de organizar e dividir o grupo dos pirralhos para o festival do dia seguinte. Certamente, não era com isso que ela iria sonhar essa noite, e muito menos eu.
- Prongs! James Potter! James Potter! Acorda!
Eu abri um olho, confuso. Por um momento, esqueci onde estava. Cocei os olhos e tatei no escuro o criado-mudo ao lado da cama, procurando por meus óculos e minha varinha. De onde vinha aquela voz que havia atrapalhado meu sono tão tranqüilo e cheio de flashblacks da cena que havia se passado horas atrás na Sala dos Monitores? Percebi, após segundos esperando meu cérebro funcionar normalmente que a voz abafada vinha da escrivaninha. Meu espelho de duas faces brilhava, azul, na escuridão do quarto. Sirius me chamava.
Caminhei desengonçado até a mesa.
- Padfoot? Que horas são?
- Prongs, você está com o Mapa aí?
- Estou. Duas e trinta e sete da manhã, Pads!
- James, pegue a porcaria do Mapa, por favor! - a voz soou autoritária e impaciente. Quando o sangue Black de Sirius se revelava, não era bom sinal. Preocupado e confuso, abri o armário à procura do Mapa. Onde é que estava? Ah, sim, não era lá. Estava no bolso de minhas vestes, no chão...
- Anda logo, Prongs!
- Espera, Sirius! - eu sussurei pro espelho, agora aflito de verdade. - Mas o que é que está acontecendo, caramba?
- Meu irmão está no dormitório da Sonserina?
- Como é que é? - Meu cérebro não estava em sua potência total, e quando é que Sirius ia perguntar sobre o Regulus aquela hora?
- Prongs! - ele tentou não gritar. Eu podia ver que ele pressionava os dentes com raiva.
- Espere. Masmorras...hmmm. Não. Regulus não está no quarto. - eu olhei para o Mapa, erguendo uma sobrancelha.
- Merda! - veio a voz do outro lado. - Onde aquele filho da mãe está?
- Putz...hummm...ele está se deslocando. Ele está com o Nott. - eu virei-me pro espelho, uma certa compreensão entrando em minha cabeça. - Sirius?
- Me encontre no Retrato.
- Padfoot?
- Eu não posso falar aqui! Me encontre no Retrato!
Cinco minutos depois, lá estava eu, com meu odioso robe bordô que me fazia parecer um velho viúvo, percorrendo os corredores de Hogwarts às duas e cinqüenta da manhã. Ainda bem que eu era o monitor-chefe. Sirius me esperava, os braços cruzados, a expressão tensa.
- Padfoot.
- Eu prometi a Annie que não contaria a ninguém. Infelizmente, isso envolve você Prongs. Você vai ter que me confiar nessa.
- Eu sempre confiei em você, Pads. O que você quer saber?
- Se Regulus está envolvido em algo que acredito que irá acontecer. Eu só preciso de uma confirmação. - o olhar dele era suplicante agora, algo que eu raramente via em Sirius. - Eu não posso deixar ele fazer isso, Prongs.
- Ok. Vamos atrás dele. - eu disse, o tranqüilizando. Prevenido, joguei a velha capa de invisibilidade que trouxera comigo sobre nossas cabeças. Por alguns minutos, percorremos os corredores de Hogwarts, seguindo o rastro de Regulus Black e Raphael Nott. Os rastros se dirigiam ao Corujal. E foi na porta dele que nós os surpreendemos.
- Ora, perdeu o sono, Reg? - Sirius exclamou, e por mais que a frase parecesse carinhosamente brincalhona, um brilho perverso se conservava nos olhos do meu melhor amigo.
- O que você faz aqui, seu idiota? - Regulus cuspiu, visivelmente surpreso. Nott se adiantou, já enfiando as mãos nas vestes, mas eu fui mais rápido, puxando a minha e apontando-a firme para ele.
- Fica na sua, Nott.
- O que você faz aqui é a pergunta, Regulus.
- Cuida da sua vida, imbecil. - Regulus pronunciou as palavras com uma raiva quase infantil.
- Com o que você está brincando, pivete? - Sirius pegou os braços dele com força. - Se eu souber de algo, eu te esfolo vivo! Você sabe que eu não estou brincando, Regulus! Eu estou te avisando pro seu bem!
- Quando é que você quis meu bem, irmãozinho? - Regulus disse num tom altamente sarcástico. Sirius apertou o braço dele com mais fúria.
- REGULUS! O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO AQUI?
Regulus olhou Sirius então de uma maneira que eu nunca havia presenciado. Era medo. Medo de uma autoridade. Medo de alguém a quem você obedece cegamente. Medo de seu irmão mais velho. Um sentimento que eu nunca pensei que brotaria em Regulus Black, que havia se acostumado a odiar e rejeitar seu irmão desde o berço. Ele desvencilhou-se da mão de Padfoot, puxando a manga de suas vestes para cima de seu braço e escondendo-o atrás das costas. Imaginei que Sirius tivesse realmente o machucado.
- Eu mandava uma carta para mamãe e papai. - ele disse, ligeiramente encolhido. - Eles têm medo de que as corujas sejam interceptadas, ou qualquer coisa assim, eu nunca entendi, por isso eu as envio apenas de madrugada. Eles querem saber de tudo o que eu faço em Hogwarts. Eu sempre mando essas cartas pra eles. Querem que eu observe você e tal.
Sirius o observou com desconfiança.
- Cartas para seus pais, é? E seus pais querem que você me observe? - Sirius claramente achava aquela desculpa ridícula.
- Você se sente muito bem não os chamando de seus, não? - Regulus sussurrou. - Como se fosse um orgulho eles terem te deserdado.
- E é, Regulus. - Sirius sorriu, um sorriso cheio de desprezo.
- Eles que fizeram a melhor coisa da vida deles rejeitando alguém como você, Sirius. - Regulus murmurou, parecendo mais encolhido que nunca naquela noite. - E da minha vida também. Eles esperavam tanto de você. O primogênito. O varão. O que honraria o grande nome da família Black. E você os decepcionou de uma maneira aterradora. Não me surpreendo por eles desejarem que você não tivesse nascido, Sirius. E é por isso que eu farei de tudo para honrar os princípios de minha família. Eu serei o filho que eles sempre quiseram ter, Sirius. Eu serei bem melhor do que você, muito mais poderoso e honrado do que você nunca será.
- Honrado? - Sirius soltou sua gargalhada característica. - Você me enoja, Regulus. Você não passa de um molequinho bobo e mimado que não entende nada. Mas você está certo num ponto, você é sim o filho que eles sempre quiseram ser, Reg. O ser inútil e manipulável que eles sempre quiseram que eu fosse. Volte pro seu dormitório agora.
- Você não manda em mim! - Regulus adiantou-se, fechando a mão com ódio.
- Volta pro dormitório agora, Regulus! - Sirius apontou a varinha pra ele, os olhos faiscando. - Você não terminou seu trabalhinho sujo? Dá o fora!
Regulus olhou de soslaio para o companheiro e os dois passaram por nós dois apressados, quase nos jogando no chão. Sirius respirou fundo, arqueando a coluna como se buscasse mais ar do que poderia aspirar.
- Eu achava...bem... está tarde, Prongs. Você tem que cuidar de criancinhas amanhã. Vamos dormir. - ele deu um sorriso muito mais tranqüilo e simpático.
- Você não tem que cuidar do Regulus, Padfoot. Ele já escolheu o lado dele. - eu comentei, baixinho.
Sirius roncou, irritado.
- Instinto, Prongs. Eu vi aquele bastardo nascer. Uma parte de mim esperava que ele tivesse algo de bom, sabe? Que ele tivesse puxado algo de mim. Bem, desculpe por ter arruinado seu sono, cara.
- Que isso, amigão. Estamos aí. Boa noite, Sirius. - eu acenei para um Sirius visivelmente cansado, instantes antes dele desaparecer pelo retrato da Mulher Gorda. Sirius está bem melhor sem aquela família nojenta, isso é certo, mas ele realmente não merecia tudo isso. E por mais que eu odiasse aquele pirralho que por ironia do destino acontecia de ser o irmão do me melhor amigo, eu não podia deixar de desejar que ele percebesse o que estava fazendo. Pelo Sirius.
N/A: Esse capítulo, provavelmente, vai ser um dos meus preferidos por muito tempo! Duas coisas que eu adoro abordar, logo de uma vez: James/Lily e a relação de Sirius com o melhor amigo e com o irmão. Eu adoro o Regulus. O menino devia ser um pé, obviamente, mas tem alguma coisa nele que me atrai. E só de pensar no instinto fraternal no Sirius, me dá uma dor no coração...
Bem, atualização! O capítulo, como prometido! Desculpem a demora, eu sou um monstro...mas eu estive enrolada aqui e bem, aqui está o capítulo, não precisam chamar os advogados nem nada. ) E eu estava tão ansiosa por postá-lo, queria saber o que vocês achavam! Porque eu num posso nem pensar em escrever alguma coisa mais fofa que fica imensamente meloso. Digam que isso não ficou meloso! De qualquer maneira, James apaixonado, Lily cedendo...uma fofura só! Apenas não sei se isso vai durar muito tempo, sabe... Sim, eu estou soltando risadinhas malignas agora.
Treze reviews! Gente, estou emocionada! Essa campanha realmente está surtindo efeito, hehe.
Kate Kiskin: Aqui está ele! Muito obrigada! Beijos!
tally: Certíssima! Mais momentos "love". Aliás, esse é O momento love da fic, pelo menos por alguns capítulos, hehe. E viva James/Lily, estava mais do que na hora! XD Beijinhos.
Luiza: Merlin, eles se entenderam! Fogos de artifício estão sendo soltos por aí! Beijos, garota.
Cláudia: Acho que a essa altura, você já deve ter visto a foto do James Potter, hehe. (Pra quem não viu, o Veritaserum e o Mugglenet conseguiram fotos, e o Potterish também deve ter). Eu achei ele tão bonitinho! Aposto que ele estará perfeito no filme... Você acha que eu devo postar a transformação? Nhaaaaa...eu a revisarei e postarei. Eeee, comente sempre!
Pikena: Misterioso que nem nos livros? Ooooh, não exagere, menina! Hehe. Mas obrigada...eu acho tão difícil escrever ele...sim, Anne vidente! Por incrível que pareça, isso estava planejado desde o começo da Prongs I, mas eu não conseguia encaixar a descoberta em algum lugar...hehe. E eu vou abusar dos previews agora! Beijos...
Zé Ub3r: Você olha no Orkut pelas atualizações, ah que maravilha! Eu sempre tenho a impressão que ninguém vai lá, mas...hahahaha. Espero que goste desse capítulo também! Beijos!
KeKa Black: Eu absolutamente adoro demonstrações de amizade. Eu acho tão lindo o laço que James, Sirius e Remus têm... isso que é amigo de verdade, não? ;D Obrigada por todos os comentários e pelos elogios! Eu tô surtando pra saber quem vai ser o Sirius... Esse olhar de cachorrinho perdido é altamente eficiente. Haha.
Taty Evans: Norinha! Primeiro, parabéns pelos sete meses! Eu me sinto tão orgulhosa de ter visto tudo nascer... muita sorte pra vocês! E eu não sou criativa...só uma criança com muita imaginação e muito tempo livre. XD Beijão, querida!
Liv: Livetaaaaaa! Trate de ler, senhora minha sobrinha, ou eu faço a Mya socar a Nat no RPG! (momento evil) Brincadeirinha, lógico, você sabe que eu sou uma pessoinha meiga, hehe. Obrigada por vir comentar, dona. Beijos!
Na próxima atualização: Casais pra todo lado, muitos doces para Peter, excursão de dia das Bruxas e o primeiro encontro de Lily e James, que certamente não vai ser o mais normal do mundo...tudo isso em "Halloween em Hogsmeade"! (Criativo o nome do capítulo, hehe)
Até mais!
