Capitulo 3: Lembranças de um passado
' Não se engane, este mundo é sombrio, tão sombrio quanto o futuro que te espera não há possibilidades nem esperanças, seu caminho será sempre escuro' Akito- Furuba 10
' Quero crer que não estou enganado. Quero crer que o mundo não é só aquele, um lugar escuro. Pode haver a chuva forte, mas o sol sempre voltará a brilhar. Não importa o quanto aquela dor me castigava, aquele carinho continuava a me acalentar, desde aquele dia' Yuki- Furuba 10
- Yuki-kun- começa Tohru se aproximando dele- como é para você estar mais uma vez morando na mesma casa que Akito? Sei que você não gosta dela.
- Hum, não é questão de gostar, é que é simplesmente difícil esquecer a minha infância, eu passei anos aprisionado naquela sede ouvindo Akito renegar o mundo, dizendo que o mundo era cruel, que não havia esperança para nós amaldiçoados, que meu futuro era negro, que eu jamais poderia viver uma vida normal. Eu quase consegui perder as esperanças como ele, quer dizer, ela, mas a imagem daquela garota que eu consegui ajudar, a sua imagem acalentavam o meu coração e me dava esperança para seguir em frente e acreditar que Akito estava errada, e ela estava, eu te reencontrei- se aproxima e acaricia o rosto dela- há algum tempo atrás eu podia dizer que Akito ainda me amedrontava, mas então, desde que eu estou com você, desde que eu abri o meu selo, ela não me amedronta mais. E agora que eu sei o segredo dela e voltei a conviver com ela, eu sinto pena dela, sei que ela sofreu desde cedo assim como eu, só que eu tinha uma esperança, que me fazia andar para frente, eu podia sair para ir á escola, ainda que me sentisse sozinho, eu pude fugir da sede e vir viver aqui, ela não. De todos nós ela parece ser a que mais sofre porque ela é tão prisioneira dessa maldição quanto nós, só que ela não passa de uma garota frágil e não tem coragem de jogar tudo para o alto e viver sua vida- diz com tristeza
- Mas acho que as coisas tendem a mudar, Yuki-kun, parece que ela resolveu viver um pouco sua vida, e decidir ficar aqui já foi um começo, além dela ter decidido ficar do lado da pessoa que ama, pois parece que ela e Shigure se amam
- Eu sabia que eles eram muito ligados desde criança e que ele ia muito visitar Akito, mas eu jamais poderia imaginar. Jamais desconfiei também que Akito fosse uma garota. Mas quem sabe encontrando o amor ela não se torna menos amarga e não implique tanto com os Juunish e seus relacionamentos, acho que todos nós temos o direito de tentarmos achar alguém que nos aceite dentro ou fora do clã- abraça Tohru
Tohru fica em silêncio pensando nas palavras dele.
Enquanto isso, no quarto Shigure acomoda Akito na cama e senta ao lado dela, meche suavemente nos cabelos dela.
- Gomen pela briga lá embaixo- começa ele.
- Shigure, eu estou com frio, me abrace- diz ela
Shigure se deita ao lado dela na cama e a abraça, percebe o corpo dela quente, abraça mais forte, percebe que ela transpira, coloca a mão no rosto dela e percebe que ela está com febre.
- Akky-san, você está com febre, vou chamar Hatori antes que você piore e ele me mate- se levanta da cama e já está na porta
- Não Gure-san, fique aqui comigo, estou com dor também
Volta a se deitar na cama preocupado e a abraça por traz- Akky-san, onde dói? Quer que eu busque algum remédio?
- Não, só estou com cólica, apenas me abrace- leva a mão dele até o ventre dela. Assim, com o calor do corpo dele, a dor diminui e ela consegue dormir.
No dia seguinte ela acorda se sentindo bem mais disposta. Mas com medo de que a saúde dela piore e que Hatori fique bravo com ele, decide deixá-la em casa. Ela continua silenciosa e triste, fala pouco mas observa tudo ao seu redor, não sabe como, nem porque mas tem alguma coisa no sorriso daquela garota que aquece seu coração e a acalma. Portanto ela passa a maior parte do tempo na companhia da Tohru e acaba por dormir no quarto dela a maioria das noites. Ela já não tem mais febre e sua saúde parece ir melhorando aos poucos.
Após cerca de 10 dias Hatori aparece para buscar Akito, já é de noite quando ele chega. Shigure está no seu escritório trabalhando em um livro. Yuki e Torhu estão na sala abraçados vendo televisão, Akito que dorme deitada no colo de Tohru enquanto a garota mexe nos seus cabelos, acorda assustada ao ouvir a campainha.
- Akito eu vim te buscar- diz ele- você precisa voltar para a sede, sabe que não pode se ausentar por muito tempo, sabe que precisa manter as coisas sobre controle- se ajoelha diante dela e leva ao mão ao seu rosto, percebe que ela não tem febre e que está com uma aparência bem melhor.
- Haa-san, vamos conversar - diz Shigure que estava parado na porta observando.
Os dois adentram o escritório do Shigure;
- Haa-san, deixe ela mais um tempo aqui, ficar aqui está fazendo bem para ela, ela nunca mais teve febre e a companhia de Tohru parece estar aos poucos abrindo o coração dela. Akito já não é mais a mesma, ela é aquela criança doce e meiga que vimos no sonho.
Hatori observa em silêncio, parece ponderar as palavras do Shigure- certo, mas um pequeno deslize seu e eu venho imediatamente buscar Akito. Ela fica mais uma semana aqui.
Enquanto isso na sala, vendo que Akito está sonolenta, Tohru resolve subir com ela para dormir também. Chegam no quarto e Akito vê um porta-retrato que nunca havia reparado antes, é a Tohru e uma moça de cabelos laranja.
- É sua mãe, não é? Você ainda sente falta dela?- pergunta
- Nani? Ah, sim é minha mãe. Eu ainda sinto falta dela, mas eu entendi que tenho que seguir adiante, minha mãe não gostaria de saber que eu deixei de fazer coisas por me apegar ao passado. Eu não me sinto mais tão sozinha , eu tenho vocês, eu tenho você- abraça Akito- e sua mãe?
Os olhos dela se enchem de lágrimas.
Tohru percebe que entrou num assunto delicado- gomen por ter perguntado
- Não, tudo bem, é que eu simplesmente nunca tive uma mãe igual a sua para poder abraçar, para poder conversar- diz com um olhar vago
- O que aconteceu com ela?
Akito começa a chorar- Aquela mulher, eu não sei se posso chamá-la de mãe, ela nunca foi como uma mãe para mim, sempre me dizendo coisas cruéis. Eu sempre vivi naquela sede abandonada, mais sobre os cuidados dos empregados. Meu pai era sempre gentil, estava sempre sorrindo, mas ele morreu quando eu ainda era criança me deixando sozinha. Aquela mulher sempre me tratava mal. Eu não agüento mais essa maldição, não agüento mais ficar naquela prisão que é a sede, todos querem fugir de mim e me odeiam, mas ninguém se importa com os meus sentimentos, eu também quero uma vida normal.
- Akky-san, não pense mais nas coisas do passado, não pense mais no que lhe traz tristeza e sofrimento. Você ainda pode mudar isso, pense no futuro, você está viva nesse exato momento e você pode mudar o seu futuro, você tem pessoas aqui que gostam de você: eu , o Shigure, o Yuki e o Hatori também. É só você deixar agente te ajudar.
Akito abraça Tohru, as duas ficam abraçadas por um bom tempo, pela primeira vez Akito estava realmente se abrindo para alguém. Tohru fica com ela até ela dormir, depois desce em silencio e pensativa para a sala. Shigure, Hatori e Yuki conversam na sala animadamente, mas logo param ao verem a cara triste da Tohru.
- Tohru, aconteceu alguma coisa? Akito está bem?-pergunta Shiugre
- Sim, ela esta dormindo. Hatori, Shigure, o que aconteceu entre Akito e a mãe dela?
Shigure e Hatori se entreolham assustados.
- Tohru, esqueça esse assunto que e melhor. Akito não gosta que se faça menção a esse assunto.., a não ser que... ela falou sobre isso com você ? – pergunta Hatori surpreso
- Sim
Os dois continuam olhando assustados e chegam a conclusão que se ela abriu um assunto tão delicado para Torhu, ela realmente está começando a se abrir
- O que ela te contou?- pergunta Shigure
- Quase nada, apenas se lamentou por não ter tido um amor de mãe
- Nós éramos muito pequenos para entendermos certas coisas – começa Hatori- existem coisas que não sabemos e tão pouco Akito. Só sabemos que o nascimento dela não foi desejado pela mãe, por motivos que ao certo não sabemos, talvez porque a mãe não queria dividir o amor do marido com ninguém. Akito já não era amada desde o ventre. Foi decisão da Ren criá-la como garoto e á Akito coube apenas aceitar. Ela alegou que Akito teria problemas em assumir o posto de patriarca e a herança do pai se ela fosse uma garota, mas o motivo real não era bem esse, Ren não queria uma outra mulher entre ela e o marido, ela não queria ter que dividir o amor do marido com uma outra mulher. Quando uma mãe tem um filho amaldiçoado ela reage de duas formas: ou ela o superprotege ou ela o rejeita, Akito enfrentou as duas situações. O pai dela a superprotegia, ela foi criada sem limites por ele, acreditando que era especial e podia fazer tudo o que quisesse, ele não fez por mal, creio que foi só uma tentativa de recompensar pela rejeição da mãe que, além disso, fazia questão de lembrá-la todos os dias que ela era amaldiçoada, que o futuro dela era sombrio e solitário porque cedo ou tarde todos a abandonariam e ela iria morrer sozinha. Com o tempo, essas palavras e a maldição iam deixando ela cada vez mais deprimida. Parte de sua personalidade e se seu comportamento são por causa da maneira que a mãe a trata ainda hoje. Outra parte é da maldição e das tradições da família. Akito é o 'deus' aquele que rege o espírito dos 12 e que domina sua almas. Isso faz parte da maldição, tem sido assim por centenas de anos na nossa família. Porém uma parte nossa queria acreditar que dessa vez seria diferente. Seria a primeira vez que Kami viria como uma garota, achamos que uma garota poderia amenizar um pouco os sofrimentos da maldição, mas o comportamento de Akito fugiu do nosso controle e nós não fizemos nada para ajudá-la, achamos que fugindo dela e tentando se libertar dessa prisão era a solução, mas nos esquecemos que ela sofre tanto quanto nós, ou até mais e que quer tanto se libertar como nós queremos. Estávamos tão preocupados apenas conosco mesmo todos esses anos que deixamos Akito para traz perdida e fazíamos vista grossa às suas maldades, que eram talvez uma forma de chamar atenção, de pedir ajuda. E então as coisas chegaram ao ponto em que estamos. Mas isso foi positivo até, Akito precisava ver o mundo desabando sobre ela para abrir os olhos e se permitir ser salva, acreditar que existe esperança, que o mundo aqui fora não é tão negro e solitário como ela pensa que é. E de alguma forma ela está se abrindo para esse mundo, graças á você, Tohru, parece que as coisas vão mudar. Akito é apenas uma garota frágil e covarde implorando para ser ajudada.
Quando Hatori termina de falar, Tohru com lágrimas nos olhos observa que todos ali presentes na sala, também choram. O silêncio domina o ambiente, todos parecem pensativos, absorvidos nas palavras dele.
