VIZINHOS
Faz tempo, mas eu me lembro... você brincava comigo
Mas hoje eu vejo que tanto tempo me deixou muito mais calmo
As primeiras lembranças que eu tenho da minha vida são minhas e de um garoto. Tínhamos a mesma idade. Nos odiávamos. Éramos líderes da turminha do bairro. Eu controlava as garotas e ele os garotos. Porém, a turminha das garotas, ou o clube da Luluzinha, não era nada convencional. Não podíamos ser mais molecas. Jogávamos futebol no meio da rua, fazíamos guerras de mamonas, pregávamos peças nas pessoas que passavam pelas ruas. É claro que os garotos também faziam isso.
Mas voltando às minhas primeiras lembranças. Nos odiávamos. Porém, nossas queridas mães não faziam ideia disso. Para elas, éramos santinhos. E nossas mães eram vizinhas e muito, muito amigas. Iam uma na casa da outra quatro vezes pôr semana e nos levavam juntos. Pôr algumas insuportáveis horas, éramos obrigados a nos suportar sem pregarmos peças ou tentar sufocar o outro.
Passamos toda a nossa infância assim.
Quando eu tinha sete anos, a mesma idade que ele, nossas mães insistiram em fazer a mesma festa de aniversário. Comemorar juntos nossos aniversários de oito anos era uma tortura!
Naquela noite, tivemos uma conversa séria. A única que teríamos em quinze anos de exitência.
- Estamos ferrados.- eu disse, desesperada. E era humilhante Ter que admitir aquilo para ele.
- Não podemos deixar isso acontecer.
- Fale com sua mãe.
- Fale você com a sua!!!
- Ei, estamos com um problema. Não vamos brigar!
- Então o que fazemos?
- Reunir os clubes do bolinha e da luluzinha não vai dar certo.
- Eu não vou propor uma trégua.
- Nem eu.
- Então vamos fingir durante nossos aniversários?
- Faz de conta que aquela festa será um teste- eu disse, sorrindo e triunfante- Veremos quem vai ganhar essa batalha. Temos que liquidar um com o outro mas sem nossas mães descobrirem.
- Ótimo!!!- disse ele, sorrindo também.
Apertamos nossas mãos e logo depois as soltamos. Viramos as costas um para o outro e fomos cada uma para sua casa. Eu estava pensando em como destruí-lo e isso me deixava feliz.
Naquela época, estudávamos na mesma escola onde cursávamos a Segunda série. Embora nos odiássemos, tínhamos uma grande coisa em comum: a capacidade de ir muito bem no colégio sem fazer o mínimo esforço. E tirávamos o maior proveito disso.
Fazíamos parte da turma do fundão. De um lado, eu e minhas sete seguidoras, e do outro lado, ele e seus sete seguidores. Passávamos a aula toda atirando-nos bolinhas de papel e provocando-nos.
Nosso aniversário foi um desastre total.
A batalha começou quando eu, numa brincadeira inocente, empurrei a cara dele sobre o lindo bolo de chocolate feito pôr uma confeitaria ali perto. depois, continuou quando ele grudou um grande chiclé em meus cabelos. Depois, eu derrubei "sem querer" três grandes presentes dele dentro de uma piscina, e ele revidou derrubando coca - cola em meu vestido. A batalha continuou até que, num ato desesperado, começamos a fazer uma guerra furiosa com brigadeiros, que culminou com nossas mãos puxando-nos pelas orelhas.
Nos olhamos e nos mostramos as línguas. Eu ri da cara dele e ele riu da minha. Aquela tarde havia sido incrível, não havia como negar. Eu tinha oito anos, era criança, era feliz.
Quando eu completei dez anos, ainda estava naquela guerra incansável com meu vizinho. É claro que havíamos crescido. Ele estava agora dois palmos mais alto que eu, e isso implicava em apelidos irônicos de pau de sebo para ele e anã de jardim para mim.
Quando o último dia de aula da Quarta série acabou, ele precipitou-se para fora da sala. Abriu a porta e um grande balde de tinta saiu sobre ele, manchando-o. Nossa, aquela foi inesquecível. Mas eu estava comemorando, tinha meus motivos.
Ele tocou seus livros no chão e foi até mim. Ergueu um dedo e fez um pingo azul visível em meu nariz. Eu mostrei a língua e ele disse:
- Obrigado pela despedida, Gnomo de jardim!!!
- Às ordens, eucalipto!
- Sabe...- ele começou a andar e eu estava andando do lado dele.- Acho que isso foi um golpe sujo.
- É o último dia de aula, palmeira, não sabia que você saíria primeiro.
- Então você apenas apostou na sorte?
- Acho que sim.
- Legal...
Ele despediu-se de Sirius com um aceno. Entrou no carro da mãe e voltou para casa. Desde o meu aniversário de oito anos minha mãe tinha receio de minha relação com ele.
- O que vocês estavam conversando?
- Comemorando o fim das aulas.
- E porque ele estava todo azul?
- Fizemos um trabalho com tinta.- disse ela- E ele derramou-se todo.
A mãe me olhou desconfiada mas não fez mais perguntas. Assim que paramos diante de casa, saltei do carro. Abri o portão e imediatamente um grande balde de tinta caiu sobre mim. Olhei para o lado e vi meu querido inimigo sorrindo de uma janela. Ele acenou e eu acenei de volta. Ele era insuportável!!!
Entrei em casa furiosa e bati a porta com força. Ainda pude ouvir a voz de minha mãe:
- E o trabalho com tintas?
Eu entrei correndo no banheiro e tranquei a porta. O maldito pau de sebo ainda iria me pagar!!!
Naquela tarde, fizemos uma acirrada disputa com carrinho de mão e depois fomos jogar futebol no campinho. Era sempre assim. Voltei para casa com mais um rombo no joelho, mas não me importava. Estava subindo para meu quarto quando minha mãe me chamou.
- Alanis?
- Que foi, mãe?
- Aqui, ó, sua carta!
Eu segurei aquela carta, tão esperada. O momento em que eu me livraria daquela girafa pensante!!! Sim, porque eu sabia, é óbvio, do mundo dos bruxos. Minha mãe era um aborto e meu pai um fissurado pôr trouxas. Mas eu nasci bruxa e fui chamada para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Aquilo significava muita coisa. liberdade, magia, azarações, peças mais engraçadas e completas e, o essencial, distância daquele eucalipto. Eu sorri sozinha e abracei meus pais. Estava tão feliz!!!
Nos dias seguintes, nem dormi de tão nervosa que eu estava. Fomos num Sábado ao Beco Diagonal e compramos meu material escolar e aquela abençoada varinha!!!
Na véspera do dia primeiro de setembro, depois de mais algumas horas de um futebol cruel, estávamos voltando para casa quando disse:
- Você vai se livrar de mim, eucalipto!!!
- Sério??? você tem alguma doença em estado terminal?
- Infelizmente não vou te dar esse prazer, girafa pensante. Vou estudar em outra escola bem longe daqui!!!
- Vai nos deixar em paz, então?- disse ele, feliz- Que pena, mas eu também já tinha resolvido me livrar de ti. Também estou indo para uma nova escola...
Eu olhei-o e disse:
- Eu fui a primeira que disse, não retruque. Vou indo. Tenho que arrumar minhas coisas. E aproveite bem minha falta, palmeira!!!
- É claro, anã de jardim!!!
Nós trocamos olhares fumegantes de raiva e entramos em nossas respectivas casas. Eu tomei um banho e arrumei meu malão. Jantei com meus pais e fui para a cama. no dia seguinte, minha vida mudaria.
Porém, dentro de mim alguma coisa me dizia que eu sentiria muita, muita falta de meu vizinho. Aquele insuportável Sirius Black.
Uau... ânimos pegam fogoo que será que vai acontecer com ela e seu vizinho Sirius Black (ai, eu amo ele gentiiiiiii!!!!!!!!)
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