Título: Darkness Fall
Ficwriter: Kaline Bogard
Classificação: yaoi, AU, dark, sobrenatural
Pares: AyaxYohji
Resumo: Nunca Aya, Ken e Omi estiveram tão perto de vingar Yohji. Porém essa jornada parece cobrar um preço alto demais. Suas próprias vidas...


Darkness Fall
Kaline Bogard

Capítulo 01

França – alguns meses antes

Omi suspirou profundamente, enquanto afofava a terra do vaso, tentando manter o caule da plantinha fixo no lugar. Era um fim de tarde tedioso e cansativo. Poucas pessoas haviam ido a Koneko, poupando trabalho a Ken e Omi.

Por sua vez o moreninho observou seu companheiro longamente. Omi estava deprimido a muito tempo, e não conseguia esconder isso.

O Weiss caçula fora o mais afetado pela perda inesperada de Yohji. Ainda não se perdoava, e se julgava responsável pelo loiro ter dado a vida para salvar os amigos.

(Ken) Omi...

(Omi sorrindo) Está tudo bem, Ken...

Mas não estava, e o caçador moreno sabia muito bem disso. Ambos haviam sido marcados profundamente mais uma vez pelos malditos vampiros. Foi nesse momento que Ken lembrou-se de Aya.

O líder da Weiss permanecia adormecido, repousando durante o dia, para despertar noite após noite, e sair sempre em busca de pistas, de alguma indicação de onde poderia ser a nova Grande Casa da Europa.

Ken sabia que Aya também se culpava muito, até mesmo mais que Omi. O espadachim ruivo passava as noites em que não tinham missão ou que chegava mais cedo, sempre a andar de um lado para o outro em seu quarto.

Às vezes Ken despertava com o som dos passos inquietos de Aya que parecia buscar algum tipo de alívio, ou talvez tentasse simplesmente esquecer.

Mas era impossível. Yohji marcara não apenas os três Weiss, mas a casa em si casa, a própria Koneko no Sumu Ie. Tudo estava impregnado com a presença dele, seu cheiro e lembranças.

A casa nunca fora tão solitária. Ken não se recordava de ter sentido tanta falta de alguém. Se soubesse que a ausência do loiro mais velho seria tão dolorosa, teria cuidado melhor dele.

E esse tipo de pensamento protetor refletia nas atitudes de Omi, pois o loirinho se tornara preocupado e super-protetor com Ken, e mesmo com Aya, apesar do líder da Weiss ser um vampiro de segunda geração, e quase imortal.

Indiferente a isso, Omi sempre tentava ter o cuidado de vigiar seus amigos em todas as missões, tinha recomendações a fazer, parecia manter um olho nas tarefas e o outro nos companheiros.

E acima de tudo, sustentava nas lindas íris azuis, o medo de perder alguém querido outra vez.

(Omi suspirando) As flores são tão frágeis, não é? Sem elas o mundo ficaria feio... mas mesmo sendo tão importantes... não podemos prolongar-lhes a vida...

(Ken triste) Podemos cuidar delas, até que todos os botões desabrochem e...

Calou-se não querendo completar a frase. Mas o loirinho fez isso por ele.

(Omi)... e murchem...

(Ken) Omi, você precisa se libertar dessas lembranças.

(Omi) Não posso, Ken. Não posso! Eu... gosto de você como se fosse minha família. E gostava de... Yohji... também! Me preocupo tanto... sinto muito por isso...

Ken sorriu e parou de varrer, encostando a vassoura em uma parede.

(Ken) Eu também me preocupo, Omi. E gosto de saber que me considera sua família, porque eu também lhe considero como um irmão.

Erguendo a cabeça, Omi fixou os grandes olhos azuis na face trigueira do Weiss mais velho. Ia comentar algo quando a porta se abriu e uma garota entrou.

Era alta, magra, tinha olhos cinzentos e cabelos claros, que caiam em ondas largas por suas costas. Vestia um traje simples de aldeã, em cor rosa.

(Omi sorrindo) Bem vinda, senhorita Litha (1).

(Litha sorrindo) Obrigada.

(Omi) Em que podemos ajudar?

(Litha) Oh! As rosas para o altar do padre acabaram! Preciso de uma dúzia para a missa das seis.

(Omi) Eu cuido disso!

(Litha) Sabia que podia contar com vocês. Obrigada.

Ken suspirou ao ver a cena, logo pegou a vassoura novamente e continuou a varrer a floricultura. Terminaria aquela conversa com Omi em outra oportunidade. Realmente lhe doía, ver alguém tão querido preso de uma profunda angústia.

Principalmente quando tal angústia era a mesma que lhe triturava o coração...

oOo

Aya observou o espelho a sua frente. Não havia reflexo... mas não se surpreendia: aquele era um carma que carregava desde que recebera o abraço das trevas e caíra naquela profunda escuridão. Nunca mais poderia observar a própria face. Nunca mais poderia olhar-se nos olhos e avaliar-se.

Mas esse era o menor de todos os castigos. Sim, agora era até um consolo não poder se ver e precisar encarar toda a culpa que carregava no peito e se refletia nas íris ametista.

Ainda se condenava por não ter sido forte o bastante, por não ter se esforçado mais... um pouco mais! E assim, salvado o homem que amava, a quem resolvera entregar o coração.

Depois de centenas de anos, quando se acostumara com a idéia de enfrentar uma eternidade de solidão, Yohji cruzara seu caminho... porém o jovem humano fora apenas uma pétala aveludada que, trazida pelo vento, tocara a face do antigo líder dos vampiros.

Não. Yohji Kudou fora mais do que isso. Muito mais! Ele fora como uma orquídea, que hipnotizara o ruivo, resplandecente em sua beleza exótica e rara, e deixara uma marca definitiva na alma do líder da Weiss.

Alma que Aya vendera a séculos atrás, e que começara a recuperar no momento em que conhecera o humano loiro, a mais de um ano atrás.

(Aya) Maldição.

Um ano... pros humanos era um período de tempo considerável, para se sofrer a perda de alguém, porém para um vampiro, era quase como um dia, um momento...

Mas ampliado pela dor, um ano poderia parecer uma eternidade. Aya teria que se conformar, outra vez, em seguir sozinho!

Suspirando, o espadachim desviou os olhos para a janela. Pôde ver pelo vidro transparente que a noite já caía.

Os Weiss humanos tinham o cuidado de vedar bem todas as janelas, com receio de que a luz do sol alcançasse o ruivo de maneira fatal, porém aquele dia Aya queria muito apreciar o pôr-do-sol.

Mesmo que fosse apenas uma leve visão do desfecho de tal espetáculo, um vislumbre dos últimos raios desaparecendo por trás do horizonte, num suave consolo do que deixara para trás.

Deixar pra trás...

Irado, Aya começou a caminhar na direção da porta. Sairia agora mesmo em busca de pistas, de dicas que lhe revelassem a localização da nova Grande Casa da Europa. Precisava encontrar Lilik e dar-lhe o troco por arrancar de si quem tanto amava.

Aya estava cansado de deixar as coisas que amava para trás. Não abandonaria Yohji, mesmo que para isso tivesse de viver apenas de lembranças! E no momento ele não queria saber se simples recordações seriam suficientes para manter uma eternidade de solidão.

Era melhor não pensar nisso... ainda.

Sua preocupação maior era outra... a cada dia que passava, a cada mês, estavam dando a oportunidade para os inimigos se organizarem.

Aya temia que as lideres das Grandes Casas estivessem planejando um contra-ataque, tamanha era a falta de iniciativa de tais seres das trevas.

Um ano era tempo suficiente para que as mestras da América e do Oriente deixassem em ordem suas coisas e viessem para a Europa para... despertar Evil.

(Aya) Maldição!

O ruivo tinha que evitar tal tragédia a qualquer custo!

oOo

Um sinistro nevoeiro encobria todo o cais.

Normalmente isso não acontecia, e os marujos se mostravam intranqüilos e cautelosos, sentindo no sangue acostumado a aventuras, que algo sobrenatural pairava no ar.

Foi então que uma figura escondida por uma capa negra cortou o nevoeiro, parando no meio do porto, observando tudo com profundos olhos castanhos.

Logo atrás dela vinha um homem alto, vestindo um finíssimo terno negro, de cabelos curtos e óculos de armação de ouro.

(Brad) Paris. Não mudou nada...

A figura de casaco ergueu as mãos e retirou o capuz da cabeça, revelando as feições orientais.

(Lady) As coisas não mudam assim, caro Crawford.

O americano ia responder quando uma debochada gargalhada cortou o ar, fazendo alguns marujos se afastarem dali rapidinho, sentindo arrepios em suas costas.

Lady Bogard e Brad Crawford se entreolharam.

(Lady) Porra.

(Suryia sorrindo) Vejo que sentiram saudades de mim, crianças...

A loira americana vinha acompanhada por um jovem japonês, de cabelos curtos e escuros, e olhos grandes e indiferentes, que não se fixavam em nada e em ninguém, permanecendo fixos no chão.

(Lady) Pensei que conseguiria ficar mais tempo sem ter o desprazer de falar com você...

(Suryia) He, he, he... sua simpatia não me interessa em nada. E tudo que lhe irrita me agrada ao extremo.

A japonesa olhou Suryia de alto a baixo, visivelmente desaprovando o vestido azul muito decotado e com várias camadas de babado. Era realmente indiscreta! Brad e Nagi apenas acompanhavam as rivalidades em silêncio. Elas que eram mestras que se entendessem!

Não era nenhum segredo que na sociedade das trevas havia inimigos e rivais, mas com certeza ninguém se odiava mais e tão explicitamente quanto Lady Bogard e Suryia. Os motivos de tanto ódio apenas os antigos conheciam, e nos dias atuais isso se resumia a: Evil e Akemi.

E nenhuma das mestras parecia ter interesse em diminuir o rancor.

(Lady) Suryia, não precisa ser tão infantil, menina. Todos os séculos que já viveu deveriam ter lhe dado alguma maturidade, não é?

(Suryia) Tempo não influencia, Lady. Ou você não seria um poço de lixo, porque maturidade que é bom mesmo eu não estou vendo. A não ser que tenha deixado sua... "classe" no Japão.

(Lady) Ah, vai descer o nível? Ótimo, é bem típico de seu sanguezinho americano. Tsc, sempre me deprime ver o quão baixo nós descemos... abraçar essa ralé...

(Suryia irritada) Japa de merda. Vou lhe mostrar quem é ralé aqui!

Felizmente um som de carruagens quebrou a noite, interrompendo o que parecia que seria uma luta. Para Crawford foi mais que oportuno, pois sua mestra não podia lutar, devido a um juramento feito a mais de quatrocentos anos atrás, logo, ele que teria de enfrentar a americana.

E lutar com alguém tão forte não estava em seus planos... não ainda...

Assim que os veículos pararam, Lilik saltou de um deles, aproximando-se das visitas.

Lady Bogard e Suryia encararam a recém chegada como se fossem estrangulá-la naquele exato momento.

(Suryia) Ah, aí está o asno que planejou tudo isso.

(Lilik)...

(Suryia) Graças a você teremos que caçar o outro asno! Dois jumentos juntos! Eu deveria deixar Evil beber o seu sangue, francesinha idiota!

(Lilik suspirando) Sou inglesa...

(Suryia irritada) É tudo a mesma merda européia! Vamos embora logo, quanto antes despertarmos Evil, melhor.

(Lady) Bravo, devemos aplaudir sua grosseria americana agora, ou o show ainda continua?

A loira sorriu, mostrando as presas e deu de ombros.

(Suryia) Aplauda quando achar que o fim chegou. O seu fim...

E sem perder mais tempo rumou para a primeira carruagem, sendo seguida de perto por Nagi. Imediatamente alguns vampiros de décima geração correram até o local onde Suryia deixara sua vasta bagagem e levaram tudo para a carruagem.

Lady Bogard e Lilik se encararam.

(Lady) Aa. Olá, criança. Gostaria de dizer que é um prazer revê-la, mas as circunstancias impedem.

(Lilik)...

(Lady) Veja só: além de ter que despertar Evil antes do tempo e perdermos Ran para um bando de humanos, ainda tenho que agüentar essa americana sem cultura alguma, infernos...

(Lilik) Podemos acertar meu castigo depois, Lady. Evil vai querer o meu sangue.

Lady Bogard fixou os olhos castanhos no céu, admirando a bela lua cheia.

(Lady) E não é só Evil. Veja, a lua clama a vingança de Nêmeses...

Com tais palavras misteriosas a japonesa entrou na outra carruagem, junto com Crawford.

Os lacaios subiram a bagagem de ambos, e logo os dois veículos partiam rumo a Grande Casa da Europa.

Lilik apenas observou enquanto os recém chegados se afastavam. Ainda não voltaria para casa, tinha uma fome lhe corroendo as entranhas, e a necessidade por sangue era quase uma agonia.

Descarregaria sua frustração nas vítimas humanas.

Mas logo rumaria para casa. Em pouco tempo aconteceria uma tenebrosa reunião, e ela não queria perder de jeito nenhum! Era algo que não via a séculos... quatrocentos anos para ser exata.

Seria uma reunião de monstros...

oOo

Aya observou os outros Weiss com os olhos ametista brilhando. Omi e Ken estavam cada vez mais fortes, mais capacitados para executar as missões.

Ambos podiam, sozinhos, vencer vampiros de sétima geração sem qualquer problema ou dificuldade.

E era o que havia acontecido: a missão daquela noite se resumia a eliminar um quarteto de amaldiçoados que aprontava na capital francesa, achando-se forte o bastante para agir quase as claras.

Atuando sob ordens de um contratado importante, a Kritiker fora requisitada.

Aya, Omi e Ken aceitaram aquela missão, cheios de esperança de arrancar alguma pista da Grande casa da Europa, mas fora em vão.

(Omi) Vamos voltar?

(Ken) É o jeito. Esses caras não sabiam de nada!

Torceu os lábios enquanto via as cinzas dos vampiros se dissiparem na densa neblina da madrugada parisiense.

A troca de palavras despertou Aya. O líder da Weiss não podia evitar se sentir um tanto estranho. Tinha algo incomodando sua mente, seu sangue... claro que não acreditava ser algo importante, afinal, os inimigos não seriam loucos de dar as caras em Paris...

Eles deviam estar escondidos mais ao norte, onde o clima era ainda mais frio. Mas o espadachim não podia dizer com certeza.

E seria inútil agir às cegas. Precisaria de uma pista mais concreta. Não arriscaria a segurança de sua equipe a menos que estivesse muito certo do que fazer.

(Omi) Essa lua cheia está realmente muito bonita.

(Ken) Está meio avermelhada. Os pagãos acreditavam que quando isso acontecia, era por causa de Nêmeses.

(Omi) Vingança...?

Ken deu de ombros. Entendia um pouco de paganismo, mas não tanto assim.

(Aya) Vamos embora.

E o ruivo deu meia volta, saindo do beco escuro onde haviam agido. Sabia o quanto seus companheiros estavam sedentos de vingança, e não queria alimentar falsas esperanças.

Apesar disso não conseguiu evitar de dar uma olhada na bela lua cheia. A mesma se mostrava redonda e avermelhada, parecendo muito perto da Terra. Era bela e hipnótica, e de certo modo estranho, parecia cheia de vida ao mesmo tempo em que dava a idéia de estar banhada em sangue...

oOo

No outro dia, Omi e Ken se levantaram cedo, como era de rotina. Enquanto o loirinho preparava o café, o moreno ia a floricultura começar a arrumar as coisas no lado de dentro.

Apenas os dois trabalhavam na Koneko durante o dia, e apesar disso a Kritiker ainda não mencionara se mandariam outro integrante em breve ou não. Por isso o lugar de Yohji permanecia vago.

Ken sempre dizia que não era tão fácil assim, encontrar bons caçadores de vampiros. Teriam trabalho para treinar e preparar outro. Enquanto isso, a Weiss teria que se virar.

Logo Omi também se juntou a Ken, levando-lhe café e um bom pedaço de bolo. Ambos preferiam comer na loja, antes de abri-la, a ficar sozinhos naquela cozinha. A mesma fora palco de tantos momentos descontraídos entre eles e Yohji. Haviam inúmeras lembranças, e eles realmente não queriam partilhar daquilo.

(Ken suspirando) Mais um dia...

(Omi) Não se desanime.

(Ken sorrindo) O mesmo pra você!

Omi sorriu também, retribuindo a atenção recebida.

Foi então que o primeiro cliente do dia entrou. Ou melhor, a primeira cliente. E a garota trazia uma cestinha nas mãos.

(Litha) Bom dia, Omi! Bom dia, Ken!

(Ken) Bom dia!

(Omi) Senhorita Litha! O que achou das rosas de ontem?

(Litha sorrindo) Lindas. Ficaram maravilhosas no altar.

(Omi) Precisa de mais?

(Litha) Oh, não! Vim apenas agradecê-los! Fizeram um arranjo tão bonito, que agradou ao fieis! As vezes acho que eles vão à missa apenas para ver as flores que compramos aqui.

E deu uma risadinha cúmplice, escondendo a face com uma das mãos.

Ken e Omi também sorriram, felizes por poder descontrair um pouco.

(Ken) Não precisa agradecer. Esse é o nosso trabalho.

Litha voltou os olhos cinzentos para o moreninho, fitando-o com um traço de carinho.

(Litha) Vocês se dedicam ao que fazem. Não são como os outros, que pensam apenas no dinheiro. Vocês fazem algo importante, garotos. E para agradecer, eu lhes trouxe isso...

Adiantou-se até o balcão e colocou a cestinha em cima do tampo de madeira. Depois a descobriu, revelando que estava cheia de pequenos croassants. A guloseima tinha uma aparência ótima, e cheirava muito bem.

Imediatamente a boca de Ken encheu-se de água, e ele passou a língua sobre os lábios generosos.

(Ken sorrindo) Isso parece bom!

(Omi) Ken!

(Litha) Fui eu que fiz. São todos de queijo! Espero que gostem.

(Omi) Obrigado! Mas... não precisava.

(Litha) Hora de ir. Tenho que lavar algumas das toalhas do altar. E comprar vinho para o padre! Adeus!

Os Weiss balançaram a cabeça em despedida. Assim que a garota saiu da floricultura, Ken atacou os pães, jogando um inteiro na boca.

(Ken) Hummm! Ta muito bom!

(Omi sorrindo) Ken, você não muda!

(Ken) Você não quer? Acho que o Aya não vai comer... a gente podia rachar a parte dele...

Omi não respondeu. Apenas pegou um croassant e deu uma mordida, saboreando o delicioso pão.

(Omi) Realmente... está gostoso. Vou pedir a receita qualquer dia desses.

Ken estendeu o braço e depositou a mão sobre o cabelo de Omi, fazendo um suave cafuné.

(Ken) Tenho certeza de que você vai saber fazer. Você também cozinha muito bem.

Pela primeira vez, em mais de um ano, sentiam-se verdadeiramente relaxados...

oOo

Brad entrou na sala, fez uma pequena reverência. Lady Bogard e Suryia que estavam na sala olharam para o recém chegado, sabendo imediatamente o que ele fazia ali.

A loira nem esperou que Brad falasse nada.

(Suryia) Já está tudo pronto?

(Brad) Hn. Lilik aguarda na sala do despertar.

(Suryia) Pelo menos pra isso Lilik serve. Pra despertar a mestra dela, arruma tudo em questão de horas... será medo de uma punição?

(Lady) Nem todos temem represálias, Suryia...

A americana olhou de lado para a outra e deu de ombros.

(Suryia) Trata-se de uma opinião que não preciso ouvir. Estou pronta para essa baboseira toda. Ordenei que Nagi saísse à caça de belos garotos para que eu possa me alimentar depois do despertar.

(Lady) Seu apetite pedófilo não mudou nada.

(Suryia) Hum? Vai dizer que não gosta de garotinhos angelicais?

(Lady) Prefiro homens. Não crianças.

(Suryia) Imbecil pretensiosa. Por isso ta enterrada no Japão.

Brad fez um esforço para não suspirar. Aquelas ceninhas eram sempre cansativas. Custava a crer que sua mestra podia se segurar tanto em revidar de forma física.

Se não tivesse feito aquela promessa a quatrocentos anos atrás, com certeza as duas vampiras já teriam saído no braço a muito tempo. E Brad sempre se perguntava qual delas poderia sair vitoriosa.

Incomodada com a petulância da loira americana, Lady Bogard avançou, desistindo de discutir com ela. Tinha outras coisas mais urgentes a fazer no momento.

Brad deu uma última olhada para Suryia, e acabou seguindo sua mestra.

(Suryia suspirando) Pedantes. Espero acabar logo com isso.

Sem alternativa, avançou até alcançá-los.

Os três foram a tal sala do despertar. O local tratava-se de um amplo e espaçoso aposento, onde havia apenas duas espécies de sarcófago. Ambos estavam abertos.

(Lilik) Tenham a bondade de...

(Suryia irritada) Eu sei o que fazer, criatura.

(Lilik) Sinto... muito...

(Suryia) Af. Eu mereço tanta incompetência! Você acha mesmo que desconheço os procedimentos de um despertar? Eu já fazia isso muito antes de você ser abraçada, asno francês!

(Lilik suspirando) Sou inglesa...

(Suryia) Francesa, inglesa... não vejo porra de diferença nenhuma.

E muito irritada Suryia dirigiu-se para o sarcófago que fora pintado em tom dourado.

Fechando os olhos, a japonesa balançou a cabeça. Aquela americana era incrivelmente inconveniente! Quase tinha pena de Lilik... teria, se ela não fosse em grande parte responsável pela situação.

Respirando fundo, a vampira de cabelos trançados seguiu para o segundo sarcófago, o prateado.

Suryia e Lady Bogard cruzaram os braços a frente do corpo e fecharam os olhos, tentando relaxar.

Automaticamente a porta de ambos se fechou, deixando as mestras presas dentro deles.

Ao soar o clique característico de porta sendo trancada, vários mecanismos se colocaram em funcionamento. As vampiras de segunda geração sentiram quando grossas agulhas penetraram na carne morta de seus pescoços, de maneira dolorida, mas não mortal. E o sangue gotejou.

Daquele momento em diante só precisariam esperar, enquanto sentiam o sangue sair de seus corpos, e através daquelas agulhas, ir direto para o sarcófago secreto, escondido numa câmara embaixo da sala do despertar.

O líquido denso seria injetado diretamente no corpo de Evil, que permanecera descansando todos aqueles anos, sem receber nenhum tipo de alimento. O processo seria lento e perigoso para as três.

Por isso contavam com a presença de Lilik e Brad, que lhes daria proteção.

O sangue não podia ser coletado de maneira rápida, já que assim poderia enfraquecer Suryia e Lady Bogard perigosamente, e se Evil recebesse a injeção sangüínea muito veloz, seu corpo desfalecido podia sofrer um choque derradeiro.

Tal transfusão das trevas precisava ser manejada com cuidado e precaução totais. Por outro lado, era um ato que implicava em intimidade sem igual, pois enquanto estivessem ligadas pelo sangue, dividiriam os mesmos pensamentos, de modo que não haviam segredos.

(Lilik pensativa) Apesar de tudo, não posso negar que isso me fascina. E ao mesmo tempo... é... infernos...

Abriu e fechou as mãos, como se sentisse cãibras. Crawford entendia o que ela queria dizer. O sangue de vampiros muito fortes estavam reagindo positivamente ao despertar de Evil, que tivera inicio naquele instante.

(Brad pensativo) Quase incontrolável. O sangue delas interferindo em nossos corpos...

(Lilik) Me alimentei de cinco pessoas, mas mesmo assim sinto como se não comesse a dias! Isso é o despertar de um mestre, que instiga nossos instintos mais negros, e os amplia, de maneira que mal podemos nos conter? A sede que Evil sente se reflete em nós... por isso é necessário a presença de outros dois mestres...

Brad olhou para ela, depois voltou a olhar novamente os sarcófagos. Era realmente intrigante, um verdadeiro segredo maldito.

Metade do sangue americano, metade do sangue japonês se juntariam para despertar a mestra européia... aquela que tinha a fama de ser a mais fria dentre todos os vampiros...

oOo

Aya abotoou seu casaco escuro. Sentia-se mais desanimado do que nunca. Tantas pistas falsas! Tantos desacertos eram realmente um problema que tiravam a esperança de qualquer um.

Por outro lado, notava nitidamente que Ken e Omi estavam mais animados. Não sabia o que acontecera, pois não queria ler a mente deles, mas isso de certo modo, o aliviava.

Era uma preocupação a menos.

Quando Aya ia sair do quarto, sentiu uma tontura forte, e caiu de joelhos no chão. A 'fome' o atingiu com força total, e ele teve que fazer um esforço titânico para não voar em direção ao cheiro forte de sangue que sentia, e sabia ser dos Weiss humanos.

(Aya) Mal... dição!

O ruivo se controlava a mais de um ano, evitando matar qualquer tipo de pessoas, e obrigando-se a beber da vitae apenas o suficiente para não morrer de fome... e agora seu instinto maldito vinha cobrar o preço pelo jejum espontâneo.

Abraçou-se forte e desesperadamente, recorrendo a toda sua força de vontade e auto controle para manter-se de joelhos no chão. Se não resistisse, seria uma tragédia!

Corria o risco de atacar aqueles a quem jurara proteger! E nem seria tão difícil assim, não estando naquele estado quase incontrolável. O aroma adocicado dos sangues jovens de Ken e Omi chegavam a Aya, confundindo sua mente e instigando os instintos predatórios...

Quase se rendendo, Aya levou as mãos a cabeça e enterrou os dedos nos fios ruivos e macio. Tinha que ser forte. Precisava agüentar de qualquer modo!

(Aya) Ela...

Aquilo significava apenas uma coisa: um vampiro muito forte estava despertando. Alguém que ficara séculos sem se alimentar, e agora o corpo poderoso recebia o alimento, e atiçado pelo gosto do sangue, reagia com outros vampiros de igual poder, independente da distância.

Havia entre os seres das trevas um laço profundo e inexplicável, que os mantinha conectados, nas horas de tamanha importância.

Ora, quando o inimigo despertasse por completo, aquela sensação sumiria, pois a fome esmagadora seria saciada...

No entanto não era o que realmente preocupava.

E sim a pior de todas as suposições: Aya sabia que estava assim devido a um despertar das trevas. E quem era forte o bastante para causar tamanha interferência?

(Aya) Evil... está despertan...do... argh!

Um despertar maldito fora iniciado.

Escuridão infindável ameaçava a cair sobre eles...

Trazendo consigo a fúria amarga de vampiros que não perdoariam a traição de Aya... e tentariam de todo jeito castigá-lo por tão profunda ofensa... da mesma forma que o ruivo tentava se vingar deles, pelo que fizeram ao homem que amava...

Seria o começo de uma guerra sem precedentes.

Continua...


(1) Ohhhhhhhhhhhhhhhhhh... o sabor da vingança... simples humana, huahuahua e... aldeã... huahuahua!! Ò.ó9 Espero que goste, florzinha! XD

EI! O.O É taum estranho escrever sem o Yoh Yoh!! ¬¬ maldição!