Capítulo – IX
Depois de uma noite mal-dormida, Gina acordou tarde, com dor de cabeça. Ainda bem que não precisava abrir a loja. Fred tinha a chave. Podia se atrasar.
E seu humor não melhorou nem um pouco quando, ao descer, encontrou Draco lá embaixo, guardando alguns documentos. Era o próprio rico empresário. E como sempre, vestindo um terno escuro. Exalando poder por todos os poros.
- Você ainda está por aqui? - perguntou. - Pensei que tivesse que sair cedo. Pegou a bolsa sobre a mesa, pendurou a alça no ombro. Aquela situação estava deixando-a louca. Não podia mais suportar.
Num rompante, com as mãos nos quadris, Gina declarou:
- A partir de agora, este casamento está acabado. Vou pedir o divórcio. Não vejo nenhum motivo para manter esta farsa.
- Não? - Com um olhar divertido, ele afastou uma mecha de cabelos ruivos da testa dela.
- Não! - Gina reiterou, jogando a cabeça de lado. - E não me toque.
- Por quê? Você tem medo de gostar?
- Não! De cometer um assassinato - corrigiu, detestando admitir que no fundo ele tinha razão.
Mas Malfoy nunca saberia quanto desejo despertava nela. Consolando-se com isso, Gina o encarou desafiadoramente e prosseguiu:
- Prefiro suportar o assédio de Harry indefinidamente a ficar casada com você mais um dia. Além disso, é um mentiroso e não gosto de mentirosos.
- Ah, sim, meu tio-avô... - ele concordou. - Admito uma pequena distorção da verdade neste ponto, mas não sou um mentiroso inveterado. Não preciso mentir, e quanto ao seu amado Potter, tem certeza que ele ainda está interessado em você? Pelo que eu sei desde que nos casamos ele nem repara mais na sua existência. Portanto seu problema já está resolvido. Agora fizemos um acordo, e a minha parte ainda está em aberto, eu decido quando iremos nos separar.
- Não acredito em uma palavra do que você disse. E sei exatamente por que você quis se casar.
- Acho que não sabe - ele contestou, chegando mais perto, tão perto que ela podia sentir o discreto perfume de colônia que envolvia sua tentadora masculinidade, ver o brilho em seus olhos azuis, perceber a textura de sua pele.
Encurralada contra a porta, Gina não tinha para onde correr. Em pânico gritou:
- Claro que sei. Você queria por a mão nas minhas ações da Auror.
- Errado - erguendo uma das mãos, ele tocou sua nuca, deslizando os dedos por entre seus cabelos. Gina, hipnotizada, era incapaz de se mover, de se proteger daquele assalto a seus sentidos. - Eu não precisaria estar casado com você para fazer uma generosa oferta por suas ações, precisaria?
- Eu...
Ele ia beijá-la. A qualquer momento. E ela sabia que não devia querer aquele beijo. Gina fechou os olhos, para evitar o feitiço dos olhos dele.
Ele se aproximou, inclinou a cabeça bem devagar, inspirando cada molécula de ar ao redor dela. Aproximou os lábios que se tocaram num roçar extasiante, enquanto ela murmurou:
- Não, não precisaria. Mas mamãe não concordaria em vender as ações a alguém que não fosse da família. Você a enganou. Mas a mim não engana! Por isso, devia reconhecer a derrota e sair da minha vida.
Ele apertou a cintura de Gina e capturou os lábios dela como se nunca tivesse provado coisa mais suculenta. Um beijo sofrido, desejado e proibido.
- Não reconheço uma derrota, pois nunca vivenciei uma. Até a noite - Draco a afastou do caminho e saiu, deixando Gina absorta em pensamentos.
"Isso é demais. Ele me beija como se fosse a coisa mais normal do mundo! Não, assim não dá! Realmente preciso resolver tudo, e deixar de brincar de casinha com esse maluco do Malfoy."
- O Sr. Potter vai recebê-la agora - a secretária sorriu, indicando o caminho. E Gina seguiu calada.
Recompor-se, e ir até a Auror Security não demorou muito. A fábrica estava ali desde quando seu pai e Harry resolveram montá-la, e ela não ia vê-la fechar por causa de um Malfoy. Não mesmo! Engoliria seu orgulho e falaria com Harry, ele era um único que poderia ajudá-la.
- Gina. Que surpresa agradável - Harry levantou-se de sua mesa sorrindo. - Sente-se. Gostaria de um chá?
- Seria ótimo - Gina na verdade não esperava uma recepção tão cordial. Mas lembrou-se que se tratava de Harry, apesar de todo aquele constrangimento ela ainda gostava muito dele, uma pena que era como irmão, talvez eles pudessem ter sido felizes juntos.
"Argh, o eu estou pensando? Eu? Feliz com o Harry? Isso já é estar ficando louca demais. Certo que ele é muito legal, educado, e possuí "n" adjetivos, mas isso não é pra mim. E o que é pra mim? O Malfoy... Não com certeza não..Ah, to ficando maluca de verdade, preciso de um terapeuta urgente!"
Gina esperou a secretária trazer o café e sair. Respirou fundo. Preparou-se para o inevitável.
- Bem Harry, eu sei que você pode até estar magoado comigo, mas vou direto ao ponto. Mamãe que vender as ações da Auror para o Draco e agora ele quer comprar as minhas. Claro que não vou vender - acrescentou rapidamente, deixando claro que não estava do lado do inimigo e enchendo-se de coragem para ir a defesa de Molly.
Mas a esperada explosão de Harry não chegou. Na verdade, Gina não se lembrava de ver Harry tão calmo quando o assunto eram suas ações.
E arregalou os olhos quando ele se recostou na cadeira, e respondeu:
- Fui eu quem aconselhou Molly a vender as ações dela. Naturalmente ela não tomaria esse tipo de decisão sem me consultar.
- Você o quê? - Gina mal podia acreditar. Será que ele sabia o que estava fazendo? - Harry, estamos falando de Draco Malfoy!
- Eu sei de quem estamos falando. Malfoy e eu tivemos uma conversa muito produtiva antes de seu casamento. Como você sabe ele está montando uma filial aqui, e claro, estava interessado no trabalho que fazemos na Auror. Apesar de já termos tido muitas rixas no passado, não somos mais jovens tolos e imaturos, e eu nunca perderia a oportunidade de aumentar as possibilidades da Auror.
- Para ser realista, a inflação estava começando a nos atingir. Precisávamos de uma grande injeção de capital. E além de dinheiro Malfoy tem uma grande experiência, e sua empresa trabalha quase da mesma forma que a nossa. Seria loucura recusar. Ter a Auror sob a tutela de uma empresa como a de Malfoy era exatamente o que precisávamos. Quando Malfoy sugeriu comprá-la na nossa primeira conversa, aceitei imediatamente.
Gina não estava entendendo bulhufas. Harry tinha concordado em fazer sociedade com Malfoy? Isso era realmente muito sinistro. Então agora estava explicado, o motivo pelo qual ele não teve nenhum chilique no dia de seu casamento, e nenhum de seus irmãos foram massacrar o Malfoy. Ela simplesmente dera a salvação para a empresa. E era isso que Harry precisava: ter sua empresinha a salvo. E como ela pode imaginar segundos atrás que poderia ser feliz com ele? E ele e Malfoy ainda tinham conversado antes do casamento. Quanto tempo antes?
- Não há porque se preocupar, Gina. Afinal ele é seu marido. E a contribuição dele, estou certo de que você concorda, será mais valiosa que a sua.
- Você acha mesmo? - Gina levantou-se. - Agora entendo porque você não se deu ao trabalho de interferir no meu casamento. Eu achava que você nunca mais falaria comigo por eu ter me casado com Draco. Mas você já sabia que a empresa ficaria mais ou menos em família, não é mesmo? Mas já pensou no que pode acontecer se eu e Draco nos divorciarmos? Até onde acha que vai a lealdade dele a você?
- Confie em mim. Estou certo de que o seu casamento vai ser muito longo. Qualquer um estaria felicitado em estar ao seu lado. Mas, em razão de ele ser um Malfoy e ainda por cima ter sido sonserino, incluímos em nosso acordo uma cláusula que determina a venda a mim de um por cento das ações que ele está comprando de Molly, ou das suas se você decidir vender. Desta forma eu ficarei com a maioria das ações.
- E Draco concordou com isso? - Gina perguntou incrédula. Malfoy pondo dinheiro numa empresa de Harry Potter e que ainda não seria sócio majoritário, isso realmente era muito estranho.
- Claro. Posso lhe mostrar o contrato se quiser.
Gina foi se encaminhando até a porta.
- Acho que você devia vender as suas ações.
- Você é sórdido, Harry.
E saiu correndo daquela sala. Daquele mundo. Como as pessoas podiam fazer o que quisesse apenas visando dinheiro e negócios? Harry e Malfoy estavam compactuando. Isso realmente devia ser o fim do mundo.
Saiu da empresa, e começou a caminhar. Ia chover a qualquer momento. Mas não tinha importância. Ela precisava pensar, e sabia aonde ir quando se sentia assim.
Aparatou na porta da Toca.
Gina achava que tinha o controle da situação, mas não sabia de mais nada. Aquilo era tudo tão asqueroso. Mas ao ver sua casa, e saber que podia comprá-la, mesmo sendo de uma forma tão humilhante, ainda sentia uma pontada de excitação. Seria uma bela forma de compensar o sofrimento daquele casamento vazio.
Cerrou os dentes, admitindo que estava sofrendo, lamentando não ser o amor algo admissível. Por mais que tentasse não conseguia esconder a verdade.
Mas isso não significava que iria concordar em ser uma prostituta de luxo, para ele tê-la quando bem entendesse. Se isso acontecesse, ela morreria por dentro.
Precisava convencê-lo a ir embora. Ela precisava que ele fosse embora. Necessitava ocupar sua mente. Era melhor vender logo suas ações. Assim ele a deixaria em paz de uma vez.
Andando pelos jardins, notou uma placa. Má noticia. "VENDIDA". Seu coração afundou. Não podia mais ter sua casa. E sua vida simplesmente estava de pernas pro ar.
Contrariada voltou à cidade. Só lhe restava a realidade. A TOCA nunca mais seria sua, Draco nunca seria seu marido. Estranhamente esta última doía mais.
Aparatou na alameda, sob a chuva. Sem pressa. Entrou em casa. Tinha chovido a tarde toda.
Roupas e sapatos encharcados, Gina subiu a escada em silêncio. Não queria chamar a atenção de Draco, quanto menos o visse melhor.
Ele só podia ter um relógio daqueles de sua mãe, Gina pensou, quando ele bateu na porta do quarto e entrou trazendo uma caneca de café quente. Também devia ser surdo, parecia que ela não havia dito nada para ele pela manhã. Ela o havia mandado embora, e ele estava ali, à vontade, e ainda tinha a cara-de-pau de lhe levar café. Ela estava cansada de discutir. O dia tinha lhe reservado surpresas terríveis.
- Achei que você podia querer um café - Draco deixou a caneca sobre a mesinha. - Eu trouxe comida italiana. Está no forno para não esfriar. Podemos comer quando você quiser.
Gina estava muito deprimida para revidar. E ainda não havia comido nada o dia inteiro. Talvez o baixo-astral fosse falta de alimentação.
Ela sempre soubera lidar com as coisas ruins que lhe aconteciam, a morte do pai, a perda da Toca, sempre encarara as coisas da forma mais sensata.
Mas agora tudo estava diferente, e para piorar a situação estava apaixonada por Draco Malfoy.
Finalmente trocou a roupa molhada e desceu. Draco parecia ter ouvido enquanto ela descia, pois logo apareceu com a comida. E também acendera a lareira.
Quando terminaram de comer, ele perguntou, servindo duas taças de vinho:
- Está melhor agora?
Bem melhor. Era a comida, o fogo, claro. Nada a ver com ele. Enquanto comiam, não tinha trocado mais que meia dúzia de palavras.
Gina se livrou do repentino nó na garganta com um gole do vinho, e ele prosseguiu:
- Sente-se perto do fogo e relaxe, vou fazer café.
- Eu faço - Gina se ofereceu, ouvindo a voz da consciência. - Você já fez a comida.
- Eu apenas comprei. Além disso, você me parece cansada, e gosto de te ser útil quando você me dá a oportunidade.
Como ele poderia ser tão oposto. De repente ele era o cara mais certo do mundo, e com apenas algumas palavras se tornava a pessoa mais sádica que ela conhecia.
Quando ele voltou com o café, Gina disse:
- A Toca foi vendida.
Draco parou.
- Você sabe quem comprou?
- Não - Gina não sabia o porquê de haver tocado naquele assunto. Mas obviamente ele não havia gostado da notícia. E ela sabia porque. Não que isso tivesse importância. Nada mais tinha importância.
Enquanto tomava o café, ela percebeu que Draco se movia atrás dela. Endureceu quando ele pousou as mãos no encosto do sofá. E quando ele baixou a cabeça ao nível da dela, pousou a caneca na mesinha, pois suas mãos começaram a tremer.
- Para você - Draco pôs um pequeno estojo nas mãos dela.- Para marcar nosso primeiro aniversário.
Gina se voltou com uma expressão de quem não estava entendendo nada. E se arrependeu em seguida, pois agora sua boca estava a poucos centímetros da dele.
- Estamos casados há um mês ou quase isso - ele explicou - abra para vê se serve.
Tensa, Gina levantou a tampa do estojo. E arregalou os olhos ao ver o diamante magnífico, engastado num sólido anel de ouro branco. Lindíssimo. Perfeito. Devia ter custado uma pequena fortuna.
- Não posso aceitá-lo - protestou.
Para um presente fortuito aquilo era valioso demais. Como prova de algo mais profundo. Era ridículo. Casados havia um mês. E que mês! Parecia uma eternidade. Embora ela não pudesse mais imaginar a vida sem ele, apesar de evitar pensar na angústia que sentiria quando tudo tivesse terminado. Quando ele saísse definitivamente de sua vida, assim como ele havia entrado. Num passe de mágica.
- Claro que pode! - ele agora estava no sofá, ao lado dela. - Faça isso por mim. Eu posso pagar, e não custa nada você usar. - tirou o anel do estojo e pôs no dedo dela, ao lado da aliança.
Ficou perfeito. E ele continuava acariciando sua mão.
- Quando vi esse anel, achei que foi feito para você. E ainda temos muito tempo pela frente.
Até quando? Até ele se cansar e ir embora? Seria o anel uma espécie de gratificação pelos maus bocados que ele a fez passar?
E quando abriu a boca para perguntar, ele a beijou, banindo qualquer pergunta de sua mente. Um beijo terno, persuasivo, erótico. Muito diferente do daquela manhã. Ele a envolveu, tranqüilizando-a. E Gina correspondeu.
A pressão aumentava. E ela respondia. Por que quando Draco a chama ela tinha que ir? Era simplesmente inevitável. Sem saber como, ela estava estendida no sofá, acariciando os ombros dele, e beijando seu pescoço.
- Gina... - Draco deitou-se no sofá a seu lado, acariciando sua cintura, beijando-a outra vez, com um pouco mais de necessidade. - Você ainda quer que eu vá embora? - ele perguntou com a voz terrivelmente rouca.
A pergunta encerrava uma exultante demonstração de masculinidade. Gina parou.
Então aquela era a noite em que ele tentava seduzi-la? A atenção, o fogo, a comida, a compreensão. Tudo planejado. Como ele era capaz de ser tão mesquinho. Brincar daquela forma com os sentimentos dos outros. Talvez ela tivesse se tornado um desafio para ele. Mas ela não queria participar desse joguinho infantil, onde o final seria seu coração destroçado.
- Isso foi longe demais.. Me deixa.
- Você me quer. É assim que trata os homens?
Ela teve vontade de dizer que não. Dizer que ninguém nunca havia mexido com seus sentimentos daquela forma, e que ela poderia gostar muito dele.
Mas não disse. Era melhor não. Ele só iria brincar mais ainda ao saber que já havia vencido.
- Alguns - respondeu se afastando.
Ele já havia levantado. Gina tirou o anel do dedo, deixou sobre a mesa e disse:
- Não quero isso. Alias não quero nada que me lembre você. Quero-o longe de mim antes que faça mais estragos.
- E o que foi que eu estraguei?
Na falta do que dizer...
- Meu relacionamento comercial com Nick.
- Já me desculpei por isso.
Ele parecia não acreditar, e se insistisse mais um pouco ela não conseguiria resistir.
Só havia um meio de se livrar dele.
- Falei com Harry e decidi vender minhas ações. Nós dois sabemos que era nisso que você estava interessado desde o começo. Portanto, agora que já conseguiu o que queria, você pode ir embora...
N/A1: Ah, deixem review gente..não dói, não paga... e ainda por cima..deixa a autora feliz..não sejam más cmg...
N/A2: Brigada pra todo mundo que lê.. e continuemmm lenddooo... bjin pra todo mundo..
N/B3: cap atualizado pela minha beta linda Nah..que voltou a ativa!
