Capítulo – X

Outra noite em claro. Gina saiu da cama mal-humorada, arrancou a camisola, vestiu seus roupas de caminhada e calçou o tênis.

Eram pouco mais de seis horas, ela não ficaria na cama nem mais um segundo. Tinha que levantar. Foi até a cozinha e preparou um copo de suco.

A casa estava silenciosa. Draco ainda devia estar dormindo. Não era justo ela ficar dessa forma enquanto ele desfrutava a companhia de Morfeu. Em seguida lembrou-se de ter prometido a si mesma não pensar nele nem mesmo que fosse completamente indispensável. Ele fazia sua cama criar pregos.

Andou uma hora inteira. Estava na hora de ir para a loja, a tinha deixado muito abandonada com todos esses problemas draconianos. Subiu as escadas, tomou seu banho relaxadamente. Provavelmente há esta hora ele já deveria ter saído, a casa estava silenciosa demais, pensava ao descer as escadas.

Ao entrar na cozinha seu coração disparou, e foi incapaz de esconder a surpresa.

- Oh...

Por que não havia saído antes que ele a notasse ela não sabia explicar.

Draco estava de costas, olhando pela janela. Voltou-se devagar, mãos nos bolsos do roupão, expressão rígida. Ele parecia tão mal-humorado quanto ela. Será que passou a noite em claro também? Não, claro que não. Por que faria isso? Angustiada, pela presença dele demorou a reagir, e quando foi saindo, ele a deteve.

- Espere. Quero falar com você. Não vou demorar mais que alguns minutos.

Mas alguns minutos na presença dele era muito. Estarem juntos no mesmo ambiente e não poder tocá-lo era doloroso. Muito doloroso. No entanto, ela precisava ser forte. Era a única maneira de superar tudo, e conseguir não gritar na cara dele que o amava. Só de imaginar que tudo que ele queria era apenas alguma diversão, uns minutos de prazer, e depois iria embora, seu coração apertava.

- E não se preocupe, não vou tocar em você - acrescentou enquanto a via hesitar entre ir ou ficar. - Não vou cometer o mesmo erro novamente. Não sou masoquista.

Gina procurou a cadeira mais próxima. Confiar nas pernas era perigoso. Ela já começava a tremer.

Nunca o vira daquele jeito. Olhos semicerrados, expressão sombria. Provavelmente a mesma que exibia a Harry e seus irmão na época de Hogwarts. Chegava a dar medo.

De repente, Gina sentiu falta daquele sorriso de desdém, do brilho enigmático daquele mar prateado, que ele tinha a imprudência de chamar de olhos. Da proximidade a qual já havia demonstrado algumas vezes, mesmo quando era se divertindo a suas custas.

Nunca mais Draco a chamou de viborazinha, e até isso chegava a parecer melancólico. Sua expressão deixava claro que agora existia entre eles uma barreira intransponível, e pelo menos para ele, isso não representava nenhum desagrado.

- Suas ações serão compradas ao preço combinado. Vou mandar uma coruja para matriz com todos os detalhes da compra ainda hoje. Quanto à minha mudança, seria mais conveniente eu ficar até a nova sede da Defensor ficar pronta e funcionando, claro, se você estiver de acordo.

Gina concordou. O que mais podia fazer? E ele voltou a olhar para janela, como se tivesse perdido o interesse na conversa.

(O que ela poderia fazer? Ah, eu com certeza agarrava ele ali no chão da cozinha mesmo.. mas que Gina bobinha.. auhauahuahaa. N.B: Agarrava nada... Eu é que agarrava primeiro hauahauahah!)

- Infelizmente, não posso definir uma data, mas não deve demorar. E começaremos a tratar do divórcio tão logo eu saia - acrescentou.

Ouvir aquilo doía, embora não devesse. Para disfarçar, dissimular a dor, Gina levantou-se, e com um desinteresse cuidadosamente pensado, respondeu:

- Tudo bem. Se você ainda estiver por aqui quando mamãe viajar, posso ficar na casa dela. Ela vai ficar umas três semanas fora. Deve ser tempo suficiente.

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- Você não pode sair alguns minutinhos para me ajudar a terminar as coisas para a viajem? - Molly insistiu.

Sentada perto da lareira, Gina recostou-se, se escondendo um pouco da mãe.

- Já disse que sim. Passo aí na quarta-feira. E depois vou levá-la para almoçar no restaurante italiano que inauguraram aqui perto. Fred foi com a esposa dele, e disse que é ótimo.

- Bem, vamos ver. E por falar em comida, quando você e seu marido vão me convidar para jantar?

"Nunca!" Gina pensou. Não queria pensar em Draco, e parecia que tudo conspirava contra.

- Tenha paciência, Draco é muito ocupado - mentiu.

Depois que decidiram acabar com o casamento Draco passava as noites tendo jantares de negócio. Muito estranho.

- Compreendo, querida - Molly concordou. - Sei que ele está trabalhando duro na construção da nova sede da empresa. Ele tem conversado muito com Harry, mas claro que você sabe disso...

Gina não sabia, e também pouco se importava. Não o via fazia dias. Assim estava melhor. Pelo menos já estava desacostumando de tê-lo por perto, e quando fosse embora não ia doer tanto quanto se eles fossem amigos.

- A gente se vê na quarta, mamãe.

Mas Molly quando começava a conversar não parava mais.

- Você viu, querida? A TOCA foi vendida. Quem iria querer comprar aquela casa? Liguei para os antigos donos, mas eles não quiseram me informar quem era.

- Eles devem ter bons motivos para isso - Gina não conseguiu se controlar, sua mãe sabia o quanto era doloroso para ela não ter aquela casa e ainda dizia coisas desse tipo, isso ela não podia agüentar.

- Não precisa falar assim.

- Desculpe, mamãe, mas realmente estou ocupada agora - disse remexendo uns papéis.

- Tudo bem, tudo bem. Nos vemos na quarta.

Gina ficou surpresa, não acreditara que sua mãe não iria se fazer de vítima.

- Nos vemos breve.

Então Molly desapareceu.

Gina se manteve ocupada o resto do dia, mas nem o trabalho conseguira melhorar seu ânimo. Ao voltar para casa à noite, ela se perguntava se um dia teria de volta sua garra.

Claro que sim, dizia para si mesma ao entrar em casa.

Tão logo a empresa de Malfoy começasse a funcionar ele a deixaria em paz e a sua vida estaria de volta.

A casa não estava tão silenciosa quanto ela havia imaginado.

Draco?

Quem mais poderia ser? Um intruso seria mais discreto. Gina levantou a cabeça, empunhou a varinha, olhando a escada, relutante em subir e verificar. Se ele tivesse resolvido mudar a rotina dos últimos dias e chegar mais cedo, infelizmente ela teria que sair.

A perspectiva de ficar no mesmo teto que ele, mesmo em quartos separados, não era nada animadora. Pelo contrário ela seria capaz de cometer alguma insensatez. Embora não devesse nem pensar nisso. Por que deveria se importar com ele? Ele era um machista com necessidade de lustrar o próprio ego, tudo isso só servia para mostrar que todos os homens são iguais. Interessados apenas em sexo. E logo Draco Malfoy seria diferente? Claro que não.

Mas Gina esquecera que o amor tinha uma força arrasadora. Ao vê-lo descer as escadas, voltou a sentir aquela mesma dor de quando pensava que ele não estaria mais por perto.

Os cabelos meio molhados. Devia ter acabado de sair do banho. Vestia um terno preto, sublime. Camisa cinza. Deixava seus olhos ainda mais magnetizantes. Ele parecia nem se importar, estava muito bem. E se ele não ligava a mínima, porque ela haveria de se importar?

Nos últimos dias, sua aparência devastadora havia se transformada unicamente em arrogância. Os olhos, só aparentavam frieza.

Gina prendeu a respiração. Estava parecendo uma idiota empunhando a varinha, e isso mexia mais ainda com sua dignidade. Não queria cometer nenhum deslize na frente dele.

Ele parecia nem ter notado, apenas recuou um passo, olhou-a como se fosse dizer algo, mas pareceu ter mudado de idéia. Apenas dirigiu-se em direção à porta.

"Que ridículo! Infantil. Pareciam duas crianças que brigaram".

Não se segurou.

- Outro jantar de negócios?

Draco se voltou, mas não parecia vê-la. Para ele, obviamente ela não existia mais. Na verdade talvez nunca houvesse existido, e tudo não havia passado de uma conquista. Um jogo. E, só para mostrar que ela não se importava, que não havia perguntado porque quisesse mesmo saber, que não estava interessada no que ele fazia ou deixava de fazer, prosseguiu:

- Então vou fazer o feitiço anti-aparatação antes de dormir. Acho que você vai voltar bem tarde de novo.

- É bem possível...- ele respondeu. Depois, como se achasse muito desagradável ter que falar com ela acrescentou rapidamente: - Vou mudar em uma semana. Sobre o divórcio, já instruí meu advobruxo.

Voltou-se e saiu. Gina ficou ali, parada, olhando para a porta e se perguntando como ainda conseguia ficar de pé se seu coração estava aos frangalhos.

Ainda ali, olhando o nada, quando a lareira começou a apitar. Vagarosamente foi ver quem era.

Era Adelle.

- Você está sozinha? Pode dar uma escapadinha e encontrar-se comigo? A gente podia jantar. Ou seria muito difícil?

Adelle prosseguiu:

- Marcos está viajando. Além disso, tenho algo importante a lhe contar, mas não é o tipo de coisa que se pode falar na lareira. Aquele restaurante italiano novo é ótimo. Já estive lá algumas vezes.

Em princípio Gina pensou em dizer não. Fingir que estava cansada. Ir para cama curtir a depressão. Mas não podia se entregar. Ele estava tão bem. Ela iria ficar bem também. Precisava dar um jeito na vida. Por isso respondeu tentando mostrar entusiasmo:

- Tudo bem. Daqui a meia hora?

- Ótimo. Você sabe onde fica o restaurante?

- Claro!

Adelle sumiu. No mínimo devia querer passar a frente alguma fofoca. Adelle era movida a fofocas. E naquele momento Gina precisava do máximo de futilidades possíveis em sua vida.

Na verdade, Gina não estava nem um pouco a fim de sair, muito menos com Adelle. Mas tinha que fazer um esforço. Não podia deixar-se dominar por sentimentos de baixo-astral.

No mínimo poderia dar uma olhadela no restaurante e saberia se Molly iria realmente gostar dali.

Mas, logo ao entrar, Gina achou que sua mãe iria adorar.

Adelle acenou de uma mesa no meio da sala.

- Ainda bem que resolvemos vir cedo. Esta era a última mesa disponível. As outras estão todas reservadas. Este lugar está fazendo o maior sucesso. A comida é genuinamente italiana, deliciosa. Tudo fresquinho. Pedi um hidromel, você deseja algo mais forte? Puxa como você está pálida.

Gina tomou um gole do hidromel que Adelle havia pedido, lamentando ter saído de casa. Seria impossível prestar atenção em tudo que Adelle dizia, e embora, Adelle fosse um tanto quanto superficial perceberia logo seu estado lastimável.

O que aconteceu antes do que Gina imaginava...

- Eu disse que você está pálida. Se não se sentia bem, devia ter me dito. Poderíamos ter saído outro dia.

- Sinto muito - Gina tentou sorrir. - Estou bem. Acho que venho trabalhando demais – engoliu o resto da bebida.

Enterrando o nariz no cardápio, Gina pediu algo que nunca tinha ouvido falar esperando conseguir comer pelo menos um pouco.

- Se trabalhar deixa as pessoas assim, é melhor parar de trabalhar - Adelle aconselhou. - Afinal, você não precisa. Draco é muito rico, todo mundo sabe disso.

Gina olhou bem nos olhos de Adelle. Brilhavam. Na verdade, ela parecia um pouco excitada, querendo dizer algo. E Gina sentiu que sua própria expressão mudara ao ouvir o nome dele.

Então Adelle disse com afetada preocupação:

- Sinto muito. Você quer falar sobre isso?

- Isso o quê? - Gina tentava achar graça, mas não conseguia.

- Beba um pouco. Isso geralmente ajuda - baixou a voz e disse: - Eu sei que Draco anda enganando-a. Era sobre isso que eu precisava lhe falar. Avisá-la. Não precisa esconder de mim. A gente se conhece tão bem. Você já sabia, não é?

- Não sei do que está falando - Gina tentava sorrir.

Ela sabia que Adelle era uma fofoqueira de primeira, incapaz de manter a boca fechada. E, se não houvesse nenhuma fofoca para passar adiante, era bem capaz de inventar.

Além disso, até poucos dias atrás Draco estava muito ocupado, tentando levar para cama ela mesma. O que lhe deixava sem tempo para estar com outra mulher.

Adelle ficou calada enquanto o garçom punha os pedidos na mesa. Mas tão logo ele se afastou, prosseguiu sorrindo com certa malícia:

- Sinto muito, mas vi com meus próprios olhos.

- Viu o quê? - Gina não queria parecer muito interessada, embora começasse a se intrigar com a questão.

- Eu estava almoçando aqui com duas amigas faz alguns dias, e adivinha quem chegou? Draco. Com uma loira. Claro que nem liguei muito na ocasião. Quer dizer, eles podiam ser amigos ou colegas de trabalho. Embora parecessem... digamos assim, chegados. Fui até lá para conversarmos um pouco e deu pra notar que ele não estava muito contente em me ver.

"Confere", Gina pensou, entediada. A maioria das pessoas fugia quando Adelle se aproximava. Então não havia com o que se preocupar.

- Na verdade, ele parecia bem aborrecido. E fiz questão de convidá-lo para jantar quando Marcos voltar dessa viajem. Também fiz questão de dizer, traga sua esposa, e ele não pareceu se importar. Nem ela.

- Não diga...

Francamente, era demais. Tinha saído com Adelle justamente para parar de pensar em Draco, e até o momento o único assunto era o dito cujo.

- Até que ante ontem à noite - ela prosseguiu - Marcos e eu viemos aqui outra vez. Marcos ia viajar na manhã seguinte, por isso íamos voltar cedo para casa, pouco antes de sairmos Draco e a Loira chegaram de novo. E quando Marcos foi ao banheiro, dei uma olhada na mesa deles e Draco estava segurando a mão dela, fiquei muito curiosa (novidadeee), e enquanto Marcos não voltava perguntei a um garçom se eles sempre vinham aqui, e ele disse que sim, varias vezes ultimamente.

Então na noite do primeiro jantar de negócios semanas atrás, ele levara a loira no Fabulous, Gina pensou, já não ouvindo mais nada.

E ela tinha esperando por ele acordada, imaginando como um jantar de negócios poderia durar tanto. E, depois disso, sentindo-se desafiado ele ainda tentara levá-la para cama. E quando notou que ela não iria cair nas suas garras, voltou para loira. Era isso. Ele a enganara o tempo todo. Provavelmente ele e a loira estavam rindo de como ela era tola.

- E Marcos, o que disse sobre Draco e a Loira?

- Nada.

Gina estava arrasada. O casamento deles era um desvario, mas a loira podia ser só uma colega de trabalho. E Adelle podia estar imaginando coisas. Fosse como fosse, agora não tinha mais importância. Ela nem podia reclamar de algo que nunca teve.

( pq nãooo quis.. ah, se fosse eu... abusava dele até cansar..auahuahauhauahuahaua)

- Não vai nem tirar satisfações?

- Talvez pergunte a ele - Gina admitiu. - Talvez haja uma explicação inocente.

E mesmo que houvesse, Adelle não acreditaria. Tão logo o divórcio saísse, a notícia de que Draco a traíra desde aquela breve lua-de-mel correria na cidade como um rastilho de pólvora. Gina queria sair dali!

- Preciso ir. Obrigada por se preocupar, mas não era necessário.

"Pelo menos passei por toda essa provação com dignidade", pensou. Se não estivesse tão mal, riria da perplexidade no rosto de Adelle.

- Ainda não tomamos o café.

- Não, mas preciso ir mesmo. Estou muito cansada.

Pura verdade.

- Posso ir ao banheiro antes de irmos?

Gina assentiu e chamou o garçom. Pagaria a conta, e esperaria Adelle lá na frente, depois iria pra casa. Tudo o que queria era DORMIR E DORMIR.

Gina pagou a conta e foi para o ambiente que separava o salão principal da rua. Deu de cara com Draco. E a Loira.

Adelle tinha razão. E ela era uma linda mulher. Mostrava a fragilidade capaz de levar a maioria dos homens a loucura. Olhos verdes. Boca sensual.

Gina enrijeceu. A pouca cor que ainda lhe restava sumiu ao perceber a mão dele na cinturinha dela. E sentiu o ciúme cortá-la com a sutileza de uma faca cega. Como doía. Gina começou a tremer.

Draco saíra de casa bem antes dela. O que os dois estavam fazendo esse tempo todo? O olhar apaixonado da loira, aquele biquinho, respondiam a pergunta claramente. Trabalhando não estavam, com certeza.

- Gina... - Draco começou a dizer quando a viu. Mas ela não ficaria ali para ouvir nada, qualquer tipo de explicação não seria necessária diante da cena. Estava tensa. Mal podia respirar.

Saíra de cabeça erguida. E arrastara Adelle, que acabara de chegar, assustada, lá para a rua.

Sua amiga estava certa. Draco andava traindo-a. Com certeza essa moça já devia existir bem antes do casamento. Por isso ele fez questão de deixar bem claro que os dois poderiam ter outros relacionamentos. Tudo planejado. Gina estava furiosa demais para falar com Adelle, mas conseguiu grunhir por entre os dentes:

- Já paguei a conta. E, se você está pensando em me deixar em casa, não quero!


N/A: Capítulo betado! Minha betinha linda! Voltou à ativa e betou os capx 9 e 10 pra mim!

O onze.. e último está chegando! Espero que todo mundo... leia..e deixe seu review! Bjoks