Enganos
N.A. – Obrigada as pessoas que comentaram.
Respostas no live journal amanhã.
Engano nº3 – Fuga Perfeita.
oOoOoOoOoOoOo
Ryo estava sentada no sofá, fitando as unhas recém pintadas nos últimos quinze minutos. Tentava não olhar para a luz da secretária eletrônica, piscando incansavelmente, lembrando-a das mensagens que sabia estarem lá.
'Ryo, você vai no Poison hoje?'
'Ryo, pára de se esconder! Sabe aquele cara que você tava interessada?'
'Ryo, tenho um trabalho para você. Você tem o número do meu celular se estiver interessada.'
Respirou fundo, ignorando o desejo de se arrumar e sair do apartamento que parecia mais apertado a cada minuto que passava dentro dele. O telefone tocou novamente, e ela grunhiu, apertando a almofada contra os ouvidos.
'Ryo, você ta aí? Estamos ficando preocupadas! Você não aparece há quase uma semana e...'
- EU SEI QUANTO TEMPO FAZ! – A garota gritou, atirando a almofada no aparelho. Suspirou quando a maquina apitou antes de ficar muda. Ao menos não teria que ouvir aqueles recados idiotas novamente.
Levantou do sofá, andando de um lado para o outro. Estava entediada e nem ao menos conseguia sair dali e se divertir como de costume. Culpava o pai por contratar a irmã e o cara estranho... Não, culpava a irmã por deixar o tal Jakotsu ameaçá-la! Não! Culpava todos eles por a ignorarem quando dizia que estava sendo seguida.
Suspirou, jogando-se no sofá. Talvez estivessem apenas tentando se vingar por ela não estar colaborando com aquela campanha idiota. Que tipo de família era aquela que ria quando ela contava que tinha um cara atrás dela em todos os lugares que ia?
oOoOoOFlashbackOoOoOo
Segunda:
Ryo saíra do cabeleireiro com um sorriso no rosto. A irmã não ligara novamente, e o tal amigo não a aparecera mais na hora do almoço atrás dela, com isso pudera ter um pouco de sua vida de volta: Passara o sábado no clube com as amigas e dormira a maior parte do domingo sem que ninguém a incomodasse com tolices como comer o que não desejava.
Sim, os dois últimos dias haviam sido perfeitos. E depois de um final de semana com 'alguns exageros' nada melhor que passar o dia cuidando da aparência e fazendo compras.
Parou na frente do carro, ignorando o estacionamento vazio, estava mais preocupada em conseguir segurar todas as sacolas de compras e achar as chaves do carro ao mesmo tempo... Suspirou quando uma das alças escapou de suas mãos.
- Mas que... – Piscou quando um braço apareceu do nada e pegou a sacola antes que esta tocasse o chão. Sorriu, estendendo a mão para a sacola.– Obrigada, eu...
- Você parece estar sempre arrumando confusão.
Ryo piscou, erguendo os olhos para o homem a seu lado. Franziu o cenho, uma parte de sua mente reconhecendo aquela voz, mas não o rosto.
- Importa-se de devolver? – Apontou a sacola que o homem ainda segurava e ele apenas sorriu.
- Não precisa pegar suas chaves primeiro?
Ryo balançou o molho de chaves e estendeu a mão para a sacola novamente apenas para que o homem se afastasse.
- Abra o carro, não quer riscar sua porta novamente.
- Eu não... – A garota parou de falar, arregalando os olhos para o rapaz, que continuou sorrindo da mesma maneira perigosa que o amigo de sua irmã. Droga, eles não podiam ser parentes certo? – Como sabe que risquei meu carro com a chave?
- Porque não foi meu olho que seu joelho atingiu naquela noite.
- Você!
- Escute, eu não... – O rapaz parou de falar quando foi atingido pela pequena bolsa que a garota carregava. Girou os olhos, protegendo-se dos golpes com a sacola que ela deixara cair.
- Maníaco, pare de me seguir! – Ryo gritou enquanto o acertava com a bolsa, o resto das sacolas esquecidas no chão enquanto se ocupava em bater no rapaz.
- Se você parar de me bater...
- Cale a boca! - Bufou, quando ele conseguiu tirar a bolsa de suas mãos e fez a única coisa que podia para se defender. Ergueu o pé e acertou a canela dele com toda força que foi capaz.
O rapaz deu um passo para trás quando ela abriu a porta, e pulou para dentro o carro. Podia sentir o lugar que o sapato dela atingira latejando, mas tudo que podia pensar era que, ao menos dessa vez, ela não o deixara caído no chão.
Ryo saiu do estacionamento a toda velocidade, parando no local mais iluminado que conseguiu encontrar. Respirou fundo, estendendo a mão para o porta-luvas, agradecendo o fato de que esquecera o celular ali ao invés de colocá-lo na bolsa naquela manhã.
- Akai! – A garota falou antes que a pessoa do outro lado da linha tivesse chance de falar 'alô.' - Aquele cara me atacou de novo.
- Está com mais sorte que sua irmã. Ele era bonito?
- O que?
- Ninguém a agarra há pelo menos três meses, eu já disse que deveria sair um pouco e—
- Quem diabo é você?
- Jakotsu.
- Por que atendeu o telefone?
- Akai saiu para comprar—
- O que está fazendo aí?
- Eu moro aqui.
- VOCÊS MORAM JUNTOS?
- Sim e o telefone está funcionando perfeitamente... Não precisa gritar, Ryo-chan.
- Não me chame assim!
- Certo, volte para o cara gostoso que te agarrou.
- Eu não disse que ele era gostoso.
- Então não era?
- Bem, não era de se jogar fora, mas... – Ryo franziu o cenho percebendo o que estava falando. – Por que está perguntando isso?
- Porque é melhor ser agarrado por alguém bonito.
- Ele me agarrou no estacionamento, seu idiota pervertido!
- Puxa, não é a toa que não era bonito... – Jakotsu suspirou. – Da próxima vez vá a—
- Eu não tava paquerando o cara! Ele só me agarrou!
- Isso parece interessante, mas você disse que ele não valia a pena—
- Jakotsu! – Ryo o interrompeu impaciente. – Minha irmã está aí?
- Não, já falei que ela foi buscar—
- Tchau. – Ryo desligou o aparelho, jogando-o no chão do carro. Respirou fundo antes de dar a partida novamente, aquela conversa estranha se repetindo em sua mente. – Quem diabo pergunta se um tarado é bonito? – Balançou a cabeça, ignorando o sinal vermelho e acelerando. – Maluco.
Quarta:
Ryo acenou para o carro que passou por ela, balançando a cabeça levemente quando a amiga buzinou em resposta. Destrancou a porta do próprio carro e abriu quando um vulto chamou sua atenção, virou-se para a pessoa às suas costas e quase gritou ao reconhecer o rosto masculino.
- Escute, garota, se você puder me deixar falar por cinco minutos sem me bater, eu—
- Eu juro que vou gritar se você se aproximar mais.
- Eu não fiz nada.
- Ainda! Mas já tentou me agarrar duas vezes.
- Você certamente pensa muito de si mesma.- O rapaz girou os olhos e agarrou a porta do carro quando a viu entrar nele. – Eu só quero explicar...
- Não é NÃO! – Ryo gritou, jogando o peso do corpo na porta e acertando o rapaz com força. – Afaste-se de mim ou vou chamar a policia! – Falou entre dentes para o rapaz sentado no chão que a encarava com uma mistura de medo e incredulidade.
- Você é maluca.
A garota bufou, antes de dar a partida no carro e se afastar rapidamente.
Quinta:
Ryo entrou no escritório do pai, ignorando a secretária pedindo que esperasse. Cruzou os braços, encarando o pai que continuou falando ao telefone tranquilamente depois de fazer um gesto para que a secretária os deixasse a sós.
- Papai, eu—
- Só um minuto, Ryo. – Yuki falou rapidamente, voltando sua atenção para a pessoa que continuava falando do outro lado da linha.
- É importante! – A garota choramingou, provocando um suspiro impaciente no pai.
- Podemos continuar isso depois? Sim, eu ligo novamente. – Yuki desligou o telefone e encarou a filha. – Fale.
- Preciso de um carro novo.
- O que você disse?
- Preciso de um carro novo.
- Essa é a coisa importante que precisava falar?
- Sim.
- Certo, a resposta é Não.
- O senhor não entende! – Ryo protestou, deixando-se cair na cadeira em frente a mesa do pai. – Tem um cara estranho me seguindo e ele sempre está perto do carro.
- Talvez ele esteja interessado no carro, venda para ele.
- Ele não está interessado no carro, papai!
- Como pode saber? Perguntou?
- É claro que não! – Ryo protestou irritada. – Estava ocupada demais tentando fugir.
- Sem perguntar o que ele queria?
- Ele me agarrou, é obvio o que queria.
- Convencê-la a vender o carro?
- Esqueça o carro!
- Você disse que queria outro carro...
- Sim, porque é claro que ele 'marcou' o meu e—
- Venda-o para ele e compre outro com o dinheiro.
- O senhor está brincando comigo? – A garota perguntou depois de alguns minutos de silencio.
- Não.
- Não está preocupado com o que pode acontecer?
- Fico mais preocupado quando você bebe demais e dirige.
- Tem um tarado me seguindo!
- Você não tem certeza disso, querida.
- É claro que tenho!
- Tente conversar com ele da próxima vez, e se suas suspeitas forem verdadeiras chame a policia.
- Se minhas suspeitas forem verdadeiras e eu parar para conversar com o tarado... – Ryo ergueu-se da cadeira, tentando não gritar. – O senhor não acha que vai ser um pouco tarde demais para chamar a policia?
- Claro que não, eles são bem rápidos.
- Eu odeio você! – Ryo gritou antes de sair correndo do escritório.
O que estava acontecendo com as pessoas para agirem tão despreocupadamente?
Sexta:
Ryo olhou para o reflexo no espelho uma última vez e sorriu. O dia estava ensolarado, e ela não tinha compromisso nenhum... Isso só queria dizer que podia gastá-lo fazendo nada no clube!
O interfone tocou, e ela despreocupadamente disse ao porteiro que deixasse a amiga subir. Ignorou os protestos dele e desligou o aparelho. Franziu o cenho levemente, pensando se as pessoas tinham feito um acordo para contrariar todas as suas decisões. O que estava havendo com aquele idiota para ficar protestando quando dizia que a amiga podia subir?
Suspirou, resolvida a ignorar qualquer coisa ruim que acontecesse naquele dia. Estava livre e isso era tudo que importava. Até mesmo o tal 'tarado' havia lhe dado uma trégua e desaparecera há dois dias.
- Estou indo, Evy. – Gritou, pegando a bolsa de cima da cama e correndo na direção da porta. – Por que você bateu, eu não... – Ryo parou de falar, fitando o corredor vazio. Franziu o cenho, pensando que talvez a amiga houvesse entrado sem que notasse e começou a fechar a porta quando algo caiu sobre seus pés. – O que... – Arregalou os olhos ao reconhecer as sacolas com as compras que havia feito na segunda e deu alguns passos para trás sem poder desviar a atenção deles.
Lembrava-se perfeitamente de tê-los solto no chão do estacionamento enquanto batia no cara que a seguia então como...? Piscou ao reconhecer a pequena bolsa que usara naquele dia e que o rapaz havia segurado enquanto tentava se proteger dos golpes. Fechou a porta com força, passando o trinco antes de correr para o telefone.
- Akai? - Ryo murmurou, atenta a entrada. – Akai, ele esteve aqui.
- Estou ocupada, Ryo.
- O cara esteve aqui!
- Quem esteve aí?
- O cara que fica me seguindo!
- Resolveu convidá-lo para o almoço?
- Não, sua maluca! Ele pegou minha bolsa e—
- Agora?
- Não. – Ryo murmurou entre dentes, começando a perder a paciência.
- Quando?
- Na segunda quando tentou me agarrar. Ele arrancou da minha mão quando acertei ele.
- De quem estamos falando mesmo?
- O cara que anda me seguindo, Akai!
- O taxista?
- Ele não é taxista! – Ryo bufou. – Mas sim, ele.
- Ele tentou agarrar você novamente?
- Sim! Quer dizer... Não hoje.
- O que ele fez... hoje?
- Veio aqui.
- E daí?
- Ele devolveu minhas compras!
- Ryo... – Akai começou lentamente. – Por que está preocupada com um cara que tem o trabalho de levar suas compras em casa?
- Você não entende? Ele tem meu endereço!
- Assim como todas as pessoas que conhece...
- Ele é um maníaco!
- Você não tem certeza disso.
- O que mais pode ser?
- Pense bem, primeiro ele tentou te ajudar quando estava bêbada e agora levou as compras na sua casa... – Akai fez um pausa antes de perguntar - Como foi que perdeu suas compras?
- Soltei as sacolas para bater nele. - Ryo franziu o cenho quando pode ouvir o som de risadas abafadas do outro lado da linha. – Não é engraçado.
- Desculpe, Jakotsu estava aqui... – Akai falou divertida depois de alguns segundos. – Se quer saber minha opinião isso não passa da sua imaginação, o cara é só prestativo e tentou te ajudar.
- Ele é um tarado isso sim!
- Certo, um tarado que fez a boa ação de devolver suas compras... – Akai sorriu. – Se está tão preocupada, por que não manda trocar a fechadura?
- Por que eu faria isso?
- Bem, se ele estava com sua bolsa, pode ter feito uma cópia das chaves.
-...
- Não tinha pensado nisso?
- Agora eu não vou conseguir ficar sozinha!
- Do que está falando?
- E se ele voltar? – Ryo perguntou, fitando a porta como se ela pudesse criar vida e atacá-la a qualquer minuto. – No meio da noite e me atacar?
- Não seja tola.
- Eu te odeio, Akai! Eu realmente te odeio!– Ryo gritou antes de bater o telefone e se jogar no sofá.
'Por que ninguém se importa comigo?'
oOoOoOFim do FlashbackOoOoOo
- Odeio todos eles!
Ryo abraçou a almofada, encarando a janela de modo hostil. Não queria olhar para a porta, com a fechadura nova em folha que parecia zombar de seus medos. Uma semana se passara desde aquela conversa com Akai. Uma semana em que ela ficara trancada no apartamento encarando aquela nova e estúpida fechadura.
Antes só precisava tomar cuidado para não encontrar o tal cara quando saía de casa, mas agora que ele sabia seu endereço tinha medo até de abrir a porta e encontrá-lo no corredor. Preferia mil vezes quando sua maior preocupação era fugir de Jakotsu na hora do almoço.
Suspirou, apertando a almofada com mais força. Devia haver uma maneira de se livrar de tudo aquilo. Precisava ter sua liberdade de volta mesmo que para isso...
'Apenas arrumei alguém com tempo de sobra para convencê-la a fazer o que precisa.' O rosto de Jakotsu surgiu à sua frente, sorrindo quase inocentemente demais ao dizer aquelas palavras.
Ryo sorriu, afastando da lembrança a outra pessoa que vira sorrir daquela mesma forma. O idiota tarado que a estava seguindo e transformando sua vida perfeita em pesadelo.
- É isso! – Pulou do sofá, procurando pelo telefone que caíra no chão junto com a secretária eletrônica. – Eu só tenho que falar para ele que aceito trabalhar direito se puder ter o tal cara... – Sorriu enquanto discava o numero da casa da irmã... É claro que não tinha intenção de cumprir sua promessa, mas preferia pensar nisso quando não tivesse que se preocupar com o tarado. – Alô, Jakotsu? – Sorriu - Precisamos conversar...
