Enganos


N.A. - Obrigada a quem lê, em especial a quem comenta. ;)

Respostas aos reviews mais tarde no live journal ( link no profile)


Engano nº5 – Começos são sempre fáceis

Bankotsu estava confortavelmente deitado no pequeno sofá da sala que servia de depósito para os acessórios da sessão de fotos daquele dia. Ryo não estava facilitando as coisas, xingando-o e ameaçando acertá-lo sempre que se aproximava. O pequeno demônio até conseguira expulsá-lo do parque no dia anterior. Como o maldito segurança acreditara naquela expressão fingida ainda era um mistério para ele... Homens realmente se deixavam levar por um rostinho bonito, principalmente se um corpo ainda melhor estivesse à vista.

O rapaz abriu os olhos, sorrindo com a lembrança. O corpo dela estivera realmente a vista naquele estupidamente pequeno traje. Não podia realmente culpar o segurança por seguir o pedido de Ryo, se a situação fosse outra, ele mesmo faria qualquer coisa que ela pedisse sem nem notar os olhos cheios de falsas lágrimas... Quem se importava com forçada expressão de vitima quando havia coisas mais... Interessantes para se olhar?

Respirou fundo, afastando tais pensamentos. Não devia se importar com a aparência da garota ou quanto de pele ela mostrava. Precisava focar o pensamento em algo mais útil... Como convencê-la a comer o malditos lanches.

Hoje seria diferente. Conseguira chegar com ela ao hotel, e apesar dos protestos da garota, conseguira convencer seus colegas que tinham algum tipo de relacionamento. A expressão de revolta no rosto de Ryo, e o conseqüente chute em sua canela, provavam que ela tentaria se vingar assim que tivesse uma oportunidade.

O pequeno demônio não estava disposto a tornar as coisas fáceis... Suspirou, fechando os olhos. Quase sentia falta de quando ainda era considerado um tarado pronto a atacá-la... Seria tão mais fácil convencê-la se ainda tivesse medo.

Bufou, pensando como aquela garotinha mimada virara sua vida. Quem poderia imaginar que ele, Bankotsu, seria constantemente passado para trás? Ninguém. Assim como ninguém acreditaria que ele deixaria de lado seu instinto de conquistar uma garota bonita, preocupado demais em convencê-la a comer algo que não desejava.

'Estúpido.' A história toda era realmente estúpida. Como podia sentir falta de uma garota sentindo medo a cada vez que se aproximava? Chutando-o e acertando-o com qualquer coisa que estivesse à mão?

- Devolva.

O rapaz sorriu, sem abrir os olhos, todos os pensamentos de como aquela situação era sem sentido sendo substituídos pela satisfação. Ajeitou-se no pequeno sofá, ignorando a garota que batia o pé no chão impaciente à porta da sala.

Jakotsu tinha razão, era compensador quando aquela garota-demônio o seguia irritada... Mesmo que tivesse levado dois dias para conseguir tal fato.

- Não faço idéia do que está falando.

- Você pegou! Eu sei! – Ryo aproximou-se do sofá e puxou a almofada debaixo da cabeça do rapaz. – Hyono disse que viu você perto das bolsas.

- Alguém roubou sua bolsa? – O rapaz perguntou inocente, sentando-se. – Você deveria falar com os seguranças sobre isso.

- Não a bolsa, meu almoço! – Ryo acertou o peito dele com a almofada. – Você pegou, e eu quero de volta.

- Você diz aquele pote cheio de 'mato'?

- Não era mato, estúpido. – A garota bufou quando tentou acertá-lo novamente e teve a almofada retirada de suas mãos. – Salada. Meu almoço. Devolva.

- Está com algum problema para falar?

- Não. – Ryo falou entre dentes.

- Sua voz parece estranha... Tem certeza que—

- Estou com raiva de suas brincadeiras estúpidas!

- Não estou brincando, tem certeza que não machucou os dentes?

- Devolva meu almoço e não chuto você hoje.

- Tente me chutar novamente e quebro sua perna. – Bankotsu falou calmamente, sorrindo quando a garota deu um passo para trás.

- Você não seria capaz... Não pode me machucar, Jakotsu disse—

- Não usa as pernas para comer, certo? – Ele continuou sorrindo, fitando as pernas dela – Seria realmente uma pena ter que tocá-las apenas para—

- Devolva meu almoço. – Ryo repetiu o mais calmamente possível. – Não pode me matar de fome.

- Claro que não... Isso não seria divertido. – O rapaz levantou do sofá, pegou um pacote sobre a mesa e jogou para a garota. – Bom apetite.

Ryo abriu o embrulho rapidamente, franzindo o cenho ao reconhecer as embalagens. Sem pensar duas vezes jogou o pacote de volta no peito do rapaz.

- Onde está meu almoço?

- Isto é seu almoço. – Bankotsu balançou o pacote e sorriu – Joguei o mato onde pertence... No jardim.

- Você fez o que?

- Joguei no jardim. – O rapaz sorriu, pegando um dos lanches do pacote. – Você sabe aquela coisa verde e cheia de flores na entrada do hotel?

- Eu sei o que é um jardim! – Ryo respirou fundo, lembrando da ameaça dele se o chutasse. – Eu não como nada desde ontem, vou passar mais quatro horas aqui... Como pôde jogar fora minha comida?

- Não é como se eu estivesse impedindo você de comer. – O rapaz apontou o pacote, comendo tranquilamente um dos lanches.

- Eu não posso comer isso.

- Por quê?

- Engorda.

- O jejum lhe fará bem então. – Bankotsu deu mais uma mordida no lanche, despreocupadamente. – Parece meio gordinha,

- Faz mal a saúde e... – Ryo acertou um tapa na cabeça dele. – Não quero!

- Ok, eu sei que usa o braço para comer, mas faça isso novamente e vou quebrá-lo. – Bankotsu sentou no sofá novamente e continuou a comer tranquilamente. – E se está pensando em dizer que me odeia... Também não morro de amores por você. - Ryo bufou, batendo o pé no chão antes de sair da sala rapidamente. – Acho que deveria ter dito que peguei a carteira dela também...

oOoOoOoOoOoOo

Ryo estava fervendo de raiva quando o fotografo resolveu encerrar a sessão. Murmurou um 'Até que enfim!' incompreensível, fingindo não ouvir as reclamações por ela ter passado a segunda metade do dia com o cenho franzido quando deveria estar sorrindo para a câmera..

'Tente sorrir com o estomago roncando de fome!' Resmungou consigo mesmo enquanto marchava para a sala onde deixara suas roupas. Estava realmente ansiosa por encontrar aquele idiota que se auto-intitulava guarda-costas e socá-lo até que desmaiasse... Depois pensaria nas ameaças idiotas que ele fizera.

- Primeiro ele rouba meu almoço... – A garota murmurou para si mesmo. – Joga fora e diz que devo comer aquela coisa horrível... – Entrou na sala e começou a trocar de roupa rapidamente. – E rouba minha carteira!

Terminou de se trocar, ainda resmungando, e saiu da sala. Caminhou pelo corredor silencioso, enquanto imaginava quanto poderia feri-lo antes que tivesse que fugir.

'Vou matá-lo... Vou definitivamente matá-lo lenta e dolorosamente!'

Saiu do hotel, ainda sem encontrar a detestável desculpa de guarda-costas, sem saber se estava feliz, triste ou apenas frustrada pelo fato. O idiota nem ao menos devolvera sua carteira.

Entregou a chave ao manobrista e sentou no banco que o rapaz estivera ocupando, tentando se proteger da chuva que começava a cair. Suspirou enquanto revirava a bolsa, procurando pelo maço de cigarro inutilmente. Não estava mais se importando se alguém a visse... Isso seria apenas um detalhe depois de passar o dia todo praticamente rosnando para qualquer pessoa que lhe dirigisse a palavra.

- Só um jantar. Você tem que comer, não tem?

Ryo levantou a cabeça, reconhecendo a voz masculina. Estreitou os olhos para a garota morena rindo para o rapaz a sua frente. Podia sentir o vento soprando as gotas de chuva em seu rosto, mas isso ao invés de esfriá-la apenas servia para piorar aquele dia horrível.

- Você não disse que estava trabalhando?

- Meu fardo acabou vinte minutos atrás.

'Fardo?' Ryo franziu o cenho. 'Eu sou o fardo?'

- Seu emprego é tão ruim assim?

- Cuidar da garota-demônio? – O rapaz riu – Vou apenas dizer que não seria minha primeira escolha.

Ryo apertou a bolsa contra o corpo, tentando imaginar que aquilo era o pescoço do rapaz. Piscou, tentando ignorar as gotas de chuva que atingiam seu rosto, borrando sua visão. 'Maldito cretino' Deu um passo para frente, inconscientemente deixando seu esconderijo, estremecendo quando as gotas grossas começaram a encharcar suas roupas.

- Devia procurar algo melhor.

- Talvez depois. – Bankotsu sorriu, aproximando-se da garota. – Aceita o convite? Eu pago.

'Paga?' Ryo cruzou o pouco espaço que os separava, fervendo de raiva. 'Aposto que com meu dinheiro.'

- Acho que só um jantar não vai—

- Você tem algo que me pertence. – Ryo falou entre dentes, estremecendo com a chuva molhando seus cabelos e roupas. Observou o rapaz virar-se em sua direção e um meio sorriso se formou em seu rosto. – Devolva.

- Você não devia ter voltado para sua casa?

- Bankotsu, você não me disse que era casado. – A garota morena falou, dando um passo para trás quando Ryo se aproximou. – Por favor, senhorita, me desculpe... Ele não me disse que era casado.

- Casado com ela?

- Devolva minha carteira, monstro. – Ryo falou entre dentes, ignorando a garota que a fitava assustada.

- Você roubou o dinheiro dessa garotinha?

- Não. - Bankotsu girou os olhos, pensando por que as garotas bonitas costumavam ser tão burras. – Ryo está longe de ser uma garotinha indefesa. – Segurou o braço da garota, ignorando sua acompanhante. – O que acha que está fazendo, Ryo?

- Quero minha carteira de volta, - Ryo repetiu, passando as mãos pelos cabelos molhados, tentando afastá-los do rosto. - estou morrendo de fome.

O rapaz grunhiu quando a garota morena deixou escapar um som de espanto.

- Que tal ir para casa? Aposto que tem muito mato na sua geladeira.

- Aquilo não é mato, seu ignorante.

- Ryo... – Bankotsu começou, baixando o tom de voz. – Sei que está querendo se vingar pelo almoço, mas fazer uma cena quando estou tentando conseguir aquilo – Apontou para trás, onde a morena estava. – não me deixa de bom humor para amanhã.

- Está querendo levar o manobrista para cama?

- Não o manobrista, ela! – Bankotsu virou irritado, apontando para o lugar que a garota estivera e encontrando apenas o manobrista. – Mas o que diabo...

- Seu carro, senhorita. – O rapaz apontou para o veiculo, tentando manter alguma distancia de Bankotsu.

- Onde está a garota?

- O senhor está segurando o casaco dela.

- Que? – Bankotsu suspirou ao perceber que Ryo havia conseguido tirar o casaco encharcado e escapara para o carro enquanto ele procurava a outra garota. – RYO!

A garota apenas riu, balançando a carteira dentro do carro antes de acelerar.

Bankotsu suspirou, torcendo o casaco molhado como se fosse o pescoço daquela garota irritante.

- Posso ajudá-lo? – O manobrista perguntou, ainda tentando manter distancia.

- Porque você não vai... –Bankotsu começou a se afastar e parou, quando chutou um pequeno objeto. Abaixou-se, pegando o molho de chaves do chão, enquanto um sorriso se abria. A idiota derrubara a chave do apartamento enquanto fugia.

- Senhor?

- Ah sim. – Bankotsu ergueu-se, colocando a chave no bolso. – Pode chamar um táxi para mim?

- Tem como pagar? – O rapaz pulou para trás quando Bankotsu lhe lançou um olhar irritado pela pergunta. – Perdão, senhor, mas aquela senhorita não levou sua carteira?

- Você tem razão. – Bankotsu colocou a mão no bolso na parte interna de seu casaco e balançou uma carteira vermelha. – Ela levou minha carteira. – Enrolou o casaco da garota e sorriu para o rapaz. – Vá chamar o táxi.

- Sim, senhor. – O rapaz murmurou, correndo para fazer o que lhe fora pedido.

- Garota idiota. – Bankotsu murmurou, sorrindo com a lembrança da figura encharcada, encarando-o com olhos brilhando de raiva sob a chuva. – Garota-demônio estúpida e teimosa.

Deu meia volta, parando sob o pequeno toldo do hotel enquanto continuava sorrindo sem motivo. Sua noite estava perdida, a recepcionista morena do hotel, que ele tivera o trabalho de paquerar durante a tarde provavelmente fugiria se tentasse se aproximar novamente.

'-Você roubou a carteira dessa garotinha?'

Bankotsu sorriu, balançando a cabeça. Ryo realmente parecia uma garotinha indefesa depois de ter o rosto lavado pela chuva, não podia culpar a burrice da recepcionista pela confusão. Suspirou, fazendo um sinal para o rapaz enquanto corria para o táxi.

A garota demônio acabara com seus planos para aquela noite, mas estava realmente ansioso para vê-la novamente. Talvez nem tudo estivesse perdido.