Enganos


N.A. Desculpem pela demora, mas tive alguns problemas pessoais.

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Engano nº6 – Namorado?

- Boa noite, senhorita Ryo.

Ryo passou as mãos pelo rosto, afastando as mechas encharcadas da frente dos olhos. Franziu o cenho para o porteiro, mordendo os lábios para não devolver uma resposta malcriada. Como aquele idiota podia olhar para ela e dizer 'boa noite' tranquilamente?

Balançou a cabeça, sentindo com desgosto a água escorrer por sua pele, e pegou a correspondência que o rapaz deixara sobre o balcão antes de marchar para o elevador, ignorando o som que seus sapatos igualmente encharcados faziam a cada passo.

- Maldito dia. – Murmurou para as portas metálicas. Havia algo de muito errado quando nada dava certo.

Bufou, enfiando as cartas dentro da bolsa, o único local seguro e seco no momento, enquanto entrava no elevador. Pensara que pegar a carteira de volta e fugir daquele troglodita seria o bastante para melhorar o seu dia, mas não fora. Não só pegara a carteira errada na pressa de fugir, como também esquecera que o tanque do carro estava quase vazio.

O resultado de sua impulsividade fora ter que caminhar até o posto mais próximo, embaixo da chuva, sem casaco, para pegar um pouco de gasolina e conseguir voltar para casa.

Sim. Um pouco. Aquele ladrão irritante nem tinha dinheiro o suficiente para que ela pudesse encher o tanque. Teria sorte se conseguisse chegar com o carro até o posto na manhã seguinte.

Ryo olhou com desgosto para a poça que se formara a seus pés dentro do elevador. Só podia esperar que esse pequeno episódio não lhe rendesse uma pneumonia. Estremeceu com o pensamento antes de sair para o corredor e caminhar até seu apartamento.

'Estou em casa. É só tomar um banho quente. Comer e dormir...' Sorriu com esse pensamento e levou a mão ao bolso da calça. Seus olhos se abriram ao perceber que o chaveiro não estava ali.

- Isso não pode estar acontecendo! – Ryo choramingou, atirando a bolsa contra a porta no final do corredor. Isso devia ser culpa de alguém... Sim! Era culpa daquela desculpa de Guarda-costas que fora obrigada a aceitar.

- Perdeu alguma coisa?

Ryo fechou os olhos, dizendo a si mesma que aquela voz não era real. Só podia ser uma peça de sua imaginação cansada. Ele não podia estar ali.

- Vai ficar doente se continuar parada ai. – Bankotsu falou calmamente, jogando uma toalha sobre a cabeça da garota que grunhiu em resposta. – Tem certeza que não há nada errado com seus dentes?

- O que está fazendo aqui? – Ryo falou entre dentes sem se mover.

- Você derrubou as chaves enquanto fugia com a minha carteira... – O rapaz deu de ombros, ignorando a garota que virava em sua direção e afastava a toalha para poder fitá-lo com raiva. – Achei que precisaria delas... – Sorriu – Seu carro está furado?

- É claro que não.

- Como se molhou dessa forma?

- Não tinha dinheiro na carteira.

- Eu sei, não recebi ainda... Mas você não estava de carro? Para que—

- A gasolina acabou!

- Entendo... Devia ser mais cuidadosa com esse tipo de—

- A CULPA É SUA!

- Pode parar de gritar? – Bankotsu encostou-se no batente da porta – Posso ouvi-la perfeitamente bem.

-...

- Obrigado. – O rapaz sorriu – Sabe, não pode me culpar por sua falta de atenção em checar o combustível antes—

- O que está fazendo dentro do meu apartamento?

- Esperando você voltar?

- Dentro do apartamento? – Ryo repetiu a pergunta, irritada por ele responder como se fosse a coisa mais normal do mundo invadir a casa de outra pessoa.

- Você demorou.

- Você é mesmo um maníaco!

- Só porque entrei? – Bankotsu deu de ombros. – Eu só queria uma toalha, tive que pegar um táxi e acabei me molhando.

- Não me interessa, saia da minha frente.

- Pode devolver a toalha?

Ryo estreitou os olhos, tirando a toalha da cabeça e apertando o tecido com mais força que necessário.

- Você me deu a toalha que estava usando?

- E daí? Nem tinha molhado... muito.

- Eu vou te matar! – Ryo gritou, pulando na direção do rapaz que apenas riu enquanto tentava segurá-la. Grunhiu, afundando as unhas nas mãos dele. Bankotsu praguejou, puxando-a contra si, e abraçando-a com força em uma tentativa não bem sucedida de impedi-a de acertá-lo.

- Senhorita Akai. – A voz grave chamou a atenção do casal que virou para olhar o homem que saíra do apartamento no fim do corredor. – Acho que sou bem tolerante quando dá suas festas, mas importa-se de não atirar coisas em minha porta?

- Desculpe, eu—

- E de não ficar se agarrando com homens no corredor? – O rapaz continuou em tom reprovador - Esse é um prédio familiar e não...

Ryo estreitou os olhos, enquanto o idiota musculoso, e sem vida própria, continuava com a lista de reclamações, sem se importar com o pequeno detalhe que ela estava sendo mantida presa por um idiota que nunca vira antes.

Ok, talvez não devesse trocar de namorado tão frequentemente.

- Não é da sua conta o que faço ou deixo de fazer, Jay.

- É quando está fazendo no meio do corredor! – O rapaz protestou, franzindo o cenho. - Onde qualquer um pode ver!

- E daí? – Ryo perguntou, sem perceber que Bankotsu a soltara quase por completo. - Não reclamo quando você traz suas amigas para cá e conversam na frente da minha porta. - A garota sorriu quando o Jay a fitou com raiva.. – Ou está com inveja porque não estou agarrando você?

- Como se eu quisesse algo como você... – O rapaz jogou a bolsa a seus pés e virou-se para voltar ao próprio apartamento. – Prefiro mercadoria que não foi tão usada.

- O que você disse?

Ryo piscou quando percebeu que a pergunta não partira de seus lábios e sim do troglodita às suas costas. Observou Bankotsu empurrá-la gentilmente para dentro do apartamento e aproximar-se do outro rapaz.

- Desculpe-se com a garota.

- Não vou me desculpar por dizer a verdade.

- Bankotsu, não precisa...

- Não importa o quanto a garota demônio seja irritante, você não pode falar dela desse modo.

Ryo estreitou os olhos para o tratamento que ele lhe dispensava. 'Idiota! E pensar que fiquei preocupada.'

- Isso mesmo, Jay, desculpe-se comigo ou meu namorado vai acabar com você!

Jay, o rapaz musculoso do final do corredor, sorriu com desdém para Bankotsu que virara para fitar a garota com espanto.

- Seu namorado não deve ser grande coisa se você não se preocupa em enganá-lo.

- Espera aí! Eu não sou—

- Acaba com ele, Ban-chan!

- Não use esse apelido. Nunca—

Ryo gritou, dando um passo para trás quando o que quer que Bankotsu fosse dizer se perdeu em meio ao murro que Jay acertou em seu rosto. 'Oh, deus, não era isso o que achei que ia acontecer...'

- Jay, não! – Ryo fechou os olhos quando Bankotsu acertou o estomago do outro rapaz.

- Então não confia em sua força e resolveu me pegar distraído?

- Bankotsu! – Ryo suspirou desanimada, enquanto os dois rapazes trocavam socos no meio do corredor. 'E pensar que Jay estava brigando comigo por comportamento inadequado...' – Parem!

- Não se meta. – Bankotsu falou rapidamente, desviando do soco que o rapaz tentar acertar em seu rosto e o atingindo com o cotovelo.

- Homens! – Ryo bufou, entrando no apartamento e pegando o interfone. – Ei, Jay atacou meu... namorado! – Falou rapidamente quando o porteiro atendeu – Eu não sei a razão! Apenas o atacou quando nos viu juntos. – Girou os olhos, ouvindo o som de um corpo sendo prensado contra a parede. – Como assim o que quero que você faça? Está bebendo no trabalho de novo? Chame alguém para ajudar e venha aqui separar os dois!

A garota colocou o aparelho no gancho com força, esperando que aquilo fosse o suficiente para assustar o rapaz e forçá-lo a fazer algo. Tentou se aproximar da porta, mas pulou para trás quando viu Bankotsu derrubar Jay no chão.

'Droga, vou ser despejada se continuarem assim!'

oOoOoOoOoOoOo

Ryo sorriu, quase sadicamente, quando Bankotsu se encolheu pelo que devia ser a décima vez desde que ela o empurrara para o sofá com a desculpa de cuidar dos ferimentos em seu rosto.

- Está adorando isso, garota demônio. – Ele falou entre dentes, tentando permanecer imóvel enquanto ela passava anti-séptico no pequeno corte em sua sobrancelha.

- Eu? Adorar ver o sofrimento alheio? – Ryo sorriu de forma inocente, virando-se para pegar o curativo na caixa de primeiros socorros. – Nunca.

- Você é uma péssima mentirosa, garota demônio. – Bankotsu suspirou quando ela encostou o algodão em outro pequeno corte que nem percebera existir até aquele momento.

- Sabe... – A garota começou, limpando o ferimento lentamente. – Eu não teria tanto prazer em vê-lo sofrer se parasse de me chamar desse modo...

- Você me chamou de Ban-chan... Ei! – O rapaz a empurrou quando ela tocou um ponto dolorido de seu maxilar. – Pode ao menos disfarçar a tortura?

- Você reclama demais. – Ryo suspirou, erguendo-se do sofá. – Console-se com o fato que Jay está pior que você.

- Ele está mesmo, não é? – Bankotsu afundou no sofá com um grande sorriso no rosto o que fez a garota girar os olhos.

- Homens... – Murmurou, entrando na cozinha.

- Da onde vieram aqueles três?

- Que três? – Ryo perguntou, voltando para a sala, um saco com gelo nas mãos.

- Os três que conseguiram me obrigar a soltar seu namorado do fim do corredor.

- Jay não é meu namorado! – Ryo bufou, sentando no sofá. – Acho que seu cérebro foi afetado para dizer algo tão idiota. – Aproximou o gelo do rosto do rapaz que se afastou. – É só gelo, idiota.

- Não respondeu minha pergunta.

- O porteiro da noite, não lembra de tê-lo visto quando entrou? – Ryo suspirou quando ele se afastou novamente. – O que foi agora?

- Como ele sabia o que estava acontecendo? – Bankotsu perguntou calmamente. – E que não conseguiria parar sozinho?

- Talvez porque dois idiotas estavam destruindo o andar? – A garota respondeu com raiva, empurrando o gelo contra o olho do rapaz. – Pare de falar ou te jogo para fora.

- Você é uma péssima enfermeira. – Bankotsu murmurou, segurando o pulso feminino e forçando-a a diminuir a pressão do gelo contra seu rosto.

- Então devemos agradecer o fato de que eu não precise fazer isso para viver, não acha? – Ryo levantou do sofá rapidamente. Talvez se arrumasse algo para fazer o idiota parasse de fazer perguntas. – Vou fazer o jantar.

- Você o chamou. – Bankotsu murmurou, fechando o olho livre quando a garota parou. – Tenho certeza que a vi ao telefone enquanto—

- Gosto de morar aqui. Não quero ser despejada porque dois idiotas com músculos demais resolveram se agarrar e—

- Eu não pedi uma explicação. – O rapaz sorriu. – Só estava tentando—

- Me irritar! Como sempre! – Ryo pegou a almofada e atirou no estomago do rapaz. – Por que me preocupei com o que poderia acontecer?

- Então ficou preocupada?

Ryo estreitou os olhos, vendo aquele odioso sorriso aparecer nos lábios de Bankotsu. Como gostaria de pular sobre ele e torcer seu pescoço lentamente... Isso se tivesse certeza que o idiota não acharia aquilo alguma forma estranha de cantada.

- Vou tomar banho.

- Não ia fazer o jantar?

- Estou com frio. – Ryo resmungou, repentinamente pensando que não se importaria com o que ele pensaria contanto que pudesse torcer seu pescoço.

- Eu disse que deveria trocar de roupa. – Bankotsu tirou o pacote com gelo do rosto – Por que não toma banho enquanto preparo o jantar?

- Por quê?

- Estou com fome também. – O rapaz deu de ombros. – Você acabou com os meus planos, lembra?

- Não disse que podia jantar comigo.

- Ryo, querida, deixe de ser insensível. Não percebe que estou faminto e ferido por sua culpa?

- Por que... - A garota piscou confusa. – Por que me chamou de querida?

- Por que não? – Bankotsu devolveu a pergunta, empurrando-a para quarto. – Vá tomar seu banho, sua maquiagem borrou e...

- Você disse meu nome!

- Desculpe-me, garota demônio. – Bankotsu girou os olhos. – Isso não vai se repetir.

- Não vai tentar me envenenar, vai?

- Apenas se colocar maquiagem demais e me assustar enquanto faço o jantar.

- Eu não uso maquiagem demais! – Ryo fechou as mãos, pensando em socá-lo, mas desistiu ao ver as marcas da briga, que Bankotsu tivera com seu vizinho, aparecendo no rosto masculino.

- Fica bem melhor sem ela. – Bankotsu deu de ombros. – Na verdade, está bem melhor assim.

– Idiota! – Ryo gritou, antes de entrar no quarto, batendo a porta. Fitou seu reflexo no espelho e fechou os olhos, tentando ignorar o pequeno e estranho elogio. – Como posso estar melhor assim?

- Tão sensível... – Bankotsu sorriu, caminhando para a cozinha. – Só espero que tenha alguma comida de verdade na geladeira... Seria terrível ter que passar só com 'mato'.

- Não é mato, estúpido!

O rapaz sorriu com o grito da garota e entrou na cozinha.