O CASAMENTO DE AIOROS E ELEKTRA

Ou como tirar o sossego de um budista...

CAPITULO 02 – O BOM USO DAS LUVAS DE PELICA

Exatamente como o previsto, Hipólita andava pelo Santuário como uma rainha... ou como uma predadora... cuja presa era o ex-cavaleiro da primeira casa, um certo lemuriano chamado Mu.

Hipólita não poupava esforços. Túnicas diáfanas em locais estratégicos, decotes generosos, sandálias amarradas que realçavam suas belas pernas e o mais importante, estar sempre ao lado dele. Com a desculpa de conversar sobre Elektra, falar sobre Aioros, elogiar o trabalho artístico de Mu, conhecer melhor o Santuário, a rainha das amazonas não largava dele.

Shaka estava tomando chá de jasmim no jardim quando Elektra entrou. Primeiro ele aspirou o aroma da xícara, depois fechou os olhos para saborear a bebida:

-Seu pai não está. Deve estar pajeando sua mãe.

-Sei disso. Já vi os dois descendo para a casa de Áries... – Os dentes de Virgem rangeram levemente. –Ah, loiro! Eu já teria dado um "basta!" nessa situação. Até quando você vai fazer vista grossa?

Shaka terminou o chá, se ajeitou melhor nas almofadas, ganhando tempo depois abriu um sorriso:

-Elektra, sempre explosiva... Talvez a convivência com Oiros te ajude a melhorar... Sim, eu poderia "rodar a baiana" como Aldebaran gosta de dizer e dar um escândalo digno de qualquer lavadeira... Mas pense, garota. Isso não viraria contra mim? Não daria mais armas nas mãos da sua mãe? Não é segredo pra ninguém que ela só aceitou vir ao seu casamento para estar perto do Mu e tentar reconquistá-lo.

-Ou você confia muito no seu taco ou tem sangue de barata. Ficar aí, sentado, meditando só faz com que ela se sinta mais e mais confiante...

-As guerras são ganhas por quem tem a melhor estratégia. Vai por mim.

-Eu aprendi a gostar de você, Shaka-yo. Odiaria ver minha mãe ganhar, mesmo ela sendo minha mãe. Moksha iria ficar muito confuso...

-Imagino que sim... – e encheu a xícara novamente.

Elektra saiu bufando. Esses cavaleiros calminhos a deixavam estressada. Assim que ela estava longe demais pra ouvir alguma coisa, Shaka se levantou e atirou o bule, a xícara, o pires, tudo, na parede. Puxou os cabelos com as mãos, gritou, chorou, pediu paciência pra si e o fogo dos céus "pra cima daquela vagabunda". Resolveu tomar um banho pra se acalmar.

À noite, Moksha enterrou mais um pouco a adaga do ciúme no seu peito ao comentar que a mãe da Elektra era muito parecida com ele. Loira, olhos azuis, a diferença era nos lugares "mais cheios"... E antes que Mu o fizesse ficar quieto, Mok-chan revelou também que todos os homens do Santuário ficavam de olho na "poupança" dela, pois ela rebolava muito pra andar.

Shaka se levantou da mesa do jantar em silêncio. Moksha olhou para seu pai, que estava acompanhando o andar do outro com um olhar triste...

-Num vão bigar, vão?

-Hum? Não, Mok-chan, não vamos...

Realmente não brigaram. Shaka foi dormir no quarto de hóspedes, travando a porta com seu cosmos. Mu dormiu suspirando. "Até quando, minha deusa?"

A pergunta era feita por todo o Santuário, aliás. Afrodite enrolava um cachinho nos dedos, resmungando:

-É nessas horas que eu penso como eu odeio gente loira.

Pipe e Sukhi riram.

-Nossa, você odeia toda sua família, então?

-Só as mulheres loiras... – ele tentou corrigir, ocasionando nova rodada de risadas – que não sejam as minhas irmãs e primas... ah, vocês entenderam, suas horrorosas. Odeio mocréias que se comportam feito donas do mundo e dão em cima do marido das minhas amigas e amigos tão descaradamente...

Hipólita ouviu e veio dar um coicezinho de leve:

-Você tem que lembrar que a mocréia loira chegou antes e já tinha direitos sobre o citado marido...

Afrodite semicerrou os olhos e devolveu na hora:

-HAH! Mas essa é muito boa. First, my lady, usou o verbo no tempo certo: TINHA! Passado, tempo distante, já era. Desdenhou naquela época, a fila anda, meu amor. Segundo: hoje o citado marido já arrumou outro companheiro, outro filho, é o que vale...

-Isso é o que vamos ver, rascunho de miss.

Shion veio correndo tirar sua filha insuportável dali, antes que os três batessem nela, apesar dela ser uma rainha, mãe da noiva e convidada de honra do Santuário. Afrodite ficou possesso:

-Aonde já se viu tamanho desaforo? Rascunho de miss? Eu SOU lindo... mais lindo que ela, não é?

-Dá de dez a zero em muita mulher por aí, querido. Em charme e elegância, além da beleza.

-É só despeito. Ela é mesmo uma loira azeda. Em todos os sentidos...

Afrodite colocou o mindinho na boca:

-Pra estar nesse estado, jogando farpas feito um porco-espinho, ela deve estar meio desesperada...

-Quem é páreo para o Shaka?

-E mais. Ele e o Mu tem algo muito forte, coisa de infância... Não são quaisquer outros olhos azuis e corpão violão que vão acabar com tudo...

Aioros, na dele, escolhia as músicas para que os "wedding singer" cantassem. Shina e as outras amazonas distraiam Elektra falando dos vestidos e das maquiagens, Hipólita achando tudo muito fútil e desnecessário, mas a filha bateu o pé: não ia casar feito uma amazona, ia casar com o homem da sua vida e ia se enfeitar como uma mulher. A loira enfureceu-se mais uma vez e cerrou os punhos.

"Tenho que vencer de algum lado, de preferência em todos!" e foi novamente encher a paciência do "garoto que enfeitiçou sua filha".

Hipólita teve que reconhecer que ele tinha uns olhos esverdeados muito lindos. Calmos, num rosto de homem que prometia segurança e proteção. E um corpo definido...

"Pare com isso, estúpida! Ele é o inimigo! Desvirtuou sua filha, fez a cabeça dela contra tudo que você ensinou a vida inteira..."

-Pois não, minha senhora?

"Pelo menos, é educado." – Aioros, você tem noção do tesouro que vai levar pra casa amanhã? Elektra não é uma mulher qualquer...

-Claro que não. Senão eu não me casaria com ela...

"Ambicioso... talvez eu possa reverter a meu favor..." – Todo homem tem seu preço. Diga-me o seu, jovem. Diga quanto quer pra deixar minha filha em paz!

O sagitariano sorriu. Previsível. Até que demorou muito pra aquele papo acontecer...

-Realmente, minha senhora... Todo homem tem um preço. Ainda bem que os sentimentos não. O que eu sinto por Elektra é impagável. Mesmo que ela seja deserdada, mesmo que ela seja apenas uma amazona de Athenas, eu a amaria. E sabe? Eu preferia que você assim. Uma mulher comum para um homem comum...

Hipólita ficou mais furiosa ainda. E saiu, batendo os pés. Marin comentou depois, quando ele contou aos parentes a conversa:

-Oiros, você pode ser tudo, menos um homem comum...

-Irmão, você sempre foi, é e será meu ídolo. – Aioria sorriu. – Eu teria matado essa mulher há muito tempo...

-Quando o casamento acabar, ela vai precisar de uma boa escolta pra casa... – riu Aioros. – Todo mundo quer a cabeça dela...

N/A: E no próximo, o casamento! E uma surpresa! 21/04/06.