"I'll love you.
I'll definitely love you"
(Soleil – Gackt)
Kagome estava em sua sala atendendo uma menininha. Ela havia quebrado o braço à um mês e agora estava lá para tirar o gesso. A menina era linda e fofa, com cinco aninhos de idade. Olhinhos grandes e pretos, cabelo preto nos ombros e pontudos na frente, com uma pequena mecha mais comprida atrás. Sua mãe a acompanhava, e sorria docemente para a jovem médica.
A garotinha estava sentada na maca, e Kagome já havia quebrado a primeira parte do gesso com um martelo pequeno quando Ayame entrou.
-Dra. Kagome?
-Sim, diga Ayame –disse parando e olhando para a enfermeira.
-O paciente InuYasha está chamando a srta novamente.
O rosto da médica foi tomado por uma fúria intensa, e a enfermeira ficou com uma gota na cabeça.
-Diga a ele que eu estou muito ocupada no momento e que se ele continuar mandando me chamar, atrapalhando o meu trabalho e minha concentração, eu vou ter o maior prazer de ir lá e quebrar a outra perna dele! –disse muito brava e se controlando para não gritar.
-Sim, dra. –Ayame disse e saiu.
Kagome voltou seu olhar para a menina e notou que os olhos dela estavam cheias de lágrimas de medo, enquanto tremia ligeiramente. Sua mãe estava prestes a pegá-la e sair correndo dali. A médica ficou com uma gota enorme na cabeça. Em seu ataque de fúria se esquecera completamente delas, e é claro que elas estavam assustadas.
-Gomen, ne? É que um amigo meu sofreu um acidente e agora fica no meu pé o dia inteiro. Isso atrapalha o meu trabalho e eu tenho que cuidar de menininhas lindas como você, né? –disse dando um grande sorriso que pareceu dissipar o medo da menina.
Notou que a mãe ainda a olhava desconfiada.
-Não vou quebrar a perna dele, foi só força de expressão, para ver se ele pára –completou sem graça.
Terminou de tirar o gesso e por via das dúvidas resolveu dar um pirulito para a menina, que ficou alegre. Abriu a porta para chamar o próximo paciente e notou ter muito trabalho pela frente, pois havia uma fila enorme à sua porta. Se InuYasha fosse lhe atrapalhar de cinco em cinco minutos, não acabaria de atender aquelas pessoas em um dia.
Então pensou na capacidade que ele tinha de tirá-la do sério, parecia um dom. Sempre fora assim, e mesmo agora – de cama e sem poder se mexer direito – o dom não se extinguira. Era realmente incrível. Fez uma nota mental, para lembrar-se de dar uma bronca nele.
Teria um longo dia pela frente, pois era seu dia de plantão novamente. Desde a visita de Sango e Miroku já haviam se passado quatro dias. E desde então InuYasha a chamava todo dia o dia inteiro. Aquilo já estava lhe dando nos nervos. Tudo bem que ele tinha pavor de hospital, mas assim já era demais. Em pouco tempo ele teria alta, não custava nada ele esperar e ter calma.
Às sete horas da noite, quando finalmente acabara de atender a todos e que o hospital começava a esvaziar, ela foi ao quarto de InuYasha. Ele não estava mais tomando soro e já conseguia se movimentar mais, acabara ficando imune à dor, e também, ele sempre fora mto forte e uma dorzinha não ia impedi-lo de se movimentar.
Sempre admirara essa força nele. Força física e psicológica, e acreditava que aquela força havia sido uma das coisas que havia lhe chamado a atenção. Era fraquinho de idéias, mas ninguém é totalmente perfeito.
A médica suspirou, estava tão cansada que nem conseguiria dar bronca no enfermo.
-InuYasha, você não pode ficar me chamando! –disse se deitando no sofá que ficava ao lado oposto à poltrona.
-Depois da ameaça eu não vou chamar mesmo! –respondeu –Não quero ficar muito tempo mais deitado.
-Ótimo, pois atrapalha o meu trabalho. Sou uma médica, tenho que cuidar bem dos meus pacientes! E com a Ayame aparecendo toda hora para me dar um recado seu não dá certo!
-Tudo bem! Tudo bem! –ele concordou –Parece cansada.
-E muito. O pior é que hoje é meu plantão, vou passar a noite em claro. –comentou de olhos fechados –Mas eu não posso dormir! –completou sentando-se.
Olhou para InuYasha e ficou o observando.
-O que foi? –perguntou o enfermo sentindo-se incomodado com o olhar.
-É que eu estive pensando sobre o seu acidente.
-Pensando o que?
-Bom, é que você nunca foi de beber, nem gostava de bebida, eu só achei estranho você bater o carro por culpa da bebida e... –despejou –Esquece. Faz tanto tempo, seus hábitos devem ter mudado em nove anos.
-Você está certa. –ele disse desviando o olhar –Eu sou um idiota –completou com um riso sarcástico, como se rindo de si mesmo.
-Por que? –ela perguntou sem entender.
-Porque eu sou! –suspirou –Eu ainda não te falei porque eu capotei o carro, né?
-Você queria capotar? –ela perguntou assustada.
-Não! Digo, por que eu bebi e capotei.
-Ah, ta. Não, não contou.
-Lembra da Kikyou? –perguntou olhando para ela.
"Como poderia esquecer?" –pensou sorrindo melancolicamente e acenando com a cabeça.
-Naquele dia, nós havíamos brigado. Alias, como sempre. Vivíamos brigando. –comentou rindo nervoso.
-Vocês brigavam? –perguntou perplexa –Mas estavam sempre bem, sorrindo e... apaixonados. –completou baixando o olhar.
-Feh! E a reputação dela? Ela não podia mostrar para todos que nós estávamos brigados! Era apenas fachada!
-Nossa.
-Bom, nós brigamos e eu senti que foi culpa minha. Um ciúmes besta, Então resolvi ir pedir desculpas. Quando cheguei em casa...
Kagome sentiu seu coração apertar ao lembrar que Sango havia lhe contado que eles começaram a morarem juntos a quatro anos. Ela só não entendia por quê não haviam se casado.
-Quando cheguei em casa ela estava com Naraku na nossa cama! –despejou com ódio.
-Naraku? Ele não.
-É, esse mesmo.
Ela se lembrava de um garoto que estudara com eles no primeiro, segundo e terceiro anos. InuYasha e ele se odiavam, literalmente. Viviam brigando.
-Eu fiquei cego de ódio e fui embora com ela gritando que não era aquilo que eu estava pensando. Dirigi até ver um bar e a idéia me pareceu irresistível, tentadora. Depois não lembro. Talvez o destino quis me trazer até você. –completou –Não sei como vim parar em Nagoya, se é que me entende.
Ela sorriu e se levantou.
-Você deve amá-la para ter feito uma besteira dessas. –ela comentou ainda sorrindo, apesar de seu coração se apertar cada vez mais e a vontade de chorar apenas crescer.
-Eu não sei. Depois disso.
-Sabe sim –Kagome disse cortando-o – Só está com raiva –ela olhou para o lado –Vou ver o que tem para jantar, estou morta de fome. Depois eu volto –disse se virando.
-Nada de sopa!
-Tudo bem. –concordou e saiu.
Ao passar pela porta, tateou os bolsos a procura da aspirina, mas notou ter esquecido na sua sala e rumou para lá.
Sentiu-se idiota. Por um momento, um mísero momento, havia nutrido esperanças e agora experimentava a tristeza. Quer dizer, um pouco mais de tristeza. Pelo jeito seria sempre daquele modo, sempre nutriria esperanças e quebraria a cara.
Ao entrar na sala, não pode segurar umas lágrimas que caíram solitárias. Pegou o remédio em cima de sua mesa e tomou um, guardando o resto no avental. Olhou em volta, deixando as lágrimas caírem livremente. Já se acostumara com elas, as únicas companheiras que teve nos últimos nove anos, e provavelmente, as únicas que teria nos anos seguintes.
Colocou as mãos no rosto, tampando-o, e logo depois secou as lágrimas que paravam de cair, conforme ela ia se acalmando. Respirou fundo. Não era a primeira vez que isso acontecia – talvez nem a última – então não tinha por que ficar daquele jeito.
Saiu no corredor e trombou com Jinenji.
-Era com você que eu ia falar! –ela comentou sorrindo forçadamente.
-Sim dra.? –ele perguntou sorrindo de volta.
-Vê algo bem gostoso para jantar e leva para o quarto 310? Para duas pessoas. –pediu –Ah! Sem ser sopa –completou.
-Ok! –ele concordou.
Ela saiu andando pelos corredores, até chegar na porta 310 e ao abri-la levou um susto ao ver InuYasha quase voando no pescoço de nada menos que Sesshoumaru. Havia uma moça ao lado dele, e ela notou ser Rin.
Rin havia sido uma boa amiga dela e de Sango, apesar de ser mais velha e tê-las conhecido tardiamente. A haviam conhecido na biblioteca da escola, na época ela fazia bico lá para pagar a faculdade. Lembrava-se de tê-la apresentado a Sesshoumaru e ficou feliz ao pensar que havia juntado os dois.
-O que está havendo? –ela perguntou indo para perto do enfermo –Fique quieto, InuYasha!
-Kagome? –Rin perguntou surpresa.
-Oi, Rin –ela disse sorrindo –Longa história –respondeu antes de a pergunta ser feita –Depois Sango te explica. Agora: o que houve?
-Esse!
-Eu só disse que ele é um idiota –Sesshoumaru disse como se fosse a coisa mais natural do mundo e ignorando o fato de ela estar ali.
-O que veio fazer aqui! –o enfermo perguntou ríspido.
-Dever de família. Além do mais, Rin insistiu. Por mim, eu não teria vindo –disse com aqueles olhos gelados e púrpuras, que Kagome pensou ser tão iguais e diferentes do de InuYasha.
-Ótimo! Agora pode ir!
-Calma! –falou Kagome.
-Você quer ir para Tokyo? –o mais velho perguntou.
-Não! Vou ficar aqui até me recuperar totalmente!
-Tudo bem. Quanto tempo leva isso? –perguntou virando-se para a médica.
-Mais umas três ou quatro semanas para a recuperação total –respondeu.
-Vou avisar no seu trabalho que você está no hospital. E não se preocupe, eu não direi que foi por excesso de bebida... –concluiu.
-Muito obrigada pelo favor –replicou.
-De nada. Pelo menos não perdeu a educação.
-Ora seu!
-Tenho que ir agora. Estou trabalhando em um caso, não posso ficar mais. Quer que eu volte mais vezes para te ver? –perguntou sorrindo com sarcasmo.
-NÃO!
-Ótimo, assim eu não perco meu tempo marcando horários para você na minha agenda. Vamos, Rin –disse indo para a porta e ignorando um InuYasha bufando de raiva.
-Foi bom ver você de novo, Kagome –a moça disse sorrindo, enquanto andavam lado a lado em direção à porta.
-Digo o mesmo! E fico feliz por vocês dois –comentou sorrindo também.
-Agora que eu sei onde você está, vou te mandar um convite para o casamento! Estou tão animada!
-Parabéns –a médica disse parando na porta –Tchau para vocês!
-Tchau –Rin respondeu, mas seu noivo nada disse.
Kagome entrou novamente no quarto, pensando que desapontaria Rin, pois não ia ao casamento. Havia sido encontrada, mas não queria voltar para sua vida antiga, sentia que aquela vida não era mais sua, sentia que não fazia mais parte de nada que tivera no passado. Ela havia morrido para tudo aquilo. E também não queria ver InuYasha com Kikyou – pois tinha certeza de que eles voltariam assim que ele voltasse para Tokyo – seria demais para o seu coração suportar.
-Como pretende ficar aqui até se recuperar totalmente? –ela perguntou afastando os pensamentos e se sentando no sofá.
-Por que?
-Porque em uma semana você receberá alta, não pode ficar "morando" no hospital –respondeu.
-Para Tokyo eu não volto!
-E o que fará?
Ele ficou pensativo. O que faria? Já havia decidido voltar para Tokyo apenas depois de se recuperar, não mostraria para Kikyou que havia "batido" o carro por que bebeu demais por culpa dela, ah, isso não. Não iria dar esse gostinho. Então sua face se iluminou e ele abriu um sorriso enorme.
-Eu posso me hospedar na sua casa! –concluiu.
-O QUE! –ela perguntou incrédula –De jeito nenhum!
-Por que não? -ele perguntou com cara de cachorro perdido.
-Ora, porque... porque... Eu não tenho tempo para cuidar de você!
-Mas se eu vou receber alta é porque eu posso me cuidar sozinho! –rebateu.
-Mas...
-Por favor! É por pouco tempo! –ele pediu com os olhos grandes e brilhantes.
Kagome não resistiu. Que mal teria afinal? Não ia mudar nada, e depois ele iria embora e nunca mais se veriam novamente. Além de não ter resposta.
"Kami, me dê uma força de vontade de aço..." –pensou enquanto imaginava seu coração se quebrando em milhões de pedaços.
-Tudo bem... –concordou suspirando.
-Então está decidido! –comemorou InuYasha.
Ela suspirou novamente apenas imaginando como seriam as duas semanas que InuYasha estaria na sua casa.
"In the depths of nearly-breaking heart,
Glass-colored snow that closes up the city,
Just like fragment of sadness.
Even if it is way of life only getting hurt,
I never will permit that you see my tears"
(Eternal Wind – Moriguchi Hiroko)
Olá pessoal!
Mil desculpas pela demora, mas estou meio sem tempo. Prometo tentar não atrasar.
Essa música eh o encerramento de uma das séries Gundam, não lembro ao certo qual.
Desculpem-me também por eu não fazer os agradecimentos como costumo fazer, mas hj eu não estou mto bem. Então, obrigada: Mah, Ju-Sng, IF-Sango, Ana Higurashi, Jéssy Hellsing, Inu-N, Jaque-chan. Mto obrigada por se lembrarem d mandar reviews pra mim!
De resto, estou deprimida, mas vou melhorar!
Espero q tenham gostado do chap, e espero mais reviews tbm.
Kisus em tds,
§Lari-chan§
