Oi de novo!Card Captor Sakura e o livro A marca de uma lágrima não me pertencem, eles são respectivamente do grupo Clamp e do escritor Pedro Bandeira.
Dedico esse capítulo a cleopatra-cruz.Bjinhu.
Capítulo 3:
Na escuridão do laboratório – Um poema para Eriol
" To... Tomoyo! Ele ama Tomoyo!", ela pensou desesperada.
- Ah, priminha! Foi maravilhoso você ter levado Tomoyo à festa! Eu caí por ela na hora... Ela é... nem sei como dizer... Se você soubesse o quanto me fez feliz!
"Ah, Eriol... Se você soubesse o quanto me fez sofrer..."
- Quero que você seja a madrinha do nosso namoro, Sakura. Quero dividir essa felicidade com você.
"Eriol, não faça isso comigo. Por favor, não!", sem poder explodir em protestos, o pensamento de Sakura caía de joelhos.
- Você vai ajudar o nosso amor, não é, priminha? Por favor! Eu lhe peço que fale com Tomoyo e marque um encontro para amanhã à tarde. Você vai me ajudar? Por favor, priminha! – ele pegou as mãos de Sakura enquanto pedia com muita súplica.
- Eu? – ela sentia-se muito transtornada. – Sim... é claro, primo... Eu... Prometo...
- Muito obrigado, priminha! Diga a Tomoyo para me encontrar às quatro, no shopping, em frente ao cinema.
- Pode contar comigo... – ela disse num tom muito triste. Sakura abaixou a cabeça na hora de ganhar o beijo estalado, prêmio de consolação para a cretina que acreditava na ilusão. O beijo marcou-lhe a testa e Eriol não sentiu o gosto salgado dos filetes de derrota que escorriam pelo rosto delicado dela.
- Eu te adoro, priminha! – ele disse mais do que feliz.
"Eriol, não era essa adoração que eu queria... Eu queria apenas o seu amor, eu queria você, Eriol..."
Sakura ficou só, com a escuridão que tomava conta do seu ser. Tirou os óculos molhados e encolheu-se, desejando que uma concha se fechasse em torno de si e a levasse dali, para um mar distante, escondendo seu desespero sob toneladas de água salgada. Ela chorava como nunca, queria que aquilo fosse um pesadelo, não podia ser realidade.
"Como isso foi acontecer? Eriol... com a Tomoyo? Logo com a Tomoyo, minha melhor amiga... Me ame, por favor... Por que você não pode me amar, se eu te amo tanto? Por que você me beijou daquele jeito? Por que eu estava ali, à mão? Não, não pode ter sido isso. Aquele beijo era de verdade, senti que era verdade... eu ainda sinto, Eriol..."
Um ruído suave da porta fez Sakura emergir do desespero. Seria ele de volta, para contar que tudo não passara de uma brincadeira? Que Tomoyo não importava e que era ela que ele amava? Mas, mesmo na penumbra, mesmo sem óculos, mesmo com os olhos cheio de lágrimas e afogados pela desilusão, dava para perceber que não era Eriol. Era um vulto de branco, talvez o encarregado do laboratório.
Sakura encolheu-se mais ainda, fundindo-se às sombras. Não, ninguém podia vê-la nesse estado. Ninguém além do seu grande inimigo a vira num estado como esse. O vulto aproximou-se de uma das estantes envidraçadas. Abriu-a com a chave e pegou um frasco, tirando algo de dentro. Guardou no bolso de guarda-pó e trancou o armário, saindo rápida e sorrateiramente do laboratório.
O sinal tocou logo em seguida, anunciando o fim do recreio. Sakura secou o rosto e pôs-se de pé, já de óculos. Aproximou-se do frasco no qual o vulto de branco havia mexido e leu distraidamente o rótulo:
"LINAMARINA – Glicosídio cianonitrila."
"Química! Uma ciência de palavrões! Bem, vou aprender todos eles até o final do ano. Chega de palavras carinhosas!", ela pensou enquanto enxugava- se melhor. Arrumou a roupa, o cabelo e decidiu-se. "Vamos lá, Sakura! Vamos rir e fazer os outros rirem! Ninguém tem nada com a sua vida. Eu prometi, e vou cumprir minha promessa. Vamos lá, cretina! Vamos ajudar a liquidar a sua própria ilusão!"
- Sakura! Onde você andou? Procurei você o recreio inteiro! – Tomoyo parecia aflita e havia pouco tempo para conversar antes da aula de português. – Seu rosto está vermelho... O que houve? – Tomoyo lhe olhou preocupada.
- Nada... Acho que estou resfriada, Tomoyo. Na saída, eu vou com você até o ponto de ônibus. Tenho uma coisa pra te contar, e que vai te deixar muito feliz. – Sakura força um sorriso.
- E eu também, Sakura! – Tomoyo dá um belo sorriso.
A fama do professor de português do colegial assustava. Diziam que ele era severíssimo. Na certa, aquela severidade não devia ser semelhante à do Touya, o terrível bedel-chefe. O professor seria daqueles exigentes, para quem um erro de concordância era tão grave quanto empurrar escada abaixo a cadeira de rodas de uma velhinha. Com a velhinha em cima. Tomoyo estava ao lado de Sakura e, afora a vermelhidão que já desaparecia, era impossível notar qualquer indício de tristeza na menina.
Redação. O forte de Sakura. Se somasse todas as médias de redação de seus oito anos de estudante, daria quase oitenta. O professor falava sério, mas mansamente. Propôs aos alunos que fizessem um texto de aquecimento, tema livre. Sakura olhou de lado para Tomoyo, e o que viu foi pavor. Ambas sabiam que a tal redação de 'aquecimento' era o modo mais rápido de o professor conhecer as possibilidades de cada aluno. Seria a primeira impressão, que definiria o aluno no conceito de professor.
Sakura sabia que 'desastre' era a definição mais adequada para as redações de Tomoyo. Sorriu para amiga e pôs-se a escrever furiosamente. Em dez minutos, passou a folha de papel discretamente à Tomoyo, que ficara completamente confusa.
- Pegue. Copie com sua letra. – ela sussurrou. Bem, a redação de Tomoyo já estava pronta. A amiga estava salva de ser 'queimada' pelo professor logo no primeiro dia. Agora era sua vez. O tema era livre. Mas que outro tema poderia passar pela sua cabeça, senão a figura idolatrada de Eriol? E ela estava disposta a confessar no papel tudo o que sentia e que sua expressão escondia?
"Idiota que fui! Pensar que Eriol pudesse se apaixonar por mim, por mim, a gorducha...", os pensamentos queimavam Sakura por dentro, e ela escreveu: "Quando você me beijou..." "Pensar que Eriol poderia ler nos meus olhos, através dos meus óculo, toda a paixão da gorducha iludida...", maquinalmente, escrevia sempre a mesma frase: "Quando você me beijou..." "Apaixonar-se pela desengonçada, pela feiosa piadista... Ah, que piada! Com o rostinho de Tomoyo à frente... Com o corpinho de Tomoyo nos braços... nem pensar!" "Quando você me beijou..." "Burra! O que Eriol poderia encontrar em mim? A espinha amarela, como um aríete de pus abrindo caminho rumo à solidão?" "Quando você me beijou..." "O que ele veria além do que todos vêem? Além da gorducha iludida, da feiosa cretina? Syaoran tem razão. Eu acredito em tudo, como uma cretina! Acreditei que Eriol poderia me amar... Acreditei até naquele beijo..." "Quando você me beijou..." "Eriol...", vinda do fundo do seu desespero, uma lágrima solitária pingou sobre o papel.
- Muito bem. – disse o professor se levantando. – Acho que já deu tempo de vocês colocarem no papel o que tem em suas cabeças. Sakura? Quem é Sakura?
- Sou eu. – Sakura levanta o rosto e tenta disfarçar sua tristeza.
- Meu colega da oitava série elogiou muito seus textos, Sakura. Quero começar pela sua redação. Pode entregá-la pra mim? – a folha passou para as mãos do professor e o arremedo de sorriso desapareceu. – O que é isto? Há apenas a mesma frase escrita várias vezes!
- É um poema concreto, professor. O leitor deve completar o poema de acordo com suas próprias experiências, de acordo com suas lembranças de um beijo de amor... – ela disse abaixando a cabeça. Risadinhas discretas fizeram o professor erguer um olhar duro, que silenciou a classe.
- Uma explicação hábil. Hábil e espirituosa; Sakura. Mas que não passa de uma saída para desculpar a preguiça. A preguiça e a falta de respeito. E isto? Que marquinha redonda é esta? Parece a marca de uma lágrima...
- Nada, professor. Faz parte do poema. É o cuspe do namorado... – dessa vez a gargalhada não foi contida e o olhar do professor, surpreso, não conseguiu transmitir autoridade. Tinha perdido o controle de uma sala pela primeira vez na vida. Aquilo o enfurecera, havia se tornado alvo de uma piadinha de uma aluna preguiçosa e sem respeito algum para com os outros.Virou-se para Sakura e sorriu sarcástico.
- Começamos bem, não é, dona Sakura? Que tal abrir seu boletim com um zero? – Sakura sorriu. – Vamos ver se essa classe vai me dar trabalho. Você, mocinha, qual é o seu nome? – ele se virou para Tomoyo.
- Eu? – Tomoyo tremeu de medo por um momento. – Tomoyo...
- Posso ver sua redação, Tomoyo? – ela lhe entregou o papel. – Hum... a estrutura não está má... A idéia é forte... Breve, mas forte... Parece que me informaram errado. Parece que quem sabe escrever nessa sala chama-se Tomoyo. – a jovem quase caiu pra trás. – Que tal abrir seu boletim com um oito, Tomoyo? Afinal, você deve saber que nove eu só dou pra mim mesmo, e dez só para Deus.
- Ah, Sakura, como isso foi acontecer! Estou morrendo de remorso. Eu tirei oito com a redação que você fez, e você tirou zero! – Tomoyo disse triste enquanto as duas rumavam para fora do colégio em direção à parada de ônibus.
- Não esquente a cabeça, Tomoyo. Logo, logo eu dou jeito naquele professor. Você vai ver! Na próxima, ele vai ter que me chamar de Deus e me dar um dez! – ela forçou um sorriso.
- Puxa! Oito em redação! Nunca tirei isso. Uma nota oito vezes maior do que a sua, para duas redações feitas pela mesma pessoa!
- Além da redação, acho que você vai ter que rever sua matemática também, Tomoyo. Oito vezes zero dá zero mesmo! – As duas riram e Sakura passou o braço pelos ombros de Tomoyo. Quem visse as duas, assim abraçadas e sorrindo, teria uma imagem falsa daquela felicidade. Uma delas mentia ao sorrir, mas mentia como uma especialista.
- Acho que nunca vou poder pagar tudo o que devo à você, Sakura. E não estou falando da redação. Estou falando de amor...
- Pra mim, escrever também é um ato de amor, Tomoyo. Quem escreve ama aquele que vai ler, quer conquistar o amor daquele vai ler.
- Sakura, eu estou apaixonada mesmo. A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi você ter me convidado para aquela festa. Conhecer Eriol foi... – com a expressão mais interessada do mundo, Sakura ouviu o relato da amiga. Já estavam no ponto de ônibus, cheio de gente, e Tomoyo falava baixo, como segredo, como culpa, como num confessionário. Descrevia cada passo daquela noite inesquecível, cada dança, as palavras sussurradas em seu ouvido... O único segredo que faltava era Eriol debruçando-se sobre Sakura no jardim e lhe beijando apaixonadamente. Mas não poderia jamais contar à Tomoyo, não podia estragar-lhe a felicidade. Bastava que uma das duas fosse infeliz.
- Ah, Sakura! Meu único medo é que eu não tenha passado de um presente de aniversário, de diversão para uma noite. – lamentava Tomoyo. – Mas eu quero aquele garoto! Preciso me encontrar com ele de novo!
- Que tal amanhã, às quatro, em frente ao cinema, no shopping? – perguntou Sakura quase que debochando. Tomoyo olhou atônita para a amiga.
- O quê! Do que está falando?
- Bobinha! Eu não disse que tinha uma ótima novidade? Pois é esta!
- Você falou com ele... sobre mim! – Tomoyo perguntou nem acreditando. Sakura nada respondeu, era óbvio que sim. – Que foi que ele disse? Que foi que ele disse? – ela perguntou super afobada e se atropelando nas palavras.
- Hum... Mais ou menos o que diria Takashi sobre Sakura...
- Isso foi numa novela? Não assisti...
- Ah, Tomoyo! Isso não é novela!
- Ah, Sakura, por favor! O que ele disse?
- Acho que você vai preferir que ele mesmo diga, não é? O importante é que ele quer se encontrar com você amanhã, no cinema, às quatro.
- Ai, ai, ai. Minha mãe não vai deixar!
- Diga que você vai ao cinema comigo. Passo na sua casa lá pelas três e meia. Eu tinha mesmo que dar um pulo na livraria. Na saída do cinema nos encontramos e voltamos juntas.
- Você é um amor, Sakura! Não sei o que faria sem você! Amanhã de manhã, diga ao Eriol que...
- Eu? Não acha melhor você dizer?
- Não sei se poderia, Sakura. Vou ficar muda como uma porta quando encontrá- lo.
- Então escreva um bilhete. Basta sorrir e colocar o bilhete na mão dele.
- Ah, Sakura! Você sabe que não posso! Eu sou diferente de você, sou muito burrinha. Eriol haveria de rir de um bilhete meu. Logo ele que sempre foi o primeiro da classe.
- Pelo menos foi o que a mãe dele disse.
- Eu não posso bancar a burra com ele, Sakura! Por favor, me ajude!
- Como hoje, na aula de redação? – Sakura, lentamente, abriu o fichário. Lá estava a folha, com o poema feito na aula de física.
Nos teus braços me abandono, ao teu lado sou mulher...
"Você vai receber o meu poema, Eriol."
- Aqui está, Tomoyo. Um texto do meu estoque. É só você copiar com sua letra e colocar seu nome. Tudo o que você quer dizer ao Eriol está aí.
- Como pode ser...? Eu nem sei o que dizer...
"Você nunca sabe o que dizer...", em pensamento, Sakura gozava a amiga.
- Xii! Lá vem o ônibus! Obrigada, Sakura, você é demais! – Tomoyo se dirigiu para a imensa fila que entrava no ônibus. – Passe na minha casa às três. Não quero me atrasar! - Tomoyo sumiu no meio da enorme fila de estudantes. Sakura ficou vendo o ônibus sair, levando sua amiga, sua rival, e a declaração de amor, que serviria para aumentar ainda mais a paixão de Eriol por Tomoyo.
"O condenado à forca tece sua própria corda..." O pensamento de Sakura oscilava entre a resignação e o desespero. De uma janela do ônibus, o rosto de Tomoyo surgiu, jogando um beijo para a amiga:
- Eu te adoro, Sakura! – Sakura sorriu e devolveu o beijo. Agora não havia ninguém olhando, então a menina deixou que as lágrimas corressem represadas por seu orgulho.
"Todos me adoram... E quem me ama?", ela pensou tristemente enquanto dava meia volta e ia para casa.
