Capítulo 6:
Um pouco de veneno – "Da morte não sei o dia..."
Sakura era um fantasma naquela manhã. O primeiro sinal acabara de tocar quando ela chegou ao colégio. Não teve coragem de juntar-se ao tumulto dos estudantes correndo para as classes. Encostou-se à parede, abraçada ao fichário e ao livro de química inorgânica, e ficou vendo o pátio esvaziar-se. Inorgânica... Sem organismo... Sem vida... Mas cheia de paixão, sem retorno, sem correspondência, sem esperança, sem futuro... Sem futuro mesmo, depois daquela tarde. A mãe tinha chegado, é claro, com sua enxaqueca e a surpresa de encontrar o sobrinho com Tomoyo em pleno sofá da sala.
- Na maior atracação! Pouca vergonha! O que vão dizer os vizinhos! Ah, se seu pai estivesse vivo! – disse a mãe muito irritada e perturbada.
- Ele está vivo, mamãe. – disse Sakura sem se importar. Depois, à noite, conselho de família, exigências de compromisso. Os pais de Tomoyo, bem à antiga, imaginando todas as safadezas, falando em exames médicos, derramando lágrimas e ameaças. Mas o que iriam discutir? Ali estavam os dois, amando-se como nunca, jurando amor eterno como nunca, "querendo" compromissos. Não deveria haver preocupações.
- Praticamente duas crianças! – lamentava-se a tia de Sakura, mãe de Eriol. – Não é cedo demais para se falar em papéis assinados? – mas ela não sabia que todos os papéis importantes, porém, já haviam sido escritos. E todos por Sakura. Foram eles, os papéis, que geraram e ainda alimentavam o amor daqueles dois. E destruíam a esperança da resignada autora. Em muitos deles, ficara a marca de uma lágrima, pingada na solidão na solidão de seu desespero.
- Senhorita Ilusão... Sakura! Não vai subir para a classe? – perguntou Syaoran, sorrindo e se aproximando. Sakura virou o rosto, ele sempre estava presente! Nunca Eriol!
- Já vou, Syaoran. É só um instante. Suba você primeiro. – ela disse baixinho.
- Eu espero. – ele disse calmamente.
- Não, por favor. Vá. Eu preciso de um instante sozinha. Faça isso por mim. – ela olhou-o lentamente. Syaoran aproximou-se suavemente. Sakura sentiu o calor do rapaz e o perfume suave de água-de-colônia. Syaoran tomou-lhe a ponta do queixo e ergueu o rosto dela em direção ao seu. – Não, Syaoran, por favor... – ela disse sem forças, enquanto a palma da sua mão procurava afastar o rapaz. – Eu preciso ficar só um pouco...
- Sakura... – ele sussurrou sedutoramente com os olhos semi-abertos. Os dedos dela enroscaram-se em alguma coisa que saía da camisa de Syaoran, enquanto ela esquivava-se dos lábios que procuravam os seus. Ela puxou com força, e algo veio partido, pendurado em sua mão. Ela olhou curiosa para o objeto.
"Uma correntinha... Devem estar na moda as correntinhas!", pensou Sakura. A correntinha caiu no chão e ambos abaixaram-se para recolhê-la, mas...
- Ei, vocês! O que estão fazendo fora da classe? – perguntou uma voz rude e agressiva. Touya! O bedel-chefe! Uma massa enorme que devia ter disso carcereiro antes de empregar-se no colégio. O terror dos alunos, o perseguidor implacável; o pesadelo dos cabuladores, dos namoradores.
- Nada... A gente já ia subir... – disse Sakura fitando-o.
- Já deviam ter subido, vocês sabem muito bem! Ninguém pode ficar no pátio depois do sinal! – ele esbravejou, enquanto aproximava-se dos jovens.
- Mas é que...
- Os dois! Pra diretoria, já!
Syaoran apertou a mão de Sakura, para dar-lhe apoio. Mas aquilo não era necessário. Ouvir um discursinho de dona Kaho, a diretora obesa e sorridente que era a alma daquela escola, não assustava ninguém. O que assustava era Touya.
Apertando mais do que o necessário, Touya arrastou-os pelo braço até a diretoria. Sem saber explicar por que, Sakura podia sentir um clima pesado e de insegurança ao longo do corredor. Tinha alguma coisa estranha e sinistra acontecendo. Ou havia acontecido. A sala da diretoria estava fechada e, à frente da porta, Meiling, a jovem professora de filosofia, esmurrava nervosamente a porta. Touya se aproximou ainda segurando fortemente os dois.
- O que acontecer, dona Meiling? – estranhou o enorme bedel. Meiling virou-se e o encarou muito nervosa.
- Não sei. Estou muito preocupada. Eu tinha uma reunião com dona Kaho agora, mas ela está trancada aí na sala, não responde nem nada. – ela continuava a esmurrar a porta.
- Bom, eu estou com a chave mestra. Se a senhora quiser...
- O que está esperando, então! Abra logo essa porta! – ela disse bem alto, ainda mais nervosa. Touya soltou os dois e tirou um enorme molho de chaves do bolso. Colocou a chave na fechadura, mas estava muito difícil destrancar a porta.
- Está muito difícil... A outra chave está na fechadura, do lado de dentro...
- Anda logo! – insistiu Meiling nervosamente. A fechadura logo cedeu com um estalo. Touya abriu a porta e agarrou novamente os braços de Sakura e Syaoran, arrastando-os para dentro da diretoria. Estranhamente, todas as cortinas estavam fechadas e as luzes acesas. Isso era anormal para àquela hora da manhã, mas era assim que dona Kaho trabalhava em seus serões.
- Dona Kaho! – chamou a professora por trás de Sakura. – Onde a senhora está? – todos ficaram parados perto da porta. A enorme mesa de trabalho, antiga e esculpida à mão por algum artista há muito esquecido, estava coberta de papéis. Sakura, contendo-se para não gritar de dor devido ao forte apertão de Touya em seu braço, foi empurrada para frente, em direção à mesa. Por isso, ela foi a primeira a ver o cadáver de dona Kaho.
O resto do dia foi uma espécie de pesadelo circense, muito diferente do que Sakura imaginaria para o enredo de um filme. Dona Kaho morta, agora, o poder de tomar decisões e dar ordens competia à professora Nakuru, a vice-diretora da escola, cuja utilidade nunca fora percebida por ninguém. Seu primeiro ato como autoridade máxima da escola foi ter um verdadeiro faniquito, que só serviu para quase transformar em comédia o trágico fim de dona Kaho. Depois que a fizeram engolir um copo de água com açúcar, a professora Nakuru trancou a diretoria e proibiu que qualquer pessoa entrasse lá.
- Ai, ai, ai, coitada da Kaho! – disse Nakuru com lágrimas nos olhos. – Como é que isso foi acontecer? O coração dela era tão forte... Alguém chamou o pronto-socorro? – foi necessário convencer Nakuru de que o pronto-socorro teria pouco o que fazer com um cadáver e o melhor a se fazer era chamar a polícia, como em todos os casos de morte súbita sem assistência médica. – A polícia na nossa escola! Que horror! Coitada da Kaho! Kaho! Kaho! – entrou na sala da diretoria como uma louca e trancou-se lá sozinha.
Lá dentro, teve outro ataque, aos berros, como se assim fosse possível acordar a morta. Quando abriu a porta, a professora Nakuru parecia realmente convencida de quem a morta estava mesmo morta. Determinou que a diretoria fosse trancada de novo, com cadáver e tudo. Engoliu mais água com açúcar, acendeu o seu décimo cigarro e, lamentando-se sem parar, mandou dispensar todos os alunos e funcionários. Duas horas mais tarde depois de chamada a polícia, ela teve de agüentar a fúria do investigador
- Quem lhe deu ordem de dispensar todo mundo? – esbravejou o investigador.
- N-ninguém... – gaguejou Nakuru, passando o cigarro de uma mão para a outra. – Foi para os alunos não ficarem impressionados...
- E para estragar o meu trabalho! – ele esbravejou novamente.
- N-não... Eu pensei que um ataque do coração, como esse...
Mas não havia sido um ataque do coração. A autópsia foi feita naquela tarde e, no corpo obeso da educadora sorridente, querida por todos, líder de todos, encontraram uma boa dose de cianureto. Já estava anoitecendo quando um carro de polícia foi buscar Sakura em sua casa. Sua mãe, naturalmente, quis ir junto, carregando a pior crise de enxaqueca de que a filha se lembrava. Mas a mãe teve de aguardar fora da sala da diretoria, enquanto o investigador interrogava Sakura. Na sala, apenas a polícia, a professora Nakuru, 'contagiando' o ambiente com seu nervosismo e seu cigarro, as quatro testemunhas daquela manhã e o professor de química. I investigador procurava reconstituir a cena da descoberta do cadáver. Perguntava, interrogava, duvidava. Sentada ao lado de Syaoran, quase sem ouvir o interrogatório, Sakura recordava claramente daquela manhã.
- Coitada da Kaho... – choramingou mais uma Nakuru, chorando e engasgando- se com a fumaça.
Sakura lembrava-se da mão gorda de dona Kaho, primeiro pedaço da anatomia morta que vira entre a mesa e a janela. Ela estava jogada no tapete, como se um caminhão basculante a tivesse descarregado por cima da mesa, o vestido levantado, a boca aberta, os olhos esbugalhados. Nada que lembrava a alegria, o entusiasmo e o talento daquela mulher. A morte havia levado tudo. Tão gorda... Coitada! Sempre falando em fazer regime. Garantira que, no começo do ano letivo, estava decidida a emagrecer. Dissera que, dessa vez, a decisão era para ser levada a sério. Sakura sorriu e, por um instante, visualizou a mesa da diretora naquela manhã. Lembrou-se claramente de um papel de bombom sobre a mesa. Pobre dona Kaho! De dia, comendo saladinhas e exibindo sua vontade de emagrecer como se fosse um troféu e, à noite, fechada na diretoria com seus bombons e a gula, como uma criança que se esconde para fazer reinações.
- Logo agora que ela estava fazendo regime... – lamentou-se novamente Nakuru, como se estivesse ouvindo os pensamentos de Sakura e não o interrogatório do investigador. Daquele momento em diante não haveria mais gula ou regime para dona Kaho. Não havia mais nem o papel de bombom, que desaparecera da mesa. Nela, o que havia agora era um objeto, talvez um vaso, coberto por um pano..
- Cianureto! – vociferava o investigador para o professor de química. – Como é que uma escola como essa guarda cianureto no laboratório? – ele perguntava com a típica voz de investigadores de filmes policiais e de suspense.
O professor de química olhou de lado, procurando algum apoio junto a Touya ou à professora Meiling, que parecia ser a mais revoltada de todos, embora não fizesse o papel ridículo de Nakuru. Estava visivelmente transtornada com a morte de dona Kaho, mas demonstrava mais claramente sua desaprovação à fumaceira que fazia a vice-diretora, acendendo um cigarro na ponta do outro. Meiling tinha verdadeira aversão ao cigarro. Vivia fazendo campanhas antifumo na escola, em associações, em todo lugar.
- São estudos que estou fazendo com o pessoal do curso técnico. – balbuciou o professor. – Estamos analisando a mandioca e...
- A mandioca! – berrou o investigador, interrompendo o professor. – Vai me dizer que a vítima foi envenenada com mandioca?
- Não. É que extraímos um glicosídio da mandioca que...
O pano que cobria o vaso sobre a mesa foi retirado. Mas não era um vaso, era um frasco de laboratório. A meia distância, mesmo de óculos, Sakura não conseguia distinguir o que estava escrito no rótulo.
- A autópsia encontrou cianureto, professor! – berrou novamente o investigador. – O veneno mais mortal do mundo!
- Pois é. Neste frasco há glicosídio cianonitrila, que é extraído da mandioca...
- Cianureto? – perguntou o investigador.
- É. Pode-se dizer que sim.
- A vítima poderia ter apanhado isto no laboratório, não é? – o investigador exibiu um envelope plástico transparente que revelava um pouco de pó branco. – Este envelope estava no chão, ao lado da mão da vítima. Certamente o mesmo produto deste frasco, não é?
- Pode ser. – o professor de química sentiu-se esmagado. – Posso fazer uma análise e...
- Deixe isso com os técnicos da polícia, professor. – o investigador era frio e indiferente. – A sua parte irresponsável o senhor já fez, deixando cianureto no laboratório, ao alcance de qualquer um! – ele esbravejou. O professor protestou timidamente.
- Ora, não é bem assim. Há muitos produtos potencialmente perigosos em qualquer laboratório. No caso da linamarina...
- Como! – Sakura interrompeu o professor surpresa. – O que o senhor disse!
- Linamarina. É o nome que se dá a esse glicosídio. – respondeu o químico.
- A esse veneno, o senhor quer dizer! – cortou o investigador. As recordações daquela triste manhã vieram a mente de Sakura. Linamarina! Os dois nomes de mulher que, juntos, agora eram o nome da morte. Há quase um mês alguém tinha mexido naquele frasco. Na penumbra, sem óculos, cheia de lágrimas, ela não poderia ter reconhecido ninguém. Sua única certeza era de que não era a diretora. O vulto de avental branco não era grande nem obeso.
- Coitada da Kaho! – choramingou novamente a vice-diretora.
- Professora Nakuru! Quer retirar-se? A senhora está atrapalhando meu interrogatório. – berrou o investigador, assustando a pobre mulher.
Para a polícia, o caso pareceu simples. A porta trancada, com a chave do lado de dentro, o envelope contendo linamarina, as janelas fechadas e quatro testemunhas que haviam, juntos, encontrado o cadáver eram provas suficientes para se concluir que foi suicídio. Motivos? Não cabia a polícia deduzir. Afinal, onde está a lógica de alguém que tenta tirar a própria vida? Uma vida obesa, alegre e produtiva? Uma vida de mulher, um morte de mulher, uma morte com nome de mulher? Uma morte chamada linamarina?
Suicídio... E o que Sakura havia feito no dia anterior? Não tinha sido ela mesma a disparar o tiro de misericórdia na nuca de sua última esperança de felicidade? O que tinha significado, afinal, forçar o encontro de Eriol e Tomoyo em sua própria casa? Não fora isso uma espécie de suicídio? Um desejo de acabar logo com aquele sofrimento que só crescia cada vez mais? Afinal, o que era a morte? Uma massa de banha jogada grotescamente sobre um tapete? E o que era a vida, o que seria a vida, agora que a ligação de Eriol e Tomoyo tornara-se pública e definitiva? O que seria, então, a morte senão um alívio, um 'basta' a toda aquela tortura?
"É melhor um fim trágico do que uma tragédia sem fim...", pensou consigo mesma, ainda na diretoria, mal sentindo a delicada pressão da mão de Syaoran sobre a sua. Olhou para o tapete vazio, onde encontrara o cadáver da diretora. E foi seu próprio cadáver que vira ali.
- Sakura, eu preciso falar com você. – disse Syaoran, tomando delicadamente a mão de Sakura, assim que a mesma abriu a porta, e olhou-a firme nos olhos.
- Syaoran... Oi, entre... – sua voz saiu fraca e desanimada. Sakura afastou-se e o rapaz caminhou em direção à mesa coberta de livros e papéis.
- Você está estudando? – notava-se a curiosidade em sua voz, enquanto ele observava os papéis jogados sobre a mesa e os livros e cadernos.
- Não... Eu...
- O que é isto? – Syaoran levantou uma folha de fichário caída no chão.
- Nada... É... – ela tentou impedi-lo de ver, mas não a tempo. Há o instante da chegada
e o momento da partida.
Quando vida já vive?
Quanto resta a ser vivida?
São dois espelhos quebrados,
dois vezes sete de má sorte.
Já vivi quatorze anos,
quanto resta para a morte?
É fácil vê-la chegando
em cada instante que passe,
pois se começa a morrer
no momentos em que se nasce.
Vou caminhando para a morte,
não decidi meu nascer.
Da morte não sei o dia,
mas posso saber!
- É do Augusto dos Anjos. Acabei de copiar...
- Do Augusto dos Anjos? – Syaoran interrompeu-a, sorrindo cínico. – Quando ele tinha quatorze anos? – Sakura suspirou e jogou-se na poltrona, abraçando as pernas e apoiando a testa nos joelhos.
- Está bem, Syaoran. Se você quiser conversar sobre poesia, vamos conversar sobre poesia. – Syaoran ajoelhou-se em frente à poltrona e, com as mãos, obrigou Sakura a erguer o rosto para ele.
- Olhe par mim, Sakura. – ele murmurou. – Acho que seria bom conversarmos depois daquela loucura toda. – ele soltou um suspiro curto e fez uma pausa antes de continuar. – Durante o interrogatório, eu senti que você tinha algo a dizer. Algo que a incomodava...
- É claro. – sorriu Sakura. – Um cadáver de cento e vinte quilos incomoda qualquer um.
- Não brinque, Sakura. Você manipula a todos, que eu sei. Mas comigo é diferente. Você não consegue me enganar.
- Eu não quero enganar ninguém. – ela sussurrou.
- Só a você mesma, não é?
- Você veio aqui para brigar comigo, é?
- Eu só queria te ouvir. Passamos por isso juntos e talvez você precise me dizer algo.
- Mesmo que eu tivesse algo a dizer, de que adiantaria? – ela falou sem se importar. – A polícia encerrou a investigação, não foi? Já concluíram por suicídio.
- E você? Chegou a alguma conclusão? – ele fitou-a curioso.
- Não importa se cheguei ou não, Syaoran. O que importa é a conclusão da polícia. E eles já têm a deles.
- Talvez sim, talvez não, Sakura. Ouvi dizer que eles acharam muito estranho o fato de não haver nenhuma impressão digital no frasco do veneno. Só no envelope plástico.
- Como assim?
- É isso aí. Dona Kaho resolve suicidar-se. Coloca luvas, vai ao laboratório às escondidas, pega o veneno, tira as luvas, coloca o veneno num envelope plástico, faz desapareceram as luvas, fecha-se na diretoria e toma alguns miligramas de cianureto. Isso tudo parece lógico?
- Ela poderia não ter usado luvas. Poderia ter usado um lenço, que na certa está em alguma bolsa. – ela olhou-o como quem não está a fim de conversar.
- Poderia sim. Mas por que dona Kaho se preocuparia em não deixar impressões digitais no frasco de linamarina?
- Não sei, Syaoran. Por que dona Kaho se mataria?
- Aí está outra pergunta sem resposta. Por que ela teria decidido suicidar-se?
- Sei lá... Um momento de loucura, o nervosismo causado pelo tal regime para emagrecer...
- Ora, Sakura, se gordura fosse motivo para suicídio...
- Eu me mataria, não é? – ela perguntou cínica.
- Como? – ele perguntou confuso.
- Ah, deixa pra lá! – ela virou o rosto.
- Que mania você tem de dizer que é gorda, Sakura! Você é bem mais magra que Tomoyo, que...
- Deixa a Tomoyo pra lá também! – ela retrucou.
- Está bem. – Syaoran esperou que uma pausa longa refizesse os dois daquela discussão. Depois perguntou bem baixo, como se acalmasse uma criança. – Me diga, Sakura, por que você se lembrou do regime de dona Kaho? Afinal, que eu saiba, ninguém toma cianureto para emagrecer...
- Por causa do bombom... – ela sussurrou. Syaoran surpreendeu-se.
- Bombom? Que bombom?
- Não se lembra? Em cima da mesa dela havia um papel de bombom.
- Acho que não notei. Aquele grandalhão do Touya ficou o tempo todo me segurando na entrada da sala.
- Pois eu notei. Coitada. Acho que só fazia regime na frente dos outros. Depois, se trancava com seus bombonzinhos para repor as calorias perdidas...
- Outra coisa: por que você se surpreendeu quando o professor de química falou o nome do veneno?
- Eu me surpreendi? Talvez... Achei estranho um veneno ter nome de mulher... – ela se fez de desentendida. Syaoran sabia o que ela tinha em mente.
- Você já tinha ouvido falar em linamarina antes?
- Não.
- Eu acho que você sabe de alguma coisa, Sakura.
- Não sei de nada, Syaoran. Não me pressione, por favor.
- Eu só quero ajudar você, Sakura. Fale comigo.
- É melhor você ir, Syaoran. Não tenho nada a dizer.
- Por favor, Sakura...
- Me deixe em paz, Syaoran!
