Oi!Finalmente o último capítulo de "A marca de uma lágrima".!Quero agradecer de coração a todos que leram,derama sua opinião e tudo mais!De verdade eu agradeço e espero que na minha próxima história eu consiga que vocês também gostem!Chega de enrolação e vamos ao último capítulo de "A marca de uma lágrima".
Capítulo 10:
Eu sei que ele me ama... Isso ninguém vai me tirar!
Sakura estava muito fraca por fora, mas tinha a primavera por dentro, com todos os seus pássaros e borboletas azuis. A luta dos médicos tinha sido terrível. Inconsciente, ela nada percebera; somente vivera aquela batalha. E, por fim, sobrevivera a ela. Sobrevivera como se tivesse acabado de nascer, com o humor e a alegria de alguém que, a custo, foi trazido de volta à vida. De alguém que, à frente, só vê felicidade sem barreiras.
O pai veio e, dessa vez, trouxe Ayumi. (Ou seria Keiko? Ou Kagome?) A mãe, agora que Sakura estava fora de perigo, tinha deixado o hospital para buscar algumas roupas, sempre com a certeza de que a filha passara por tudo aquilo só para agravar-lhe a enxaqueca. Mesmo fraca e debilitada, em seu primeiro dia de plena consciência, Sakura portou-se mais como uma visita do que como doente, sorrindo sempre, brincando com voz alegre e transmitindo ânimo a quem se aproximasse de sua cama.
Duas batidinhas na porta e entrou a atendente, trazendo mais uma dose anônima de comprimidos.
- Bom dia, querida. Que bom ver a sua carinha animada desse jeito! – a atendente sorriu.
- Bom dia! Isso não é animação, é vida! Viver é lindo. Amar é lindo. Ser amada é mais lindo ainda! – Sakura sorriu mais ainda.
- Nossa! Como está a nossa ressuscitadinha! Se todos os nossos doentes fossem alegres como você, este hospital seria uma festa.
- Então vamos fazer uma festa! Precisamos animar este hospital!
- Você precisa é descansar sossegadinha para sair logo daqui. Todas as festas estão esperando por você lá fora.
- Eu dei muito trabalho, é?
- Se deu! Quando chegou aqui, disseram que era envenenamento por cianureto. Naturalmente, isso não era possível, porque o cianureto mata em poucos segundos. Tinha sido um calmante, não é? – a atendente entregou alguns comprimidos para Sakura. – Mas os médicos demoraram para descobrir o que era.
- Puxa, eu só tomei dois comprimidos!
- É, você teve uma forte reação. Às vezes acontece. Eu nunca confio nesses remédios. Eu trabalho aqui, mas, quando estou nervosa, só tomo chá de erva-cidreira.
- Vou me lembrar disso, da próxima vez... – Sakura sorriu novamente.
- O problema mesmo foi àquela professora louca. Ela injetou o mesmo calmante em você, só que uma dose capaz de matar um cavalo! Se não fosse aquele rapaz...
- Eriol... – disse em tom baixo.
- É esse o nome dele? Você tem sorte de ser tão amada por um garoto como aquele. Ele arrebentou um frasco de Sangue na cabeça da tal professora Nakuru, bem a tempo de... – era a última recordação de Sakura: o Sangue esguichando na cabeça da vice-diretora, escorrendo por todos os lados, empapando sua camisola. – Deu até na televisão! Agora, aquela mulher maluca está toda costurada, lá na enfermaria da prisão. Se não fosse o seu garoto...
- Eriol... Ele me salvou a vida!
- Duas vezes! Foi ele quem encontrou você em casa, caída no sofá, e chamou a ambulância. Depois, ficou o tempo todo por aqui, pressionando os médicos, perguntando por você a toda hora, chorando...
- Chorando! – Sakura ficou perplexa.
- Só arredou o pé do hospital quando soube que você estava fora de perigo. Acho que foi em casa se arrumar para que você o veja bem bonito! – sorriu a atendente.
- Eriol... Chorando por mim... – ainda não conseguia acreditar naquilo. A atendente ajeitou os travesseiros atrás de Sakura e preparou-se para sair.
- Você é uma garota de sorte, mas vai ter um probleminha para resolver. – disse em tom baixo. Sakura virou a cabeça lentamente, olhou o seu crachá.
- Um probleminha? Qual seria... – leu o nome da jovem... – Rika?
- Há outro garoto, não é? – sentou-se ao lado dela, parecendo preocupada. – Apareceu aqui algumas vezes, também desesperado, dizendo a todo mundo que ama você, que não pode viver sem você. – uma sombra passou pelos olhos de Sakura.
- Esse é Syaoran. Um rapaz maravilhoso. – o sorriso diminuiu. – O melhor amigo que uma garota como eu poderia ter. Ah, se não fosse Eriol...
- Então você já escolheu, não é? – a atendente sorriu triste, com pena do outro rapaz. – Um dos dois vai sofrer. – a alegria da sobrevivente diminuiu um pouco. Por nada deste mundo gostaria que Syaoran sofresse. Mas ela estava amarrada para sempre pelo beijo apaixonado no jardim, pelo beijo da vida no sofá, pelo roçar da correntinha...
- Ah, Syaoran, você vai ter que me entender... – sussurrou tristemente, enquanto Rika se retirava do quarto.
- Ah, Syaoran, que rosas lindas! Obrigada, você é mesmo um amor! – Sakura preferia que a primeira visita não fosse de Syaoran. Mas agora o rapaz estava ali, cheio de rosas e esperança, e ela iria fazê-lo sofrer. Tomoyo também sofreria, mas o que fazer? "É melhor um fim trágico do que uma tragédia sem fim...", pensou pela segunda vez.
- Senhorita Ilusão... A professora Nakuru enganou a todos nós, não foi? – sentou-se ao lado dela.
- Quase que eu pago com a vida por esse engano... E o próximo seria você. Ela sabia que eu tinha lhe falado das minhas suspeitas.
- A pobre mulher louca não pararia mais. A polícia já conseguiu levantar todos os dados para encerrar o caso. Falei com o investigador. Nakuru foi uma mulher brilhante, mas a loucura estava tomando conta dela. Foi por isso que dona Kaho morreu. As duas eram grandes amigas, e a diretora estava percebendo os sinais de desequilíbrio mental que dona Nakuru começava a apresentar. Primeiro, para protegê-la, encostou-a no cargo de vice-diretora, sem nenhuma função prática. Por fim, parece que ela estava cuidando da internação da amiga em uma clínica psiquiátrica. Foi aí que os delírios de perseguição da professora Nakuru transformaram a amizade por dona Kaho em ódio.
- Que horror, Syaoran! – disse uma assustada Sakura.
- O estranho é que a pobre não perdeu a genialidade, apesar da loucura. Muita coisa ela falou à polícia, depois de presa. Imaginou que precisava de um cúmplice, se bem que poderia ter feito sozinha tudo o que fez. Touya só serviu para caçar você e eu no pátio, de modo que nossa presença inocente na hora da descoberta do cadáver fosse uma garantia de que dona Kaho morrera sozinha e fechada na diretoria. E para abrir a porta com a chave mestra, é claro. Por coincidência, a professora Meiling apareceu também e Nakuru conseguiu uma testemunha a mais.
- E eu que cheguei a pensar que Meiling...
- Mas deixe eu lhe contar o que fez Nakuru para envolver Touya. Ele estava com problemas de dinheiro e ela o convenceu a roubar certa quantia da gaveta de dona Kaho. Depois, disse ao coitado que a diretora descobrira o roubo e a única forma de livrá-lo da prisão seria matando-a. Só que dona Kaho nunca descobriria esse roubo, porque ele praticamente não aconteceu: a própria Nakuru tinha posto o dinheiro na gaveta para Touya roubar. O dinheiro era dela mesma!
- Genial! Com isso, Touya ficou nas mãos dela como um fantoche!
- Só que ele se apavorou quando ouviu nossa conversa na pracinha e resolveu ameaçar você. Aí, Nakuru ficou com medo que ele fosse preso e acabasse falando demais. E o envenenou. Foi encontrado morto no quartinho onde morava. Com um papel de bombom ao lado...
- Coitado! Ele me assustava tanto, mas era apenas uma pobre vítima, como dona Kaho...
- Ou como você. Até o investigador ficou espantado com a ousadia da professora Nakuru. Ela o procurou e o convenceu a irem juntos à sua casa, pois "devia" haver alguma coisa que você sabia e não dissera no interrogatório. Uma idéia brilhante: quando você aparecesse morta, quem iria desconfiar que o veneno estava em um bombom, oferecido na frente de um policial?
- Eu não esperava aqueles dois. Eu esperava que Meiling chegasse...
- A professora Meiling chegou um pouco depois, quase junto da ambulância que foi buscar você.
- Eu nem desconfiei quando Nakuru deixou o bombom sobre a mesa. Ela comeu todos os outros do saquinho... Quem havia de desconfiar que logo aquele último estivesse envenenado?
- Nakuru foi mesmo brilhante, Sakura. O plano para matar dona Kaho era perfeito. Ela usou o regime da nossa pobre diretora. Que pessoa obesa não comeria às escondidas um bombonzinho deixado sobre a mesa? Depois que nós descobrimos o corpo, ela ficou fazendo aquela cena histérica até entrar sozinha na sala, pegar o papel do bombom e deixar o envelope com veneno ao lado do corpo, depois de pressionar os dedos da diretora contra o envelope para marcar as impressões digitais. Sua única falha foi deixar o frasco do laboratório limpo de impressões, mas este era um risco a enfrentar, pois não seria possível trazer o frasco até a diretora, pressionar os dedos da dona Kaho contra ele e depois colocá-lo de volta ao laboratório.
- Isso tudo eu descobri, Syaoran. Um pouco tarde, mas acabei descobrindo. No começo, pensei que a culpada fosse Meiling, por causa das teorias dela sobre indução subliminar.
- Sei. Meiling defendia teorias de forçar pacientes a aprender sem pensar, induzidos por métodos subliminares. E a idéia de deixar um bombom sobre a mesa de uma mulher gorda e gulosa parecia mesmo encaixar-se perfeitamente, como uma sugestão a que dona Kaho não poderia resistir.
- Foi isso que eu pensei, Syaoran. Mas depois percebi que, mesmo que ela tivesse encontrado um jeito de, disfarçadamente, apanhar o papel do bombom e deixar cair o envelope ao lado da morta, não teria oportunidade de pressionar os dedos da diretora contra o envelope. A única que ficou a sós com a morta e teve essa oportunidade foi à professora Nakuru. Eu pensei nisso tudo enquanto estava desmaiada naquele sofá. Tentei desesperadamente falar, mas a voz não saía!
- Como "não saía"? Como acha que a polícia descobriu tudo isso? Você falou pelos cotovelos. Não calou a boca um só minuto. Você deu todos os detalhes necessários à compreensão exata do crime. O investigador ficou admiradíssimo com a sua capacidade de dedução. Disse que você é um gênio. Graças a você, a polícia já estava atrás de Nakuru antes que a ambulância chegasse ao hospital. Você falou do bombom, do regime, de tudo! Eu ouvi tudinho! – falou, parecendo empolgado e muito alegre.
- Como? Você também estava lá?
- Seu estava lá? Mas se fui eu que... É claro que eu estava, meu amor. Recebi o seu recado na livraria e fui correndo para sua casa. Aliás, a professora Meiling também estava ao seu lado enquanto você a acusava de assassina...
- Ai, que besteira que eu fiz! – Sakura sentiu-se muito envergonhada.
- Ela estava cuidando de você. O policial que guardava a sua casa quase chegou a prendê-la. Mas aí você virou o jogo e começou a acusar Nakuru!
- Mas Eriol...
- Eriol? – cortou Syaoran com um tom de voz bem seco. – Sim, ele também apareceu. – levantou-se e ficou olhando pela janela do quarto, que dava para o jardim do hospital. Sakura decidiu aproveitar a deixa e dizer o que tinha de ser sito, do modo mais rápido possível.
- Sabe, Syaoran... Você é um grande amigo e eu quero que saiba de uma coisa maravilhosa...
- Não sei se quero saber dessa coisa maravilhosa, Sakura.
- Mas eu quero que você saiba, Syaoran. Estou apaixonada por Eriol e agora sei que ele também me ama...
- Eu sou o menos indicado para você dizer que ama outro, Sakura. Porque você sabe que eu te amo... – seu tom de voz era baixo e fraco. Abaixou a cabeça e a franja cobriu-lhe os olhos.
- Oh, Syaoran, compreenda... – o olhou tristemente, com um aperto em seu peito. Por que sentia tamanha dor ao ver a tristeza dele? Por que seu coração batia tão rápido? Por que sentia isso? O rapaz ainda olhava para fora.
- Eu sei, Sakura. Você falou o nome dele o tempo todo durante o seu delírio. Em sua casa e aqui, no hospital. Mas, se você quer dizer que ama Eriol, diga a ele mesmo. Ele vem aí, acabou de atravessa o jardim.
- Syaoran, eu...
- Não se preocupe comigo, minha querida. Acho que chegou a hora de eu parar de insistir. Fique boa logo e seja muito feliz, meu amor... – caminhou até a porta e voltou-se para Sakura, sorrindo, como se as palavras da menina não o tivessem ferido como punhais. – Uma última pergunta, Sakura: por que você não comeu o bombom que a professora Nakuru deixou sobre a mesinha?
- Bombons engordam, Syaoran. E eu estou de regime!
- Quer dizer... Que você não queria morrer?
- É claro que não! Pensa que eu sou idiota?
Ali, à sua frente, estava o garoto da sua vida. O garoto lindo como um deus, o garoto que ela havia ajudado a conquistar para a sua melhor amiga. O garoto por quem ela sofrera mais do que imaginava agüentar. O garoto por quem derramara mais lágrimas do que pensava ser capaz de produzir. Todo o sofrimento acabara, finalmente. Agora ele estava ali, amando-a como ela o havia amado em segredo, durante tanto tempo.
Havia, porém, alguma coisa que parecia não se encaixar perfeitamente. Se Sakura fechasse os olhos e deixasse vir à mente as recordações daquele beijo no jardim, quando se sentiu mulher pela primeira vez, e daquele beijo no sofá, quando se sentiu quase morrer de amor, a paixão explodiu dentro dela, como ela mesma havia escrito: um, dois, três, Sangue! E, dentro do peito, seu coração disparava. Entretanto, de olhos abertos, o sonho não parecia o mesmo. Eriol estava ali, lindo, amando-a, querendo-a... O que mais ela poderia desejar? Eriol ajoelhou-se no chão, ao lado da cama, e tomou a mão de Sakura.
- Meu amor, minha prima querida! Você sobreviveu pra mim! – sorriu.
- Eriol... – continuou com a expressão vaga. Por que ela se sentia assim? Por que não conseguia esquecer a expressão de derrota no rosto de Syaoran? Remorso, talvez. Ela jamais teria querido magoar aquele amigo. Mas... Será que era isso mesmo?
- Ah, Sakura, eu sempre te amei e não sabia disso... Eu te amo e quase te perdi. Mas agora tudo vai ser diferente, não é, meu amor? Agora, só teremos felicidade pela frente! – disse radiante e sorrindo ainda mais.
- Felicidade sim, Eriol...
- Eu não sei dizer as coisas certas, minha querida. Eu nunca soube. Mas sinto como qualquer outra pessoa. E você... você consegue dizer tudo direitinho como eu sinto! Como fui tolo! Nas cartas que você escreveu para Tomoyo estava eu, inteirinho lá. Nas cartas que você escreveu pra mim, estava você, inteirinha, me amando... E eu não via!
- Eriol, eu...
- Você vai ter que perdoar minha cegueira, minhas tolices. Eu nem sei como dizer agora quanto te amo. Acho que só digo o que sinto realmente quando você me dita as palavras. Quando digo o que você escreve, é como se eu dissesse realmente o que sinto! – Sakura olhou o rapaz bem nos olhos, e sorriu.
- Você quer que eu lhe dite, neste momento, uma declaração de amor para mim mesma?
- Como, Sakura? – o rapaz surpreendeu-se.
- Hum... Deixe ver... Poderia ser uma declaração arrebatada, como: "Meu amor por você, Sakura, é capaz de arrancar a lua de sua órbita!" Ou submissa: "Eu me entrego a você – sou escravo do seu amor...".
- Ora, Sakura...
- Pode também ser possessiva: "Com meus lábios, farei uma jaula de beijos para te aprisionar!" Ou pode ser uma declaração ecológica: "Meu amor é um lago – venha banhar-se nele!".
- Sakura, você está brincando comigo?
- Pode ser exagerada: "Beberei o mar, se você for o sal!" Ou pretensiosa: "Minha paixão destrói a dor, constrói a esperança!".
- Chega, Sakura!
- Chega sim, Eriol. Chega de sofrer. Você pertence a Tomoyo e ela a você. Amaram-se quando se viram e depois se deixaram perder em minhas mãos. Viraram meus personagens. Mas chegou a hora de vocês se libertarem de mim e eu me libertar de vocês. Por acaso você deve se apaixonar pelo compositor se a música dele o ajuda a conquistar a namorada? Ou pelo pôr-do-sol, quando as cores criam o clima certo para que ela diga sim?
- Sakura, você não compreende...
- É verdade, Eriol, eu custei a compreender. Compreender que sou uma artista. Uma artista que criou os dois lados de uma paixão que só existia na minha cabeça. Mas o amor de você e Tomoyo é real. Vocês se amam, apesar e não por causa das minhas palavras. Se não sabem se amar sem elas, amem-se calados!
- O que você está dizendo, Sakura?
- Ou façam como todo mundo e busquem inspiração em qualquer poeta, em qualquer músico, em qualquer pôr-do-sol, em qualquer lua. De preferência, procurem um poeta que não tenha sido beijado por você em nenhum jardim e de quem você não tenha salvo a vida em nenhum sofá! – Sakura parecia exaltada. Eriol sentia-se cada vez mais confuso com as palavras da garota.
- Mas eu não...
- Deixe-me, Eriol. Vá procurar Tomoyo. Eu sei que há uma grande verdade no meu amor por você. Uma verdade que não fui eu que escrevi. Uma verdade que foi escrita sem palavras, com um beijo, em um jardim de sonhos. Sei que jamais esquecerei aquele beijo, mas tenho de tentar. Devo minha vida a você. Duas vezes. Para sempre. Mas eu não agüento mais. Tenho de esquecer aquele beijo. Tenho de esquecer você. Ou passar a vida tentando. – Sakura virou o rosto e fechou os olhos. Eriol não entendia nada. Levantou-se num repente e segurou a menina pelos ombros, fazendo-a olhá-lo novamente.
- Esqueça tudo isso, Sakura. Esqueça as cartas, esqueça tudo! O que importa é que nós nos amamos. Vamos começar tudo de novo, meu amor! – debruçou-se sobre ela, com os lábios ávidos por beijá-la. Sakura desviou o rosto e, com as mãos, tentou afastá-lo.
- Não, Eriol, por favor... Eu não quero mais sofrer. – as mãos de Sakura espalmaram-se no peito de Eriol. A camisa afastou-se, revelando o peito nu. – Eriol! A correntinha! Onde está a correntinha?
- Que correntinha, meu amor? Eu não uso correntinha... – respondeu normalmente, ainda tentando beijá-la. Como um estalo, uma lembrança veio à mente de Sakura. Ela alargou os olhos perplexa, não acreditando que todo esse tempo...! Livrou-se do abraço e, a custo, levantou-se da cama.
- Agora eu entendo! – com o corpo malcoberto pela minúscula camisola do hospital, tonta pelos vestígios do calmamente que ainda circulava em seu Sangue, Sakura estava com o rosto em fogo. – Eu vi tudo errado! Eu criei a fábula falsa! O beijo no jardim, não era você!
- No jardim? Que jardim? – Eriol sentou-se na cama confuso.
- O beijo no sofá, não era você! O frasco de Sangue, arrebentando-se neste quarto e me salvando da morte, não era você! A correntinha, não era você! – Sakura deu o maior e mais belo sorriso de sua vida.
- Sakura, você enlouqueceu? – Eriol se assustou quando, como louca, Sakura começou a rir, às gargalhadas.
- Como fui cega! Só enxerguei a fábula que eu mesma estava criando! Não preciso esquecer aquele beijo, Eriol! Eu disse que ninguém haveria de me tirar aquele beijo, e isso ninguém vai me tirar! Ele é meu! – cambaleou tonta até a janela. Uma chuva fina e miúda enregelava a paisagem. E ela viu no jardim do hospital quem queria ver. Em pé, olhando para o céu, lá estava aquele que ela realmente amou, sem saber. – Me espere, meu amor...! – arrastou-se como bêbada para a porta do quarto.
- Não, Sakura! Você está muito fraca. Não pode sair da cama! – Eriol levantou-se e tentou segurá-la, mas Sakura não deu a menor chance.
- Volte para Tomoyo, Eriol! Ela o ama e você a ama. Agora tenho de consertar todos os enganos que eu mesma criei! Tenho de encontrar a pessoa que me amou como eu sou, sem fábulas, sem versos, sem cartas, com todos os meus problemas e as minhas loucuras! Adeus, primo querido! Volte para Tomoyo! – enfraquecida, seminua, abriu a porta e correu pelos corredores do hospital. Suas pernas mal a obedeciam, e o frio do pavimento penetrava-lhe a sola dos pés. – Meu amor, por favor, espere por mim! – livrou-se de um atendente que tentou detê-la, e chegou vermelha, ardendo em febre, à porta do hospital.
- Syaoran! – ela o chamou, enquanto arfava. O rapaz surpreendeu-se e desviou seu olhar perdido do céu para olhá-la. Sakura sorriu mais do que nunca.
- Sakura! – o rapaz sorriu da mesma forma e virou-se. Tropeçando, escorregando, Sakura correu pelas alamedas molhadas em direção dos braços que a aguardavam. A chuva colava sua camisola ao corpo quando Syaoran a abraçou fortemente.
- Syaoran, meu querido! – Sakura afundou-se no calor daqueles braços e uma pequena lágrima de felicidade escorreu de seu olho esquerdo, caindo sobre a camisa do rapaz, formando uma pequena marca redonda. Sakura o abraçou forte também, não sairia mais dali. – Eu preciso dizer...
- Quietinha, meu amor. – Syaoran acariciou seus cabelos castanhos e afastou o rosto dela, cobrindo os delicados lábios dela com seus dedos. – Você já falou demais... – sorriu e segurou a ponta de seu queixo, levantando seu rosto em direção ao seu.
Os lábios de Syaoran procuraram os lábios trêmulos de Sakura, calando, com um beijo apaixonado, tudo aquilo que não mais precisava ser dito. A chuva apertou, encharcando os dois, como se quisesse dissolvê-los em um só corpo, num abraço eterno...
Fim
