Capítulo III
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Wake me up
Wake
me up inside
I can't wake up
Wake me up inside
Save me
Call my name and save me from the dark
Wake me up
Bid my
blood to run
I can't wake up
Before I come undone
Save me
Save me from the nothing I've become
Acorde-me
Acorde-me por dentro
Eu não consigo acordar
Acorde-me por dentro
Salve-me
Me chame e me salve da escuridão
Acorde-me
Obrigue meu sangue a fluir
Eu não consigo acordar
Antes que eu me desfaça
Salve-me
Salve-me do nada que eu me tornei
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Na manhã do dia seguinte, Hanna já não se lembrava mais do pesadelo. Espreguiçando-se, ela ouviu baterem à porta e pediu que a pessoa entrasse. Sorrindo, uma das criadas trouxe uma bacia de água fresca e toalhas para que ela cuidasse de sua higiene matinal.
Bocejando, Hanna começou a lavar seu rosto e pescoço. Para tanto, abaixou as alças da camisola que usava, afrouxando o tecido que escorregou por suas costas, revelando a pele macia e lustrosa. Estava tão concentrada em sua higiene que não percebeu que alguém abriu uma fresta da porta e a espiava.
"Uma linda menina, Hanna... Mas o que significa essa tatuagem em suas costas?", pensava Alberich, observando-a. A dita tatuagem era um pequeno dragão em formato de "L", que cuspia fogo. Porém, quando o guerreiro apertou os olhos para poder ver melhor o desenho, ele desapareceu, sem deixar marcas ou sinais de sua existência. "O que será que era aquilo? O que queria dizer aquele desenho?".
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-Minha senhora... Tenho notícias de Fenris... - disse Surt, entrando pela caverna e ajoelhando-se diante de Hel. A mulher sequer reagiu ao que ele dizia.
-Deixe-me adivinhar... Fenris foi atacado de surpresa por ela e, mesmo estando ferido, não voltou porque ainda pretende cumprir sua missão. E ela está no palácio de Valhalla, sob os cuidados de Hilda.
-Eu não sei como, minha senhora, mas está certa... Um dos guerreiros deuses a encontrou no bosque do palácio e a levou até Valhalla.
-Eu sei de muita coisa, Surt... Sei, por exemplo, que não devemos nos preocupar com Fenris... E também com esses guerreiros...
-Desculpe minha descrença, minha senhora, mas por que não devemos nos preocupar com os guerreiros? São homens fortes, que voltaram da morte pelas mãos do próprio deus Odin!
-Muito simples, Surt... - Hel falou, com um sorriso vitorioso nos lábios - Na época em que lutaram contra Atena e seus cavaleiros, havia um traidor entre os guerreiros deuses... E, uma vez o sendo, sempre o será... E não se preocupe, deixe que Jormungand cuidará dele...
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No jardim do palácio, Hanna "reinava", atormentando o pobre Shido, querendo saber onde poderia encontrar Mime àquela hora do dia. E Bado, irmão gêmeo do guerreiro de cabelos verdes e também um guerreiro deus (Alcor), se divertia com a situação.
-Por que em vez de ficar dando risadas, você não me ajuda? - perguntou Shido para o irmão, visivelmente irritado.
-Isso mesmo, Bado, por que não ajuda? Me diz onde está o Mime!
-Eu já disse que não posso falar! O Mime não gosta de ser incomodado quando está em casa! - gritou mais uma vez Shido. Hanna devolveu o grito do rapaz.
-Você não pode falar, mas o Bado...
-É só seguir pela estrada que corta o bosque e virar à esquerda da pedra coberta de flores amarelas... Logo, você vai chegar à casa de Mime.
-Obrigada, Bado!- disse a garota, já correndo em direção à estrada. Shido ficou doido e foi logo encarando o irmão.
-Você tinha que falar? Depois sou eu que agüento o mau humor do Mime quando nós treinamos juntos!
-Que mau humor, Shido? Você é uma besta mesmo... - disse Bado, rindo novamente, deixando o irmão ainda mais furioso - Não viu os olhares do Mime para a Hanna enquanto jantávamos ontem? Tenho certeza de que ele vai gostar da visita dela...
-Então você fique no meu lugar na hora do treino, certo?
-Peraí, vamos conversar direito...
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Com certeza era aquela casinha de madeira onde Mime morava, já que Hanna tinha seguido à risca as instruções de Bado. Parada em frente a ela, a garota ficou um tempo observando o entorno, o rio que corria por trás dela, os pássaros que sobrevoavam o lugar. "Que sensação estranha... É como se a mesma tristeza que vejo nos olhos de Mime estivesse neste lugar...", pensou Hanna, aproximando-se da porta.
-O que está fazendo aqui?
A pergunta de Mime, feita em tom grave, assustou Hanna. O rapaz vinha do bosque, trazendo uma cesta cheia de frutas e algumas ervas.
-Eu queria saber como você estava e perguntei ao Shido onde morava e...
-Foi o Shido quem te falou como chegar aqui?
-Na... Não, foi o Bado quem me contou...
Mal Hanna falou e Mime ficou nervoso, praguejando contra Bado, Shido e quem mais conhecesse. A garota ficou parada, olhando assustada para o rapaz.
-O que foi?
-Nada, Mime... Eu... Eu só queria te ver, não sabia que não iria gostar da visita... Desculpe...
Encarando Hanna, Mime percebeu que os olhos da garota perderam um pouco de seu brilho. Sentiu-se mal por isso, não pretendia brigar com ela, sequer assustá-la.
-Er... Você já tomou seu café?
-Ainda não... Eu saí antes da criada me chamar.
-Então vamos entrar e comer alguma coisa... Gosta de maçãs?
Voltando a sorrir, Hanna acompanhou o guerreiro para dentro da cabana.
-Sente-se, eu vou preparar o café.
-Quer ajuda?
-Não é preciso...
Sentada em uma cadeira, a garota correu os olhos pela cabana. Era pequena e não havia divisão de ambientes, exceto no canto onde ficava a cama. Uma espécie de cortina garantia a privacidade de um sono tranqüilo. Mas o que realmente chamou a atenção de Hanna foi uma mesa que ficava em um canto da cabana, próxima à lareira. Havia ali dois porta retratos, com pequenos quadrinhos pintados. Em um deles, a figura de um jovem casal, com ar de apaixonados. E a mulher do retrato tinha os mesmos olhos rubis e os cabelos loiros de Mime. No outro quadrinho, um homem muito sério, de postura guerreira. Tinha um ar de superioridade e, ao mesmo tempo, ternura em seus olhos. Quem seriam aquelas pessoas?
-Tome, espero que goste de chocolate quente. - disse Mime, tirando Hanna de seus pensamentos. Servindo-se de um pedaço de maça, a garota comeu em silêncio. Queria perguntar sobre os retratos, mas achou melhor ficar quieta. Vai que Mime não gostasse!
-Olha... Desculpe pelo meu jeito lá fora, é que... Eu não gosto muito de receber visitas em minha casa, o Shido deve ter te falado...
-Tudo bem, Mime... Ele não me falou nada, mas agora eu entendi porque não queria me dizer onde você morava... Eu é que tenho de pedir desculpas por aparecer assim, sem avisar...
Mais que coisa, mal trocavam duas ou três palavras e o silêncio teimava em reinar novamente. Parecia até que não tinham assunto um com outro ou perguntas a fazer. Sem tirar os olhos de Mime, Hanna se serviu de um pouco mais de chocolate. Aqueles olhos violetas incomodavam o guerreiro, eram tão belos e instigantes, nunca tinha visto nada igual.
-Está... Está melhor?
-Ah, estou... Apenas preocupada.
-Com sua família? -ele tentava caçar assunto, evitando que o silêncio voltasse e tentando não se sentir sem graça.
-Não, com o que aconteceu... Eu não tenho família, Mime.
-Seus pais morreram?
-Não sei...
-Como não sabe? - Mime demonstrou interesse. Hanna sorriu e serviu-se de mais um pedaço de maça.
-Eu fui criada até meus quinze por uma senhora muito idosa que disse ter me encontrado ainda bebê, abandonada embaixo de um grande pinheiro. A senhora Osburga era com uma mãe para mim, mas já se foi...
-Deve ter sido muito difícil quando ela morreu.
-Foi, mas eu tinha de seguir minha vida... Garças a Odin, eu sempre encontrei boas pessoas em meu caminho, que me ajudaram muito.
-Sempre não... E o homem que a atacou?
-Eu... - Hanna baixou os olhos - Eu não imaginava que existissem homens capazes de atacar uma garota daquela maneira... Fiquei com medo por não saber o que fazer ou o que ele pretendia.
Mime encarou a garota, que parou de falar para beber seu chocolate quente. Percebeu que Hanna, embora tivesse corpo e feições de uma mulher, era ainda uma garota de coração puro e inocente. Pelo visto, não conhecia a maldade humana e as coisas de que os homens eram capazes quando desejavam alguma coisa. Lembrou-se de Poseidon, das lutas contra Atena e seus cavaleiros e até mesmo de seu pai. Da morte dele...
-Mime!
-Hã? ele voltou de seus pensamentos. Hanna sorria para ele.
-Já acabou de comer?
-Ah, sim... Vamos, tenho de ir ao palácio.
Terminando de comer, Mime saiu da cabana, acompanhado de Hanna. Iria ao palácio para ver como estavam as coisas e iniciar seus treinos. Mesmo já sendo um guerreiro, praticar nunca era demais.
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O único que detestava treinar com os demais era Alberich. Achava que o "cérebro de Asgard" não deveria se meter com guerreiros que considerava inferiores. O fato era que morria de inveja dos demais por serem altamente respeitados e fortes. Assim, o guerreiro estava sozinho no bosque que circundava o palácio, treinando seus golpes.
Foi então que sentiu um cosmo diferente no ar. Não era nenhum dos guerreiros deuses ou Hilda, era alguém que emanava ódio e maldade. Posicionando-se para atacar, Alberich viu uma mulher de longos cabelos loiros e olhos azuis se aproximar, vestindo uma espécie de armadura vermelho sangue. Ela sorria cinicamente e trazia seu elmo debaixo do braço. E Alberich não deixou de reparar que ela tinha no pescoço a mesma tatuagem que vira nas costas de Hanna.
-Quem é você? - ele perguntou. Poderia atacá-la se quisesse, mas sentia que ela lhe trazia alguma coisa.
-Meu nome é Jormungand, Guerreiro deus de Megrez...
-Jormungand? A serpente filha de Lóki, o deus da trapaça?
-Vejo que sabe muitas coisas ao meu respeito, guerreiro... Muito bem, serei breve então. Estou aqui a mando de minha irmã Hel, a senhora dos mortos...
-E o que ela quer comigo?
-Simplesmente a sua colaboração... Se estiver disposto a isso, sua recompensa será grande...
-Que espécie de colaboração?
-Me acompanhe e saberá, guerreiro deus...
Intrigado, Alberich seguiu Jormungand até chegar a uma caverna. Entrando por ela, o rapaz sentia que estava cada vez mais próximo ao inferno.
-Minha senhora, aqui está o guerreiro deus Alberich de Megrez. - disse Jormungand, reverenciando sua senhora. O guerreiro não deixou de reparar nos olhos negros e odiosos que ela possuía.
-Meus parabéns, Jormungand... Pode se retirar.
-Com licença.
A sós com a mulher, Alberich a cumprimentou com um beijo em sua mão e um sorriso cínico. Hel retribuiu da mesma maneira.
-Serei breve, Alberich de Megrez... Preciso de sua ajuda para resolver um certo problema...
-Que tipo de problema?
-Recuperar algo, ou melhor, alguém que me pertence... Alguém que está no palácio de Valhalla neste exato momento.
-Fala de Hanna, a hóspede de Hilda? - o guerreiro entendeu logo.
-Exatamente, Alberich... Ajude-me a trazê-la para meus domínios e sua recompensa por se aliar a mim será grande...
-Que recompensa, senhora?
-Bem... - Hel sibilou, seus olhos brilhando horrivelmente - O que acha de ser o novo senhor de Asgard quando Hanna voltar e meus planos se concretizarem?
-O que eu preciso fazer para ajudá-la? - os olhos do guerreiro também brilharam.
-Algo muito simples... Vigiar Hilda e seus guerreiros, contar-me todos os passos que derem... E também...
-Também?
-Cuide de Hanna até que meus homens estejam prontos para atacar Valhalla e resgatá-la...
Concordando com um aceno, Alberich sorriu para a mulher. Finalmente poderia realizar seu maior sonho, ser o senhor de Asgard! E, desta vez, não teria obstáculos pela frente, já que Atena e seus cavaleiros não estavam na luta...
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No palácio, Hanna observava os guerreiros deuses treinando seus cosmos e golpes em duplas e se divertia com tudo.
-Ela parece uma criança que acabou de ganhar um brinquedo novo! - comentou Thor com Hagen, seu parceiro. O guerreiro sorriu.
-Eu diria algo assim a respeito do Mime... - Hagen devolveu, observando o guerreiro deus de Benetnasch, que, de certa forma, não tirava seus olhos da garota.
-Ficou maluco, Hagen? Só porque você e Freya estão se acertando, fica vendo romance para tudo quanto é lado!
-Eu vejo a realidade! Quer apostar quanto que logo, logo o Mime vai se declarar para a Hanna?
-Eu aposto qualquer coisa para provar que você está enganado!
-Então tá! Se em uma semana o Mime se declarar para a Hanna, você vai ter de lavar, passar e fazer todas as tarefas domésticas para mim por um mês!
-E se ele não se declarar, quem vai pagar de empregada é você, com uniforme e tudo!
-Fechado!
-Alberich! Onde estava que demorou tanto a chegar? - perguntou Siegfried (alheio às apostas), ao ver o guerreiro deus vindo pela ponte, com um ar displicente.
-Estava resolvendo uns assuntos meus...
Ao passar por Hanna, Alberich a encarou. Foi então que a garota sentiu uma tontura e levou as mãos à cabeça. Sentindo-se mal, ela fechou os olhos e viu uma imagem estranha se formar em sua mente. Uma mulher de longos cabelos negros e olhar que demonstravam a morte iminente sorria para Hanna, que estava presa à uma parede de pedras, o vestido rasgado na altura do ombro revelando um desenho em suas costas. Uma marca que queimava sua pele e ardia quando tocada por alguém. De repente, do nada, um homem loiro aparecia e a agarrava, levando-a para algum lugar distante. E aquela mulher a encarava, agora dando gargalhadas.
-Sente-se mal, senhorita?
Quando levantou a cabeça para ver quem estava ao seu lado, Hanna viu Fenrir de Ariot, outro dos guerreiros deuses, segurando uma espécie de cantil com água fresca.
-Eu estou bem, foi só uma tontura...
-Tome um pouco de água, vai fazer com que se sinta melhor.
-Obrigada, Fenrir...
Quem também havia reparado que alguma coisa não estava bem era Mime. Tanto que acabou tomando um soco de Shido, tamanha era a sua distração (e principalmente preocupação) observando Hanna. Sentia-se responsável por ela, ou talvez fosse algo além. Mas ainda era cedo para explicar e entender o que realmente sentia.
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Ai, gente... Eu tô babando demais nessa fic, o Mime tá tão fofo... E a Hanna também, eu a concebi assim, inocente e sem maldade porque sempre achei que o Mime merecia alguém assim, ele que se culpa tanto pela morte do pai...
Ah, a fic com os cavaleiros de bronze já está com o prólogo no ar, ela se chama "Cinzas de Inverno". Espero que gostem, ela é um projeto que faz tempo eu queria realizar, vai ser muito bacana...
