Capítulo V
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Now that I know what
I'm without
You can't just leave me
Breathe into me and make
me real
Bring me to life
Agora eu sei o que eu não tenho
Você não pode simplesmente me deixar
Respire através de mim, me faça real
Traga-me para a vida
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Enquanto esperava pelo jantar, Hanna decidiu descansar um pouco e relaxar: chamou a criada que lhe preparou um banho quente, com direito até a sais perfumados e toalhas felpudas. Despindo-se devagar, a garota prendeu seus longos cabelos em um rabo de cavalo e entrou na tina, mergulhando sua cabeça nela. Cantarolando, ela brincava com a água e com a espuma, banhando-se sem pressa. E estava tão despreocupada que não se lembrou de trancar a porta do quarto para que pudesse ter maior privacidade.
-Onde está Alberich? - perguntou Siegfried, procurando pelo guerreiro deus. Os demais se entreolharam e balançaram as cabeças negativamente, indicando que não sabiam do rapaz. Furioso, o chefe da guarda real resolveu iniciar os treinos sem o guerreiro. Depois falaria com ele.
Na sala de banhos, Hanna estava deitada dentro da tina, a cabeça apoiada em uma almofada e os olhos fechados, apenas curtindo o momento. Não percebeu quando alguém entrou em seu quarto e foi até ela, com passos silenciosos para não ser percebido. "Como é bela... Os traços do rosto, o corpo de menina...".
Então o relógio que ficava sobre a cama bateu as dezessete horas. Hanna abriu os olhos e, rapidamente, levantou-se para se enxugar e trocar de roupa para o jantar. Quando alcançou a toalha, ela se virou e deu de cara com seu observador.
-Al... Alberich! O que faz aqui? - ela perguntou, enrolando-se com a toalha, cobrindo seu corpo. O guerreiro nada disse, apenas se aproximou e tocou-lhe a face. Hanna sentiu uma certa repulsa por aquele gesto e se afastou.
Alberich sorriu maliciosamente e já ia se aproximando mais, pronto para agarrá-la, quando sentiu um cosmo se aproximando do quarto. Sem dizer nada, ele foi embora. Hanna ficou de pé na tina, uma expressão que demonstrava não estar entendendo nada.
-Hanna! Já terminou seu banho? - perguntou Hilda, entrando pelo quarto. Era dela o cosmo que Alberich sentira se aproximando.
-Já... Já sim, senhora...
-Você precisa tomar mais cuidado, Hanna... - a sacerdotisa sorriu - Esqueceu a porta de seu quarto aberta. Sua sorte é que ninguém nesse palácio seria tão vil a ponto de entrar aqui e ficar te observando durante o banho.
-Claro...
Saindo do quarto, Hilda fechou a porta. Hanna sentou-se na cama e ficou um tempo quieta, contemplando seu vestido sobre uma cadeira. Sentia-se estranha e meio incomodada. Afinal, por que Alberich aparecera na sala de banho? E por que reagira daquela maneira, como se quisesse atacá-la ou algo assim?
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O jantar transcorreu na mais perfeita harmonia. Não querendo causar problemas, Hanna não comentou com ninguém sobre o que acontecera enquanto tomava seu banho, mas percebeu que Alberich não tirou seus olhos dela o tempo todo. Aliás, ele não foi o único.
Mime não escondia de ninguém os olhares para Hanna, que lhe retribuía com sorrisos. Durante todo o jantar eles se encontravam, as mãos também quando pegavam travessas ou a jarra de suco sobre a mesa. Parecia até um inocente jogo de sedução, como duas crianças que estão descobrindo as sensações do primeiro amor.
Ao final da noite, como sempre, o guerreiro deus retirou-se do palácio para sua cabana. Caminhava devagar pelo jardim, pois sabia que logo alguém iria aparecer para lhe desejar boa noite.
-Mime!
Era ela, correndo em sua direção. Hanna parou e, sorrindo, o abraçou como na primeira noite.
-Por que você sempre sai sem dar tempo de me despedir?
-Costume...
Ela riu, o sorriso mais encantador que ele já tinha visto.
-Eu... - ele falou, enlevado por aquele gesto - Eu queria te agradecer pela oração que fez ao meu pai... Foram palavras muito bonitas...
-Não me agradeça... Folken deve ter sido um grande homem, merecia a minha homenagem. Boa noite, Mime.
Mas, quando Hanna ia se virando para voltar ao Valhalla, Mime a segurou pela mão, forçando-a a ficar onde estava. A garota olhou para ele e viu um brilho diferente naqueles olhos vermelhos e tão intensos.
Tomado por uma vontade incrível de beijar aquela boca pequena, o guerreiro puxou-a para junto de si e a beijou. Uma carícia singela, mas que provocou uma onda de choque sem tamanho no corpo de ambos.
-Boa noite, Hanna...
Com a mão sobre a boca, a garota saiu correndo dali. Observando-a ir embora, Mime reparou que, nas costas dela, um desenho brilhava. Parecia um dragão ou algo assim. Porém, tão rápido quanto se formara, desaparecera. "Quem marca é essa, Hanna?".
Rápida feito um raio, Hanna entrou em seu quarto e trancou a porta, os dedos tocando seus lábios. O que era aquilo? E as sensações que tomaram conta de seu corpo, que a fizeram sentir calor e corar suas bochechas?
-Por Odin... Seria isso um beijo? Um beijo, como a senhora Osburga me falava?
Deitando-se na cama, Hanna adormeceu sem trocar de roupa. E com a mão sobre sua boca.
-O que eu fiz? Com certeza ela se assustou, não vai nem querer olhar para mim, com medo!- praguejava Mime contra si mesmo, quase chegando a sua cabana. Sentia-se um grande idiota por ter se deixado levar por suas vontades, mas, também, quem resistiria a uma menina tão linda e pura quanto Hanna?
-Burro!
-Burro por quê? Você só se deixou levar pelo que sente, meu amigo! - disse Bado, surgindo por detrás de uma árvore. Mime deu um salto e encarou o guerreiro deus.
-De onde surgiu?
-Ora, do mesmo lugar que você! Estava tão distraído que não me viu logo atrás, na trilha.
Estava me seguindo?
-Não exatamente... - a resposta não convenceu Mime, que lançou um olhar furioso para Bado - Bem, é que... Que eu... Eu queria conversar com você.
-Sobre o quê?
-Sobre a Hanna... Eu vi o beijo que deu nela. Você gosta dessa garota, não gosta?
Mime já ia xingar Bado por ficar fazendo suposições, mas ficou quieto. E se o guerreiro de Alcor estivesse certo? Pelo jeito, estava...
-Não falei! Olha só o jeito que ficou, parece até uma criança que não sabe o que fazer!
-Cala a boca, Bado! Eu não... Não...
-Não o quê? Não gosta da Hanna?
-Droga! - o rapaz disse por fim, entrando na cabana, seguido pelo amigo. Mime sentou-se em uma cadeira, largando a harpa sobre a mesa.
-Tá, eu acho que gosto dela! Satisfeito?
-Só acha? Deixa de ser besta e admite de uma vez, Mime!
-A questão não é essa, Bado... A Hanna é uma menina tão inocente, não tem maldade nenhuma no coração e eu...
-E você o quê?
-Eu tenho medo... - Mime admitiu, sentindo seu rosto ficar vermelho de vergonha - Medo do que possa pensar de mim.
-Não entendi!
-Ora, Bado, estou falando do passado! Da morte do meu pai! O que ela iria dizer se soubesse que fui eu quem o matou?
-Cara... Eu não tinha pensado nisso.
-Novidade...
Levantando-se em silêncio, Bado despediu-se de Mime e tomou seu rumo. O guerreiro deus de Benetnasch trocou rapidamente de roupa e se deitou. Mas não dormiu logo.
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-Não!
O grito de desespero explodiu da garganta de Hanna, tanto em seu sono como na realidade. Suando frio, a garota levantou-se e foi até a mesa, tomar um copo de água. Tinha tido outro pesadelo, desta vez igual à visão que tivera ao confrontar os olhos de Alberich durante o treino dos guerreiros deuses.
Deixando o copo sobre a mesa, Hanna sentiu uma pontada em suas costas, como se acabasse de se queimar com alguma coisa. Olhando-se no espelho, ela viu uma marca negra e disforme em seu ombro, que logo sumiu. Aterrorizada, a garota deitou-se novamente, mas não conseguia mais dormir. O que estava acontecendo com ela? Que marca era aquela que aparecera em suas costas e aquelas pessoas que a atormentavam em sonhos?
-Papai... Não... Papai! - gritou Mime, também despertando de um pesadelo. Fazia tempo que não sonhava com a morte do pai, pelo menos não tão nitidamente quanto desta vez. Suando, ele rememorava em sua mente cada detalhe da discussão que tiveram, as palavras duras e os sentimentos controversos que o levaram a matar o próprio pai.
Pegando sua harpa, o rapaz começou a dedilhar uma canção melancólica para tentar acalmar seu espírito. E, como em um passe de mágica, a imagem de Hanna tomou conta de sua mente, o sorriso encantador de menina que o deixava nas nuvens.
Já era quase manhã quando Mime voltou a dormir. Não tinha problema, afinal, não haveria treinos por conta do aniversário de Siegfried.
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-Uma festa, no palácio de Valhalla? Interessante... - comentou Hel, bebendo seu vinho, enquanto ouvia as notícias trazidas por Surt - Sabe a que horas será?
-Começará a noite, logo que o sol se pôr, minha senhora.
-Muito bem... Eis uma boa oportunidade de conhecermos melhor nosso inimigo e também ver como está nossa menina... Mande Jormungand atrás daquele guerreiro deus, tenho uma mensagem a ele.
-Pois não, senhora.
Nos limites do jardim, onde costumava passar o tempo quando queria ficar sozinho, Alberich não tirava Hanna de seus pensamentos. A imagem daquele corpo nu e tão perfeito ficou gravada em sua memória e em seu corpo, que reagia a cada pensamento seu.
-Eu preciso tê-la para mim, de qualquer jeito!
-Está falando de quem, guerreiro?
Era Jormungand, vindo pela trilha junto de Arcã, que fitou Alberich de cima a baixo, analisando-o friamente.
-O que quer, Jormungand? E quem é esse almofadinha?
-Almofadinha? Mais respeito a um ser superior, rapaz!
Irritado, o guerreiro deus elevou seu cosmo pronto a atacar, mas foi impedido pela loira, que se colocou entre os dois.
-Senhores, não é de bom tom dois homens que estão do mesmo lado brigarem assim... Alberich, este é Arcã, um dos soldados de minha senhora Hel. Ele está aqui porque precisamos de um favor seu.
-O que quiser, Jormungand.
-Hoje será a festa em homenagem à Siegfried, não?
A menção do nome do guerreiro fez Alberich cuspir de nojo e raiva. Arcã limitou-se a sorrir, meio de lado.
-Exato. Por que pergunta?
-Porque preciso que ajude Arcã a entrar na festa... Ele precisa conhecer melhor nossos inimigos, ver como estão tratando nossa menina...
-Não precisa desse idiota para isso! Eu prometi a Hel que cuidaria de tudo por aqui!
-Não duvido disso, mas são ordens de Hel... Não vai querer contrariá-la, vai?
-Claro que não... - Alberich respondeu displicente, depois se voltou para Arcã - Esteja aqui pouco antes do pôr-do-sol e eu o colocarei para dentro do palácio...
Concordando com um aceno, Arcã e Jormungand desapareceram pela trilha. Voltando sua atenção para seus troféus (as ametistas onde repousavam seus inimigos), Alberich deliciou-se imaginando os guerreiros deuses aprisionados ali. Principalmente o prepotente do Siegfried e Mime, o grande idiota que não desgrudava de Hanna.
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Tá ficando bonitinha essa fic, eu acho... Mas, como não poderia deixar de ser, logo vai ter aventura. Afinal, os homens comandados por Hel não estão aqui só de passagem...
