Capítulo VII
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Wake me up
Wake
me up inside
I can't wake up
Wake me up inside
Save me
Call my name and save me from the dark
Wake me up
Bid my
blood to run
I can't wake up
Before I come undone
Save me
Save me from the nothing I've become
Acorde-me
Acorde-me por dentro
Eu não consigo acordar
Acorde-me por dentro
Salve-me
Me chame e me salve da escuridão
Acorde-me
Obrigue meu sangue a fluir
Eu não consigo acordar
Antes que eu me desfaça
Salve-me
Salve-me do nada que eu me tornei
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Mime e Hanna ainda estavam no jardim quando Arcã, furioso com o que tinha acontecido, saiu do palácio. Sua senhora precisava saber daquilo o quanto antes e certamente Alberich deveria ser castigado por não tomar conta de tudo como o combinado. Como pôde deixar as coisas entre a garota e o guerreiro deus chegarem àquele ponto?
Porém, quando Arcã chegou à caverna e prestou reverências a Hel, a mulher já sabia de tudo. Bebendo de seu vinho, ela dispensou o rapaz e chamou Surt.
-Pois não, minha senhora?
-Procure por Fenris e diga-lhe que estou oferecendo uma nova chance de provar seu valor.
-O que deseja que ele faça?
-Mande-o atrás do guerreiro deus de Benetnasch e o mate!
Ao ouvir o comunicado de sua senhora, os olhos de Fenris brilharam de satisfação. Ainda puxando a perna machucada, o guerreiro saiu da caverna e partiu em direção ao Valhalla, já imaginando todas as maneiras possíveis de acabar com o guerreiro deus.
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Quase no fim da festa, Mime e Hanna entraram pelo salão, mas separados. Por suas caras, não queriam comentários, coisa que ninguém fez. Continuaram a se tratar como antes, dançaram mais algumas músicas, comeram e beberam animadamente. E, quase madrugada, o guerreiro despediu-se dos amigos e saiu, estava tão cansado que poderia até dormir pelo caminho. Sorrindo disfarçadamente para Hanna, Bado indagava se ela não iria seguí-lo. A garota nada disse, mas, pouco depois de Mime sair, sumiu misteriosamente do salão.
-Como sempre, você não me espera...
-Eu gosto de saber que você virá atrás de mim, especialmente para me dar boa noite. – respondeu Mime, sendo alcançado por Hanna quase na saída do palácio, próximo ao portão.
-Então, boa noite, Mime...
Desta vez, ela não o beijou no rosto, nem o abraçou de imediato. Hanna fechou os olhos e ficou esperando um beijo como o da fonte, tinha sido tão gostoso. O guerreiro não se fez de tímido e a beijou, abraçando-a com intensidade. Bem nessa hora, adivinhem quem vinha pelo jardim...
-Mime! Eu sabia que ainda iria encontrá-lo por aqui!
-Bado... – disse o guerreiro entre dentes, furioso pela interrupção. Hanna não agüentou e deu risadas, uma gargalhada gostosa e espontânea.
-Sabe como é, eu também estou cansado e pensei que poderíamos ir embora juntos, vamos para a mesma direção.
Falando muito e gesticulando, Bado passou o braço direito pelo ombro de Mime e foi arrastando o rapaz para fora, Hanna voltou ao palácio quase sem fôlego de tanto rir. "Maldição! Terei de esperar até amanhã para pegar esse cara!", pensava Fenris, oculto por uma árvore próxima ao Valhalla, observando Mime e Bado irem embora juntos.
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O dia amanheceu estranho em Asgard, o céu estava mais nublado que de costume, o vento frio cortava a pele dos desavisados feito uma navalha afiada. O palácio parecia vazio, não se ouvia um único som. Era como se a natureza e as paredes do Valhalla pudessem sentir o que estava por vir nas próximas horas.
Acordando devagar e sentindo seu corpo dolorido por conta das danças, Hanna olhou pela janela e viu as nuvens cinzas cobrindo o a pouca luz que tentava irradiar o céu. Sentindo frio, a garota trocou depressa de roupa e foi para o salão de jantar, tomar seu café. Cumprimentou a todos os presentes e notou que todos pareciam muito quietos, quase não falaram nada durante todo o tempo.
-Vão treinar hoje? – Hanna perguntou para Shido, tentando estabelecer um diálogo. O guerreiro limitou-se a responder com um aceno negativo, não estava muito para conversas. Como todos os outros, essa era a verdade.
Na cabana, Mime também acordou sentindo o dia diferente e muito silencioso. Nem se dignou a sair para caminhar como fazia todas as manhãs, estava frio demais para isso. Enrolando-se em seu cobertor, o rapaz foi até a lareira e acendeu o fogo, colocando um caldeirão de água para ferver. Bocejando, ele se sentou em uma cadeira, se ocupando de cortar um pedaço de pão amanhecido e, subitamente, sorriu sozinho. Estava se lembrando da noite passada, da festa e de Hanna. Dos beijos que trocou com a garota, daquela boca macia e perfeita, os lábios que possuíam um sabor diferente, doces como os morangos silvestres que ele tanto gostava. "Como será que ela está se sentindo agora, depois de tudo o que aconteceu ontem?".
-Estou ótima, Freya... Não sei, é como se de repente o céu ganhasse cores mais vivas, os problemas somem só de pensar no sorriso dele, a música de sua harpa enche o ambiente... – dizia Hanna para a princesa, tentando explicar o que sentia após ser beijada por Mime. Freya sorria, ouvindo a tudo atentamente.
-Isso que está sentindo é o amor, Hanna!
-Amor?
-Claro! Olha só, o beijo não foi uma experiência mágica?
-Foi.
-E você não se sente nas nuvens, não vê a hora de encontrar o Mime novamente e repetir tudo o que aconteceu?
-Sinto.
-Então eu digo com toda certeza: você está apaixonada por ele, Hanna!
A garota sorriu, levando as mãos à boca, como se não acreditasse nas palavras da princesa. Mas era verdade, as sensações que tomavam conta de seu corpo e coração eram como as que a senhora Osburga lhe contara uma vez, quando falou sobre seu amor de juventude. "Sim, eu não vejo a hora de encontrá-lo novamente... Mas acho que ele só virá se essa tempestade de neve não aumentar de tamanho!", pensou Hanna, observando o tempo por uma das janelas do corredor. A tempestade a que se referia tinha começado a pouco, mas já estava forte.
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Passou a manhã, quase a tarde inteira e nada da tempestade diminuir, pelo contrário, ela dava sinais de querer aumentar cada vez mais. Mime praguejava contra a natureza, queria era estar no palácio e não em sua cabana, preso e sem ter o que fazer. Sem ter Hanna por perto.
Ainda enrolado no cobertor, o rapaz sentou-se próximo onde ficavam os porta-retratos e acariciou o vidro daquele que continha a foto de seus pais biológicos. Depois, pegando o retrato de Folken, Mime soltou um longo suspiro. Olhando a foto do pai adotivo, tomou a sua decisão: iria contar à Hanna a história da morte dele, em todos os detalhes que fossem necessários. Precisava fazer isso antes que sua relação com a garota se tornasse mais séria, não queria esconder nada que pudesse vir a separá-los depois.
Separação? O rapaz riu dessa suposição, pensando que há pouco não considerava nem mesmo a possibilidade de se envolver com alguém. Mas tinha encontrado uma garota que parecia um anjo, uma fada de rara beleza que mexia com seus sentidos e seu coração, fazendo com que a sua vida de batalhas e fantasmas do passado ganhasse contornos mais amenos e suaves, um sorriso que dissipava qualquer dúvida ou medo.
-Hanna... Bem que essa tempestade podia passar logo, não agüento mais ficar aqui sozinho...
Levantando-se e caminhando até a janela, Mime passou a observar o céu. Foi quando sentiu alguém rondar a cabana, parecia um cosmo ou algo parecido. Deixando o cobertor aos pés da cama, Mime pegou sua harpa e saiu da cabana, mesmo com a tempestade, a força que sentia representava perigo, tinha certeza disso.
No palácio, Hanna estava penteando seus longos cabelos quando sentiu a mesma força pairar no ar e viu, estarrecida, a imagem do guerreiro deus no espelho, como se fosse um alerta de que algo estava prestes a acontecer com o rapaz. Vestindo um casaco, a garota deixou o Valhalla depressa, nem se dignou a responder as perguntas de Bado, que a encontrou saindo pelo jardim. O rapaz achou a atitude de Hanna estranha, mas considerou que talvez fosse saudade de Mime, tanta a ponto de fazê-la enfrentar uma tempestade de neve e ventos cortantes.
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Guiado pelo cosmo que sentia, Mime afastou-se alguns metros da cabana para dentro da floresta, chegando até uma clareira, seus olhos percorrendo toda extensão que alcançavam.
-Eu sabia que seria fácil atraí-lo para fora da cabana, guerreiro deus... – disse uma voz masculina, em meio às árvores. Mime virou-se para sua direita e viu o dono dela, um homem enorme, de cabelos brancos e olhos cinza, uma cicatriz no pescoço que causava arrepios nos mais desavisados.
-Então você é o dono do cosmo que senti há pouco...
O homem sorriu meio de lado e foi caminhando até o rapaz, parando cerca de dois metros à frente.
-O que quer comigo?
-Vim a mando de minha senhora, guerreiro, e o que quero é a sua cabeça!
-E o que o faz pensar que irá conseguir?
-Eu, Fenris, o grande lobo filho de Lóki consigo tudo o que quero! E será fácil, está sem sua armadura, guerreiro!
-Hunf, idiota... – Mime desdenhou de Fenris – É daqueles que acreditam que a força de um homem está em sua armadura e não no cosmo? Pobre imbecil...
-Não permitirei que um rapazola me chame assim!
Fenris acendeu seu cosmo, Mime fez o mesmo. E, no caminho para a cabana do rapaz...
O vento cortante e a neve eram obstáculos difíceis de transpor, mas não impossíveis. Por conta disso, Hanna caminhava bravamente pela estrada, as mãos à frente do rosto tentando proteger os olhos. E seu pensamento no guerreiro deus de Benetnasch, alguma coisa estava acontecendo com ele.
Foi então que, ao passar próxima à clareira, ela sentiu os cosmos de Mime e de uma segunda pessoa. Sem pensar duas vezes, correu na direção de onde os sentia, o coração aos pulos de preocupação.
Mime e Fenris se encaravam, rodeavam um ao outro, a harpa do rapaz pronta a ser utilizada. O velho lobo estava confiante em sua vitória, não acreditava que um rapazinho daquele seria capaz de derrotá-lo. "Está na hora de acabar com essa lenga-lenga!".
-Uivo Mortal do Lobo! – gritou Fenris, provocando um deslocamento de ar e neve com seus braços, na direção de Mime. O rapaz nem se abalou, posicionou sua harpa de encontro ao peito e disse, calmamente.
-Réquiem de Cordas...
Quando as primeiras notas soaram, Fenris viu seu golpe se deslocar para longe de Mime e as cordas da harpa do rapaz o envolverem, apertando seus membros, cortando a sua pele.
-Não escapará das cordas de minha harpa, Fenris... Estará morto antes mesmo de a última nota ser tocada...
Urrando de dor, o homem se contorcia no chão, preso pelas cordas. Mime ia lançar a última nota quando...
-Mime! – gritou Hanna, aparecendo por entre as árvores, estancando o passo ao ver o oponente do guerreiro deus. Abafando um grito, ela correu para junto de Mime, o rapaz nada entendia.
-O que faz aqui, Hanna?
-Eu... Eu pressenti que estava com problemas, vim correndo atrás de você para ajudar e esse homem...
-O que tem esse homem?
-Foi ele quem me atacou no dia que te pedi ajuda!
Enquanto os dois jovens discutiam, não notaram que, com a distração de Mime, as cordas da harpa se afrouxaram e Fenris pôde se soltar. "Isso é maravilhoso... Acabo com o guerreiro e ainda levo essa garota de volta para minha senhora...". Colocando-se de pé, o homem preparou-se para atacar.
-Cuidado!
O grito de Hanna veio no exato momento que o vendaval quase atingia em cheio o guerreiro deus. Mime virou-se de costas, não havia como desviar sem que o golpe atingisse Hanna, atrás de si. Envolvendo-a com seus braços, ele recebeu todo o impacto e o sangue começou a escorrer de seu corpo.
-Mime!
-Hanna... É melhor sair daqui...
-Mas você está ferido, precisa de cuidados...
-Depois eu cuido disso...
Segurando sua harpa com força, Mime virou-se de frente para Fenris. Seu cosmo ardia de tal maneira que o velho lobo se assustou.
-Vai se arrepender de ter se metido com um guerreiro deus! E pior, por ter atacado a Hanna e feito mal a ela! Réquiem de Cordas!
O golpe de Mime atacou Fenris com mais poder que o último, as cordas envolvendo seu corpo com muito mais força, abrindo cortes por todos seus membros. Quando a última nota foi tocada, Fenris soltou um grito profundo, semelhante a um uivo e depois tombou de lado, morto.
Hanna saiu de seu esconderijo atrás de uma árvore e abraçou Mime, que sentia as dores provocadas pelo golpe de Fenris.
-Venha, eu vou te ajudar...
Apoiando-se na garota, Mime segurou com firmeza sua harpa e os dois puseram-se a caminho da cabana.
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O próximo capítulo vai ser, em minha opinião, o mais fofo e bonitinho dessa fic! Aguardem...
