Miro andava satisfeito. Após quatro meses treinando Lilith, ela dava mostras de melhoras em suas artes físicas. Tá certo que não era nada agradável ser motivo de gozação por parte dos companheiros, mas a alegria de ver sua pequena aluna se desenvolvendo era o máximo.
Lilith já conseguia quebrar pequenas pedras, com uma força incrível, além de já começar a elevar o seu cosmo através das aulas de controle da mente. O que facilitava era que Afrodite, Mú e Shaka estavam ajudando Miro, pois facilmente este perdia o controle e gritava com a criança. Mas ao contrário da maioria dos pequenos, ela não chorava (pelo menos não na frente dos outros); Lilith mostrava um auto-controle de dar inveja até a Kamus.
Em poucos dias a animosidade entre ela e Miro estava acabada. Miro, afinal, era legal, carinhoso, atencioso e o principal: não a maltratava a torto e a direito. Muito pelo contrário, era o tutor mais cuidadoso de todo o Santuário.
Miro, por sua vez, não podia deixar de se sentir orgulhoso por ter como aluna uma menina que sabia ser carinhosa, até meiga. Não era sempre, mas quando isso acontecia era motivo para farras na Casa de Escorpião, com direito a reunião dos amigos do tutor, já que Lilith só se dava com Yuri, Quíron e Lucano. Os outros pequenos não gostavam de Lilith, e o sentimento era recíproco.
Naquela manhã, como sempre, Lilith estava atrasada para o café e na hora da subida para o Salão do Mestre levou uma trombada com alguém beeem maior que ela: Shura também estava atrasado, e acabou levando um pisão no pé.
- Ui! Calma, chica! Yo também estoy atrasado, e usted no me vê corriendo, si? – disse Shura, sorrindo para a menina, que parecia estar extremamente sem graça.
- Perdoe-me, Senhor...- com uma reverência, Lilith pedia perdão a um Capricorniano surpreso.
- Vem, que eu te levo mais rápido – e antes que Lilith pudesse protestar, ele a pegou no colo e subiu correndo na velocidade da luz.
Ao chegarem no salão, Shura diminuiu a velocidade, e todos puderam ver que menina estava no colo do cavaleiro, causando a maior sensação no Salão. Miro, ao ver a cena, gritou colérico:
- Shura, seu pervertido! Põe a menina no chão!
- É Espanhol...isso se chama pedofilia, sabia? – riu MDM, fazendo com que todos rissem da cara de Shura, que estavas ficando cada vez mais vermelho.
Lilith, uma vez no chão, ficou tão vermelha que correu pro colo de Miro, afundando o rosto no ombro dele, totalmente sem graça. O Escorpiano ficou fazendo carinho no cabelo da menina, até que ela pudesse finalmente comer sossegada.
O resto do dia foi de piadas sobre as manias sexuais de Shura, o que faziam com que o dono da décima casa zodiacal ficasse se sentindo o pior dos homens. Afinal, o que tinha demais em levar a pequena para o café? Miro que a deixou pra trás, esquecendo de acordar a criança.
Enquanto o dia corria, Lilith observava seu mestre com o rabo dos olhos, e percebeu que algo estava o atormentando. Usando a intuição feminina de que era dotada, a menina sentiu que Miro estava apaixonado, e o alvo de sua paixão era uma pessoa de quem Lilith gostava muito.
Confusa, a pequena viu que aquele não era o único "casal" que poderia estar junto; existiam outros ali que estavam com os corações apertados por não terem certeza de seu amor.
Acabado o treino, a menina subiu até a oitava Casa para tomar banho. Com roupas limpas, se dirigiu ao Salão do Mestre, e pediu uma audiência com a Deusa. De frente com Saori, a menina se ajoelhou e colocou a cabeça no colo da Deusa:
- Senhora, posso fazer uma pergunta?
- Claro, meu anjo – sorriu Atena.
-É pecado amar?
- Claro que não, meu bem. O amor é a maior bênção que os mortais receberam dos Deuses – retrucou Saori, surpresa.
- E quando o amor surge entre dois homens? – disse a menina, com lágrimas nos olhos.
Saori ficou emudecida por instantes. Fazendo carinho na cabeça da criança, escolheu as palavras com jeito para não confundir a pequena menina:
- Sabe meu bem, nem todas as pessoas aceitam esse amor. São pessoas preconceituosas, que se esquecem de que, segundo um poeta da terra do Aldebaran, "qualquer maneira de amor vale a pena". Nunca é feio amar, seja entre um homem e uma mulher, dois homens ou duas mulheres.
- Mas Senhora, eu ouvi alguns cavaleiros de prata rirem, chamando o Afrodite de bicha. Eu não sei o que é, mas eu não gostei.
- Lilith, eu sei que existem pessoas que fazem esses tipos de comentários – disse a Deusa, corada – mas não se esqueça de que nunca se deve classificar uma pessoa por sua orientação sexual, mas sim pelo que ela é, como ela é e o que ela representa para você. Está bem?
- Está...é confuso e estranho, mas eu não consigo compreender. Se nós somos todos iguais, e de quem gostamos não tem importância, porque algumas pessoas não aceitam? É errado? – persistiu a menina.
- Não, não é errado . Errado, criança, é não amar. Ou amar e ser covarde e não assumir o amor que sente. Agora vá, que você faz tanta pergunta que parece com o Shun...me deixa com dor de cabeça...
Com suas dúvidas tiradas, Lilith deu um beijo na face de Saori, que podia ser chata e coisa e tal, mas sempre respondia todas as questões que as crianças lhe faziam. Descendo os degraus de dois em dois, Lilith formulava uma idéia mirabolante. Parou na Casa de Peixes, procurando Yuri. Ao achar o menino, disse que precisava falar com ele depois, e o encontraria depois do jantar na arena, que a essa hora estaria vazia.
Desceu até a Casa de Aquário, convocando Pierre para a reunião, e na descida foi chamando Lucano, Giovanni e Quíron. Na hora marcada, todos compareceram no local. E para variar, Lilith foi a última a chegar. Desculpando-se pelo atraso, resolveu começar a explicação:
- ente, é o seguinte: não sei se vocês perceberam mas nossos Mestres estão profundamente apaixonados – ao ver os olhares surpresos ela continuou – É, pelo visto vocês são tão ruim de intuição quanto eu sou de mira...
- Meu Mestre? Apaixonado? Mon Dieu! Quem será a femme que balançou o coração dele? – Pierre estava inconformado.
- Olha, eu acho que sei de quem meu Mestre gosta, mas eu acho que não é recíproco – disse Yuri, levantando as sobrancelhas.
Vendo que Lucano e Quíron estavam boiando, e Giovanni estava rachando o bico de tanto rir, Lilith resolveu esclarecer as coisas de uma vez:- Os casais são: Miro e Kamus, Afrodite e Máscara da Morte, e Shaka e Mu. Pronto? Agora podemos chegar a um ponto comum e juntar eles? Assim eu vou poder dormir em paz, sem o mala do Miro andando pelo Templo de madrugada.
Diante do olhar estarrecido dos amigos, Lilith suspirou, vendo que alguns ali iam causar problemas:
- Mas...você tem certeza? E se estiver errada? E se eles descobrirem alguma coisa? E se der errado? E se...
- Cala boca, Lucano! Você consegue ser mais tonto que o Seiya! – Lilith estava enfurecida com o amigo – Poxa, é claro que eu tenho certeza, e eles não vão descobrir nada, se todos fizerem direito a sua parte no meu plano...
Gente, estou adorando escrever essa fic!
Lininha, adorei saber que você está acompanhando...Brigadú!
E como sempre...
Claro que continua!
