Capítulo XIII – Segredos inconfessáveis
Miro ainda não acreditava...olhava para sua menina e não conseguia entender o que estava acontecendo. Sua cabeça rodava, não conseguia atinar o que pensar.
Lilith estava de cabeça baixa; era a primeira vez que alguém via a menina murchinha, com vergonha. Para a menina era difícil encarar o mestre, depois dele descobrir o seu segredo. Perguntou com voz embargada, com os olhos úmidos:
- Senhor...agora que sabe a verdade, vai querer se livrar de mim?
Abismado, Miro se abaixou e abraçou a menina:
- Lilith, nunca mais diga isso, tá? Eu...eu te amo demais para ficar longe de você...
- Mesmo, senhor? O senhor não tem medo de mim? – perguntou esperançosa Lilith.
- Porque eu teria medo? – Miro tentava não se mostrar assustado – Lilith, na realidade ninguém é normal. Só porque você tem poderes paranormais eu deveria ter medo?
- Lilith fala isso por ter passado por momento difíceis, Miro – Athena se fez ouvir – Todas as crianças aquisofreram, e muito, com o preconceito e o medo dos homens. Mas creio que nenhuma tenha passado pelo que essa menina passou.
- O que aconteceu, Lilith? – Miro mostrava estar angustiado. Como a menina não respondesse Saori falou por ela:
- Ela foi perseguida, maltratada, e até apedrejada – todos os cavaleiros ficaram indignados – Por pouco ela escapou da fogueira.
- Mas isso é desumano! É pré-histórico! – gritou Afrodite, enquanto escondia o rosto no ombro de Máscara da Morte.
- Miro, alguma vez viu Lilith tomando banho? – inquiriu Athena.
- Claro que não! Ela é uma menina, e não precisa de supervisão para tomar banho! Mas o que isso tem a ver?
- Lilith, tire a camisa – a menina ficou impassível, e Saori continuou – é uma ordem, menina. Vamos, tire.
Rubra de vergonha, Lilith retirou lentamente a camisa, cobrindo as pequenas protuberâncias que ela já chamava de seios com as mãos. Gritos de horror foram ouvidos: as costas da menina eram uma só marca; como se tivessem retalhado sua pele, que além disso estava com marcas de queimaduras, deixando-a pior do que poderia ficar.
Yuri, Quíron, Lucano, Pierre e Giovanni, apesar de já saberem da verdade e terem visto as marcas, foram os primeiros a chorar, sendo seguidos por todos os cavaleiros e crianças presentes.
Miro estava parado, sem conseguir se mexer. Ódio, amor e medo se misturavam em seu peito, sufocando seu coração, o impedindo de raciocinar. Sentiu a mão de Kamus apertando a sua, mas não conseguiu prestar atenção no amante. Ajoelhou-se ao lado da menina, que mantinha o rosto firme, sem derramar uma só lágrima. Entre lágrimas e soluços falou:
- Li...minha princesa...mi-minha flor...que-quem fez isso com você?
- Não se preocupe, senhor. Aqueles que sobreviveram à minha fúria não poderão jamais fazer com outros o que fizeram comigo – respondeu suavemente a menina, sem abaixar a cabeça, com um sorriso verdadeiramente diabólico no rosto pálido.
- O que? O que ela fez? – perguntou Saga à Deusa.
- Ela não conseguiu segurar, Saga. Sua força interior é muito forte para se conter. Por isso ela está aqui – Saori respirou fundo – Mas o passado é passado, e não devemos mexer com isso. Lilith agora está à salvo, livre de qualquer perigo.
- E o que isso quer dizer, senhora? – perguntou Mú, entre lágrimas.
- Quer dizer que Lilith, sem querer, atingiu muitas pessoas de sua aldeia na Romênia. Ela foi considerada uma pária em sua pátria. Foi aí que a Fundação Graad a encontrou, e com muito custo a retiramos às escondidas de seu país.
- Mas isso tudo é abominável! – Kanon não conseguia segurar a raiva – Ela é só uma criança! Não podia ter passado por tudo isso!
Miro estava mudo, as lágrimas rolavam em seu rosto enquanto ele fitava a menina com olhos tristes. Lilith estava de cabeça erguida, mas uma sombra passava sobre seu olhar, a deixando com um ar sombrio. Mesmo passando por toda essa exposição de sua história, ela mantinha a sua dignidade. Abaixou-se e pegou sua camisa, e lentamente a colocou. Virou-se e olhou para Saori, e com uma ponta de sarcasmo disse:
- Posso fazer a minha exibição, Senhora?
Athena percebeu a fúria que estava dominando a menina, e com um sinal a fez se aproximar, e acariciou seus cabelos enquanto falava:
- Não, minha querida. Não precisa. Creio que a amostra que lhes deu hoje cedo já bastou. Miro, leve-a para casa; Lilith precisa de uma boa noite de sono.
- Sim, senhora. – e antes que a menina pudesse reclamar, a pegou no colo e saiu correndo em direção à escadaria.
Com um suspiro, Saori deu uma olhada em seus cavaleiros e nas crianças. Por um momento se sentiu velha; sim, estava ficando velha, tendo que cuidar de tantas coisas e ainda por cima ter de manter o mundo em paz. Se levantando do trono do Grande Mestre, disse:
- Bom, acho que o circo já acabou, pessoal. Podem ir para suas casas, e relaxem. Os treinos matutinos de amanhã estão suspensos, ok? – vendo que nenhum dele se mexia, não conseguiu conter o mau humor – Vão, saco! Eu tô com sono e pretendo dormir logo.
Rapidamente os cavaleiros se retiraram, menos Shura, que estava estático no Salão. Pablo o olhava, sem entender o porquê de seu mestre não obedecer à Deusa. O cavaleiro de capricórnio olhou para seu pupilo e falou:
- Pablo, vá para casa e tome banho. Daqui a pouco yo irei, está cierto? – assim que o menino saiu, ele se voltou para Saori – Señora, podemos conversar um pouco?
- Só se for muuuito rápido, Shura. Estou morrendo de sono e querendo um bom banho. Ikky, vá até o meu quarto e encha a banheira, sim? – Fênix aparentou estar um pouco sem graça – Vai logo, Ikky! Cacete, não se fazem cavaleiros como os de antigamente...Diga, Shura, o que quer?
- Señora, yo estou un poco confuso...Porque no dice nada antes?
- Shura, não vi motivos para isso, afinal as crianças foram instruídas a não usarem seus dons enquanto não fosse necessário, e até hoje não tinha motivos para isso. O incidente entre Lilith e Pablo é que desencadeou todas as revelações. Mas fique sossegado, afinal tudo voltará à normalidade...se é que esse Santuário algum dia foi normal...
- Señora, perdoe-me, mas yo nó engoli aquele "pasado es pasado". O que aconteceu con la niña?
- Porque você quer saber Shura? – Saori o olhou atentamente, e pôde perceber a inquietação que se passava no íntimo de seu cavaleiro de ouro – Bom, vou te contar, mas espero que não saia daqui ...
