Capítulo XV – Um jantar especial

- Shura, você está bem? – perguntou a Deusa, enquanto enxugava as lágrimas – Ai, espanhol, fala alguma coisa!

- Si, yo estoy bien, sólo un poco nervoso. Porqué a señora nunca habló desto con ellos?

- Porque eu não achei conveniente, Shura... Ademais, ela também sofre com as recordações de um passado tão difícil...- Saori reprimia algumas lágrimas a custo – Depois, como você acha que os outros iriam encarar? Nem todos pensam como você ou como o Miro.

Shura estava com a testa franzida, e não conseguiu se mover, mesmo depois de Saori sair silenciosamente do Salão, indo para seus aposentos. A imagem da menina se expondo diante de todos, com o rosto rubro de vergonha. Sentiu um aperto no peito, e pesarosamente se dirigiu à sua mansão.

Pablo o esperava com a mesa posta; curiosamente haviam quatro pratos na mesa. Levantando uma sobrancelha, Shura inquiriu o menino:

- Pablo, que es eso? Teremos visitas?

- Si, señor...yo tomei la liberdade de convidar el señor Miro y sua aluna, Lilith – Pablo abaixou a cabeça, envergonhado – Achei que seria una buena idéia para que la niña me perdoe.

- Pablo...hable la verdade, si?

- Está cierto! – explodiu o garoto – Giovanni me ameaçou...disse que se yo nó me desculpasse com ella, el incitaria los muertos contra yo! Entonces, no tive escolha, sí?

- Hum...cierto. Y usted já os convidou?

- Si, pedi para que Fred avisasse a ellos que nosostros os esperamos para jantar.

Shura estava espantado: o menino organizara a sala, montara a mesa esplendidamente com velas e flores e colocara à mesa a louça especial, além de talheres e taças de prata. O aroma que emanava da cozinha o dava idéia do menu que iriam saborear aquela noite.

Enquanto Shura se arrumava para o jantar, Miro esperava Lilith terminar sua toilete, mas assim que a viu percebeu que a espera não fora em vão. A menina estava linda, com um vestido vermelho que mal cobria as pernas magras dela, assim como as mangas longas deixavam-na com um ar diáfano. As sandálias gregas subiam pelos seus tornozelos, e completando seu visual tinha uma gargantilha de prata cravejada de rubis, com um par de brincos e uma pulseira combinando com a mesma.

Apesar de estar aborrecida por ser obrigada a ir a este jantar, Lilith ficou feliz ao ver um sorriso se abrindo no rosto de seu mestre. Ficava contente em saber que nada mudaria, e que ele ainda gostava dela.

Não sabia como explicar, mas ela só gostava mesmo dele. Apesar de ser amiga dos meninos, não confiava inteiramente neles. Sabia que essa sua posição havia, de início, causado indisposição entre ao meninos, mas Giovanni resolveu as coisas à sua maneira: avisou a todos que a menina era meio louca, mas que era simpática, e apesar de tolerar eles, não pertencia a esse mundo, e quem ficasse contra ela ia se ver com ele.

Miro também não ficava atrás no quesito visual: estava elegantíssimo em um Armani preto, de corte impecável. A gravata era a única coisa que destoava do conjunto: era dourada com coraçõezinhos vermelhos. "Presente do Kamus", pensou Lilith, segurando o riso.

- Vamos, minha querida! Shura é um ótimo anfitrião, mas não suporta esperar...Espero que desta vez ele não sirva aquele vinho horrível!

Lilith deu a mão para seu mestre, e ambos subiram as escadas alegremente. Passaram pela casa de Sagitário, deixando Aioros e Fred pasmos com a elegância do casal. Miro piscou para Oros, e fez um afago nos cabelos rebeldes do menino. Lilith percebeu o olhar de esguelha que ambos lançaram para ela, os dois com um medo que não tinha explicação. Sentiu-se magoada, mas resolveu não falar nada.

Subiram as escadas até chegar à casa de Capricórnio, onde foram recepcionados por Pablo, que estava com evidente mau humor...Mas Miro e sua aluna não deram importância, afinal eles aceitaram o convite porque o jantar ia ser na casa de Shura...

Shura saiu de sua suíte deixando Miro espantado e Lilith de boca aberta: os cabelos negros estavam penteados para trás, com um terno preto bem cortado de linho puro e gravata vermelha sobre camisa branca. Com sapatos e cintos negros reluzentes, o espanhol estava realmente encantador.

O jantar em si foi silencioso, quebrado somente por Miro e Shura quando brincavam um com o outro. Lilith comi com os olhos passeando entre o prato e seu anfitrião, enquanto Pablo continuava com os olhos fixos no prato.

Quando o jantar terminou, Miro e Shura se retiraram com os pratos, deixando os meninos sozinhos, afim de se entenderem. Pablo, nervoso, não sabia bem como começar. Mas resolveu que sendo direto era mais fácil:

- Escuche, niña...yo te peço desculpas pelo que dice...Perdi la cabeça...Olvides todo o que se pasó...te peço por favor – o que começou com uma voz forte agora parecia com um sussurro leve – niña...yo sé que fue un estúpido, um idiota...mas no queria machucar usted...

- Acho que bati com muito mais força do que esperava – Lilith estava espantada; sabia que o menino iria pedir desculpas, mas não imaginava o jeito formal – Tá certo, espanhol...eu admito também que não devia ter deixado subir pra cabeça...estamos quites? – perguntou a menina, estendendo a mão para ele.

- Creio que sí – Pablo deu a volta na mesa, e pegando a mão dela a puxou para perto, enlaçando a cintura dela com a outra mão, abraçando a menina surpresa, enquanto murmurava em seu ouvido – usted es muy buena para me perdonar...

Lilith estava parada, sem ação. Nunca imaginara que alguém que não fosse sua babá ou Miro a abraçasse, mas adorou sentir o bater suave do coração de Pablo próximo ao seu. Sem atinar para o que estava fazendo, estreitou o abraço, enlaçando o pescoço dele com os dois braços, enquanto o rosto se afundava no pescoço do menino.

Miro estava tenso, não escutava nenhum barulho vindo da sala, e esperava que sua aluna não tivesse matado o pobre espanholzinho. Sem conseguir segurar a curiosidade, se esgueirou pela porta, deixando Shura limpando os pratos. Por uma fresta pode ver o que acontecia, e ficou com cara de idiota. O amigo, ao perceber que algo estava acontecendo na sala, não teve a mesma sutileza que o escorpião.

Ao se deparar com seu aluno e Lilith abraçados na sala, ficou parado como uma estátua. Sua boca secou, e podia sentir seus membros pesados como chumbo. Sua cabeça se recusava a processar a informação de que as crianças se abraçavam, íntimas e muuuito próximas. Sem conseguir perceber, saiu da sala rapidamente, batendo a porta do quarto.

Miro viu ali uma forma de sair para sua casa, e se despedindo com suavidade de Pablo, levou Lilith para casa. Ao chegaram à mansão, Miro não aguentou e perguntou, sutilmente:

- E você e Pablo, hein? Se entenderam?

- Sim, e como! Nunca pensei que ele poderia ser tão doce... – respondeu Lilith aereamente. Miro achou melhor não tocar mais no assunto. Pelo menos por enquanto.


Como diria a Lininha...SUGOI!

Ninas, brigadú por me motivarem...só de saber que vocês estão lendo e gostando eu fico muuito feliz!

Beijinhos...

Continua...claro!