E lá vamos nós. Respiro fundo enquanto Esme me empurra para fora do quarto com um toque gentil. Admito que sair do quarto me deixa ansiosa. Essa é a primeira vez que saio desse quarto e não tenho certeza sobre o que esperar.
Eu sabia que a casa era enorme. Ontem eu só vi uma parte dela, mas o foi o suficiente para ter uma ideia do quão grande ela realmente é. O corredor se entende pelo que parece metros sem fim. Janelas e mais janelas se alinham ao longo da parede e assim como o quarto, a casa é decorada em tons de branco e madeira.
A nossa direita várias portas enfileiradas, todas fechadas, vão passando, como um corredor de quartos de hotel.
Mais à frente o corredor fica mais largo, dando espaço para duas escadas, que formam uma curva suave e que se encontram no meio, formando uma só até finalmente alcançarem o andar de baixo. Esme e Alice continuam andando sem hesitação, mas sinto o forte impulso de parar e correr de volta para o quarto. A mão de Esme nas minhas costas evita que eu pare de andar, mas meu coração bate a mil por hora. Uma hora dessas vou tem um ataque cardíaco penso lembrando a quantidade de vezes que meu coração ´quase parou´ nos últimos dois dias.
Chegamos ao primeiro degrau e eu seguro firme no corrimão. Um enorme candelabro ilumina o hall de entrada com seus cristais brilhantes sobre a luz, como estrelas cintilantes. Vasos de flores brancas em altos pedestais decoram o final de cada corrimão e a nossa frente uma enorme porta branca, a entrada principal.
Paro sobro o último degrau e continuo a observar o candelabro enquanto Alice mexe em alguma coisa no meu cabelo, mas não presto atenção nela, estou ocupada demais bancando a idiota boquiaberta. Esme passa por nós se dirigindo a um cômodo a nossa direita.
Uma sala de estar com um belíssimo piano, foi decorada para receber visitas ou apenas passar o tempo na larga mesa de vidro rodeada de cadeiras e sofás. Lindas cortinas cobrem a janela enorme de onde provavelmente é possível ver toda floresta, uma visão maravilhosa, imagino, nos dois dias ensolarados do ano.
Noto a ligeira cor azulada que reflete nas cortinas. Como é o nome disso mesmo? Tento me lembrar do nome da tecnologia que irradia essa cor azul, mas não consigo lembrar o nome por nada. Carlisle está em pé perto da janela e se vira quando Esme anda na direção dele.
Do lado direito dos sofás, o marrom escuro do piano com a tampa aberta se destaca das paredes brancas como algo majestoso. Ele parece tanto com um dos modelos antigos que sinto que se eu olhar dentro vou ver milhares de finas cordas e martelinhos produzindo o som. Só que não tem como isso ser um piano autêntico.
—Pronta! Alice exclama. Ela começa a caminhar em direção a porta, mas se vira para a escada novamente e fala baixo —Jasper…
Alice se vira e olha para o topo da outra escada que desce do segundo andar. De lá, um homem de expressão séria nos encara. Ele desce degrau por degrau mantendo os olhos em Alice até chegar ao último e parar perto do vaso no lado oposto ao meu.
Jasper é um homem alto e de curtos cabelos loiros. Ele tem a mesma pele branca de todos ali, e sua figura é como a de um modelo. Cada passo parece bem calculado e balanceado, e de certa forma, ele tem um ar diferente dos outros. Existe uma certa frieza na energia em volta dele, como se ele estivesse deixando claro que a distancia entre nós não deve ser cruzada. Nossos olhos se encontram por um breve momento. O olhar duro e frio dele me deixa desconfortável. Ao contrário dos outros, Jasper não pare interessado em me fazer sentir confortável. Não sei exatamente o que dizer para aqueles olhos vazios e o desconforto me deixa tímida demais para falar com ele primeiro, então me viro e falo com Carlisle.
—Desculpe a demora Dr. Cullen. Ele e Esme se aproximam de nós assim que Jasper aparece.
—Não se preocupe querida ele disse, e então levantou uma das mãos e educadamente apontou para Jasper:
—Este é Jasper. Ele fala. —Ainda não apresentei minha família formalmente para você não é? Esme e eu somos casados. Jasper e Alice são nossos filhos. Temos outros 3, mas um deles está viajando por algum país distante e os outros dois você vai conhecer hoje a noite se tudo for como planejado.
Eu imaginei que eles fossem um família, mas quando ele apresenta Alice e Jasper como filho deles, admito que fiquei surpresa. Esme não parece ter mais de trinta anos e Alice e Jasper parecem ter cerca de vinte anos, então, a não ser que Esme deu a luz a eles inacreditavelmente nova, eles são adotados.
Não quero olhar nos olhos de Jasper novamente, mas não sou tão mau educada a ponto de não falar nada.
—Muito prazer em conhecê-lo falo baixo e o cumprimento enquanto tento não olhar diretamente nos olhos dele.
—É um prazer conhecê-la, ele responde acenando com a cabeça de leve. —Espero que se sinta melhor.
—Sim, já me sinto muito melhor. Obrigado.
—É bom ouvir que está se sentindo melhor. Eu espero que se recupere completamente logo.
Finalmente percebo o porque do olhar de Jasper me deixar tão desconfortável. O jeito que ele se move, a forma como fala e me olha é exatamente como eu tenho agido com Esme e os outros até agora. É como olhar no espelho gelado da minha própria face. E eu achando que estava sendo educada. Penso fazendo uma nota mental de sorrir de vez em quando.
Jasper me observa dos pés à cabeça e depois olha na direção de Esme. A expressão dele é dura, mas Esme não retribui o olhar, ao invés disso, trata de nos apressar:
—Então, já podemos ir? ela pergunta meio agitada enquanto chega perto de mim. Ela toca minha cintura de leve e me guia até a porta sem se despedir dele.
Não sei o que pensar sobre o que quer que tenha sido essa interação entre eles.
A grande porta da entrada principal se abre e o ar gelado que sopra no meu rosto me lembra daquela noite. A noite que parece ter acontecido em um passado distante. Respiro fundo e sinto o frio queimar dentro de mim.
Assim que passamos pelas portas vejo o vasto jardim da casa. Várias árvores e arbustos bem cuidados desenham uma paisagem que é capaz de se misturar com a floresta. Não sei dizer onde o jardim termina e onde a floresta começa. Um longo banco e um gazebo coberto de plantas, agora adormecidas, na frente da janela da sala de estar parece o lugar perfeito para aproveitar a brisa do verão. A decoração do lado de fora é rústica e o tijolo vermelho se espalha por todas as paredes. Longos galhos de trepadeira se agarram as elas e escalam a casa chegando até o segundo andar.
Um caminho de pedras que parte da porta e se estende por alguns metros nos leva até o carro estacionado. Carlisle entra no banco do motorista, Alice no passageiro e eu sentada no banco de trás com Esme do meu lado.
Carlisle dirige por uma estrada que corta a floresta por alguns quilômetros. Fileiras de árvores altas passam por nós enquanto Alice me conta a história do lugar para me distrair, ou entreter a si mesma. De qualquer forma, aprecio a conversa.
—Essas são uma das poucas florestas naturais restantes no nosso país. Nada como os aglomerados geneticamente modificados que nos mantém respirando. Esse lugar está vivo. Ouvir ela falar da floresta como algo precioso e indispensável ainda soa entranho. Tudo que eu consigo imaginar é o medo que passei naquele lugar enquanto vejo as árvores passando.
—Nossa família mora naquela casa a gerações. Quando quiseram fechar a floresta tentaram nos tirar da casa, mas considerando tudo que gerações passadas fizeram por aquele lugar e pela cidade conseguimos manter a casa. As árvores dão lugar a uma estrada ampla que segue muito além dos olhos para a direita e para a esquerda. Mesmo depois de entramos em uma rodovia Carlisle continua usando o controle manual. Ele parece confortável, como se aquele fosse um velho hábito seu, enquanto dirige ao lado de outros carros claramente em piloto automático mantendo uma distância perfeitamente simétrica um dos outros. Ele dirige tão rápido quanto o controle manual permite e logo avisto os arranha-céus da cidade crescendo no horizonte, como se estivessem brotando do concreto para o céus.
Você está em Forks, no estado de Washington querida. As palavras de Esme flutuam na minha mente enquanto observo os prédios crescendo mais e mais no horizonte.
Em poucos minutos entramos na cidade de Forks.
A cidade não parece particularmente especial. Nada diferente do que eu imaginava na verdade.
Carlisle dirige por ruas menores evitando o tráfico até um conjunto de 3 prédios enormes construídos um do lado do outro como um dominó, com as palavras ´Hospital Regional de Forks´ passando pelas janelas.
Várias pessoas usando uniformes branco e azul claro caminham pelo pátio. Carlisle dirige até a entrada da garagem e posiciona o carro sobre o elevador. Com um bipe curto o carro começa a subir. Passamos por um túnel fechado por alguns segundos até finalmente chegarmos aos andares da garagem onde vários carros posicionados horizontalmente estão alinhados um sobre os outros por vários andares. De repente, o elevador para e o carro desliza para uma plataforma onde dois homens e uma mulher estão em pé, como se estivessem esperando para receber todas as pessoas que estacionam ali.
Carlisle desce do carro primeiro eu posso ouvir um dos homens falar —Bom dia doutor Cullen. Carlisle responde com um bom dia. O outro homem abre a porta de Alice e a porta do passageiro do meu lado. Ele estende a mão para mim para me ajudar e Esme já está saindo pelo outro lado. Aceito a mão dele e saio do carro para logo voltar para o lado de Esme. Não acredito que deixei eles me convencerem a vir até aqui.
A mulher vem em nossa direção e fala com Carlisle.
—Não estávamos esperando o senhor hoje doutor Cullen. Alguma coisa errada?
—Não Janet. Só trouxe uma convidada para exames de rotina. Carlisle aponta na minha direção quando fala convidada. A mulher ergue uma sobrancelha e olha para mim. Sou quase da mesma altura de Esme, mas tenho certeza de que pareço uma criança de 5 anos agarrada no braço dela.
—Convidada? Ela pergunta, confirmando se Carlisle usou as palavras certas.
—Exatamente. Ele responde sorrindo. —Trate-a como uma, Janet.
Ela acena levemente e nos guia até o elevador.
—Eu tenho que organizar algumas coisas antes do exames então preciso que vocês façam o registro dela primeiro e me encontrem na recepção ok? Carlisle desce do elevador em um andar cheio de pessoas de jaleco branco andando apressadas. Alice responde —Claro. A gente se vê mais tarde. Carlisle dá um sorriso para mim e outro mais longo para Esme até que a porta do elevador se fecha.
A garagem fica no andar mais alto então a viagem até o térreo foi mais longa do que eu imaginava. Talvez fosse meu coração batendo violentamente no meu peito que fez a viagem mais longa. Ou a ansiedade que a palavra registro me fez sentir, apertando minha garganta. Acho que estou respirando rápido demais pois Esme coloca uma mão no meu ombro e tenta me acalmar.
—Vai ficar tudo bem. São só exames. Nada demais. Ela fala com a voz doce de sempre. É fácil sentir que tudo vai ficar bem, mesmo que eu não acredite nisso, quando Esme está perto de mim desse jeito.
Alice também sorri e tenta me acalmar. —Carlisle provavelmente vai fazer exames de sangue e uma ressonância magnética. Nada demais. Além do mais, assim que você terminar vamos comer no meu restaurante favorito. Aceno com a cabeça para ela, tentando parecer calma. Penso em forçar um sorriso, mas talvez seja melhor me concentrar em não vomitar.
Quando as portas do elevador se abrem um mar de médicos e pacientes flutuam de um lado para o outro da recepção. Andamos devagar até a mesa principal e Esme para antes de chegarmos até o guichê de atendimento. Alice anda sozinha até a mulher na recepção, aponta para Esme e para mim e volta a conversar com a recepcionista. As vezes ela olha para mim e Esme, ainda com o braço sobre meus ombros e de então olha de volta para Alice.
Minha respiração fica rápida novamente e Esme aperta meu ombro de leve. —Vai ficar tudo bem. Ela fala baixinho. Eu esperava sentir algum nervosismo vindo até o hospital. A sensação que tive quando Carlisle sugeriu pela primeira vez que viéssemos até aqui foi desagradável o suficiente para me fazer entender que mesmo que não me lembre, meu corpo se recorda de alguma experiência traumática no hospital. A pergunta de Alice antes de sairmos do quarto volta a minha mente. Porque você disse que não tem um cartão de identificação? Ela perguntou. Não sei. Só sei que naquele momento falei o que estava sentindo. Não senti que perdi ou esqueci o cartão. Tinha certeza de que não tinha um, em lugar algum. Talvez seja por isso. Não é o hospital, é a idéia de ver outras pessoas. Pessoas com perguntas sobre quem eu sou. Pessoas que não pensariam duas vezes antes de me mandar para o posto policial mais próximo e me denunciar como um cidadão irregular.
Vai ficar tudo bem. Os Cullen nunca questionaram minha história. Eles não fizeram perguntas, só me aceitaram. Vai ficar tudo bem.
Alice volta depois do que pareceu horas com três crachás com a palavra visitante escrita em cada um.
—Carlisle já tinha falado com eles então foi mais fácil. Aqui… coloque o cartão no lado esquerdo e é só passar pela entrada que a porta vai abrir. Alice pendura o cartão sobre meu casaco do lado esquerdo e Esme faz o mesmo com o dela.
Alice acena para algum ponto atrás de nós com um sorriso largo. Esme e eu nos viramos e vimos Carlisle , agora completamente uniformizado com o jaleco branco, andando em nossa direção.
—Foi tranquilo pegar os cartões de visita? Ele pergunta olhando para o crachá no meu casaco.
—Sem problemas Dr. Cullen. Esme fala sorrindo.
—Tudo bem então. Carlisle fala. —Vamos até o quarto para ela trocar de roupa.
Nós quatro seguimos em direção a porta de entrada da ala hospitalar, além da recepção. A entrada são vários guichês pequenos com portas de vidro que se abrem automaticamente quando alguém com autorização se aproxima. Passamos cada um pela abertura entre guichês disponíveis e entramos em um corredor.
O novo corredor ainda está cheio, mas menos barulhento que a recepção. Médicos e enfermeiras passam por nós e cumprimentam Carlisle.
Paramos em frente a uma porta onde duas enfermeiras de uniforme azul claro estão esperando por nós. Carlisle as cumprimenta e entrega um tablet para uma delas dizendo:
—Ela vai fazer esses exames. E ela tem uma certa… fobia de hospital então sejam extra gentis com ela ok? Carlisle pisca para mim. Tenho certeza que ele acha que me fez um favor, mas era melhor que ele não tivesse falado nada, agora elas acham que eu sou uma bebêzona com medo de agulhas.
—Entendido. Se a senhorita puder nos acompanhar... A enfermeira de cabelos longos fala com uma voz extremamente aguda e me olhando como se eu fosse um bebê. Ignoro a expressão rídicula no rosto dela e respiro fundo mais uma vez. Sinto o toque de Esme no meu ombro quando ela me vira para olhar para ela.
—Não fique nervosa. Vai dar tudo certo. Vamos ficar aqui te esperando ok?
—Parece que ela vai pra uma cirurgia ou sei lá… Alice fala rindo. —Ela só vai fazer exames Es... hã, mãe.
Esme está respondendo ao meu medo. Não quero que ela fique preocupada comigo então coloco a minha melhor(?) cara de corajosa e falo:
—Eu sei. Vejo vocês daqui a pouco. E sigo as enfermeiras através de porta.
No quarto enorme, vejo uma cama e sofás alinhados em frente a uma janela com flores decorando a mesa de centro. Olho para trás esperando ver Esme mais uma vez, mas a outra enfermeira, essa tem cabelos curtos e loiros, já fechou porta. Ela está encostada de braços cruzados olhando para mim. O sorriso que ela tinha nos lábios sumiu assim que Carlisle saiu de vista.
—Aqui. Vista isso. Você pode ficar com a roupa debaixo, mas remova a nanotech ahm… Ela para olhando para o tablet que Carlisle a entregou e fala Srta…. Cullen?
Se eu não estivesse com elas o tempo todo diria que não são as mesmas pessoas. A enfermeira de cabelos longos jogou um monte dobrados de roupas para mim e o sorriso largo dela deu lugar a uma cara de tédio e o tom de voz desceu pelo menos 3 oitavos. Fora que ela me chamou de Srta. Cullen. SRTA. CULLEN? Encaro ela com a boca meio aberta tentando processar o que ela disse, e talvez tenha ficado calada tempo demais porque ela fica brava comigo e estalada os dedos caminha frente. —Oi?
—Desculpa Falo rapidamente. Onde eu… falo olhando em volta procurando o banheiro para me trocar.
—Naquela porta onde está escrito ´banheiro´.
O sarcasmo na voz dela começa a me irritar.
Sigo para o banheiro e começo a trocar minhas roupas. A parede a minha direita tem duas grandes aberturas uma do lado da outra. A minha direita ´Out´ a minha esquerda ´In´. Tiro as roupas com cuidado e as coloco na abertura da esquerda e ouço a máquina se mexendo. Alguns segundos depois minhas roupas dobradas e em sacos plásticos aparecem na abertura da direita. Coloco o roupão do hospital.O tecido fino me faz sentir exposta.
Recolho minhas roupas e estou prestes a sair do banheiro, mas quando chego mais perto da porta posso ouvir a voz das duas conversando.
—… não acredito. Disse uma delas. A de cabelo longo? Ou curto? Não tive tempo de memorizar a voz delas.
—Mas nome dela está como Cullen. Será filha dela? A outra responde.
Me lembro de como ela me chamou de Srta. Cullen. Não achei que Carlisle realmente iria falsificar um nome para mim, mas na recepção ninguém me perguntou nada ou pediu qualquer documento. Foi isso que ele quis dizer com ´vai ficar tudo bem´.
Uma delas, ainda não sei qual, responde. —E você já viu aquela mulher grávida?
—Mas eles tem o quê, cinco filhos não é?
—Ela não tem cara de ter mais de 30 anos. Onde ela arrumou tempo de ter cinco filhos que já estão formados, TODOS AO MESMO TEMPO?
—Eu não sou idiota, é claro que eu sei que eles são adotados mas é ela? Ele é adotada também? Ela é tão diferente dos outros….
Sinto a raiva borbulhar dentro de mim. A pequena irritação se transformou em algo maior e quente dentro de mim. Essas duas estavam especulando a vida pessoal dos Cullens, e não poupam sacarmos ou comentários mal educados.
—Então… OH! O Dr. Cullen pulou a cerca?
—Como assim?
—Você sabe... Ela pode ser filha de uma amante.
Carlisle? Traindo Esme? A idéia era tão maluca que não conseguia ser engraçada, na verdade, o comentário só aumentou a raiva. Ouço um baque no meio da conversa.
—Ai! Porque fez isso?
—Você fala demais.
—Não estou fofocando. Só estou… curiosa. Ela anda pra lá e pra cá como se fosse a mulher perfeita e me dá nos nervos. Um dia eu vou….
Não aguento mais ouvir essa baboseira e abro a porta. As duas pulam de susto com o barulho.
—Estou pronta. Falo séria. Nenhum gaguejo, nenhuma timidez. Sinto a raiva fervendo dentro de mim.
—Vamos logo então. Fala a enfermeira de cabelo longo. Reúno toda paciência que me resta e sigo-as para fora da sala com calma.
Passo de um exame para o outro com a raiva borbulhando dentro de mim. Os médicos fazem muitas perguntas que eu não sei responder e o tempo parece se arrastar. Não vejo a hora de sair desse lugar.
O exame da sangue foi… interessante. Vi o enfermeiro preparando o disco de metal para que entrasse em contato com minha pele. Assim que o enfermeiro tentou esconsar o disco de minha pele, como um reflexo, afastei meu braço e bati o cotovelo na mesa derrubando algodões e curativos para todo o lado. Estamos meio nervosos hoje hein? Ele fala brincalhão. Eu ajudo ele a recolher os curativos e tentamos mais uma vez. Dessa vez ele me pergunta se estou pronta antes de começar e respiro fundo e respondo que sim, lutando contra meu corpo que ainda quer afastar meu braço o mais rápido possível. Observo o disco se encher de sangue e respiro devagar tentando me acalmar. Quando ele termina, apenas três pequenos pontos sobram no meu braço onde as agulhas o tocaram. Ele coloca um curativo e eu finalmente termino com todos os exames.
Sigo as duas enfermeiras até o quarto onde começamos nossa jornada de exames ao redor do hospital. Ando direito até o banheiro e me troco o mais rápido que consigo. Assim que abro a porta Esme, Alice e Carlisle já estão lá me esperando. Suspiro aliviada quando vejo Esme. Ela está sorrindo para mim como sempre. Caminho rápido na direção dela.
—Como foi? Doeu muito? Esme pergunta me observando. Ela parece uma mãe preocupada.
—Não. Foi tranquilo. Respondo. Esqueço toda a raiva e cansaço quando olho para Esme. Não tinha notado o quanto senti falta dela.
—Ainda bem. Esme responde.
—Seus exames estão ótimos também. Carlisle fala. —Ainda faltam alguns resultados, mas estou otimista. O sorriso dele é discreto e sei o que ele quer dizer. Ele está otimista de que vai descobrir porque eu perdi a memória.
—Bem, eu tenho outras coisas para fazer. Vejo vocês hoje a noite. Carlisle dá um beijo em Esme e toca meu ombro de leve antes de sair da sala. As enfermeiras seguem ele com os mesmos sorrisos irritantes no rosto.
Estou faminta. Agora que a tensão no quarto se dissolveu sinto meu estômago vazio reclamar. Andei por todo o hospital por duas horas e não tomei café da manhã direito, de fato, a única coisa que eu toquei naquela bandeja que Esme me trouxe foi o copo de água.
—Você deve estar com fome Alice disse —Vi que não tocou no seu café da manhã.
—Tenho certeza que sim. Vamos, tem um restaurante aqui perto. Esme diz com um sorriso.
Alice, Esme e eu seguimos para o elevador de volta para a garagem.
Os mesmos homens que nos cumprimentaram quando chegamos estão agora preparando o carro para nossa partida. Alice senta atrás do volante, mas Esme senta comigo no banco de trás mais uma vez.
—E o Dr. Cullen? eu pergunto pensando em como ele vai voltar para casa sem o carro. De alguma forma, não consigo ele imginar um taxi dirigindo pela floresta para levá-lo de volta para casa.
—Não se preocupe, quando Rosalie e Emmett voltarem vão levá-lo para casa Alice me responde enquanto arruma o cabelo no espelho. O carro já está descendo pelo o elevador.
Emmett e Rosalie. Penso nos nomes que Alice falou e minha mente tenta juntar as peças. Os Cullens tem cinco filhos. Já conheci Alice e Jasper. Emmet e Rosalie podem ser os outros dois. Tenho certeza de que são relacionados a eles de alguma forma já que vão se dar ao trabalho de levar Carlisle de volta para casa. Deduzir o grau de parentesco ou proximidade é difícil. Será que eles moram na casa dos Cullens? Os pensamentos voando na minha mente são estranhamente analíticos, como se eu precisasse saber exatamente quem eles são e qual o relacionamento deles com os outros. Não interessa quem eles são. Admito que estou preocupada com a reação deles, mas talvez, se eles não forem da família, Esme vai apenas contar uma história qualquer com fizeram no hospital.
Estou cansada e pensando demais. O stress dos exames deixa minha cabeça pesada e a fome só piora meu humor.
—Eu conheço o melhor restaurante da cidade. Você vai adorar! Alice fala enquanto dirige pela cidade. Ela, como Carlisle, tem o estranho hábito de dirigir em modo manual.
Alice aponta para um prédio cintilante no meio da avenida lotada de pessoas.
Dessa vez não entramos em uma garagem. Alice estaciona o carro na frente do prédio e uma mulher alta vem em nossa direção com um largo sorriso no rosto.
—Bem-vinda Srta. Cullen. A mesa de sempre? Ela pergunta a Alice.
—Obrigado Ana. Seguimos Ana até o elevador do prédio. O restaurante fica no último andar.
Ouço uma música delicada vindo de fora do elevador quando as portas se abrem. Garçons apressados anda para lá e para cá seguidos de perto por pequenos robôs ovais carregando bandejas e mais bandejas de comida.
A ´mesa de sempre´ é um espaço reservado logo em frete a uma janela enorme. É como estar flutuando no céu e não quero olhar para baixo por isso mantenho o olhar no horizonte. A chuva vai ficando mais forte e neblina mais alta. Não consigo ver a estrada ou as pessoas no chão, apenas o topo de prédios mais altos que o nosso flutuando sobre as nuvens.
Um simpático garçom entrega um cardápio para cada uma de nós, mas Esme não me deixa abrir o meu.
—Pode deixar que eu escolho. Você prefere carne ou peixe? Esme pergunta sorrindo e devolvendo o cardápio para o garçom.
Então, é caro assim? Penso deduzindo o motivo de Esme ter tirado o cardápio da minha mão.
—Não tenho preferência. Vou comer o mesmo que vocês. Eu tento espiar os preços, mas Esme logo fecha o cardápio e faz o pedido.
A refeição é ótima e Alice e Esme conversam sobre nada em particular durante todo o tempo. As vezes, Esme me faz uma pergunta e eu dou respostas curtas, sem saber exatamente o que falar.
Uma leve vibração na mesa interrompe a conversa e Alice olha para o pulso, soltando um suspiro alto.
—Parece que tenho que resolver umas coisas, mas vou deixar tudo preparado antes. Só preciso que você me fale quais foram as melhores. É uma pena. Não queria deixar vocês sozinhas. Alice faz um biquinho e olha para mim e para Esme.
—Não se preocupe e faça seu trabalho com calma. Vamos esperar por você. Esme fala.
—Eu vou terminar rápido. Alice sorri —Vamos então?
Olho rapidamente de Esme para Alice sem entender nada do que está acontecendo. Como que finalmente percebendo que estou completamente perdida na conversa, Esme me explica o que está acontecendo.
—Alice tem algumas coisas para resolver no trabalho dela. Nós estávamos planejando fazer algumas compras juntas, mas parece que vai ser só você e eu por algumas horas.
—Ah… A idéia de passar um tempo sozinha com Esme faz cócegas na minha garganta.
Dirigimos pela cidade mais uma vez, mas dessa vez paramos em uma espécie de shopping e a recepção é totalmente diferente.
Assim que desço do carro várias mulheres de uniforme estão enfileiradas, uma de cada lado de um tapete vermelho. Assim que Alice sai do carro uma mulher com um traje mais formal e de óculos entrega uma pasta na mão dela e a cumprimenta.
—Bem-vinda presidente.
Logo depois dela falar todas as outras mulheres enfileiradas repetem juntas "Bem-vinda presidente" sorrindo e com as mãos postas sobre a barriga. E eu? Eu fico ali, boquiaberta, fazendo exatamente a mesma expressão que tenho feito o dia todo, de idiota.
