Os dias passam tranquilos e um dia, quando olho no calendário, só faltam dois dias para o natal. Alice está a mil é claro. Ela disse que tirou folga do trabalho para ficar em casa decorando tudo.

Além dela, Esme só sabe falar da chegada de Edward, Bella e Renesmee. Sempre me lembro de como ela disse que eles tem talentos especias que vão me impressionar e não consigo deixar de ficar curiosa. Ela tem um sorriso largo no rosto toda vez que fala deles. Tenho certeza que ela sente saudades. Ela disse que eles viajam o mundo todo com Renesmee e raramente voltam para casa.

—Reformei a casa na floresta para eles, mas eles quase nunca ficam lá Ela fala reclamando uma manhã. —Achei que eles iam sossegar logo, mas aparentemente eles tem que ver todos os cantos do mundo.

Eu terminei todos os presentes então estava de bom humor apesar de todo o estresse no ar. Seth voltou a sair da casa de tempos em tempos e imagino que ele esteja treinando com Sam novamente, mas ele nunca falou sobre o que ele faz quando sai.

Ultimamente eu passo meu tempo na internet ou ajudando Alice quando vejo a oportunidade.

Não tive nenhuma outra… visão desde que vi aquele castelo no shopping. Eu tenho pensado bastante sobre o que as memórias que recuperei significam e como elas fazem eu me sentir. Quando me lembro da pintura das flores eu sinto como se estivesse sonhando. Como se aquela pintura fosse algo que eu vi em um sonho, ou talvez algo que eu visse antes de dormir? A voz que ouvi na estufa é…complicado. Não sei exatamente como me sinto quando penso nela. A voz é de uma mulher, mas é só isso que eu sei. Talvez a insignificância das palavras dela tenha alguma coisa haver com isso. A voz não usou meu nome ou disse nada que me faça sentir alguma coisa.

Contei para Esme sobre o castelo que vi na pintura no shopping. Eu falei como me senti quando vi a pintura, como se fosse um lugar familiar e que me atraía, e como eu me senti em relação as outras memórias, dessa vez com mais detalhes. Jasper estava presente é claro. Eu mesma quis contar tudo na frente dele. Sei que prometi a Esme que não ficaria brava com ele, mas ele duvidou tanto de mim que queria mostrar para ele que a pressa é a inimiga da perfeição e que eu podia sim ser sincera sobre o que ele quer saber, se ele apenas perguntar.

Hoje, na véspera da festa, as coisas pareciam ter se acalmado por um momento. Alice terminou de decorar a casa e Esme decidiu o menu da ceia. Emmett e Carlisle estavam limpando a neve do lado de fora e Rosalie estava, bem, em algum lugar tirando fotos eu suponho. A última vez que falei com ela, ela me deu as fotos que tirou de mim e Seth no outro dia. Ela as colocou em uma moldura bonita e me entregou com um simples ´Elas ficaram boas´ e depois nem mais uma palavra.

Seth saiu logo depois do café da manhã dizendo que voltaria para o jantar, mas sem explicar onde estava indo. Pensei em finalmente perguntar o que ele fazia quando sumia daquele jeito, mas ainda não achei a oportunidade perfeita.

Estou sentada com Esme na sala de estar quando Alice aparece do nada e joga um casaco em cima de mim.

—Você vai adorar isso! Ela fala seguindo para a porta da frente e parando olhando para mim e para Esme. —Vamos!

Olho para Esme, mas ela não me explica, apenas sorri e segue Alice, então eu faço o mesmo. Coloco o casaco e calço as botas antes de sair no frio que sopra pela porta da frente e mergulhar no mar branco que é a neve sobre o chão da floresta.

A neve branca e intocada sobre as árvores é como um conto de fadas.

Emmett e Rosalie estão construindo um boneco de neve perto do gazebo. Emmett está articulando com os braços apontando para a cabeça do boneco e ressaltando o tamanho exagerado dela. Rosalie lhe dá um soco nas costelas e volta a finalizar o boneco que claramente tem sim a cabeça grande demais para o corpo e eu não tenho idéia de como a cabeça dele não esmagou o corpo até agora.

Emmett nos vê saindo da casa e acena sorrindo. Rosalie nos nota, mas não fala nada. Vejo a bola branca acertar Emmett na cara em cheio antes de notar de onde ela veio. Alice está atrás de mim com as mãos cheias de neve e rindo alto da cara de Emmett.

Eu também estou rindo dele quando sinto a neve atingir minha cabeça e molhar meu cabelo. Emmett aponta para mim falando um HÁ! alto enquanto eu limpo a neve do cabelo e faço minha própria bola de neve e atiro em Alice, errando miseravelmente, e não porque ela sabia onde eu ia jogar, mas porque eu arremesso igual uma criança de dois anos.

—Agora.. é guerra. Sinto meu corpo flutuar por um momento e sinto que perdi o fôlego. Alice me agarrou e nós nos escondemos atrás de uma das árvores mais dentro da floresta. Eu sabia que ela era rápida, mas não tinha experimentado a velocidade até agora. Queria que ela tivesse me avisado antes. Agora sinto minha cabeça pesada por conta do movimento repentino.

—Alice, o que…? Alice coloca os dedos sobre os lábios pedindo para que eu fique em silêncio. Os olhos dourados dela brilham intensamente e eu sinto um arrepio descer pela minha espinha.

—Guerra. Ela fala sussurrando e me fazendo suar. —Preciso que você se esconda atrás daquela árvore e prepare o maior número de bolas de neve que conseguir. Alice aponta para uma árvore ligeiramente mais afastada dela em uma parte mais escura e escondida.

—Mas, eu… não sou boa de arremesso. Falo mudando a expressão ´sou um droga´ para algo que machuca meu ego um pouco menos.

—Não importa. Ela fala ainda sussurrando. —só faça bastante barulho.

—Barulho?

—É. Tipo ´Venham me pegar´ ou alguma coisa assim. Alice abana os braços do ar como que me dizendo como devo agir. —Eu vou te dar o sinal quando chegar a sua vez. Olho para ela com uma sobrancelha levantada e sarcasmo na voz.

—Então… eu sou a isca.

Alice dá de ombros como que se desculpando, mas o sorriso no rosto dela zomba de mim. Suspiro alto e vou até a árvore que ela apontou e me ajoelho no chão fazendo algumas bolas de neves. Esqueci de colocar luvas, então meus dedos estão congelando enquanto toco na neve. Observo Alice pulando entre uma árvore e outra enquanto bolas de neve acertam os troncos, evitando se chocarem com ela por poucos centímetros.

Paro por um momento para soprar ar quente nas mãos. Meus dedos estão vermelhos e dormentes de frio, mas já fiz dez bolas de neve. O número me parece bom o suficiente, então coloco todas nos braços e fico a espera do sinal de Alice. A floresta está quieta e apenas o barulho de uma bola de neve ou outra acertando um troco de árvore quebra o silêncio. Continuo agachada esperando o sinal, quando ouço movimento atrás de mim. Me viro rápido achando que poderia ser Emmett ou Alice, mas não vejo ninguém. Pá! Outra bola de neve acerta uma árvore do meu lado. Eu olho para o tronco a poucos metros de mim, agora polvilhado de branco quando percebo o movimento entre as árvores mais distantes. Uma figura grande se moveu entre as sombras das outras árvores, se escondendo dentro delas. É grande demais para ser Emmett. Só pode ser um animal penso observando as árvores mais uma vez, mas não consigo encontrar a sombra novamente.

Não acredito que o animal vá se aproximar de nós, mas meu instinto me diz que eu deveria manter um olho nele para o caso dele ser mais ousado que os outros.

Noto Alice balançando os braços na minha direção e percebo que aquele é o sinal. Eu me levanto e jogo bolas de neves às cegas, mas não consigo tirar os olhos do ponto onde vi a sombra passar. Joguei tudo que tinha nos braços, mas não cheguei a ver o que realmente aconteceu. A próxima coisa que aconteceu foi Alice parada na minha frente com a mão na cintura e cara de irritada.

—Eu disse para fazer barulho. Ela fala me encarando. Olho atrás dela e Emmett está limpando a neve do cabelo com a ajuda de Rosalie. Eu joguei todas as bolas nas minhas mãos, mas esqueci de gritar como ela tinha pedido.

—Desculpa. Eu me distraí. Falo olhando para o lugar onde avistei a sombra. Alice segue meu olhar até o mesmo ponto. Me pergunto se, como ela é um vampiro, ela pode ver algo que eu não consigo. Ela aperta os olhos e as sobrancelhas se juntam formando uma ruga no meio.

—Não tem nada ali. Ela fala olhando para mim novamente.

—Foi mal. Eu achei que vi… alguma coisa.

—Bem, sorte sua que não fez diferença. Emmett nunca poderia ganhar de mim. Alice sorri e anda de volta em direção a casa aos pulos, rindo de Emmett olhando feio para ela. Eu olho uma última vez, mas Alice tem razão. Não tem nada ali. Caminho de volta para a casa, para finalmente voltar para o calor e aconchego do aquecedor central.

Quando entramos na casa Esme e Jasper estavam na sala conversando. Não me demoro para ouvir o que eles estão falando e subo para o segundo andar depois de tirar as botas sujas.

Seco o cabelo molhado de neve derretida com uma toalha e dou mais uma olhada nos presentes na minha gaveta. Mal posso esperar para a festa de natal para ver a reação de cada um deles. No closet também está uma grande sacola com o vestido que tenho que usar na festa. Não abra até o dia da festa Alice falou. Me pergunto que tipo de vestido extravagante ela preparou para mim.

Uma batida na porta me distrai. —Pode entrar falo fechando a porta do closet e escondendo os presentes, mas é apenas Seth.

—E aí? Falo descontraída. —Você voltou rápido. Como qualquer outro dia ela saiu essa manhã, mas geralmente ele não volta até o fim da tarde.

—Ahm.. você terminou o seu… projeto? Achei que talvez poderia usar alguma ajuda, isso é, se ainda não terminou.

—Oh… Eu terminei alguns dias atrás. Respondi. —Eu ia ter contar, mas não vejo você há algum tempo.

—Yeah… foi mal. Eu estava meio ocupado. Seth passa a mão pelos cabelos e não me olha diretamente quando responde.

—Ocupado? Pergunto como quem não quer nada, mas estou secretamente curiosa sobre o que ele faz quando desaparece.

—Você sabe… ocupado.

—Hum…

A conversa cai em um silêncio desconfortável. Não sei se Seth está evitando me responder ou apenas não quer que eu saiba o que ele anda fazendo. Não é da minha conta, mas achei que fossemos amigos o suficiente para ele me contar sobre a vida dele.

Aparentemente a conversa tinha acabado e eu estava prestes a dar uma desculpa para fechar a porta quando ele me interrompeu.

—Esme quer falar com você, no andar de baixo.

—Esme? Olho para o robô no quarto, mas não tem nenhuma mensagem piscando. —Ok. Jogo a toalha na cama e Seth me segue até o andar de baixo.

Esme ainda está com Jasper na sala de estar e sorri quando me vê.

—Você queria falar comigo? Pergunto sorrindo de volta.

—Hum? Ela perece confusa.

—Seth disse que você queria falar comigo.

Esme parece confusa ao olhar para mim e para Seth, em pé logo atrás de mim.

—É… eu queria falar com você… Eu me esqueci sobre o que…

—Você me pediu para mostrar para ela o campo do Heléboros lembra? Seth fala atrás de mim relembrando Esme.

—Certo. Heléboros. Eu me lembro agora.

—Heléboros? Falo me perguntando que idioma que eles estão falando.

—É uma flor, querida. Seth vai te mostrar onde elas nasceram esse ano. Tenho certeza de que você vai gostar.

—Tudo bem. Falo olhando para Seth esperando ele liderar o caminho.

Pego meu casaco e seguimos na direção da estufa.

—O que exatamente é um Heléboro? Já sei que é uma flor, mas não falo idéia do porque é especial.

—É uma flor de inverno. Elas geralmente desabrocham no meio ou final do inverno. Algumas floresceram mais cedo esse ano.

Andamos até a entrada da estufa, mas Seth passa direto como se fosse entrar na floresta.

—Elas nasceram do lado de fora? Nesse frio? Agora assim estou confusa. Mal posso imaginar alguma coisa nascendo embaixo dessa neve, muito menos uma flor.

—Eu te disse, flores de inverno. Seth sorri enquanto entramos mais a fundo na floresta. Por conta das árvores a neve não ficou tão alta nessa parte da floresta. A maior parte ficou presa sobre os galhos das árvores altas e nunca chegaram a tocar o chão.

Andamos por dentro da floresta por algum tempo. —Falta muito? Pergunto ligeiramente ofegante. Aquela parte da floresta é mais densa e cheia de galhos e raízes no chão. Não consigo evitar lembrar da noite em que corri naquele lugar tentando não morrer devorada ou congelada e sinto minha nuca arrepiar.

—É logo ali. Seth fala espiando o caminho mais a frente e voltando para me acompanhar. —Fecha os olhos. Ele fala com um sorriso enorme no rosto.

Olho para ele com uma sobrancelha levantada. A última vez que ele fez uma supresa para mim era um sapo asqueroso, então não, não me sinto inclinada a fechar os olhos.

—Eu prometo que vai valer a pena. Ela fala tentando me convencer.

Respiro fundo ainda desconfiada, mas fecho os olhos mesmo assim.

Sinto as mão deles sobre as minhas, me guiando pelo chão da floresta. Aperto os dedos dele com medo de cair, mas confio nele. As mãos dele são quentes como se não soubessem que está cinco graus celsius aqui fora. Elas parecem queimar sobre meus dedos frios. Não sei se meu coração está acelerado pela expectativa ou por causa do toque dele.

Seth para de me puxar e me vira pelos ombros para encarar a direção certa.

—Pronta? Ele pergunta aumentando a tensão nos meus músculos.

—Pronta. Falo me segurando para não espiar.

—Pode abrir.

Quando abro meus olhos um canteiro de flores se levanta sobre a neve embaixo da fraca luz do sol que passa pelas árvores. Não é grande e parece fora do lugar. Um círculo perfeito no meio das árvores onde a neve podia cair livremente e de dentro do chão congelado, flores de um tom roxo escuro e centro amarelado se erguem de cara para o sol, confortáveis e felizes naquele pequeno mundo particular só delas. Eu finalmente entendo o sentimento bom que Seth mencionou sobre as flores. Elas só estão ali, vivendo a vida delas, mas apenas olhar para as cores em contraste com a neve branca é o suficiente para colocar um sorriso enorme no meu rosto.

Eu observo as flores sem entender como elas conseguiram passar por aquela camada de neve e florescer daquele jeito.

—Como elas não congelaram? Pergunto me agachando para observá-las mais de perto.

—Elas são especiais. É preciso muito mais que essa neve fina para impedir que elas floresçam.

Continuo observando as flores sorrindo. A fraca luz que consegue passar pelas nuvens reflete na neve e o campo brilha como a luz refletindo em um espelho. Eu poderia ficar ali o dia todo olhando para elas e observando padrões diferentes que aparecem nas pétalas únicas.

Eu nunca tinha entendido o que tinha de tão especial em flores, mas vendo esse lugar e sentindo essa alegria atravessar meu corpo eu entendi um pouco o que faz elas tão especiais para Seth. Olhando para elas eu consigo sentir a gentileza que existe nele. É por isso que eu fiquei tão próxima dele em tão pouco tempo. Eu me sinto… quente perto dele. Como quando observo essas flores, eu não consigo deixar de sorrir quando penso nele.

—Anne? Seth fala me distraindo. Eu me levanto e olho para ele ainda sorrindo.

—Hum?

—Eu… ahm… fiz uma coisa para você. O braço esquerdo ele está atrás das costas, como que escondendo alguma coisa e ele não olha para mim, mas posso sentir a hesitação nele.

—Você fez uma coisa para mim? Não tenho certeza se entendo exatamente o que ele quer dizer.

—Eu fiquei ocupado esses dias porque estava tentando fazer algo para você.

Olho para ele lutando com as palavras e parecendo desconfortável. Ele me olha por um momento e eu prefiro não falar nada, apenas coloco as duas mãos, palmas viradas para cima, e espero ele me dar o que quer que ele está escondendo.

Ele coloca uma pulseira trançada com um pingente de uma lua cheia e outro de uma estrela na palma da minha mão. Analiso a trança delicada da pulseira e a cor azul vibrante do pingente. A estrela é pequena, branca e brilhante. Olho de volta para ele e ele ainda não olha para mim.

—Você fez isso? Pergunto sorrindo e imaginando ele torcendo as cordas da pulseira delicada com a pouca paciência que eu sei que ele tem.

—Porque? Você não gostou? Ele fala rápido e estica a mão para pegar a pulseira, mas eu fecho as mãos antes que ele consiga.

—Não. Eu… eu adorei. É prefeita. Sorri para ele e notei que ele soltou um suspiro aliviado quando viu meu sorriso. —Obrigado. Falo puxando um lado da corda da pulseira.

Seth pega a pulseira e me ajuda a ajustar o tamanho. Fico observando os olhos atentos dele enquanto ele encaixa a pulseira em mim. Estou esperando para ver o sorriso dele de novo e assim que ele termina ali está o ele. Meu estômago se enche de borboletas.

—Você podia ter esperado até amanhã. Falo olhando para a pulseira.

—Esse não é o seu presente de natal. Você vai ganhar outro amanhã não se preocupe. Ele pisca para mim e sorri, provavelmente pensando na minha reação ao presente.

—Mal posso esperar. Respondo olhando para a pulseira e de volta para ele.

Caminhamos de volta para a casa sem falar muito. Eu pergunto para Seth se ele já viu alguma animal andando por essas florestas. Ele parece surpreso com pergunta.

—Animal?

—Eu achei ter visto um hoje. Talvez um urso?

—Eu já vi veados e outros animais menores, mas nunca um urso.

—Então eu realmente estava imaginando coisas.

Antes de dormir olhei para as fotos que Rosalie tirou. Como tinha planejado, coloquei-as sobre o peitoril da janela para admira-las quando sentasse para apreciar a vista. Olho para a foto em que estou de olhos fechados e com a cabeça apoiada no ombro de Seth. Ele olha para meu rosto, os olhos brilhantes por conta da luz. Olho de volta para a pulseira que ele me deu e o sorriso fica mais largo.