Sigo Giannini pelo corredor metálico em silêncio. Mirania parece hesitar na presença dele e eu consigo sentir melhor as emoções dela passando pelo meu corpo. Ela está distraída pela presença dele. Ela está nervosa e triste ao mesmo tempo. Ele quer falar com ele, mas não sabe o que dizer. Sinto ela separando e fechando meus lábios diversas vezes até finalmente falar.
—Giannini… ela fala baixo e ele para. — Você não precisa estar aqui para isso.
—Eu não preciso? Ele responde e se vira. O rosto dele contorcido em um misto de raiva e dor. —Eu cuidei do seu corpo dia e noite. Eu te protegi quando Padrone queria te matar por não conseguir manter a conexão estável. Eu te alimentei em segredo para que quando você acordasse seu corpo não estivesse tão debilitado que você mal poderia andar. Então sim. Eu preciso ver isso com meus próprios olhos.
—Desculpe. As palavras dele machucaram Mirania. Eu não tenho certeza do que ele quer dizer, mas ela está profundamente machucada pelo que ele disse.
—Eu sei. Você não tinha outra escolha. Giannini olha para baixo, como se estivesse arrependido de ser tão duro com Mirania.
—Não. Eu tive sim um escolha. Eu escolhi esse caminho. Tinha que ser eu.
—Você queria punir a si mesma. Agora que conseguiu, nós seguimos em frente. Giannini abre uma das portas do corredor para uma sala com alguns armários nas paredes e bancadas espalhadas, o lugar parece um trocador de academia.
Ainda não. Mirania não fala em voz alta. Eu ouço os pensamentos dela sem que ela esteja falando diretamente comigo pela primeira vez. Não sei se era a intenção dela que eu ouvisse, mas Giannini a deixava distraída. Eu já tinha notado que ele era um homem alto, mas na luz fraca daquele laboratório eu não tinha certeza de como ele se parecia. Ele tem cabelos curtos e pretos. Os olhos vermelhos como os de Raffaello, mas a expressão no rosto dele é mais séria e estranhamente mais gentil, apesar dele não sorrir. Ele parece preocupado com Mirania, como se não quisesse deixá-la nem por um momento.
Os sentimentos de Mirania se misturam com os meus quando Giannini fecha a porta e nos deixa sozinhas naquele quarto. A tristeza dela inicia uma reação em cadeia na minha mente e eu me vejo olhando para o rosto de Esme na minha memória, me perguntando se ela está bem. Se ela e os outros realmente vieram atrás de mim como Raffaello falou. Se eu vou ver ela antes que aquela cobra de jaleco branco coloque os dentes em mim. Sei que não tenho controle do meu corpo, mas eu imagino se Mirania pode sentir a bola de tênis se formando na minha garganta. Não sei se ela reage as minhas emoções do jeito que reajo as dela, mas eu posso sentir ela tocar o meu pescoço, massageando a minha garganta.
Mirania abre um dos armários na parede e tira um maiô igual ao que eu estava usando quando acordei na floresta. Então foi isso. Penso ligando os pontos. Eles me colocaram lá de propósito, provavelmente para ter certeza de que eu ia encontrar a casa dos Cullens. De alguma forma eles apagaram minha memória e me usaram para chegar perto deles. O que vocês querem? Pergunto nervosa para Mirania. Ela está me despindo e colocando o maiô que tirou do armário.
O reflexo do rosto dela no metal do armário é distorcido, mas consigo sentir a confusão nela. Eu vou te explicar… logo. Ela responde. Ela quase soa triste na minha mente. Eu sei que não faz sentido, mas você tem que confiar em mim. Eu vou… te levar de volta para casa. Não sei se é o meu choque de ouvir ela falar assim comigo ou a onda de compaixão e culpa que passa pelo meu corpo quando ela fala, mas eu fico sem reação. Eu não sei como responder ao que ela disse então eu não falo nada.
Depois dela nos trocar eu posso ver a reflexão do meu corpo no espelho. Como já sabia, o corte na perna se foi sem nenhuma cicatriz. Meu cabelo estava mais apresentável e meu rosto limpo do sangue e terra. Eu provavelmente acordei exatamente assim na floresta naquele dia.
O que vai acontecer? Pergunto para Mirania. Começo a me sentir inquieta quando percebo que é a hora de sair daquele quarto e voltar para o laboratório.
Eu te disse. Confia em mim. Ela responde como se fosse o suficiente para me convencer, mas eu sinceramente não consigo confiar nela. Eu talvez esteja confusa com a forma como sinto o medo e tristeza dela, de forma que eu quase sinto pena dela, mas não posso ignorar o fato de que foi ela que me arrastou até aqui. Eu preciso que você faça o que eu mandar quando a hora chegar.
O que isso que dizer? Pergunto confusa.
Não importa o que acontecer, você tem que ficar acordada. Quando sairmos daqui nós vamos voltar para o laboratório. Eles vão… extrair informações da sua mente e você vai sentir como se fosse desmaiar, mas eu preciso que você responda quando eu te chamar entendeu?
E se eu não conseguir? Pergunto assustada.
Você vai morrer… e eu também. Mirania responde encarando meus olhos pela reflexão do espelho. Eu posso sentir que ela passa da reflexão e olha diretamente para minha consciência separada do meu corpo. Aceno para ela. Eu não sei o que vai acontecer, mas eu não pretendo desistir.
Quando saímos do quarto, Giannini está encostando na parede nos esperando. Ele me olha dos pés a cabeça e não se move.
—Vamos. Mirania fala voltando para a sala de experimentos de onde viemos. Giannini segura meu pulso e o toque frio dele faz meu corpo tremer.
—Você não tem que fazer isso. Ele fala sem me olhar nos olhos, ou melhor, sem olhar para Mirania. —Nós podemos fugir daqui nesse momento.
—Vai dar tudo certo. Mirania fala olhando para ele. Eu não posso deixar de sentir dó dele. Ele parece tão triste e Mirania ainda mais despedaçada que ele.
—Você nunca soube mentir. Giannini abraça meu corpo forte. Ele está tentando achar Mirania dentro de mim. O abraço dele manda uma onda de calor pela minha pele. Mirania ama ele. Com cada parte dela, ela ama Giannini. Não sei o qual a história deles, mas a conclusão dela está bem aqui. Eles se amam. Eu tento me retirar da situação o máximo possível mas no fim das contas é meu corpo. Não consigo deixar de sentir o que ela sente.
Quando eles se separam nós seguimos até o laboratório. Giannini segura minha mão até pararmos na frente da porta. Ele beija meus dedos e solta minha mão. Quando a porta abre, o padrone está inclinado sobre o painel brilhante na frente de um dos enormes tanques na sala. A água verde borbulhando dentro dele, como se estivesse fervendo.
—Finalmente. Ele fala mexendo nos controles. —Conecta ela na máquina Giannini. Ele não levanta os olhos quando fala.
Me conectar? O que ele quer dizer? Mirania não me responde eu eu começo a ficar mais e mais assustada.
Mirania anda até o tanque e sobre as escadas até ficar de frente a borda da tampa superior do tanque com Giannini atrás dela.
—Estamos sem tempo. O homem fala. —conecta ela agora.
Giannini pega alguns cabos e vai coloca-os sobre a minha pele. Mirania fica encarando o tanque borbulhante, chegando mais perto da borda e me fazendo ficar desconfortável. Vai ficar tudo bem. Ela fala quando sente meu medo. Não parece que vai ficar bem. Você não pode estar seriamente achando que vou entrar nesse negócio. Respondo metade sarcástica metade mijando nas calças. Eu devia ter desconfiado. Você não quer me ajudar. Você quer se salvar. Mirania claramente vai entrar naquele tanque como o homem mandou. Ela provavelmente vai me abandonar no momento em que eu entrar. Não é verdade. Ela responde. Se lembre do que eu falei. Você precisa se manter consciente. Não importa o que. Eu não consigo controlar o medo e pânico nesse momento. Você não deveria ter me dado esperanças. Você devia ter ficado calada. Me arrependo de ter dados ouvidos a ela e deixado uma chama de esperança se acender em mim. Tudo parece muito mais dolorido agora. Eu realmente vou morrer sem ver Esme mais uma vez. Sem ver nenhum deles mais uma vez.
Giannini pega um grande e grosso cabo de metal com três pontas saindo do topo. Ele me segura pelo ombro e encosta o metal gelado na base do meu pescoço, exatamente onde o anel de metal está. É agora. Mirania fala tentando ser mais alta que o pânico na minha mente. Eu vou te soltar e você tem que ficar acordada. Não importa o que entendeu? Quando eu te chamar você tem que responder. Sinto minha respiração pesada. Mirania não consegue conter o pânico escapando do meu corpo.
—Está na hora. Giannini fala perto do meu ouvido. —Isso vai doer.
Sinto meu corpo voltar para mim e eu tenho controle novamente. O frio na minha pele é intenso e a sensação do metal no meu pescoço me faz tremer de medo. Não tenho tempo de me debater ou tentar fugiu. Giannini empurra os três pinos para dentro do meu pescoço como se estivesse conectando uma tomada no meu cérebro. A dor é tão intensa que não consigo conter minha voz. Eu posso me ouvir gritar em agonia e sentir o sangue escorrendo pelo meu pescoço. Já não sinto minhas pernas quando Giannini joga meu corpo dentro do tanque. Eu afundo devagar sem conseguir me mover. A água entrando nos meus pulmões me faz sufocar e eu sinto minha consciência se esvanecer. Fique acordada. A voz de Mirania ainda ecoa nos meus ouvidos enquanto tento me manter alerta dentro daquele pesadelo.
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O grito do pequeno vampiro é ensurdecedor. Ele parecia extremamente feliz e pulava de lado para o outro, sem conter sua excitação.
—Quem é você? Jasper pergunta sem acreditar no que vê. O vampiro é pequeno e parece muito novo. Talvez no máximo oito anos de idade. Ele não quer acreditar no que está vendo, mas ao que tudo indica, ele é uma criança imortal.
O pequeno vampiro não gosta de ser interrompido por Jasper. Ele olha com os olhos frios para ele. Todos estão em posição de ataque. O ar na sala é pesado e a tensão é alta. Uma criança imortal viva está diante deles. Ele não deveria existir, então como ele está ali pronto para arrancar a garganta de Jasper com o olhar dele?
—Me chamam de Dieci. Ele fala, o sorriso infantil fora de lugar sobre os dentes afiados. —Você não precisa ler minha mente. Eu vou te responder o que souber. Ele fala olhando para Edward.
—Você estava nos esperando então? Edward fala sem perder a compostura. —Você sabe tudo sobre cada um de nós não sabe?
—Quem no mundo dos vampiros não conhece os Cullens? Dieci fala rindo.
—Quem nos trouxe aqui? Edward pergunta vasculhando a mente dele.
—Você sabe que eu não sei. Ele fala abraçando o urso. —Eu só vim brincar! O sorriso infantil dele ecoa pela sala.
—Edward, ele é que eu acho que ele é? Jacob pergunta sabendo que Edward pode ouvir os pensamentos dele mesmo quando ele está transformado.
—Isso. Ele é uma criança imortal. Todos se viram para Edward quando ele confirma o que todos estavam pensando.
—Mas… os Volturi mataram todas elas. Esme fala assustada.
—Ele está enrolando. Jasper fala apressado. —Ele quer nos manter aqui o máximo de tempo possível.
—Então vamos cortar a conversa e seguir em frente. Emmett aponta para a porta logo atrás de Dieci. —Vamos passar por cima do verme e seguir caminho.
—Vocês não vão passar. Pelo menos não todos vocês. Dieci continua sorrindo olhando para cada uma das pessoas na sala.
—Porque só dois podem passar? Edward pergunta lendo a mente dele.
—Porque esse é o jogo. Dois ficam, os outros passam.
—Isso é ridículo. Vamos acabar com você e passar por cima do seu corpo desmembrado. Emmett está com raiva da atitude de Dieci.
—Se vocês acham que tem tempo o suficiente para isso…Venham me pegar.
O desafio de Dieci empurra a paciência de Emmett acima do limite. Ele parte para cima da criança contra o aviso de Jasper.
Dieci é menor e muito mais rápido que Emmett. Ele pula pela cabeça dele quando Emmett o ataca e chuta ele pelas costas. O corpo de Emmett gira pelo chão até se chocar com a parede mais próxima. Embry aproveita a distração de Dieci e o ataca por trás, mas o menino também pula elegantemente sobre a cabeça dele. Embry volta para mais uma investida direta e Dieci se prepara para o acertar em cheio, mas perde a mira quando nota Emmett vindo por trás dele. Embry desvia do golpe no último minuto se afastando dele e Dieci se afasta evitando o ataque de Emmett. Quil ameaça se juntar a briga mas Dieci o para com suas palavras.
—Se você me atacar a menina chata morre. Ele fala sério. Quil fica congelado no lugar.
—Você tem ordens be específicas Jasper fala quero mais informações da criança.
—Eu já disse. Dois ficam e os outros passam.
—Porque?
—Um vampiro e um lobo. Essas são as regras.
—Ele não sabe de mais nada Jasper. Edward fala depois de ler a mente de Dieci.
—Não podemos deixar eles para trás Jasper. Esme fala preocupada. —Talvez se…
O grito de Anne ecoa por todas as paredes do cômodo fazendo o coração de Esme afundar no peito e Seth entrar em pânico. Dieci sorri e bate palmas ao vir o som da dor de Anne ecoando pelas paredes.
—Vão! Emmett fala se recompondo. —Nós vamos cuidar das coisas aqui. Ele olha para Embry que acena para Edward e para os outros. —Tragam a baixinha de volta ok?
Todos olham para Emmett e Embry em silencio e seguem para a porta no fundo da sala. Como prometido, Dieci não tenta impedir que eles saiam.
—Emmett… Esme para da frente da porta olhando para o filho adotivo. Emmett acena para ela e sorri antes de voltar sua atenção para Dieci. Ela continua a andar e assim que passa pela porta ela se fecha imediatamente.
—Vamos. Jasper fala. —Ele não vai ser o único no nosso caminho.
