Abri os olhos quando senti o cheiro de flores. O céu azul sobre mim me faz sorrir. As nuvens finas vão passando rápido pelo céu e o vento brinca com o meu cabelo na grama quente. Olho para lado e toco as flores amarela no campo a minha volta. Tudo é tão pacífico e especial. O aroma das flores é doce e relaxante.
O som de risos me faz levantar. Achei que estava sozinha, mas uma criança com um vestido amarelo florido e chapéu está brincando com as flores no campo. O som da risada dela soa como sinos nos meus ouvidos. Ela corre e sorri mais alto quando uma mulher de vestido branco finge que está prestes a pegá-la. A mulher tem cabelos longos e belíssimos e o sorriso largo dela é quente e reconfortante. A menina grita mais alto quando um homem de camisa azul a pega no colo e gira ela sobre a cabeça dele. A menina estica os braços aproveitando a sensação de voar. Eles parecem a família perfeita. Eu olho para aquela cena e me pergunto como vim parar aqui.
O vento sopra para o outro lado e faz os pelos na minha nuca arrepiarem. Eu olho para trás e uma onda densa de névoa escura vai passando pelo campo de flores. Tudo que a escuridão toca morre imediatamente. Olho para a família a poucos metros de mim e eles não tem idéia do que está acontecendo. Eles continuam a brincar, felizes e se abraçando. A névoa vai se aproximando dos meu pés e eu corro na direção dele. Eu tenho que avisá-los. Eu grito, mas minha voz sai muda. Eu corro na direção deles e noto a névoa vindo ainda mais rápido do lado deles. É tarde demais. A escuridão engoliu eles sem que eles nem notassem o que aconteceu. Paro no meio do caminho olhando para os ossos no chão. O chapéu da criança torto sobre a caveira, as mãos ossudas ainda segurando as da mãe. Sinto meu estômago revirar quando vejo a cena. Olho para os lados e a escuridão está se fechando ao meu redor como um círculo. Eu paro de resistir e fecho os olhos, esperando a escuridão me engolir.
—Acho bom você não desistir molenga.
A voz de Mirania me faz abrir os olhos. A escuridão sumiu e agora estou parada em uma sala vazia. Uma mulher ruiva de olhos vermelhos me encara parecendo aborrecida comigo.
—Mirania? Pergunto olhando para ela.
—Não. O coelho da páscoa. Ela responde sarcástica colocando amo na cintura e rindo de mim.
—Onde estamos? Passo por cima do comentário dela e tento me situar.
—Não reconhece o vazio? Ele fala abrindo os braços apontando para o espaço a nossa volta. —Estamos dentro da sua cabeça.
Ela é tão rude quando eu imaginava penso me lembrando de como Mirania sempre teve um tom de voz mandão e nunca foi exatamente educada comigo.
—Eu ainda posso ouvir seus pensamentos. Mirania fala me fazendo pular.
—Como eu posso ver você aqui, na minha frente?
—É o líquido no tanque. Quando ela fala me lembro do que aconteceu antes de chegar aqui. Me lembro de Giannini fincando os pinos de metal na minha nuca e eu gritando de dor. Toco meu pescoço e ainda posso sentir o frio do metal sobre ele.
—Está doendo muito? Mirania pergunta, agora sem sarcasmo.
—Eu mal sinto alguma coisa. Eu achei que você tinha ido embora. Você me devolveu o controle do meu corpo.
—Bem, eu não fui lugar algum, pelo menos não completamente.
—O que isso quer dizer?
—Eu não posso mais te controlar. Meus poderes não permitem que eu controle a mesma pessoa duas vezes.
—Então como você está aqui?
—Eu… deixei parte da minha consciência para atrás.
—Porque?
—Porque… porque tudo que aconteceu é minha culpa.
Olho confusa para Mirania. A conversa tem feito pouco sentido até agora, mas dessa vez eu estou completamente perdida. — O que você quer dizer?
—Vamos. Ela fala estendendo a mão para mim. —Eu vou te mostrar tudo.
—Tudo o que? Olho para a mão estendida dela sem ter certeza de que quero segurá-la.
—Seu passado. Eu selei suas memórias quando entrei no seu corpo. Agora eu vou te mostrar quem você é.
Balanço a cabeça sem acreditar nela. —Da última vez que deixei você me ajudar eu acabei em um tanque com tries pinos enfiados na minha espinha.
—Eu sei que você não confia em mim, mas você sabe que eu quero te ajudar. Eu deixei você sentir minha emoções enquanto te controlava. Você sabe que estou falando a verdade.
O motivo de eu ter confiado nela da primeira vez foi porque senti que podia. Senti as emoções dela fluindo pelo meu corpo e eu sabia que ela estava falando a verdade.
—Eu te peço que confie em mim mais uma vez. Ela fala. —Você precisa saber o que realmente aconteceu.
Me deixo levar metade pela curiosidade e metade pelo fato de que ela parece estar falando a verdade e finalmente seguro mão dela. Quando todos os dedos dela sou transportada mais uma vez para outro lugar. Estou em pé em um jardim bem cuidado, de frente a uma casa enorme coberta de musgo verde. A casa é inacreditavelmente parecida com a da pintura que vi no shopping. Um sorriso se abre no meu rosto quando vejo o lugar. Estou em casa.
—
Depois da porta fechar atrás deles, todos seguem com mais cuidado pelo longo corredor a frente. Ninguém fala nada, mas o silêncio é pesado com culpa por terem deixado Emmett e Embry para trás.
Esme ainda espiava para trás preocupada, mas depois de te ter ouvido o grito de Anne ecoar na sala ela sentia a pressão do tempo pesar sobre seus ombros. Ela queria perguntar o porque de Anne ter gritado daquele jeito, mas ela não tem certeza de que queria saber a resposta. Soa como… como se estivessem torturando ela.
Seth está no limite. Ele corre mais rápido que os outros e Edward e Jasper podem sentir a intensidade dos pensamentos e das emoções dele, mas eles não sabem o que falar para ele. Não existem palavras para consolar ele ou Esme nesse momento. Jasper trabalhou com vampiros tempo o suficiente para saber o quão cruéis eles podem ser. Aquele grito só poderia significar tortura, o problema é porque eles estariam torturando ela. Jasper tinha a impressão de que de alguma forma Anne estava trabalhando com eles, então porque eles torturariam ela? A lista de perguntas vai aumentando a medida que eles avançam.
—
No momento em que a porta se fecha Dieci ri alto comemorando.
—Nós vamos brincar agora? Ele fala se arrumando no lugar olhando para Emmett e Embry, pronto para dar o bote.
—Pois é pirralho. Emmett responde rindo sarcástico. —Vamos brincar de arrancar sua cabeça dos ombros.
—Hum… Dieci coloca o dedo sobre o queixo pensando —eu não quero brincar disso. Quero brincar de pega e congela.
—E o que diabos é isso? Emmett olha para Embry que parece confuso como ele.
—É pega-pega e está comigo, então quando eu pegar você… você morre.
Embry olha para Emmett. —Parece simples o suficiente. Emmett responde levantando uma sobrancelha. Não parece sensato discutir com a criança. No fim das contas é tudo sobre a batalha e ele vai até o fim. —Mas, eu tenho duas perguntas para você.
Dieci vira a cabeça para o lado e sorri para Emmett. Ele passa a língua pelos dentes pequenos e parece pensar no que Emmett falou.
—Claro. Ele responde para a surpresa de Emmett.
—Você tem, habilidades não tem? Emmett levanta o braço e abre e fecha os dedos com certa dificuldade. —Meu corpo tem ficado pesado a medida que luto com você.
Dieci sorri e mostra a língua para Emmett. —Como se eu fosse falar meu segredo para você!
Emmett sorri e considera a resposta um sim. Ele não ter certeza exatamente do qual é o poder dele, mas sabe que precisa ter cuidado.
—A segunda pergunta. Emmett continua. —Quando você foi transformado?
Dieci sorri ainda mais largo. —Você já sabe que sou criança imortal. Aonde você quer chegar?
—Os Volturi eliminaram vocês. Como você sobreviveu?
O sorriso de Dieci desaparece com a pergunta de Emmett. —Não me compare com aquele lixo. Eu sou muito melhor do que eles. E além do mais… eu não sobrevivi.
Dieci pula para cima de Embry e Emmett que conseguem escapar do golpe por um fio. A força de Dieci destruiu o piso sobre os pés dele.
—Ainda não acabei! Dieci grita escolhendo ir para cima de Embry. Ele some por um momento e reaparece atrás de Embry. Ele está paralisado e não vai conseguir parar o golpe. Emmett consegue puxar Embry pelos pêlos das costas e tirar ele a tempo de evitar o golpe mais certeiro, mas ele pode ouvir os ossos das costelas dele trincarem mesmo com o leve toque de Dieci.
—Isso vai deixar uma marca. Dieci fala balançando o sangue de Embry dos dedos.
—Embry! Emmett observa a extensão do dano que Dieci causou. Não só as costelas trincaram, mas um corte que vai da lateral do corpo de Embry até a coxa está sangrando por todo o chão. Embry está desacordado e não responde Emmett apesar de ainda estar vivo. Ele precisa de um minuto para se recuperar.
Emmett parte para cima de Dieci que desvia dos golpes contínuos dele com facilidade. Emmett tenta manter a criança ocupada tempo o suficiente para que Embry acorde, mas ele tem dificuldade de acompanhar a velocidade dele. Emmett sempre foi mais forte que os outros, mas ele fica para trás no quesito de velocidade.
Dieci se afasta de Emmett pro um momento e sopra algo no rosto dele. Emmett se afasta do pó no ar, mas ele não consegue deixar se inalar um pouco.
—Ah! Quase! Dieci estala os dedos desapontado.
Emmett pode sentir o braço e a perna esquerda pesados, tão pesados que ele mal consegue se mover.
—O que você fez? Ele pregunta nervoso. Embry ainda está no chão, mas o corte está se fechando e o sangue parou de escorrer do ferimento. Ele nunca viu um vampiro com poderes como aqueles. Vampiros tem poderes que afetam a mente das pessoas, eles não tem a habilidade de projetar suas habilidade para fora do corpo.
—Hum? Dieci olha confuso como se não tivesse entendido a pergunta. —Eu ia matar você é claro. Você não entendeu as regras do jogo? Eu te falei. Pega e congela.
—Como você fez isso?
—Eu sou o preferido aqui sabia? Mesmo depois que aquela menina chata apareceu e o padrone ficou obcecado com ela eu ainda sou o preferido. Ele me fez melhor que os outros. As palavras de Dieci giram as engrenagens na cabeça de Emmett. Aquele vampiro foi modificado de alguma forma. Ele é muito mais perigoso do que parece.
—Um, dois, três lá vou eu! Dieci parte para cima de Emmett mais uma vez que precariamente desvia dos golpes. Dieci está brincando com ele e quando ele finalmente fica entediado, ele acerta Emmett em cheio o fazendo voar pela sala novamente. Emmett consegue sentir o desespero da situação se transformar em medo dentro dele. Ele olha para Embry mas ele continua desacordado. Eu vou morrer aqui ele pensa desesperado.
Dieci caminha na direção de Emmett calmo e sorridente. Ele segura o homem duas vezes maior que ele pela gola da camisa com as garras prontas para arrancar a cabeça e sussurra —Eu sempre ganho. Emmett fecha os olhos esperando o fim, mas Embry se levanta e agarra o braço de Dieci entre os dentes.
Emmett observa a cena sem acreditar. Ele olha para Embry que vira os olhos freneticamente de Emmett para o braço de Dieci entre os dentes dele.
Dieci tenta se afastar de Embry, mas ele continua agarrado ao braço dele. O garoto está nervoso e grita Solta!Solta!Solta! enquanto tenta se livrar de Embry. O braço está praticamente pendurado por um fio quando Embry dá o último puxão e arranca o braço dele.
A sala ao redor deles volta ao estado de antes da luta começar. O sangue de Embry sumiu do chão e os danos que os golpes de Emmett e Dieci causaram nas paredes também desapareceram. Emmett e Embry estão na mesma posição em que estavam quando a porta se fechou, assim como Dieci. O braço perfeitamente atado ao corpo dele.
—Mas o que… Emmett olha em volta sem entender.
—Humft! Dieci bufa zangado. —Isso não vale! Cachorro mau!
Embry se transforma em humano novamente. Ele tem que falar com Emmett.
—Eu notei quando ele me acertou, ele fala —Eu estava pronto para desviar do golpe dele. Eu tinha certeza de que ia desviar, mas meu corpo congelou no lugar. Achei estranho, mas foi quando ele me atacou que eu percebi. O movimento no ar não espalhou o cheiro dele. Quando ele me acertou, meu corpo foi jogado de forma estranha no chão e meu balanço parecia… errado. Foi quando eu notei.
—Notou o que? Emmett pergunta confuso.
—Que era usa ilusão. Ele provavelmente nunca lutou com um lobo então não sabia como manter a ilusão realista para mim. Olha a mão dele.
Emmett observa a mão de Dieci. Ela está em uma posição estranhamente dura, com todos os dedos esticados e veias roxas espalhadas pela palma. Aos poucos, a mão dele vai relaxando até voltar ao normal.
—Ele disse que ´estava com ele´ antes de começar o jogo. Ele queria nos manter concentrados nele. Estamos tão preocupados com os movimentos dele que não notamos a ilusão se formando ao nosso redor. A mão dele está naquela posição desde que a porta fechou. Provavelmente é uma das condições para criar a ilusão. Ele iria nos matar sem nem se mexer do lugar.
—Ahhhhh tanto faz! Dieci fala bocejando com cara de entediado. —Eu ia ganhar seu cachorro bobão!
—Então que dizer que a gente ganhou? Emmett pergunta sorrindo para a cara fechada de Dieci. —A gente derrotou seu truque.
—Agora a gente vai passar. Embry continua.
—Passar? Dieci usa uma voz aguda e vira a cabeça graciosamente para o lado como um filhote confuso pelo barulho. —Ninguém vai a lugar algum.
—Então é matar ou morrer? Emmett fica em posição de ataque e Embry se transforma novamente.
—Isso. Dieci fala. —Ou até o padrone conseguir o que ele quer.
—Então não me venha com regras idiotas. Emmett estala as juntas —Vamos começar essa festa.
Finalmente a briga de verdade vai começar. Agora é finalmente para valer.
—
—Vocês acham que eles estão bem? Esme pergunta pela milésima vez. Ela não consegue deixar de sentir que tem alguma coisa errada com aquela situação.
—Nós temos que acreditar neles. Jasper fala. —Não se distraia Esme. Aquela criança não vai se o único no nosso caminho. Jasper está calculando as possibilidades. Ele não sabe o que está afrente, mas a interação com o próximo vampiro pode não ser tão civilizada quando a primeira. Eles podem ter que lutar para conseguir seguir em frente, ou eles podem ser emboscados e superados em número. Não existem regras aqui.
—Não seja tão pessimista. Edward fala respondendo aos pensamentos de Jasper. —Vai ficar tudo bem. Edward não está tentando confortar Jasper, mas sim Esme e Seth. A mãe adotiva está angustiada e dolorosamente triste e se sentindo culpada. Seth também está em pedaços. Ele corre mais rápido que os outros e parece determinado, mas Edward sabe que tudo que passa na mente dele é a dúvida. A pergunta que ele mesmo não quer responder. Se a garota está viva ou não. Seth tenta afastar a pergunta, mas ela sempre volta. O garoto está no limite do desespero. Jake tenta se manter próximo de Seth. O corredor é estreito demais para a forma de lobo dos dois então ele não consegue ouvir os pensamentos dele, mas sabe pelo que o companheiro está passando.
—A gente já não devia ter chegado na próxima porta? Paul pergunta olhando para os lados.
—Porque você acha isso? Jake pergunta.
—Bem, a gente não andou tanto assim até chegar na primeira porta. Além do mais tudo é tão igual que parece que estamos andando em círculos.
—Nós estamos seguindo em frente Paul. Não tem nenhuma curva aqui. Jake fala confuso.
—Não. Jasper responde. —Ele tem razão. Fiquem atentos.
—Eles estão aqui. Edward fala. Ele pode ouvir os pensamentos de um vampiro próximo, mas como eles sabem sobre as habilidades dele o vampiro tenta manter a mente vazia até o último minuto. Quando Edward percebe o que vai acontecer é tarde demais.
—Jasper! Ele grita parando e se virando para ele.
Um buraco enorme se abre sobre os pés de Jasper, que distraído pela voz de Edward, não consegue desviar. Ele está prestes a cair quando Paul o segura pelo colar da camisa.
—Te peguei! Paul evita que Jasper caia no buraco, mas antes de recuperar o equilíbrio o teto do corredor se abre e uma figura de cabelos longos cai sobre eles, os derrubando dentro do buraco. Edward pode ver os olhos vermelhos dela o encarar enquanto empurra os dois para a escuridão, nos pensamentos dela as palavras ´fim de jogo´ fazem ele tremer.
—Nós temos que sair aqui, agora. Ele fala empurrando Esme ainda paralisada pelo corredor a frente. —Eles vão matá-la.
