Por quê?

Segunda parte – A sombra do ciúme

Quando Tyson chegou ao térreo, lá estavam apenas Ray e Quief.

— E o Max?

— Passou correndo por aqui agora a pouco, feito um louco. O que houve? — Quief falando com o seu jeito nerd.

— Hã? Hum... Nada, nada. Cadê o Kai?

— Não estava com você? Ele não desceu ainda. — agora é Ray quem fala.

— Mas como, se ele veio antes de...

— Estou aqui. — a voz grosas surge da escada.

— Aonde foi? Pensei que já estava aqui.

— Não interessa.

Tyson, normalmente, insistiria em sua pergunta, mas estava tão aturdido pelo que acabara de acontecer que nem se importou com a resposta direta e vazia. Sentou-se à mesa e quase não comeu nada, o que fez seus amigos estranharem; exceto Kai, que conhecia bem o motivo daquilo. Apesar de parecer calmo e inflexível, como sempre, ele também estava muito confuso. Enquanto espionava a declaração de Max, sentiu algo alarmá-lo, o que se transformou em raiva. Por isso, uma pergunta lhe atormentava: "por quê?". Não sabia o que significava aquele sentimento. Habitualmente, apenas acharia aquele ato a coisa mais ridícula que já vira. Por que, então, preocupava-se com aquilo? Por que sentia-se ferido? Por que, agora, estava vendo Tyson com ternura, a ponto de beijá-lo enquanto ele dormia?

De repente, uma idéia lhe veio, seguida por velado receio. Estaria ele sendo dominado por aquela patética emoção, que as garotinhas imbecis que ele odiava registravam em seus caderninhos enfeitados em forma de débeis poesias e que chamavam de "amor"? Não, ele não. Afinal, ele era o duro, fechado e orgulhoso Kai. Mas, então... por quê? "Comigo não", ele pensava. "Tyson e Max são apenas dois garotinhos bobos", ele repetia diversas vezes em sua mente, como para acreditar em uma mentira absurda que ele contava a si mesmo. "Eu sou muito superior a eles e a estes sentimentos idiotas."

Mas, logo, algo maior e mais marcante invadiu seus pensamentos. Ele se concentrava apenas na raiva que sentia por Max e no estranho comportamento de Tyson. Ele só sabia que precisava se livrar daquele loirudo. Talvez fosse melhor mandar seu orgulho excessivo ao inferno.

Tyson ergueu-se da cadeira bruscamente e sem dar o seu habitual grito enérgico. Ainda assim, tentou manter-se animado.

— Vou procurar o Max, galera.

— Eu irei junto. — Kai falou autoritariamente, surpreendendo a todos. — Quero ir atrás dele com você.

— O que é isso agora, grande líder? Está demonstrando seu afeto, papai? — a voz irônica vinha do interior do laptop de Quief — Não esperava isso de você. — Dizzi insistiu em sua provocação.

Ele, com indiferença. apenas seguiu o moreno, que já caminhava apressadamente em direção a saída do prédio. Kai conseguiu alcançá-lo e segurou em seu braço com força, parando-o. Tyson olhou para ele, surpreso.

— O que foi, cara? Eu preciso achar o Max, me solta!

— Você não vai. Eu vou levá-lo para um lugar muito mais interessante do que qualquer buraco aonde ele possa ter se metido.

Ignorando os protestos do garoto, Kai o arrastou pelo pulso até o quarto, aproveitando a falta de atenção de Ray e Quief, que conversavam animadamente à mesa de refeições. Chegando ao aposento vazio, Tyson continuou a reclamar:

— O que está planejando fazer?

— Você logo verá. Ou não.

Kai deu um bruto soco no companheiro, com força suficiente para que este desmaiasse. Jogou o corpo adormecido no armário e trancou a porta. Depois, sorriu triunfante.

— Fique aí enquanto resolvo tudo.

Colocou a chave no bolso e saiu dali. Mas uma idéia logo lhe fez retornar: talvez encontrasse nas coisas de Max algo que fosse útil para destrui-lo! Principiou a revirar os pertences do loiro. Achou livros, peças de beyblade, um manual ilustrado "Beyblade: o jogo e suas regras" e, finalmente, um caderno preenchido com caligrafia redonda e trabalhada, quase feminina. Na última folha escrita, datada do dia anterior, havia poucas linhas:

"Eu amo o Tyson e vou me declarar a ele amanhã. Estou com um pouco de medo, mas vai dar tudo certo."

A raiva novamente inundou a sua mente. Ele sentiu vontade de cuspir naquilo, rasgar, amassar, queimar. Ele ia realmente fazer isso, se não tivesse ouvido o som de passos. Arrumou tudo exatamente como estava e recostou-se na parede como se nada estivesse acontecendo. Max entrou.

— Cadê o Tyson?

— Sei lá. — mentiu ele, olhando disfarçadamente para o armário. — Parece que foi procurar você.

Depois do curto diálogo, os dois ficaram em silêncio, apenas olhando para os lados. Logo, ambos saíram juntos. Encontraram Ray na escada. Este falou impressionado:

— Poxa, vocês estão ficando mestres em sumir e aparecer de repente! Onde se meteu, Max? E você, Kai? Não estava na rua com o Tyson?

— Eu estava só andando por aí…— o loiro fala sem jeito.

— Tyson foi sozinho atrás do Max e me deixou. Voltei para o apartamento e vocês não me viram porque estavam distraídos.

Dito isso, Kai deixou os dois sem se despedir e foi passear um pouco para refletir. Ignorou o chamado de Quief para o treino. Sentindo o frio russo, caminhou por muito tempo. A velha pergunta voltava à sua mente: "por quê?" Por que ele estaria com medo de que Tyson visse Max? Por que queria destruir Max? Ele próprio não sabia responder. "Talvez seja melhor voltar para o hotel", pensou ele.