Por quê?
Terceira parte - Mentiras
Chegando lá, viu aquela cena: Ray e Mariah beijavam-se ardorosamente no meio da sala. Ele tentou se manter indiferente e passou despercebido pelos dois, o que foi fácil, pois estavam totalmente envolvidos pelo carinho. Chegando ao quarto, pegou novamente o diário de Max para dar um fim à folha que lhe causara tanta raiva. Pouco lhe importava se o loirudo percebesse; Kai queria apenas destruir aquilo. Arrancou a página. Quando foi atirá-la na lareira, ele se lembrou do que viu ao chegar e recuou.
Uma idéia maliciosa havia ocupado seus pensamentos. Ele depositou a folha sobre o criado-mudo e foi buscar um corretivo. Pincelou a substância sobre o nome "Tyson". Esperou secar e, copiando perfeitamente a letra de Max, escreveu "Ray" por cima. Dobrou cuidadosamente a folha e a pôs no bolso da calça.
Foi quando algo começou a se debater no armário. Kai lembrou-se que tinha trancado Tyson lá. Abriu a porta. O moreno estava encharcado de suor; a mordaça que lhe foi colocada estava inundada.
— Acalme-se. — Kai falou displicentemente — Já vou resolver seu problema. — e deu outro soco em Tyson, que novamente desmaiou.
Fechou o armário e saiu do aposento. Ficou contente em descobrir que Mariah já havia ido. Dirigiu-se ao local onde os White Tigers estavam hospedados. Bateu na porta por alguns instantes. Lee atendeu e achou a visita muito anormal. O que o beyblader mais carrancudo que já conhecera estaria fazendo ali? Como ele tinha coragem de mostrar a cara depois de ter roubado as feras bit de várias equipes? Que esquisito! Sobretudo pelo fato de ele estar procurando pela única integrante feminina do grupo, já que era conhecida por todos a antipatia que eles sentiam um pelo outro.
— Por que quer vê-la?
— Nada que lhe diga respeito. Vá chamá-la.
— Ela acabou de chegar de um passeio e está no banho agora.
— Eu espero a pantera cor-de-rosa terminar seu peculiar hábito felino.
Lee não gostou do apelido que foi atribuído à colega, mas não disse nada. Apenas deu um muxoxo, mostrando os afiados dentes caninos e saiu, deixando Kai sozinho diante da porta aberta sem convidá-lo a entrar.
Quando Mariah apareceu, Kai invadiu o lugar sem hesitar, depois de uma longa espera. A garota, quase encabulada, disse para que ele sentasse.
— O que quer? — ela perguntou. — Não me diga que veio devolver a Galux! — continuou em tom provocativo.
— Não é nada disso, mas não deixa de ser para o seu bem. Você gosta do Ray, não é?
— O que você tem a ver com isso? — seu rosto havia ficado com a mesma cor do cabelo.
— Nada, e agradeço aos céus por isso. — ele reassumiu o seu velho sarcasmo. — Mas eu acho que o Max tem.
Ele puxou do bolso a folha de papel dobrada e entregou-a à jovem. Ela desdobrou e leu, reconhecendo a caligrafia que já havia visto. A surpresa estampou-se em sua face, seguida pela sombra do ciúme. Kai deliciava-se secretamente, pensando em ter alcançado seu objetivo. Aproximou-se dela e, para tornar mais real a farsa, segurou a mão trêmula, fingindo preocupação.
— Entende agora, querida? — ele tentava parecer o mais carinhoso possível, mas estava difícil. — Você pode não acreditar, mas estou arrependido do que fiz. Por isso, é dever meu mostrar essa verdade e o perigo que seu amor está correndo.
Dito isso, ele, lutando contra si mesmo para ser mais verdadeiro, a abraçou carinhosamente. Mariah tentou ser resistente, mas logo cedeu, pois o choque que levara foi muito grande. "Que saco! Só espero que ela não suje as minhas roupas com lágrimas e catarro!" Kai queria se livrar logo daquilo.
— O que pensam que estão fazendo? — Lee pareceu materializar-se na sala. — Era "isso" que queria falar com ela?
Mariah e Kai soltaram-se imediatamente. Ele se levantou do sofá, lançou um olhar dissimuladamente triste para a garota e saiu sem dizer nada.
