Alerta de gatilho: tem menção à violência. N/A: Crepúsculo não me pertence.

Olá! Essa fic faz parte do Projeto One-Shot Oculta, um amigo oculto entre autoras do fandom de Crepúsculo. Confira as regras e todas as participantes na página bit (ponto) ly (barra) POSOffnet

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Essa fanfic é dedicada à minha amiga oculta, Jana ( / rkpattinson). Mulher, confesso que entrei em colapso quando vi seus combos porque achei os dois simplesmente perspicazes DEMAIS, e fiquei com medo de não conseguir fazer algo a altura do que você tinha imaginado. Acho que essa é, provavelmente, uma das coisas mais diferentes que já escrevi, então obrigada por me desafiar e fazer eu sair da minha zona de conforto. Fucei muito o teu perfil pra tentar o meu máximo fazer algo que agrade o seu gosto, então espero que você goste!

Prólogo

Na Grécia Antiga, momentos antes de morrer, o filósofo Sócrates fez a primeira menção a algo que iria prevalecer por séculos: a lenda do canto do cisne.

Ele acreditava que os animais, mudos durante toda a sua vida, cantavam de forma bela e quase mágica ao perceberam que iriam morrer. Assim, eles se despediam de sua vida de maneira marcante, sabendo que uma existência mais feliz os aguardava pela eternidade.

Dizem que ele tinha tanta certeza disso que, antes de ingerir quantidades mortais de cicuta, um tipo de veneno, ele proferiu frases estranhamente positivas sobre sua crença.

Séculos depois, essa teoria foi derrubada por cientistas: cisnes não são mudos. Na verdade, eles assobiam e grunhem a vida toda, sem nunca serem capazes de cantar. Mas essa crença continua forte ao redor de todo o mundo, e faz parte do universo artístico até hoje. De uma forma estranha, sua morte foi poética e marcante para a história da humanidade.

É claro que, artistas sendo artistas, uma leve modificação foi feita para tudo parecer mais romântico: agora, o canto do cisne faz referência a obra mais importante e impactante de uma pessoa antes dela morrer.

E era exatamente dessa forma que eu me sentia ao subir no palco, as pernas bambas, o coração acelerado e a respiração entrecortada. Como se aquele fosse o meu canto do cisne. Como se eu estivesse prestes a dar o melhor de mim em meu último suspiro. Porque, é claro, nós tínhamos um plano. Mas ainda havia uma chance de tudo dar errado…

E eu estava apavorada. Mais do que meu orgulho jamais me deixaria admitir para qualquer pessoa. Se eu saísse viva, com certeza iria dar entrevistas falando que eu nunca estive tão tranquila. Mas, por ora, só podia rezar para não desmaiar por não ser capaz de levar oxigênio o suficiente para meus pulmões.

Posicionando-me em frente ao microfone, busquei os olhos dele em meio ao mar de pessoas olhando com expectativa para mim. Respirei fundo quando ele acenou brevemente em minha direção, um meio sorriso em seu rosto em uma tentativa nervosa de me encorajar e dizer que tudo ia dar certo, e comecei a cantar. Porque o que mais eu poderia fazer?

Parte 1

3 meses antes

Quando você trabalha na indústria do cinema, precisa estar preparado para lidar com algumas loucuras. De atores com exigências absurdas até diretores com visões e ideias malucas, é comum se deparar com situações um tanto quanto inusitadas.

E isso não me incomodava nem um pouco: jovens mulheres de 23 anos, em 1937, tinham pouquíssima liberdade para viver suas vidas da forma que desejassem. Diferente de mim que, felizmente, poderia não só ver o mundo como vivenciá-lo de uma forma completamente diferente do que a maioria da população feminina da época.

Porém, estar tão acostumada a essas bizarrices me fez perder um pouco do meu próprio bom senso.

Quando comecei a receber cartas com conteúdos um tanto quanto macabros, não dei a devida importância. Tinha acabado de ser escalada para viver a protagonista de "Vida e Morte", e o tema vampiros estava em alta desde o lançamento de "Drácula", apenas alguns anos antes. Então julguei que tudo era apenas presentes de um fã aficionado pelo tema, que estava ansioso para assistir ao filme.

Nem mesmo o bilhete que dizia "O cisne de Hollywood em breve vai estar sujo de sangue" me preocupou. Por causa do meu sobrenome, fiquei conhecida por esse apelido. Um tanto quanto sem criatividade, é verdade, mas chamava a atenção e gerava certo buzz para a minha imagem. E, bem, o filme era sobre vampiros… Sangue fazia parte do contrato!

Mas enquanto eu encarava meu mais novo "mimo", eu só conseguia pensar que algo estava muito errado.

— Que merda é essa? – eu gemi, sem conseguir tirar os olhos do meu presente sangrento nem mesmo quando senti a bile subir em minha garganta.

— Isabella! – meu pai praticamente rosnou. Ele era bem liberal em relação a muitas coisas, mas palavrão não era algo que ele tolerava com leveza.

— Pai, me enviaram um coração com uma faca. Eu acho que estou liberada para xingar! – eu sussurrei, fechando meus olhos para tentar não vomitar. O cenário já estava nojento o suficiente sem o meu café da manhã voltando pela minha boca. — Alguém pode pelo amor de Deus levar isso embora daqui? – praticamente implorei.

Acredite, eu não sou o tipo de atriz que a fama sobe na cabeça. Eu faço o máximo que posso sem precisar incomodar os outros. Mas para tudo existem exceções, certo? E eu tenho certeza de que alguém conseguiria tirar aquela abominação do quarto sem vomitar.

Infelizmente, esse alguém não seria eu: sangue não era o meu forte. Irônico, considerando que eu estava prestes a interpretar uma vampira.

— Bella, querida, por que você não se senta? Você está branca – escutei Carlisle, o diretor do filme, falar gentilmente enquanto me guiava para o sofá mais próximo. — Esme, você pode pegar um copo de água para ela, por favor?

Esme era sua esposa e roteirista. Eles trabalhavam juntos desde que Carlisle cansou da vida de médico - o que explica o fato de ele não estar nem um pouco abalado com o meu pequeno presente - e, sinceramente, eram uma lenda na indústria.

Todos os seus filmes eram perfeitos, eles já haviam ganhado uma série de prêmios, e trabalhar com eles era o sonho de todos os atores, principalmente aqueles que, como eu, queriam provar que poderiam interpretar papéis que fogem dos estereótipos do cinema.

E não parava por aí: além de tudo eles ainda faziam um casal tão lindo e em sintonia que todos tinham inveja. Honestamente, eles eram completamente relationship goals.

Senti alguém encostar um copo gelado em meus lábios e bebi rapidamente a água, tentando me acalmar.

— O… o coração veio com um bilhete. Mas eu não tive coragem de abrir. – balbuciei enquanto sentia meu coração desacelerar. Será que colocaram alguma coisa na água?

Abri os olhos, percebendo que meu pai estava com o papel em mãos, um olhar preocupado em seu rosto enquanto ele segurava o conteúdo para que os Cullens pudessem ler.

Um silêncio nervoso recaiu sobre a sala.

— O que diz? – perguntei, meus olhos correndo de um para o outro enquanto ninguém me respondia.

— Bella, você já se assustou demais por um dia. Não é melhor descansar e deixar a gente lidar com isso? – meu pai falou calmamente e eu revirei os olhos.

Sinceramente. Eu já tinha visto um coração. Nada poderia ser pior do que isso. Certo?

— O que o bilhete diz? – perguntei novamente, teimosia pingando de minhas palavras. Meu pai suspirou derrotado e recitou o conteúdo para mim:

— "O próximo coração que eu quero é de um cisne!"

Uma frase tão simples. Curta, até. Mas fez meu coração gelar e minha boca secar.

— A boa notícia é que eu pude dar uma boa olhada no coração que enviaram para você, e ele é falso. – Carlisle interviu quando percebeu que eu provavelmente estava perto de vomitar novamente.

— A má notícia é que aparentemente da próxima vez eles vão querer um coração real. O meu!

Sério. Eu juro. Apesar de não parecer, e mesmo com o meu passado um tanto quanto simples, eu fui muito bem educada. Meu pai se orgulhava em ter me proporcionado oportunidades incríveis, mesmo com recursos tão limitados em Forks. Por isso, acredite: eu normalmente não surtava facilmente, nem agia como uma garota mimada assim. Eu tinha classe!

Mas quando você abre o café da manhã enviado pelo hotel e dá de cara com um coração - mesmo que seja um falso -, você tem o direito de se comportar da forma que quiser. Certo?

— Filha, eu já fui xerife, lembra? Eu sei lidar com ameaças. Eu vou te proteger. – meu pai falou e, em circunstâncias normais, eu acharia tudo bem fofo. Mas, como já estabelecemos, nada do que estava acontecendo era normal.

— Pai, eu te amo, mas o senhor foi xerife de Forks. Há mais de dez anos. O máximo que o senhor lidou foi com ataques de animais. Duvido que já tenha usado a sua arma!

— Vamos todos nos acalmar e pensar de forma estratégica. Eu sei que toda essa situação é muito estressante, mas ficar nervoso não vai nos ajudar em nada. – Carlisle falou em um tom calmo e tão seguro de si que me senti mais calma instantaneamente. Ele deveria ser um ótimo médico. — Bella, você disse que começou a receber essas cartas estranhas logo que foi anunciada como Edythe?

Pensei por um momento, organizando meus pensamentos e criando uma linha do tempo invisível em minha mente.

— Isso. Foi no dia seguinte ao anúncio, na verdade. – assenti.

— Certo. Então muito provavelmente as duas coisas estão conectadas. – murmurou, um semblante pensativo em seu rosto.

— Você acha que é um fã maluco de vampiros? – meu pai perguntou e eu revirei meus olhos. Sua aversão por vampiros e qualquer coisa sobrenatural era cômica. Ele simplesmente não entendia o fascínio das pessoas por esse tema.

— Pode ser isso, pode ser um fã da Bella que não gostou da notícia dela trabalhar em um filme diferente do gênero que ela normalmente trabalha… São várias possibilidades.

— As filmagens começam semana que vem. Como vamos fazer? – Esme perguntou, preocupada. Ela era tão doce que, às vezes, sentia como se ela fosse minha mãe.

Foi quando eu percebi que toda aquela bagunça poderia interferir em meu trabalho. E nem mesmo a visão do coração esfaqueado me deixou com uma sensação tão ruim em meu estômago.

— Por favor, não me tirem do filme. – falei tão rapidamente que nem ao menos sabia se tinha sido entendida. Mas estava preparada a ajoelhar e implorar caso fosse necessário.

— Te tirar do filme? Querida, isso nunca nem passou pela nossa cabeça. – Esme falou calmamente, sentando-se ao meu lado. — Você é perfeita para o papel. Te tirar do filme não é uma possibilidade. Só vamos fazer esse filme com você. Caso contrário, todo o projeto será cancelado.

Não sabia se aquilo era verdade ou se só foi falado para me acalmar. Mas sua voz firme e olhar sincero me tranquilizaram. Pena que eu não poderia dizer o mesmo de meu pai...

— Não posso deixar minha filha desprotegida. – ele esbravejou.

— Claro que não, Charlie! Nós nunca colocaríamos Bella, ou qualquer profissional de nossos projetos, em risco. É por isso que achamos que contratar um segurança particular seja a melhor saída. Alguém que a acompanhe em todos os momentos, principalmente entre uma filmagem e outra.

— Mas não podemos confiar em qualquer um. E se colocarmos Bella nas mãos de seu stalker? – perguntou, ainda não convencido.

— Nós temos uma sugestão. Nosso sobrinho tem experiência com esse tipo de trabalho e já atuou com muitos artistas. E ele é de confiança.

— Qual o nome dele? Antes de confirmar vou ter que pedir para meus amigos na polícia de Forks checar seus antecedentes. Precaução. Espero que vocês entendam.

Enquanto Carlisle e Esme assentiam compreensíveis, eu senti meu corpo afundando no sofá, subitamente cansada apesar das oito horas de sono da noite anterior. Eu só conhecia um segurança com o sobrenome "Cullen". E tinha certeza de que era dele que eles estavam falando.

Fechei meus olhos, esperando a confirmação de meus medos.

— Edward Cullen.

Parte 2

Deixa eu te contar uma história rápida.

O ano era 1932 e eu estava no auge dos meus 18 anos. Na época, eu tinha acabado de estrelar meu primeiro grande filme de Hollywood e estava começando a chamar a atenção de nomes importantes.

É por isso que, quando eu fui convidada para uma festa extremamente exclusiva na casa dos Denali, nem meu pai, superprotetor, foi capaz de dizer não. Afinal, aquilo significava que eu estava realmente fazendo algo certo: a família era simplesmente a mais influente do meio.

Eu prometi me comportar mas é claro que, deslumbrada com a classe, a riqueza e as delícias ao meu redor, acabei me descontrolando e bebendo um pouco demais. Até me arrisquei a encarar um certo ruivo durante boa parte da festa, mas tudo foi arruinado quando eu acabei entrando no banheiro masculino… e fui enxotada da festa por ninguém menos do que Edward Cullen.

Na época, com apenas 21 anos, ele trabalhava como segurança particular de Garrett Pace e me confundiu com uma fã obcecada que estava atrás dele. Logo eu! Desde então, já me encontrei com ele em várias outras ocasiões, afinal ele é um nome de confiança, algo raro na indústria cinematográfica, e ele adorava me tirar do sério com essa história.

Por isso, entenda: eu não estava muito feliz em passar os próximos meses ao seu lado. Meu trabalho era sagrado para mim e esse projeto era especial. Não precisava ter o Cullen me atormentando o tempo todo.

E eu sei o que você está pensando: se ele foi tão rude em relação ao que ele achou que fosse uma simples fã obcecada, provavelmente faria o trabalho de me proteger de um possível lunático muito bem. E é verdade. Mas eu não precisava ficar feliz em relação a isso, não é mesmo?

— Vamos levar as suas malas para o seu quarto e ir ao set, querida. Edward já fez um trabalho de reconhecimento ontem, você não precisa se preocupar com nada. – meu pai falava animadamente, provavelmente tentando acalmar mais a si mesmo do que a mim enquanto entrávamos no elevador.

Eu sabia que ele queria que eu desistisse do trabalho. Mas ele também sabia que isso não era uma possibilidade. Por isso, estava estranhamente falante e otimista. Sinceramente, não era o seu melhor momento, mas se fosse me poupar de uma briga, eu estava disposta a aturar.

— Só com a presença constante e irritante dele. – murmurei enquanto estudava o script e memorizava as minhas falas.

— Bella, não faça isso ser mais difícil do que já é. – suspirou pesadamente, os ombros caídos.

Em situações normais eu me sentiria mal e provavelmente falaria algo doce e alegre para tentar distraí-lo de meu lapso de educação. Mas eu estava me sentindo azeda demais; nem mesmo o primeiro dia de filmagem do meu trabalho dos sonhos estava me animando. Então, mesmo sendo uma excelente atriz, eu não conseguiria fingir.

— Eu não falei nada demais, pai, apenas a verdade. Você sabe que eu odeio me sentir presa e controlada. Isso seria um inferno com qualquer pessoa, mas com ele vai ser pior ainda. – respondi no momento em que a porta do elevador se abriu e eu saí rapidamente, entrando em meu quarto sem perceber que não estávamos sozinhos.

— Por tudo que meus tios e seu pai me falaram, o stalker não está para brincadeira. Por isso, senhorita Swan, você pode aturar minha presença ou virar um cisne depenado. A escolha é sua. Só peço que me informe a resposta o mais breve possível para que eu não perca meu tempo. – escutei uma voz atrás de mim e pulei de susto, as mãos indo em direção ao coração instintivamente.

— Edward! Ignore tudo que você escutou, minha filha não está em seu melhor humor hoje. – meu pai se desculpou, cumprimentando o Cullen rapidamente. — Mas ela vai usar toda a educação que eu lhe dei com você, não é mesmo, Bells?

Ele estava de volta ao meu lado e, se olhar pudesse matar, tinha certeza de que eu não estaria mais viva. Suspirei pesadamente e voltei meu olhar para meu querido segurança particular:

— Claro, claro. Bem-vindo, senhor Cullen. Você não sabe o quão feliz eu estou em saber que vou ter a sua ilustre companhia pelos próximos seis meses de trabalho. Vamos nos divertir tanto. – falei ironicamente, veneno praticamente pingando de minhas palavras enquanto meu rosto quase se partia ao meio com o sorriso falso que direcionei a ele.

— Vai ser um prazer, senhorita. – ele sorriu de volta e eu tinha a sensação de que o dele não era falso. Ele estava se divertindo com tudo aquilo?

O sorriso saiu de meus lábios na mesma rapidez em que entrou, e meu olhar se tornou gélido mais uma vez.

— Ótimo. Podemos ir ao set agora? Não quero me atrasar em meu primeiro dia.

Não esperei por uma resposta, simplesmente peguei minha bolsa e fui em direção à porta.

— Isabella! – meu pai exclamou, escandalizado, e eu revirei os olhos. Ele iria sobreviver.

— Tchau, pai. – cantarolei levemente quando percebi que o Cullen estava me seguindo. Se ele continuasse calado e simplesmente seguindo as minhas ordens, aquilo seria menos insuportável do que eu esperava.

Eu estava tão ansiosa para me livrar da ansiedade de meu pai que não parei para pensar que, no set, as pessoas também iriam querer saber de todos os detalhes do que estava acontecendo.

E elas não estavam sendo discretas. Assim que eu pisei na entrada, absolutamente todos os olhares se voltaram para mim. As pessoas pararam de fazer o que estavam fazendo simplesmente para me observar andar em direção ao meu trailer, com Edward Cullen atrás de mim, o som de nossos passos sendo o único barulho que escutávamos.

Enquanto a maquiadora, a cabeleireira e a figurinista me ajudavam a entrar fisicamente no personagem, o silêncio continuou.

Aquilo era estranho: a falação, o barulho e as risadas faziam parte de todas as memórias de meus trabalhos. E até aquilo aquele stalker maldito estava me roubando.

Felizmente, eu sempre poderia contar com Emmett, meu co-star, para quebrar o silêncio. Mesmo que suas perguntas sobre a situação não fossem nada discretas, pelo menos ele estava falando comigo ao invés de simplesmente me encarar.

— O tédio em um set de filmagem é grande. Você sabe que o que mantém tudo animado são as fofocas! E você, senhorita Swan, está na boca de todas as pessoas – ele falou enquanto esperávamos para começar a filmar e eu dei um sorriso forçado.

— Vocês sabem tanto quanto eu, Emmett – dei de ombros, agradecendo quando Carlisle surgiu e começou a nos dar as explicações do que ele esperava de nós naquela cena.

E aquela foi a minha rotina do dia. Depois que meu colega de trabalho quebrou o gelo, várias outras pessoas se encorajaram e vieram me perguntar mais sobre as ameaças. Aparentemente haviam incluído detalhes falsos e dignos de filmes para deixar tudo mais excitante. Eu simplesmente concordava com tudo, sem energia para desmentir nada.

Que acreditasse no que quisessem.

Ficar dando atenção aos rumores não me deixaria menos nervosa ou ansiosa em relação a tudo que estava acontecendo. Muito pelo contrário: me deixaria pior.

Quando fui escalada para o papel de Edythe eu estava tão feliz. Não só porque aquele era um projeto de Carlisle e Esme Cullen e tinha o potencial de mostrar para Hollywood que eu poderia ser mais do que uma simples mocinha. Aquela também era a minha oportunidade de explorar o meu talento em uma história que eu realmente acreditava e tinha me tocado fortemente.

Agora, tudo que as pessoas falavam era sobre as ameaças. E isso me fazia pensar: será que, mesmo após a estreia, era sobre isso que as pessoas continuariam falando? Dane-se a história, o trabalho, o talento… tudo que importaria era as ameaças que ela estava recebendo?

Foi com esses medos em mente que nem ao menos percebi quando Edward estacionou o carro quando chegamos ao hotel e abriu a porta para mim. Ele estava estranhamente quieto o dia todo, mas eu não estava com cabeça para pensar nisso. Já tinha problemas o suficiente; problemas que meu orgulho não me permitiam compartilhar com mais ninguém.

— Aquele tal de Emmett parecia interessado demais em suas ameaças. – Edward quebrou o silêncio no elevador, me assustando. Havia até mesmo me esquecido de sua presença. — Você acha que ele pode ter algo a ver com isso?

Neguei com a cabeça: — Emmett é grande e tudo mais, mas ele é mais de decorar falas do que criar frases de ameaça aos outros. Além do mais, você não ficou sabendo? Todo mundo quer saber sobre as ameaças. Minha desgraça é a fofoca predileta deles. – dei um sorriso cansado e triste em sua direção.

A porta do elevador se abriu e eu saí rapidamente, sem esperar sua resposta. Respirei fundo e entrei em meu quarto, pronta para embelezar o dia de merda que eu havia tido para o meu pai, que eu tinha certeza de que estava me esperando em minha suíte, aflito, ao invés de aproveitar a sua própria. Ele não precisava de mais preocupações.

Parte 3

Contrariando todas as minhas expectativas depois do péssimo primeiro dia de trabalho no set de Vida e Morte, as filmagens não estavam sendo tão ruins. Na verdade, elas estavam quase perfeitas: as pessoas estavam focadas e dando o máximo de si para aquela história que tinha tudo para levar todos os prêmios possíveis, e tinham deixado um pouco de lado a questão das ameaças que eu estava recebendo.

Mas não se engane: isso não aconteceu porque elas deixaram de ser fofoqueiras, e sim porque eu simplesmente não havia recebido mais nada. Um mês já tinha se passado e tudo estava caminhando para a normalidade de novo.

Exceto, é claro, a presença constante de Edward: ele era como uma sombra. Estava sempre perto de mim, e só me deixava sozinha quando eu tinha que ir ao banheiro ou tomar banho.

E, apesar de eu não me orgulhar em dizer isso, sua presença era quase agradável. Ou talvez eu só tenha essa sensação porque percebi que irritá-lo era muito mais interessante do que tentar ignorá-lo. E porque, ao ler as falas, ele não poderia usar sua língua para despejar suas baboseiras em minha mente.

Mas e se eu não for uma super-heroína? E se eu for a vilã? – recitei a minha fala com uma entonação diferente, tentando descobrir a melhor forma para passar o turbilhão de sentimentos de minha personagem nesse momento.

Esperei Edward dar a deixa para a minha próxima fala e percebi que, ao invés de acompanhar tudo pelo script que eu havia lhe emprestado, ele estava simplesmente me encarando.

— Edward! Você não está prestando atenção – grunhi, jogando uma almofada em sua cara. Ele se assustou mas logo se recompôs, me oferecendo um sorriso de lado.

— Eu não sou ator, senhorita – deu de ombros e eu revirei os olhos. Já perdi a conta de quantas vezes havia pedido para ele me chamar de "Bella", mas aparentemente me ignorar única e exclusivamente para me irritar era mais divertido. Imbecil.

— Você só tem que ler as falas. Literalmente. Acredito que você tenha sido alfabetizado, não? – retruquei, erguendo uma sobrancelha em sua direção.

— Não é só ler, Bella. A senhorita se transforma em uma pessoa completamente diferente quando está no papel, até o seu jeito de respirar muda. Eu só não quero parecer um idiota.

Ok. Por essa eu não estava esperando: ele me chamou de Bella, elogiou o meu trabalho e ainda se permitiu ser vulnerável na minha presença? E eu estava me derretendo por aquilo? Meu Deus, aquele um mês ao seu lado estava me afetando mais do que eu gostaria de admitir.

— Você nunca poderia parecer um idiota. – falei suavemente e, percebendo o meu erro - credo, eu não poderia ser legal com ele, emendei: — Quer dizer, eu já treinei falas com o meu pai. Não dá para ser mais mecânico do que ele.

— Certo. De qualquer forma, acho que deveríamos ir, não? Surpreendentemente conseguem demorar horas para te deixar ainda mais pálida.

E o idiota estava de volta. Revirei os olhos enquanto me levantava, arrancava meu script de suas mãos e seguia em direção a porta.

— Sabe, já faz um mês desde que eu recebi minha última ameaça. Talvez o stalker tenha desistido. – comentei casualmente enquanto entrávamos no elevador.

— Talvez ele tenha visto minha ilustre presença constantemente ao seu lado e tenha ficado com medo – falou com um sorriso convencido e eu ri de um jeito nada feminino.

— Eu não contaria com isso. Você não é nada assustador. – ignorei seu olhar ultrajado e fingi analisar as minhas unhas.

— Você parecia bem assustada quando eu te flagrei no banheiro masculino da festa dos Denali – deu de ombros e eu conseguia sentir meu rosto esquentando de raiva.

Sério? Ele realmente estava trazendo aquilo à tona?

Eu estava assustada porque pensei que você tinha percebido que eu estava flertando com você a noite inteira, babaca!

Isso foi o que eu pensei. Minha resposta, obviamente, foi outra:

— Por favor, eu não estava assustada! Estava irritada porque você me tratou como uma fã obcecada quando eu havia cometido um simples erro genuíno – falei da forma mais calma possível, como se aquela memória não tivesse me atormentado pelos últimos cinco anos da minha vida.

— E como eu poderia saber disso? – assim que ele terminou a sua pergunta, a porta do elevador se abriu e eu saí na frente, ignorando o fato de que ele deveria verificar se ninguém suspeito estava por perto e pedindo para o motorista trazer o carro.

— Isso não importa! O que importa é que, aparentemente, eu estou livre de stalkers malucos. Talvez você possa me deixar em paz antes do esperado – respondi calmamente, tentando ignorar o súbito vazio em meu peito ao pensar em não ter a sua companhia.

— Talvez seja exatamente isso que eles querem que você pense, Swan. Está disposta a arriscar sua vida só porque não sabe apreciar uma boa companhia?

Ri novamente, colocando meus óculos de sol embora os raios já estivessem mais fracos; a gravação seria noturna.

— Boa companhia? Você deveria ter seguido a carreira de comediante, Cullen – entrei no carro sem esperar pela sua resposta.

Mas é claro que o meu súbito mau humor não impediu Edward de continuar falando e me irritando como se nada tivesse acontecido. E ele fazia isso porque sabia que, eventualmente, eu iria ceder e respondê-lo.

Foi assim que tudo começou, afinal de contas. Eu achava que os seguranças deveriam ser sérios e quietos o tempo todo, atentos às redondezas. Acontece que o Cullen era ótimo em lidar com várias coisas ao mesmo tempo: tagarelar no meu ouvido não o impedia de prestar atenção aos mínimos detalhes de tudo que acontecia perto de mim.

Depois do meu péssimo primeiro dia, ele começou a falar pelos cotovelos. Eu tentei ignorar ao máximo, mas percebi que era melhor prestar atenção às suas maluquices do que focar nos olhares e sussurros de toda a equipe do filme.

E agora, toda vez que eu tentava lhe dar o gelo, ele falava alguma coisa absurda que eu era incapaz de não retrucar.

— Não acredito que as pessoas gostam dessa baboseira de vampiros – falou com uma cara de nojo, olhando o cenário que, hoje, era uma floresta escura. Respirei fundo e comecei o meu discurso (eu já tinha ele pronto em minha mente depois de ter a mesma discussão mil vezes com o meu pai):

— Vampiros e qualquer outro ser sobrenatural não são baboseiras, Edward. Eles representam diversas facetas dos seres humanos, facetas que a gente não quer ou não gosta de encarar, e por isso é mais fácil criar monstros que nos coloquem como os bonzinhos da história. Além disso, o trabalho de seus tios é simplesmente incrível. A gente está retratando os vampiros de uma forma totalmente diferente e inovadora, mostrando que eles também podem amar e ser bons!

— Eles não podem amar nem ser bons porque eles não existem – retrucou com um tom sabichão em sua voz.

Que vontade de arrancar a sua língua fora.

— É uma metáfora, idiota! Para dizer que até a pior pessoa do mundo pode ter um pouquinho de bondade nela – retruquei, apressando o passo em direção ao meu trailer.

— Senhorita Swan... Você não é velha demais para acreditar nesse tipo de coisa? – perguntou com um tom tão condescendente que eu tive que me segurar para não socá-lo.

— A mente de um artista nunca envelhece. Mas e você? Não deveria estar lutando em alguma guerra ao invés de cuidar de 'estrelas mimadas de Hollywood', já que é tão machão e insensível?

— Eu não sou insensível por não acreditar em vampiros. E a guerra acabou anos atrás.

— Não é questão de acreditar em vampiros, e sim entender o que eles representam – grunhi, abrindo a porta do trailer de maquiagem com muito mais força do que o necessário. — Além disso, não se preocupe: eu tenho certeza que vocês, homens, com suas mentalidades tão obscuras e fechadas, não vão demorar para criar outra guerra. Talvez se prestassem mais atenção à arte não criariam tantos problemas no mundo.

— Eu tinha três anos quando a guerra começou. Acredito que a minha falta de compreensão por seres que não existem não tenha tido nada a ver com isso. – respondeu enquanto enfiava seu rosto pela porta do trailer para verificar se estava tudo certo.

— Talvez a sua simples existência tenha sido o suficiente – retruquei com um sorriso irônico, entrando e fechando a porta em sua cara.

Algumas horas depois eu tinha virado Edythe, minha personagem em Vida e Morte. Minha peruca ruiva estava impecável em minha cabeça, parecendo que era realmente meu cabelo natural; o iluminador que haviam aplicado em todo o meu corpo me dava o tom vampiresco que estávamos buscando; e a lente de contato colorida, que era desconfortável mas muito bonita, dava o toque final.

Eu estava animada: naquela noite iríamos filmar a cena em que Beau, par romântico de minha personagem, finalmente descobre que ela não é humana. É tudo muito dramático: ele já suspeita que eu não sou normal, e rouba uma arma de seu pai, xerife da cidade, para se defender. Homens, certo?

Mas é claro, sendo uma vampira, eu não morro: simplesmente arranco a bala de meu estômago, o que faz ele surtar, mas encarar e lidar com a verdade. É o primeiro passo em direção à relação forte e complexa dos dois. E é, provavelmente, a cena que eu estava mais animada para filmar.

Praticamente saltitei em direção ao set, posicionando-me na marcação indicada no chão e escutando as direções de Carlisle com atenção.

Nos ensaios, percebemos que Emmett tinha uma mira péssima. Por isso, decidimos gravar esse momento antes de toda a conversa e parte sangrenta para tirar esse problema da frente de uma vez por todas.

E para evitar trocas constantes de roupa e limpeza do sangue falso, é claro.

— Emmett, lembre-se: você quer acertar a Bella, e não as coitadas das árvores, ok? Vamos lá! – Carlisle instruiu e eu segurei uma risada.

Pobre Emmett. Fiz o sinal de joinha com as duas mãos com um sorriso encorajador, tentando animá-lo, antes de respirar fundo e entrar no papel.

— Ação!

A primeira tentativa foi… péssima. A bala falsa nem ao menos chegou perto de mim. Tenho quase certeza de que atingiu outro cenário do estúdio.

—Certo, Emmett. Vamos de novo. Dessa vez foque nesse cenário, tudo bem? Ação!

A segunda tentativa ainda foi ruim, mas bem melhor. Dessa vez a bala falsa ficou no perímetro certo, o que já era um avanço.

—Bem melhor, Emmett. Vamos lá, mais uma vez! Ação!

Alguma coisa estava errada. Eu percebi isso pelo barulho do tiro: ele estava mais alto e muito mais real. Mas antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, senti meu ombro queimando. Quando olhei para o lado, o sangue estava brotando rapidamente de minha pele.

A bala passou de raspão, mas balas falsas não eram capazes de fazer tanto estrago.

Balas reais eram.

— Mas que merda é essa? – escutei Edward gritar e invadir o cenário enquanto a equipe inteira olhava ao redor sem entender o que estava acontecendo e como alguém tinha conseguido sabotar um acessório que era acessado por pouquíssimas pessoas por questões de segurança.

Emmett, assustado com a explosão de Edward, deixou a arma cair no chão, acionando mais um tiro.

Felizmente, Edward agiu em tempo recorde e me empurrou para o lado, caindo em cima de mim ao mesmo tempo que mais uma bala real passou por nós e se prendeu em uma das árvores falsas do cenário.

Olhei para ele, desnorteada e incapaz de me mover.

— Bella, você está bem? – perguntou em um tom preocupado, suas mãos em meu rosto, procurando por machucados. Eu queria respondê-lo, mas nenhum som saía de minha boca.

— Meu Deus, Bella, me desculpe! Eu não… Que merda, por que isso estava com balas reais? – Emmett estava ajoelhado ao meu lado, parecendo que ia chorar a qualquer momento, olhando ao redor procurando por explicações.

— Bella, fala comigo! Você tá bem? Você se machucou? – Edward insistiu, segurando meu queixo gentilmente e fazendo-me olhar diretamente em seus olhos. — Foca em mim, Bella. Na minha voz, no meu toque e no meu rosto.

— E-eu… Eu estou bem. Meu ombro está doendo um pouco, mas eu estou bem. – consegui me concentrar o suficiente para responder, mas logo emendei em um tom assustado: — Edward, que merda foi essa?

Receber ameaças era uma coisa. Ter alguém ativamente tentando me matar era outra completamente diferente e muito mais assustadora.

— Alguém está muito empenhado em te eliminar, Swan. – respondeu, raiva pingando de sua voz. Percebendo o meu estado, ele se controlou e continuou de uma forma muito mais doce: — Mas você não precisa se preocupar. Eu estou aqui. E você está bem. E nada vai mudar isso. Ok?

Assenti. Não de forma automática, mas porque eu realmente acreditava nele.

Parte 4

Nos últimos dias, com a falsa sensação de calma e segurança que a falta de ameaças nos proporcionou, meu pai estava passando menos e menos tempo nos estúdios. Mas é claro que ele escolheu aquela noite para me visitar.

Foi assim que eu quase fui a causa de um infarto para ele: cheguei em minha suíte de hotel e, além de estar com o braço todo ensanguentado, não tive tempo para tirar a maquiagem antes que Edward me arrastasse para longe da bagunça que virou o set, então eu provavelmente estava parecendo um fantasma. E Charlie teve um surto.

— Bells? O que aconteceu? – ele perguntou, se levantando tão rápido da poltrona onde fazia uma palavra-cruzada que pensei que ele ia cair.

— Nada demais, pai. Um pequeno acidente nas filmagens, mas eu estou bem. – falei calmamente, dando de ombros como se eu quase não tivesse sido morta apenas alguns minutos atrás.

— Você está sangrando! – ele apontou para o meu braço e eu estremeci, tentando ignorar aquele cheiro insuportável que emanava de mim.

— Ugh, não me lembre disso se não me quiser ver desmaiada. – murmurei, fazendo uma cara de nojo.

— Isabella. O que aconteceu? – insistiu e eu suspirei.

Eu sabia que não adiantava esconder os acontecimentos da noite dele por muito tempo, afinal, Carlisle e Edward com certeza iriam querer discutir a segurança do set no dia seguinte. Mas eu queria passar ao menos algumas horas sem pensar que tinha alguém tentando me matar.

— Alguém substituiu balas falsas por balas verdadeiras. – escutei uma voz atrás de mim falar e suspirei pesadamente. Edward, é claro.

E lá se vai minha noite de paz.

O quê? E você achou mesmo que ia esconder isso de você? – Charlie praticamente rosnou, sua feição um misto de irritação e preocupação que eu nunca havia visto antes.

— Pai. Eu tenho certeza que vamos ter muito o que conversar sobre isso. Mas eu estou cansada. Só quero dormir. Por que o senhor não vai para a sua suíte descansar? Amanhã o dia vai ser cansativo. – suspirei cansadamente, tentando apelar para o seu lado racional.

— Você está completamente louca se acha que eu vou te deixar sozinha. – retrucou e eu revirei os olhos.

Será que ele tinha esquecido que Edward estava aqui justamente para isso? Não me deixar sozinha?

— Eu não estou sozinha. Edward está aqui. – apontei com a cabeça para o ruivo que olhava atentamente em nossa direção.

De repente meu pai me puxou pelo braço até um canto da suíte afastado de Edward. Mas que merda?

— Meu braço! – reclamei, um choque de dor passando por todo o meu corpo.

— Desculpe, querida. Mas…

— O quê?

— Você não acha estranho que, no meio da crise do coração, Carlisle e Esme tenham surgido com essa história de segurança particular em questão de segundos? E se eles tiverem organizado tudo?

Encarei meu pai sem saber o que falar. Da onde aquilo estava surgindo?

— Só pra colocar Edward como meu segurança? Pelo amor de Deus, isso é absurdo. E eles nunca fariam isso, você sabe disso. Eles são as pessoas mais bondosas que eu já trabalhei. Eles poderiam ter me demitido e se livrado desse drama há muito tempo.

— Bom, você e Edward tem uma história conturbada – coçou a cabeça, parecendo envergonhado.

— Pai, a gente se provoca o tempo inteiro, mas acho que assassinato já é demais. Além do mais, eu poderia dizer que você está fazendo isso só para eu não fazer um filme de vampiros! – provoquei, erguendo uma sobrancelha em sua direção.

— Não seja ridícula, Bells. – esbravejou, seu rosto ficando vermelho, e eu sorri levemente.

— Então vamos parar com as teorias da conspiração? Eu realmente estou cansada. Só quero tomar um banho e dormir, pai. Amanhã a gente se fala? – perguntei suavemente, apertando seu ombro gentilmente.

— Você tem certeza que Edward é de confiança?

Se ele me fizesse essa pergunta há um mês atrás, eu riria na sua cara. Hoje, eu simplesmente olhei de volta para meu querido segurança particular, que fingia estar ocupado com o jornal em sua frente para nos dar um pouco de privacidade, e acenei.

— Tenho. – E era verdade. Eu não confiava em mais ninguém no mundo para me proteger.

— Ok. Eu confio em você. Vê se fica longe de encrenca, hein? E faça um curativo nesse braço. Até amanhã, querida.

— Até, pai.

Suspirei pesadamente assim que meu pai saiu de minha suíte. Estava me sentindo cansada, confusa, amedrontada e, ainda por cima, suja. O sangue seco estava grudando em minha pele de um jeito incômodo, a maquiagem estava começando a derreter e me irritar, e subitamente eu estava brava.

Brava porque eu nunca tinha feito nada de mal para ninguém e, mesmo assim, alguém estava tentando me matar.

Foi com esse pico de energia que só o ódio é capaz de nos proporcionar que eu praticamente marchei em direção ao banho, esfregando o meu corpo até ele ficar vermelho, até todo o sangue e maquiagem se misturar a água e ir embora pelo ralo.

Estava tão irritada que nem senti a ardência constante em meu ombro enquanto me enxugava, vestia meu pijama e voltava à sala para me servir de um copo generoso de whisky.

— A senhorita está estranhamente quieta desde que seu pai foi embora, Swan. Está tudo bem? – Edward perguntou, me observando atentamente, como se soubesse que eu estava surtando.

Ignorei a sua pergunta, bebendo a dose em uma só golada, o líquido queimando em minha garganta. Descartei o copo - ele não seria o suficiente - e decidi beber direto da garrafa.

— Seu braço precisa de um curativo. Quer um remédio para dor? – insistiu e eu revirei os olhos enquanto ele me alcançava em poucos passos e praticamente me forçava a sentar no sofá, um kit de primeiros socorros ao seu lado.

— Uma infecção é o menor dos meus problemas, Cullen. Tem alguém tentando me matar e eu tenho quase certeza que seus tios estão prestes a me tirar desse filme. Problemas demais. – resmunguei, mordendo meu lábio para impedir que um gemido de dor escapasse quando ele passou o antisséptico em meu braço.

— Meus tios jamais fariam isso, Swan. – respondeu em um sussurro, compenetrado no que estava fazendo. — Além disso, você deveria estar mais preocupada em sair viva dessa do que com o seu trabalho. Outros virão, acredite.

Revirei os olhos, toda a raiva que eu pretendia amenizar com o whisky voltando com tudo.

— Eu não tenho medo da morte, mas sim de viver uma vida insignificante. – era mentira, é claro, mas ele não precisava saber. — E esse não é só um trabalho pra mim, é muito mais do que isso. Essa é a minha chance de marcar meu nome na história com uma performance diferente de tudo que eu já fiz e em um filme que realmente significa algo para mim. – continuei, então revirei os olhos e continuei em um tom amargurado: — Mas você não entenderia isso, né? Eu sou só uma fã stalker para você, afinal de contas.

— Pelo amor de Deus, eu já falei que foi um mal entendido. Quantas vezes mais posso me desculpar? – grunhiu, apertando a atadura em meu braço com mais força do que o necessário.

Eu estava sendo injusta. Eu sabia disso. Eu sabia que a minha raiva e minhas palavras amarguradas não eram direcionadas à ele, e sim ao ser infeliz que estava tentando me matar. Mas era ele quem lá comigo, então ele que estava recebendo toda a minha ira.

— Terminou o curativo? – perguntei secamente.

Ao invés de me responder, Edward simplesmente levantou os braços em sinal de rendição e eu saltei do sofá, levando a garrafa de whisky aos meus lábios e bebendo o máximo que eu pude antes de começar a tossir.

Em poucos minutos eu sentia meu corpo mais leve e minha mente mais calma. A bebida estava fazendo efeito.

Aliviada, decidi ligar o rádio que eu não havia encostado as mãos desde que aquela suíte de hotel havia se transformado em minha casa. Um som animado começou a tocar, fazendo eu mexer meu corpo em sintonia com as batidas - ou pelo menos tentando -, os olhos fechados enquanto eu sentia todas as preocupações do mundo escaparem de minha mente.

De repente sinto que estou sendo observada e, abrindo os olhos, encontro duas pedras verdes me olhando como se estivesse segurando o riso.

— Não precisa ficar aqui comigo, Cullen. Se alguém chegar para tentar me matar, eu grito.

— Eu sou pago para te proteger… e aparentemente preciso te proteger de você mesma, caso contrário você vai acabar caindo e quebrando o próprio pescoço. – retrucou e eu segurei a vontade de revirar os olhos em sua direção pela milésima vez na minha existência.

— O que isso significa?

— Que você é mais desastrada do que eu poderia imaginar. E bebe muito mais do que aceitável para uma dama respeitável.

Ri, balançando os meus quadris e assistindo enquanto seu olhar passeava pelo meu corpo. Homens… tão previsíveis!

— Oh, querido. No meio artístico, nós, damas, aprendemos a nos desapegar desses padrões tão limitadores. Você deveria tentar qualquer dia desses. – respondi, bebendo os últimos goles de whisky, esvaziando a garrafa.

— Nem quero pensar no que mais vocês aprendem. – sussurrou, seus olhos presos em meus lábios.

— É melhor não pensar, mesmo. Você não aguentaria o tranco. – dei um sorriso provocador em sua direção e, quando fui colocar a garrafa de volta em seu lugar, tropecei em meus próprios pés.

Estava preparada para cair de bunda no chão quando senti um par de braços fortes me segurando pela cintura. Respirei fundo, tentando acalmar meu coração, meus olhos presos em seu rosto preocupado.

— Eu fiquei a noite inteira olhando para você. – falei antes que pudesse me segurar, assistindo seu olhar se tornando nebuloso.

— Não entendi. Você mal olhou para mim desde que voltamos do estúdio – sussurrou, linhas de confusão aparecendo entre suas sobrancelhas.

— Não hoje, na noite em que você praticamente me chutou da festa dos Denali. Eu fiquei o tempo olhando para você. Aquela era a minha primeira festa importante e eu fiquei encantada por você. – ri ironicamente, relembrando a minha inocência.

— Eu… Eu não tinha ideia. Eu achei que você estava olhando para o Garrett.

— Garrett? Ele é um amor de pessoa, mas deve ter uns 50 anos! – praticamente uivei, ultrajada com a sua suposição, me desvencilhando de seus braços mais rápido do que minha coordenação motora embriagada poderia lidar.

Seus braços se apertaram ao redor de minha cintura, meu corpo colado ao seu peito. Por um momento grudei meus olhos em seus lábios e imaginei como seria beijá-lo. Mas aí ele começou a sorrir pretensiosamente e o feitiço foi quebrado.

— Tira esse sorriso estúpido da sua cara sebosa, Cullen! E vê se esquece tudo que eu te falei. Eu estou bêbada e traumatizada. Estou delirando! – falei irritada, dando tapas em seu peito até que ele me soltasse, e eu me afastei dele como se ele fosse o Diabo em pessoa.

E talvez fosse, mesmo.

— Quer saber? Eu acho que as damas realmente deveriam beber mais. – seu sorriso se tornou ainda maior. Se fosse humanamente possível, provavelmente estaria saindo fumaça de minha cabeça naquele momento.

— Vai se foder! – gritei enquanto andava tropegamente em direção ao meu quarto.

— Boa noite, senhorita Swan. – escutei o imbecil responder assim que bati a porta do meu quarto com toda a minha força.

Parte 5

Uma semana.

Uma semana se passou desde o incidente que só não foi pior graças à péssima pontaria de Emmett, e eu ainda não tinha voltado a trabalhar.

Isso não havia sido minha escolha, claro: a segurança estava sendo reforçada em todas as partes do estúdio, os processos de filmagem e manuseio de equipamentos estavam sendo revisados, e todos os funcionários estavam sendo investigados e interrogados.

Eu só poderia imaginar o gasto que o estúdio estava tendo. Se continuasse nesse ritmo, nem mesmo a melhor bilheteria possível seria capaz de cobrir os prejuízos. E era tudo culpa minha.

Mesmo assim, no fundo eu estava agradecendo pelo atraso. Depois de tudo que aconteceu, não sabia se minha atuação seria das melhores, e eu não queria decepcionar os Cullens.

Grunhindo de frustração, levantei da cama, indo em direção à sala pronta para pedir mais um café da manhã que ficaria praticamente intocado - minha ansiedade estava deixando meu estômago embrulhado a maior parte do tempo - mas parei quando escutei três vozes masculinas muito conhecidas falando em um tom sussurrado e nervoso.

— A segurança em todo o set foi reforçada. Você acha que é uma boa ideia retomar as filmagens? – Carlisle perguntou e é nesse momento que eu decido ficar escondida atrás da parede.

Sabia que, se eu saísse de lá, a conversa simplesmente pararia e eles retomariam quando eu não estivesse escutando. Mas eu não só queria como eu precisava ficar por dentro de tudo que estava acontecendo. Eu não precisava de mais dúvidas, medos e ansiedades na minha mente.

— Não sei… – Edward começou a falar mas logo foi interrompido por meu pai:

— Como não sabe? Nós te contratamos para analisar esse tipo de situação! – grunhiu nervoso e eu revirei os olhos. E ele tinha coragem de falar eu era a dramática da família.

— Eu não acredito que seja um mero fã obcecado que esteja atrás da senhorita Swan. – o Cullen continuou, sem ser afetado pela explosão de Charlie. — Um simples stalker não teria acesso ao set, não conheceria o script, não saberia que Emmett tem uma péssima pontaria, não teria conhecimento de que aquela cena seria filmada naquele dia para trocar as balas… – sua voz diminuiu no final, indicando que a lista era maior do que poderíamos imaginar.

Um silêncio se estabeleceu, os três homens analisando o fato. Estava quase saindo de meu esconderijo quando Carlisle perguntou:

— Você acha que pode ser um funcionário?

— Não exatamente um funcionário… – Edward afirmou com certeza, a sua voz pensativa, analisando as possibilidades. — Alguém que tenha dinheiro o suficiente e influência o suficiente para subornar um funcionário é mais provável. Isso piora as coisas: qualquer pessoa pode ser uma ameaça.

— Quem passaria por todo esse trabalho para matar a Bella? Minha filha nunca fez mal a ninguém!

— As pessoas em Hollywood são estranhas, Charlie, mas nós não vamos deixar nada acontecer a Bella, eu prometo. Vamos selecionar apenas os funcionários de confiança para trabalhar com sua filha, e Edward não vai sair de seu lado. – Carlisle tentou o tranquilizar.

Quase podia imaginar a cena: suas mãos pálidas no ombro de meu pai que, desacostumado com qualquer tipo de afeto humano que não partisse de mim, se encolheu com o toque.

— Não é só questão de segurança. Eu… Eu não sei se Bella está preparada psicologicamente para voltar ao set. – Edward falou e foi nesse momento que eu decidi interromper a conversa.

Teorizar sobre as ameças que eu vinha recebendo sem a minha presença já era ruim o suficiente, mas falar sobre o meu estado mental pelas minhas costas já era demais.

— Bom saber que vocês três estão discutindo e tomando decisões sobre a minha vida, literalmente, sem a minha presença. – praticamente rosnei ao entrar na sala, observando dois pares de olhos assustados me encarando.

Edward continuava estranhamente calmo, como se soubesse que eu estava lá o tempo todo.

— Bella, querida… – meu pai foi o primeiro a falar, estendendo seus braços em minha direção em uma tentativa de me acalmar.

— Pai, eu te amo, mas não me venha com "Bella, querida". Eu já estou lidando com problemas o suficiente na minha vida para ter que ficar pensando se as únicas três pessoas que eu confio no momento estão escondendo coisas de mim!

Pelos menos eles tiveram a decência de parecerem envergonhados.

— A senhorita Swan está certa. – Edward falou calmamente e meu pai se virou em sua direção tão rápido que pensei que tinha quebrado o pescoço.

— Você não pode estar falando sério! – grunhiu, claramente repensando todas as decisões de sua vida, principalmente a contratação de meu querido segurança particular.

— Ela não só deve participar dessas discussões como pode nos trazer mais informações. Diga, senhorita: você tem algum tipo de altercação com alguém? – perguntou, seus olhos grudados em mim.

— Só com você. – retruquei, cruzando meus braços em frente ao meu corpo.

— Bella, isso é sério! – Charlie ralhou comigo e eu revirei os olhos. Eu não tinha escutado aquilo do homem que pretendia esconder toda a situação de mim, né?

— Há cinco segundos o senhor nem queria que eu participasse da conversa! – relembrei e seu rosto ficou tão vermelho que parecia que ia explodir.

— Mas já que está participando, lide com seriedade!

— Os Volturi não gostaram que Jane não foi escolhida para o papel… Mas isso me parece um pouco demais até mesmo para eles. – Carlisle interrompeu a pequena briga familiar.

— Nenhum cuidado é pouco. Vou pedir para alguns de meus contatos ficarem de olho neles. – Edward falou, não perdendo tempo em pegar um bloco de notas e começar a rabiscar o que quer que fosse que seguranças particulares rabiscassem.

— Ótimo. Enquanto isso, Carlisle, escutei o senhor falando que está tudo preparado para a volta das filmagens. Quando podemos retomar meu trabalho? Eu estou livre o tempo todo.

Eles se encaram, o diretor claramente se perguntando o que fazer após a fala de Edward sobre o meu estado mental. Mordi o interior de minha boca, me forçando a sorrir calmamente e não demonstrar o quão assustada e despreparada para voltar ao set eu estava.

— Quando a senhorita quiser. Tem certeza de que está pronta para voltar ao set? – perguntou, um tom de dúvida em sua voz.

— Absoluta. Nos vemos em algumas horas, então. – falei, virando as costas e voltando para o meu quarto, fazendo questão de esbarrar meu ombro em Edward no caminho.

Assim que eu pisei meu pé no set percebi que havia cometido um erro maior do que eu tinha pensado.

As pessoas sorridentes e animadas, que um dia foram parte do motivo de eu gostar tanto de trabalhar no mundo cinematográfico, agora me assustavam. Eu só conseguia me lembrar das palavras de Edward: "Qualquer um pode ser uma ameaça". Estremeci com o pensamento.

Todos os anos de prática, me acostumando a ter todos os olhos voltados para mim durante as filmagens, foram por água abaixo. Eu estava me sentindo perseguida, com mil olhos ao meu redor, me assistindo, me analisando, esperando pelo momento certo para me matar.

Estava tão perdida em pensamentos que mal escutei Edward falar:

— Nós podemos voltar se a senhorita quiser. Não precisa fazer isso hoje – ele sussurrou.

Minha boca estava seca, meu coração acelerado e minhas mãos grudentas e suadas. Mas eu não poderia desistir. Se eles me tirassem o meu trabalho, eles tirariam a minha vida. Eles me matariam. Eles venceriam.

— Bella. – falou suavemente, uma de suas mãos em meu ombro, me acordando de meu transe.

— Eu estou bem. – respondi em uma voz fraca, que não convenceu nem a mim mesma. — Eu estou bem. – repeti, dessa vez mais firme. — Só… Só fica por perto. Onde eu possa te ver. Por favor? – pedi, e ele acenou.

Revirei na cama, sem conseguir dormir, repassando o dia na minha cabeça. As gravações não foram um total desastre, mas eu definitivamente não estava em minha melhor forma.

Além de confundir falas, estava assustada demais: todo barulho ou movimento estranho era o suficiente para me distrair e me fazer procurar Edward pelo estúdio, seu olhar me acalmando ao mesmo tempo em que me fazia me sentir uma idiota.

As poucas cenas em que eu consegui gravar, senti que estavam horríveis. Continuei passando-as na minha mente, pensando em milhares de formas que poderia ter feito diferente, melhor. Grunhi, virando na cama mais uma vez. Teria que pedir à Carlisle para refilmá-las.

Estava pensando em como faria isso - mais uns milhares de dólares que iriam pelo ralo - quando escutei uma melodia suave vindo da sala. Levantei lentamente, andando devagar e me deparando com uma visão que eu nunca imaginaria em um milhão de anos: Edward, somente com uma calça de flanela, tocando piano.

Fiquei assistindo-o por alguns minutos, encantada com a forma que seus dedos passeavam pelas teclas com habilidade, como se ele nem precisasse pensar no que estava fazendo. Seu cabelo estava mais bagunçado do que o usual, lhe dando um ar mais jovial e menos irritante, e sua boca formava um bico adorável, demonstrando sua atenção.

De repente ele olhou em minha direção.

— Senhorita Swan. Perdão, eu… Eu te acordei? – perguntou, parecendo culpado.

Acenei negativamente, me encostando na parede enquanto tentava encontrar a voz para respondê-lo. Eu estava literalmente o assistindo sem a sua permissão. Aquilo era um pouco medonho, não? Ele deveria estar pensando que eu sou uma surtada.

— Não. Não se preocupe com isso. É difícil dormir quando sei que tem alguém querendo a minha morte e eu nem ao menos consigo pensar em um bom motivo para isso.

— E existe bom motivo para querer a morte de alguém? – perguntou, suas sobrancelhas se levantando em uma expressão engraçada.

— Se Carlisle quisesse me matar por estar fazendo esse filme ser um desastre eu não o culparia. – tentei sorrir com a minha piada, mas tenho certeza que meu rosto se contorceu em uma careta pela sua reação.

— A senhorita não está fazendo o filme ser um desastre. Meu tio está muito contente com o que foi filmado até agora. – falou suavemente, seus olhos grudados nos meus.

— Eu só sinto que estou desperdiçando o tempo e o dinheiro de todos. Inclusive de Carlisle e Esme. – desabafei, baixando o olhar e brincando com a renda de minha camisola, me sentindo subitamente envergonhada.

— Eles não se sentem assim. Eles estão preocupados, mas não com dinheiro ou prazos, e sim com a senhorita.

— Eu deveria ser mais forte… Eu quase não consegui entrar no estúdio hoje, Edward.

— Você é orgulhosa demais, Bella. Ninguém nem sabe como você não surtou até agora, com toda essa pressão. Você é humana. Não precisa, e nem deve, ser forte o tempo todo. Além do mais, é para isso que eu estou aqui: para ser forte por você, para te proteger e garantir que tudo vai ficar bem.

Voltei meus olhos em sua direção e eles me transmitiam tanta sinceridade, carinho e conforto que não conseguia imaginar uma boa razão para um dia tê-lo odiado tanto.

Orgulho ferido realmente é uma desgraça.

— Desculpa. – falei e seu olhar se tornou confuso. — Eu sei que não estou sendo uma pessoa fácil de lidar. E você… Você está se saindo muito melhor do que eu imaginava, Edward. Melhor do que eu lidaria com um pentelho igual eu. Então desculpa por tudo. E obrigada. Por tudo também.

— Não se preocupe. Eu já lidei com pentelhos muito mais feios e menos interessantes. – ele respondeu, me fazendo rir suavemente.

Olhei para o piano e para ele novamente, ainda chocada com aquela visão.

— Eu não sabia que você tocava.

Me senti estúpida assim que a frase saiu da minha boca. Eu não sabia nada sobre ele. É claro que eu não sabia que ele tocava. Mas ao invés de fazer um comentário irônico, ele simplesmente me respondeu:

— Minha mãe me ensinou.

Um sorriso carinhoso estava em seus lábios, um olhar saudoso em suas íris verdes. Então ele era um filhinho de mamãe.

Sorri com esse pensamento. Era algo simples, mas era algo que eu estava aprendendo sobre ele. E eu descobri, naquele momento, que queria aprender tudo possível sobre o único homem que estava sendo capaz de fazer eu me sentir segura.

— Você toca muito bem. – elogiei, sentindo minhas bochechas esquentarem.

— Gostaria de escutar mais? – ofereceu, e eu tentei desacelerar as batidas de meu coração, que se tornaram insanas naquele momento, antes de responder.

— Se não for um incômodo… – dei de ombros, como se não me importasse com a sua resposta, mas por dentro estava rezando para ele não se opor à ideia.

— Sente-se aqui. Não precisa ficar em pé. – ele ofereceu, movendo-se no banco e abrindo espaço para mim ao seu lado.

Andei hesitante, pensando se aquilo realmente era uma boa ideia. Mas um olhar em sua direção apagou todas as dúvidas de minha mente.

Assim que eu me sentei ele voltou a tocar, uma melodia nova, que eu nunca havia escutado antes enchendo os meus ouvidos, o meu coração, o meu corpo e a minha mente com uma calma que eu nunca havia sentido antes.

Não sei quanto tempo ficamos ali. Só sei que, em determinado momento, encostei minha cabeça em seus ombros, sentindo o seu aroma masculino e delicioso invadindo as minhas narinas enquanto eu fechava os olhos e sentia meu corpo finalmente se rendendo ao sono.

— Vai ficar tudo bem, Bella. Eu prometo. – Edward falou, beijando minha testa suavemente antes de continuar tocando o piano.

E pela primeira vez em muito tempo eu dormi em paz.

Parte 6

Eu não tinha a menor ideia em qual momento da noite Edward tinha me carregado até o meu quarto, mas ao invés de acordar com dor no pescoço por ter dormido encostada em seu ombro, despertei em meio a um mar de travesseiros, meu corpo cuidadosamente coberto com o lençol.

Não conseguia me recordar da última vez que acordei tão descansada, mas eu me sentia renovada.

Levantei com um sorriso no rosto, tomando um banho rápido enquanto esperava o café da manhã chegar. Me vesti rapidamente e cheguei na sala da suíte no mesmo momento em que Edward recebia a nossa comida.

Fiquei parada, hipnotizada. Edward sempre acordava antes de mim e, por isso, eu só o via quando ele estava pronto. Mas o cansaço provavelmente tinha batido e ele dormiu mais tempo, o que me proporcionou uma visão adorável: seu cabelo desgrenhado caindo em seus olhos, semicerrados e inchados de sono.

Assim como na noite anterior, ele continuava vestindo somente uma calça de moletom, e eu me vi me perguntando como seria colar o meu corpo ao seu, sentir a sua pele quente contra a minha, passar as minhas mãos pelo seu cabelo e minha unha sobre seus músculos… Uma tosse me tirou de meus devaneios.

Ergui os olhos, encontrando Edward me encarando com um sorriso sacana em seus lábios enquanto ele carregava o carrinho com nossa refeição em minha direção.

— Hã… Bom dia – falei calmamente mas minhas bochechas com certeza estavam me traindo. Elas estavam queimando tanto que deveriam estar praticamente roxas.

— Bom dia, senhorita. Acordou cedo hoje? – perguntou enquanto se sentava na mesa.

Que inferno! Ele não ia colocar uma blusa não? Aquela visão estava me deixando desconcertada, sem palavras e lerda.

— Você quem acordou tarde, na verdade – respondi, finalmente encontrando a minha voz e fazendo minhas pernas funcionarem.

Andei em direção a mesa, sentando-me lentamente e servindo um pouco de café em minha xícara.

— Peço perdão por isso, senhorita – respondeu com um olhar genuinamente culpado e eu me segurei para não revirar os olhos.

Ele sempre tinha sido adorável assim?

— Não se preocupe. Se eu soubesse que a visão que eu teria seria essa, teria acordado mais cedo mais vezes – brinquei, finalmente me sentindo mais como eu mesma com um pouco de cafeína no meu organismo.

Infelizmente, não pude prosseguir com o meu flerte: ao abrir a bandeja que deveria conter ovos mexidos e torradas, me deparei com flores podres. Inalei um ar tão sujo e carregado que tive que colocar as mãos em minha boca para impedir que o café que eu havia acabado de tomar voltasse.

Ao perceber a mudança em minha expressão, Edward levantou rapidamente, contornando a mesa e se posicionando ao meu lado protetoramente, suas mãos em meus ombros, me acariciando levemente, tentando me acalmar.

— Que merda é essa? – sussurrou enojado, aproximando seu rosto do conteúdo e fazendo uma careta quando inalou o cheiro podre que as flores exalavam.

— Parece… Parece que tem um bilhete. – com um lampejo de coragem, peguei uma faca e comecei a remexer as flores. Gemi com o cheiro que começou a subir, mas não desisti até encontrar o que eu procurava.

— "Vamos resolver isso na Volturi Annual Gala?" – Edward leu o conteúdo do bilhete e eu pude perceber os neurônios trabalhando em seu cérebro pelo semblante pensativo que tomou conta de seu rosto.

— Volturi... Ontem Carlisle falou algo sobre eles não terem gostado que eu fui escolhida para o papel, certo? – perguntei, repassando a conversa que os três estavam tendo sem mim na minha cabeça.

— Sim… Aparentemente nem mesmo assassinato é demais para eles… – respondeu, um tom raivoso assumindo as suas palavras.

— Como assim? – perguntei, confusa.

— Eu já ouvi histórias estranhas sobre eles, mas pensei que fossem somente essas coisas bizarras que gente rica faz… Aparentemente o buraco é bem mais embaixo do que eu imaginei.

Ótimo. Aparentemente eu tinha irritado uma família de psicopatas.

— Isso é praticamente uma confissão, certo? Eles devem ter percebido que nós estávamos suspeitando deles. Não podemos levar isso na polícia?

— Não é o suficiente… – Edward suspirou, se afastando da mesa mas mantendo suas mãos em meus ombros. — Eles têm influência, Bella. Eles conseguiram se infiltrar no set e agora aqui. Ao que tudo indica, eles podem muito bem ter poder entre os policiais e investigadores também.

— Então o que a gente vai fazer?

Eu estava tentando não entrar em pânico, mas se não poderíamos contar com a polícia, como eu iria sair daquela viva?

— Eu tenho um plano… mas seu pai não vai gostar. – avisou e eu simplesmente balancei a cabeça.

— Eu lido com ele. – respondi, fazendo-o levantar uma sobrancelha em minha direção.

— O plano é arriscado. – reforçou.

E então, olhando diretamente em seus olhos, eu falei algo que nunca imaginaria que sairia de minha boca:

— Eu confio em você, Edward.

Não foi fácil convencer Charlie a aprovar o plano, mas não era a vida dele que estava sendo ameaçada. Por isso, eu tive a palavra final e ele simplesmente teve que aceitar.

Porém, parada no red carpet enquanto os fotógrafos me cegavam com seus flashes e me ensurdeciam com os seus gritos, eu comecei a ficar mais nervosa do que eu pensei que ficaria. O plano era arriscado e, sinceramente, cheio de falhas. Mas era o único que tínhamos e aquela era a única noite em que poderíamos atacar os Volturi em sua própria casa, então teríamos que fazer funcionar.

Basicamente, eu seria a isca.

Edward conseguiu convencer um de seus contatos a me esgueirar para o palco, onde eu daria uma breve demonstração da música original que faria parte de Vida e Morte. Se tudo desse certo, os Volturi ficariam com tanta raiva que tentariam me atacar na frente de todo mundo.

O Cullen já havia entrado em contato com alguns policiais que eram de confiança, e eles estariam de tocaia na parte de fora da festa, esperando por qualquer movimentação estranha para entrarem em ação.

Como eu disse, era arriscado. E nada sólido: dependíamos puramente de sorte. Tentaríamos surpreendê-los antes que eles me atacassem, mas não tínhamos garantia nenhuma que seríamos capazes de fazer aquilo e que, mesmo se conseguíssemos, obteríamos a reação que estávamos esperando.

Mesmo com todas essas incertezas, tudo estava ficando mais real a cada passo que eu dava em direção a entrada da mansão.

Estava nervosa, mas mantive meu sorriso perfeitamente treinado e aperfeiçoado ao longo dos anos no rosto e fiz algumas poses solicitadas pelos fotógrafos.

Assim que saí do campo de visão deles o sorriso que estava praticamente plastificado em meu rosto caiu.

— Você está bem? – Edward perguntou assim que me alcançou.

Eu acenei positivamente mas logo neguei com a cabeça.

— Eu estou me sentindo uma palhaça… Uma palhaça burra, que está entrando em território inimigo por livre e espontânea vontade. – falei nervosamente enquanto colocava minhas mãos em seu braço e ele me guiava porta adentro.

— Nós temos um plano, senhorita. – relembrou.

— Eu sei, mas… Eu não sei se consigo fazer isso, Edward. Eu achei que conseguia mas agora não tenho tanta certeza… – mordi meus lábios.

Não era fácil admitir aquilo, mas um milésimo de segundo poderia acabar com a minha vida. Aquela noite não tinha espaço para erros. Consequentemente, também não tinha espaço para o meu orgulho.

— Sabe, Bella… Apesar do que você pensa, eu gostei de você desde o começo. Não é todo dia que uma atriz taca um sapato na minha cabeça só porque eu a confundi com uma groupie. – ele riu com a lembrança. — Você é forte. Você pode fazer isso! – falou suavemente, sua mão em meu queixo, mantendo meu olhar fixo no seu enquanto ele acariciava minha pele suavemente com seu dedão. — E eu vou estar aqui o tempo todo. Eu não vou tirar meus olhos de você, eu prometo. Nem se eu pudesse eu acho que conseguiria… Você está deslumbrante.

— Certo. Eu posso fazer isso. – respirei fundo e, para tentar quebrar a tensão, completei com uma piscadela: — E se você acha que eu estou deslumbrante com esse vestido, é porque você não me viu sem ele.

— Essa é a Swan que eu conheço. – ele sorriu enquanto voltava a me conduzir pelo salão onde meu pai e seu tio já nos aguardavam.

É hora do show.

Com meus olhos grudados em Edward, comecei a cantar. E diferente do que eu imaginava, comecei a me sentir mais calma.

Eu estava em um território conhecido, fazendo algo que eu amava e divulgando um trabalho que eu realmente acreditava. Se tudo desse errado, pelo menos eu realmente morreria como uma heroína, e não como uma covarde.

Além disso, as palavras de Edward me deram força. Ele me disse que sempre gostou de mim; eu precisava confrontá-lo sobre aquilo, certo? Não poderia morrer antes disso.

Diferente do que eu imaginei, minha performance não foi interrompida em nenhum momento. Talvez os Volturi não fossem a origem de minha ameaça, talvez eles fossem mais contidos do que eu imaginava. Seja o que for, nada aconteceu.

Eu terminei de cantar e abri meus olhos, sorrindo verdadeiramente enquanto assistia aquele mar de pessoas me aplaudindo. E eu não estava feliz porque eles estavam apreciando o meu talento, mas sim porque eu podia perceber, pelas expressões em seu rosto, que eles estavam totalmente capturados pela música e curiosos para assistir ao filme. Não por todo o drama envolvendo o filme, mas pela magia que só uma verdadeira obra de arte poderia proporcionar para as pessoas.

Meus olhos pararam em Edward, que sorria orgulhosamente para mim. Eu estava tão concentrada nele que mal percebi uma movimentação estranha e um barulho ainda mais bizarro.

Jane, a caçula dos Volturi, gritava enquanto corria com uma faca na mão. E ela vinha diretamente em minha direção.

Parte 7

Tudo aconteceu tão rápido que foi difícil de acompanhar.

Em um momento eu estava me deleitando no olhar orgulhoso de Edward; no outro, encarava assustada a explosão de Jane; e, então, assistia com horror quando meu querido segurança particular entrava na frente da jovem enraivecida.

— Edward! – gritei.

Indo contra todos os meus instintos de sobrevivência, que me diziam para sair correndo daquele local, avancei em direção à bagunça. Eu não poderia simplesmente fugir. Precisava saber se Edward estava bem.

— Edward! – gritei novamente, mas eu mal conseguia escutar a minha própria voz em meio ao pandemônio que aquela festa havia se tornado.

Eu estava sendo empurrada, nadando contra a maré de pessoas amedrontadas, mas não desisti nem ao menos quando escutei Aro arrastando sua filha praticamente pelos cabelos.

— Estava tudo organizado, menina estúpida. Isabella Swan ia morrer hoje, mas você estragou tudo! – ele praticamente rosnava, alheio ao fato de que a polícia já estava no local e correndo em sua direção.

Ignorei aquela movimentação quando avistei cabelos cor de bronze bem na minha frente.

— Edward! – arfei quando finalmente o alcancei. Ajoelhei ao seu lado, tentando perceber se ele havia sido atingido pela ira de Jane. — Edward, você está bem? – perguntei, minhas mãos em seu rosto. Senti que elas ficaram molhadas e foi nesse momento que percebi o corte em sua bochecha. — Você está sangrando!

Mas Edward não estava prestando atenção em mim. Ele estava olhando para os policiais que ele havia contatado, que ignoravam os protestos de Aro e Jane e os escoltavam para fora da festa, seus braços algemados.

— Você está segura agora, Bella. Eu não poderia estar melhor – ele finalmente me responde, seus olhos voltando-se para mim no mesmo momento em que ele me puxava para perto dele e grudava sua boca em minha.

Por um momento eu esqueci onde eu estava e o que estava acontecendo. Simplesmente foquei no que realmente importava: seus lábios macios se movimentando suavemente sobre os meus, sua língua com gosto de champagne passeando suavemente pelo contorno de minha boca.

Eu estava prestes a puxá-lo para ainda mais perto de mim e exigir que ele usasse sua língua de forma mais intensa quando escutei o barulho inconfundível de flashes.

Relutantemente me separei de Edward, olhando ao redor e percebendo que vários paparazzis haviam invadido a mansão e estavam tirando foto de tudo que podiam encontrar. Inclusive de mim e Edward, ajoelhados no meio do salão, nos beijando como se estivéssemos sozinhos.

— Merda – xinguei, tentando cobrir meu rosto com minha bolsa.

— Quer fugir daqui? – Edward perguntou, parecendo totalmente inabalado pela bagunça que havia se estabelecido.

— Não quero nada mais do que isso, mas precisamos encontrar meu pai e seu tio. – respondi, levantando e tentando encontrá-los em meio ao mar de pessoas que haviam entrado subitamente na mansão.

— Bella. Se você quiser fugir, é só falar que eu dou um jeito. – repetiu, sério, e eu só podia pensar em como meu nome soava tão tentador em seus lábios.

— E a polícia? – perguntei fracamente, sabendo muito bem que nada importava para mim naquele momento a não ser estar com Edward.

— Podemos lidar com tudo isso depois. – falou simplesmente e eu senti meus lábios se moverem antes mesmo de meu cérebro processar minhas próximas palavras:

— Vamos sair daqui então.

Não foi tão difícil assim sair despercebido. Os policiais estavam ocupados com os Volturi e analisando a faca que Jane portava; os paparazzi já haviam encontrado outro furo para cobrir; e meu pai e Carlisle não estavam em nenhum ponto próximo de nós.

Foi assim que conseguimos sair correndo sem ser interrompidos por ninguém. O problema é que, na rua, percebemos que não havíamos um carro para fugir.

— E aquele? – perguntei, apontando para o primeiro automóvel que vi à minha frente.

— Por favor, Bella. Como se fôssemos fugir naquela carroça. – respondeu com um revirar de olhos divertido.

— Nossa, quem é a estrela mimada agora? – retruquei, fingindo estar irritada embora o sorriso que insistia em ficar em meu rosto desmentisse todas as minhas palavras.

— Esse carro não vai chegar nem na metade do caminho. – explicou, pegando minha mão e me guiando em direção a outro carro. — Esse aqui, em contrapartida…

— Edward! Esse carro custa uma fortuna! – ri nervosamente enquanto ele abria a porta para mim com um olhar travesso.

— Nós vamos devolver amanhã. – disse simplesmente e foi o suficiente para me convencer.

Logo estávamos correndo pelas ruas de Los Angeles, o ar fresco batendo em meu rosto e destruindo o meu penteado, fazendo com que meus cachos flutuassem ao meu redor.

Edward parou o carro no estacionamento de um hotel qualquer quando decidiu que estávamos longe o suficiente da mansão Volturi e se virou para me olhar, um sorriso divertido em seu rosto enquanto ele me ajudava a desgrudar os fios de cabelo de minha boca. Ele estava se inclinando cada vez mais perto de mim e estava prestes a me beijar quando o manobrista nos interrompeu.

Pedimos um quarto e subimos em silêncio. Ele parecia nervoso pela primeira vez desde que o conheci. Entramos em nossa suíte e, enquanto ele acendia as luzes, eu tirava meus saltos e os chutava para longe.

— Você realmente gosta de mim? Ou só disse aquilo para me acalmar? – perguntei andando em sua direção, impaciente demais para ser menos direta.

— Eu posso ser muitas coisas, mas mentiroso não é uma delas, senhorita.

Sorri satisfeita com a sua resposta, empurrando-o suavemente em direção à cama. Talvez sua insistência em me chamar de senhorita não precisava ser irritante, afinal de contas...

— Que bom. – sussurrei, rindo levemente quando ele caiu sentado no colchão, aproveitando para me posicionar entre as suas pernas.

— Bella… – ele engoliu em seco e eu nunca amei tanto o som do meu nome quanto naquele momento. — O que você está fazendo? – perguntou, suas bochechas em um tom de rosa brilhante.

— Eu acho que é hora de finalmente te mostrar um pouquinho do que nós, damas, aprendemos no mundo das artes, você não acha? – levantei uma sobrancelha em sua direção enquanto puxava o zíper lateral do meu vestido lentamente, deixando a peça cair sobre os meus pés.

Foi nesse momento que Edward destravou. Por um segundo eu pensei que ele iria me afastar e mandar eu me vestir, mas felizmente eu estava errada.

— Isabella… – sussurrou, levando uma de suas mãos até a minha cintura, a outra em minha bunda, puxando-me para ainda mais perto dele. — Você não tem ideia de quantas vezes eu sonhei com isso…

— Ah, eu tenho sim – retruquei, relembrando todas as vezes em que eu mesma pensei em tê-lo assim, tão perto de mim.

Passei minhas mãos sobre seus cabelos, bagunçando-os ainda mais e puxando-os levemente quando senti os lábios de Edward em minha barriga. Fechei os olhos, aproveitando as sensações enquanto meu corpo finalmente relaxava depois de meses de tensão.

— É mesmo? Isso quer dizer que por baixo de toda a implicância da senhorita, na verdade, vó você queria conquistar meu coração? – perguntou com um sorriso irritante, sua mão indo da minha cintura até a minha costela, parando bem abaixo de meu seio.

— Seu coração? Não. Eu estou mais interessada em outro órgão. – retruquei, mordendo meus lábios quando senti a ponta de seu dedão circulando meu mamilo levemente.

— Não se preocupe, senhorita. Você tem todos eles. Eu sou completamente e totalmente seu. – sussurrou, seus olhos colados aos meus ao mesmo tempo em que ele subia os seus beijos pelo meu corpo, alcançando meu mamilo, sua mão sendo substituída por sua boca.

— Edward – arfei, sentindo meu coração acelerar e meu corpo esquentar cada vez mais.

— Se você está tão sensível aqui em cima, senhorita… – falou calmamente, sua língua brincando com meu mamilo endurecido. — Mal posso esperar para ver suas reações quando eu chegar mais para baixo – finalizou e, como se para dar ênfase, deu um apertão em minha bunda.

Engoli um gemido, determinada a dar o troco. Eu tinha me gabado de meus conhecimentos devassos, não é mesmo? Precisava provar que não tinha blefado.

Dei um sorriso de lado, inclinando minha cabeça levemente, sentindo meu cabelo se espalhar por meus seios enquanto eu movia uma perna somente o suficiente para que meu joelho roçasse em seu pacote bem avantajado.

— Você não é o único que tem alguns truques na manga, Cullen – sussurrei, sorrindo para mim mesma quando seu aperto em minha bunda se intensificou e ele praticamente rosnou em minha direção.

— É verdade… Se eu me lembro corretamente, a senhorita tinha me falado que eu não aguentaria o tranco, não é mesmo? – perguntou e eu acenei afirmativamente, prendendo a respiração enquanto ele abaixava a minha calcinha levemente, seu rosto frente a frente a minha buceta. — Então é melhor eu provar o contrário.

Edward massageou minhas coxas, movendo suas mãos tão lenta e provocativamente que eu estava com vontade de simplesmente pegá-las e guiá-las até onde eu queria. Mas não podia dar o braço a torcer e, por isso, simplesmente ergui uma sobrancelha em sua direção, fingindo que eu não estava nada afetada pelo seu pequeno show.

— Você pode fingir o quanto você quiser, Bella, mas você não vai me enganar. – falou suavemente, colocando uma de suas pernas para o meio das minhas em um movimento rápido. — Você é uma excelente atriz, mas sua respiração acelerada, suas bochechas rosadas e a umidade no meio de suas pernas dizem tudo que eu preciso saber.

— E o que é que você precisa saber? – perguntei, odiando o fato de que minha voz saiu trêmula já que ele escolheu aquele momento para passar um dedo pelo meu centro, sentindo o quão molhada eu já estava.

Era vergonhoso o quanto ele estava me afetando, para ser sincera.

— Que você quer o meu pau dentro de você tanto quanto eu. – falou simplesmente, me deixando chocada por um momento. Aquele não poderia ser o segurança que irritantemente se recusava a me chamar pelo nome e se referia a mim somente por "senhorita". — Mas eu sou mais paciente do que deixo transparecer. E eu vou fazer você implorar por ele.

Ele estava acariciando a minha vagina de uma forma tão despretensiosa que estava me deixando louca. Seu dedo passava pela minha entrada, reunindo minha umidade, ia para o meu clitóris, circulando-o levemente, e voltava para a minha entrada.

O movimento era leve como uma pena, mas era o suficiente para fazer minhas paredes se contraírem em antecipação e o meu cérebro funcionar de forma tão devagar que eu custei para encontrar uma resposta. E ela foi fraca, eu tinha que admitir.

— Vai sonhando, Cullen. – gemi, praticamente confirmando tudo que ele tinha me falado.

— Não vou precisar sonhar… Você sabe muito bem que eu estou certo. – deu de ombros ao mesmo tempo em que finalmente enfiou seu dedo em mim, um movimento tão súbito que tirou todo o ar de meus pulmões. — Não estou?

Apesar de ter fechado os meus olhos, não precisava vê-lo para saber que ele estava com um sorriso enfurecedor em seu rosto. Seu tom de voz dizia tudo. Mas eu estava muito ocupada pensando "Por que ele não está movendo esse dedo maldito?" para ligar para aquilo.

— Edward! – grunhi, apertando seus ombros e enfiando minhas unhas em sua pele enquanto tentava fazer as minhas pernas não perderem toda a sua força. — Porra. – gemi, mexendo meus quadris levemente, tentando fazer com que ele parasse aquela tortura e me fodesse logo.

— Porra? Não, querida. Ainda não chegamos nessa parte da noite. – ele riu carinhosamente, sua mão livre movendo-se para a minha nuca e me puxando para um beijo enquanto ele começava a movimentar sua mão entre as minhas pernas, seu dedão acariciando meu clitóris de uma forma completamente enlouquecedora.

A forma que ele me beijou também não contribuiu para me ajudar a me manter em pé. Ele não perdeu tempo para trabalhar com a sua língua, explorando a minha boca de forma possessiva e sensual, fazendo com que meu coração batesse ainda mais rápido.

Ele enfiou outro dedo em mim, movendo-os de forma lenta mas certeira, alcançando todos os pontos que me levavam à loucura.

— Edward! – praticamente gritei quando uma onda de prazer tomou conta de todo o meu corpo, fazendo com que eu perdesse todo o ar de meus pulmões, a minha perna tremer e minha buceta se contrair ao redor de seus dedos.

Sem conseguir me sustentar, deixei meu corpo cair para frente. Edward não perdeu tempo, deitando-se e me levando junto, posicionando-me em cima de sua figura coberta. Fechei meus olhos, respirando pesadamente, tentando fazer meu coração parar de bater tão rápido que parecia que ia sair pelo meu peito.

Ele tirou seus dedos de mim suavemente, e antes que eu pudesse perguntar se ele precisava de um pano para limpá-los, ouvi ele gemendo baixinho:

— Deliciosa.

Sorri levemente, aproveitando a posição para desabotoar a sua camisa lentamente, meus dedos tocando sua pele de forma provocativa.

— Para quem estava tão certo de que eu ia implorar pelo seu pau, você me parece vestido demais – sussurrei, ainda não completamente recuperada de meu orgasmo.

— Você parece estar cuidando disso muito bem, senhorita – retrucou e eu ri.

Uma vez que consegui me livrar de sua camisa, passei minhas mãos sobre o seu corpo, sentindo sua pele quente e macia. Sentei-me no seu colo, sabendo que eu provavelmente estava arruinando a sua calça com a minha umidade.

— Essa é uma visão que eu nunca vou esquecer. – suspirou, passando suas mãos pelos meus seios levemente.

— Isso porque eu nem comecei o meu show ainda… – ergui minha sobrancelha, oferecendo um sorriso travesso enquanto eu me abaixava sobre o seu corpo.

Beijei seu pescoço suavemente, roçando meu dente levemente sobre sua pele enquanto minhas mãos apalpavam seu pau, sentindo-o endurecer ainda mais com o meu toque. Movi meus lábios, beijando seu maxilar e o canto de sua boca, evitando seus lábios de propósito.

Suas mãos encontraram minha bunda, puxando-me para ainda mais perto dele, mas antes que eu pudesse ser dissuadida de minha missão, comecei a trabalhar em seu cinto e zíper. Em poucos minutos consegui me livrar de sua calça e cueca.

Olhei para baixo com um sorriso no rosto. Sabia que ele não me decepcionaria.

— Hmm, o que temos aqui? – perguntei diretamente em sua orelha, mordiscando seu lóbulo enquanto esfregava a minha buceta contra o seu pau.

— Isabella… – Edward grunhiu e eu sorri, movimentando-me lentamente.

— Sim? – me afastei de seu pescoço somente o suficiente para conseguir olhar para o seu rosto. Impagável.

— O que você está fazendo? – perguntou, empurrando o seu quadril para cima. Ele precisava de mais.

— Aproveitando o seu instrumento, oras. Sabia que eu consigo gozar só fazendo isso? – gemi quando a cabecinha de seu pau roçou contra o meu clitóris.

— Mas não seria mais divertido simplesmente sentar no meu pau?

— Sim, mas não tão divertido quanto olhar para a sua cara desesperada igual estou olhando agora.

— Isabella… Eu preciso estar dentro de você. – implorou e eu ri, parando de me movimentar para posicionar o seu pênis em minha entrada.

— Quem é que está implorando agora? – perguntei, um sorriso vencedor em meu rosto enquanto eu finalmente me permitia senti-lo completamente dentro de mim.

Gememos juntos, aliviados depois de tanta provocação. Encostando minha testa na sua, comecei a me movimentar lentamente. Ele era grande, e apesar de precisar de mais, não queria me mover rápido demais e acabar me machucando no processo.

— Tão gostosa – Edward gemeu e eu sorri enquanto aumentava a velocidade, seus quadris encontrando os meus no momento certo.

Apoiei minhas mãos em seu peito, encontrando o equilíbrio e o ângulo perfeito. Suas mãos, em contrapartida, estavam em toda parte: na minha cintura, nos meus seios, na minha bunda… Ele me deu um tapa de leve, mas do jeito que eu tinha sido estimulada a poucos minutos, foi o suficiente para eu sentir uma nova onda de prazer começar a tomar conta de meu corpo.

— Faz de novo. Mas mais forte. – pedi, vendo um sorriso sacana abrir em seu rosto.

— Fazer o quê? – perguntou, suas mãos agora completamente longe de meu corpo.

É claro. Ele queria que eu implorasse.

— Bate na minha bunda agora, Edward, ou eu juro por Deus que vou sentar com tanta força no seu pau que ele vai quebrar. – rosnei e, em uma questão de segundos, Edward estava finalmente me dando o que eu queria.

Eu sabia que ele também não duraria muito mais tempo: sua respiração estava acelerada, seu pescoço e rosto completamente vermelhos, e seus movimentos já estavam desleixados, fora de ritmo.

— Eu tô perto, Edward. Toca o meu clitóris. Eu quero gozar no seu pau – gemi e ele obedeceu, seu olhar concentrado em meu rosto.

E isso foi o suficiente para que meu corpo todo tremesse pela segunda vez na noite. Praticamente gritei o nome de Edward, minha buceta espremendo o seu pênis, minhas unhas grudadas em seu peito.

Comecei a me movimentar mais lentamente, tentando recuperar meu fôlego enquanto sentia gotas de suor correndo pelas minhas costas. Assim que senti meu coração desacelerar um pouco, sai de cima de seu corpo e me posicionei no meio de suas pernas, assistindo com um sorriso os olhos de Edward praticamente saírem de seu rosto.

— Eu quero que você goze na minha boca. – falei suavemente antes de tomá-lo em minha boca, escutando satisfeita um gemido alto saindo de seus lábios.

Sabia que eu estava sendo um tanto quanto assanhada, mas eu sabia do que eu gostava, e não tinha vergonha de falar.

Edward não pensou duas vezes antes de tomar meu cabelo em suas mãos, me mostrando exatamente o que ele precisava e gostava.

— Tão linda com o meu pau na boca… – grunhiu, levantando os quadris, encostando na base da minha garganta. — Você quer a minha porra, huh? Tem certeza? – perguntou e eu acenei levemente, minhas mãos em suas bolas.

Segundos depois ele estava gemendo o meu nome, seu pau se movimentando de forma desregulada em minha boca enquanto ele a preenchia com sua porra. — Engole tudo, senhorita. Não queremos que você se suje, não é mesmo?

E foi isso que eu fiz: engoli tudo.

— Assim está bom para você? – perguntei, mostrando minha língua para ele antes de beijar meu caminho até a sua boca.

— Caralho, Bella… Você vai me matar. – ele suspirou contra os meus lábios.

— Eu disse que você não aguentaria o tranco. – sorri, deixando o meu corpo cair ao seu lado, meu rosto em seu peito.

— Hã, com licença? Eu aguentei muito bem. – seu tom de voz era defensivo, mas seu sorriso me mostrava o contrário. — Eu preciso confessar uma coisa.

— Você não é casado não, né? – perguntei brincando, mas não seria a primeira vez que isso me aconteceria.

— O que? É claro que não! – falou, claramente ofendido.

Bom saber que ele era tão contra a ideia de traição. Me pouparia de muito drama.

— Então o que foi? – perguntei, traçando desenhos abstratos em sua pele com o meu dedo.

As emoções do dia, boas e ruins, estavam começando a pesar, e estava sendo difícil manter meus olhos abertos. Eu precisava dormir.

— Na noite em que nos conhecemos... Assim que eu te vi passar pela porta, me senti completamente atraído por você. E depois achei que a senhorita estava olhando para Garrett, o que me deixou um tanto quanto enciumado.

— Sinceramente, Edward. Garrett tem idade para ser meu pai!

— Eu sei, mas você não tem noção de quantas garotas mais novas do que você o perseguem... Mas o que que eu quero dizer é que... Talvez eu tenha sido mais rude do que o necessário porque eu estava com ciúmes. – confessou e eu tentei segurar minha risada, mas falhei miseravelmente.

— Você é ridículo. Nós dois somos ridículos. – beijei seu peito levemente, seus dedos acariciando meu cabelo, me deixando ainda mais sonolenta.

— E é por isso que funcionamos tão bem juntos. – respondeu, beijando minha testa suavemente.

E foi assim que dormi naquela noite: nos braços do homem que me enfurecia mais do que ninguém, mas que eu tinha quase certeza de que amava.

Epílogo

23 de agosto de 1937

O CANTO DO CISNE: BELLA SWAN É CENTRO DAS ATENÇÕES EM NOITE AGITADA!

A gala anual dos Volturi é sempre um evento em que todos os grandes nomes de Hollywood prestam atenção, mas ontem uma das famílias mais influentes do ramo conquistaram os holofotes de uma forma um tanto quanto inesperada… E ainda colocaram Bella Swan, a queridinha dos cinemas, em uma posição delicada!

Fontes confiáveis nos informaram que Jane, a caçula da família, simplesmente enlouqueceu e tentou matar a atriz! Mas a surpresa não acaba aí: ao que tudo indica, a nossa amada cisne estava enfrentando uma série de ameaças nos últimos meses, tudo isso porque conquistou o papel principal do próximo filme dos aclamados Carlisle e Esme Cullen, "Vida e Morte".

Os Volturi não ficaram felizes com a escolha, e estavam dispostos a matá-la para conseguir substituí-la pela Jane - que, vamos combinar, só é atriz porque tem dinheiro, certo? Infelizmente para eles e felizmente para todo o resto, seus planos deram completamente errado: além de responderem pelos atentados atrás das grades, o filme ganhou ainda mais reconhecimento, já sendo cotado para várias premiações antes mesmo do final das filmagens!

Viu só como nem tudo foi ruim? Bella que o diga: recebemos fotos quentíssimas da atriz beijando seu segurança pessoal em meio à bagunça da noite passada. Será que, em meio a tanta tensão, Bella ainda foi capaz de encontrar o amor verdadeiro? É o que parece… Ou ela pode simplesmente estar se divertindo. O tempo nos dirá.

Enquanto não temos uma confirmação, só podemos esperar ansiosamente por VIDA E MORTE, longa que deu início a todo esse circo.