Título: Letter For a Lover
Autora: Christine Annette Waters
Beta-reader: Tachel
Classificação: Angst/Romance - PG-13
Ship?/?
Resumo: Outro dia, no meio de mais uma briga nossa, você me perguntou, cheio de raiva, se eu odeio pessoas que amam umas às outras. Eu não as odeio. Apenas não as compreendo. Assim como não compreendo você.
Disclaimer: Nada me pertence. E blá blá blá.
Avisos: Slash, mystery pairing.
Letter For a Lover
Londres, 17 de outubro de 2003.
Outro dia, no meio de mais uma briga nossa, você me perguntou, cheio de raiva, se eu odeio pessoas que amam umas às outras. Eu não o respondi naquele dia. Em parte porque não tinha a resposta; em parte porque você se trancou no banheiro para abafar o choro e logo depois foi embora, sem dizer adeus. Não nos vemos há quase uma semana; seu lado costumeiro na minha cama já está gelado como uma sepultura. Seria tolo de dizer que não, não sinto sua falta. Sinto. Apesar de não saber classificar essa espécie de relacionamento frágil que temos há anos.
Eu não odeio pessoas que amam umas às outras. Apenas não as compreendo. Assim como não compreendo você. Não entendo você; suas ações e reações são tão imprevisíveis para mim quanto o tempo que fará daqui a uma semana. Não entendo você porque você ama. Não se pode prever atos de pessoas que amam. Elas podem ser cruéis, podem ser bondosas. Podem estar tranqüilas e felizes num dia, e desesperadas no inferno em outro. Pessoas que amam são corajosas, e vão até o fim para preservar isso. Às vezes perdem a vida, como ambos sabemos pela experiência de guerra. Pessoas que amam me assustam.
Naquela noite, anos atrás, eu ouvi o que você disse somente para você enquanto achava que eu dormia. Estávamos naquela pequena cama que eu costumava passar as noites, e você estava cansado demais para se mexer. Eu deixei que você ficasse na minha cama, deixei que você dormisse comigo, deixei que acordasse comigo na manhã seguinte. Jamais havíamos dormido nos braços um do outro antes. Lembro disso, e acho interessante hoje. Já havíamos tido o maior grau possível de intimidade corporal; mas aquela foi a primeira vez que tivemos algo parecido com carinho. Porque não era paixão. Era necessidade. Para mim, pelo menos.
Naquela noite, eu ouvi o que você sussurrou apenas para si mesmo. Você, ainda com as vestes sujas de sangue e poeira, enrolado no meu lençol, partilhando da minha intimidade, disse algo que eu jamais imaginara que saísse da sua boca. Por muito tempo, eu achei que tivesse sido um sonho, uma alucinação louca – afinal, eu também estava cansado. Em que mundo você diria aquilo sobre mim? Devia estar louco.
Mas hoje eu tive uma estranha convicção de que isso aconteceu realmente. Depois de lembrar de sua pergunta e de seus olhos furiosos que pareciam estar em tempestade, eu tive certeza.
Não mudou muito entre nós nesses anos. Apenas amantes ocasionais, repito para mim mesmo a versão oficial. Mas nós sabemos que não é apenas isso, não é?
Pessoas que tem os lados em que vão dormir pré-definidos antes mesmo de transar não podem ser apenas amantes ocasionais. Eu sei disso muito bem. Por mais que nós sejamos frios, por mais que a animosidade de anos atrás não tenha passado por completo, por mais que eu ignore você em público (razão, aliás, de nossa briga), nós somos algo superior a apenas amantes ocasionais.
Eu não vou implorar que você volte, e não espero que seja algo que você espere que aconteça. Apenas espero que você lembre daquela noite e do que você disse. Talvez isso continue vivo, talvez a guerra e o passar dos anos não o tenha apagado. Talvez até tenha passado um pouco para mim.
E pense também em como seu lado da cama está gelado como uma sepultura. E como eu quero que ele se aqueça de novo.
