A Aliança
Ela levantou os olhos novamente, encarou o homem que ainda mantinha o seu olhar vago, repleto de lembranças.
- Por que estamos nos torturando, Sr. Malfoy? – sussurrou Gina. – Ambos perdemos o que mais amávamos, por que temos que continuar com esta batalha tão acirrada...
Lúcio olhou diretamente nos olhos dela. O que diabos ela havia perdido? Eles não eram iguais, nem nunca seriam. Era ele quem estava preso, era ele quem não tinha mais família alguma, era ele quem tinha aquela mansão, agora vazia, era ele quem não podia desfrutar de nada além daquele cheiro nojento de morte ao seu redor.
Onde poderia estar agora se não fosse por causa dela? Lembrava-se com tanta nitidez dos bailes que dava em sua mansão, a música alta o envolvendo docemente, as risadas de Narcisa enchendo os seus ouvidos, Draco correndo de um lado para outro para cortejar todas as garotas mais belas...
Mais uma vez sentiu aquele calor dentro de si, como se algo estivesse subindo, uma ânsia de chorar. Mas nunca faria isto, o rancor e a saudade se encravaram em seu coração, provocando uma leve pontada, ele já estava acostumado com aquilo.
- A batalha nunca acabará, Weasley. – Murmurou em resposta, seus olhos estavam estranhamente brilhantes. – Você me tirou o meu filho, minha mulher se matou por causa disso, por sua causa ele nunca veio aqui me visitar, ele morreu sem o meu adeus! Ninguém será capaz de apagar isto da minha memória!
- O que importa agora? – Berrou ela, as lágrimas voltando a aflorar. – Ele está morto! Morto! E nem eu nem o senhor poderá vê-lo de novo!
Um flash passou pela cabeça de Lúcio, ele correu a mão pelo seu pescoço, incerto se ainda estava ali. Gina franziu o cenho diante da euforia que começava a tomar conta do homem, não lembrava de tê-lo visto tão feliz em todas as vezes que o vira em sua vida. Ele apalpou a corrente de prata que estava presa ao seu pescoço, passou a ponta dos dedos delicadamente no pingente: uma cobra em espiral, de prata, com os olhos verdes de esmeraldas.
- Talvez sim... – balbuciou, no que mais parecia um delírio de um louco.
- Talvez sim o que? – perguntou Gina confusa diante das atitudes dele. Aquele homem podia ser a pior das criaturas, mas louco não...Sempre foi consciente de seus mais terríveis atos. Também não acreditava muito que a prisão finalmente começava a deixá-lo louco, como tantos...Ele era forte e ruim demais para cair tão cedo.
- Possamos vê-lo novamente. – pela primeira vez na vida, ela o via com os olhos cheios de algum sentimento que se assemelhava à felicidade.
- Não podemos, ele morreu, Sr. Malfoy, será que não entendeu o que eu falei? – resmungou contida, podia notar que ele não tinha sarcasmo na voz, parecia estar falando seriamente com ela, esquecendo do abismo de ódio que os separava. – Nem sequer magia pode trazer alguém dos mortos.
- Magia Negra muito antiga, pode. – sussurrou ele misteriosamente. – Desde que a alma não tenha se perdido, e ainda esteja no corpo.
- Isto é a coisa mais improvável do mundo, Sr. Malfoy. – falou ainda não entendendo tal euforia. - Todos sabemos que as almas escapam no momento da morte...E fantasmas, as almas saem do corpo, e vagam por aí.
O sorriso dele se alargou mais ainda, parecia estar para a receber uma carta de perdão do ministro que o autorizaria a sair da cadeia. Lúcio agarrou o pingente, o erguendo na altura dos olhos.
- Esta serpente foi forjada há séculos por um poderoso mago das trevas. Ele viveu para esta obra, e por ela morreu. – seus olhos se encontraram com os dela. - Foi confiada a minha família, por toda a eternidade, e dela, só foi feita mais uma.
Gina observou bem a peça, reconheceu como uma que Draco sempre carregava presa ao pescoço. Ela nunca soube por quê o marido tinha aquele pingente, nem o próprio Draco sabia exatamente, ele só dissera que era a única lembrança que queria ter de seu pai, pois um dia ele havia pedido com tanto ardor, e um brilho estranho nos olhos, que nunca a tirasse.
- A outra está com Draco. – disse Gina com os olhos cintilando diante da visão do pingente.
- Neste momento? – perguntou Malfoy imediatamente.
- Sim, o enterramos ontem com ela. – fungou a ruiva.
- Sabe o que isto faz? – murmurou ele mal contendo o sorriso.
- Não.
- Prende almas.
Ela quase caiu diante da afirmação, se afastou do homem que segurava o pingente, como se fosse morrer caso colocasse seus olhos novamente naquilo.
- É um amuleto de magia negra. – sussurrou ela temerosa. – Uma fonte infinita de mal...
- Não, senhora, para nós será a vida. – urrou vitorioso. – Não está compreendendo?
- A alma de Draco está presa ao corpo, isso é terrível. – disse Gina escandalizada. – Ele está sofrendo, tem que se libertar daquele corpo sem vida e seguir...
- Não! Ele deve voltar e ficar entre nós! – gritou Lúcio se agarrando às grades, o que fez ela se distanciar mais. – A alma só ficará presa por sete dias depois da morte, temos que agir rápido e evocar a magia negra, para que ele possa voltar à vida.
- Ninguém pode trazê-lo de volta! Magia negra sempre tem algum efeito colateral terrível, eu não quero que ele sofra mais. – Ela escondeu o rosto com ambas as mãos, podia-se ouvir o choro aflito. – Ninguém tem tal poder para ressuscitá-lo...Eu só não quero que ele sofra mais...
- Eu tenho, Weasley! – ele estava ofegante, colocou violentamente o braço inteiro fora da cela, através das grades, tentando alcançá-la. - Eu posso trazê-lo de volta...Só preciso do livro...Ajude-me a fugir daqui...
Gina baixou as mãos, revelando o seu rosto vermelho por causa do choro, as lágrimas ainda caindo livremente pelo seu rosto jovem, porém triste. Observou a mão estendida de seu maior inimigo.
- Deixe-me ajudar Draco. – sussurrou, a mão estendida firmemente.
Ela estendeu sua mão tremula, tocando suavemente na de Lúcio, e deixou-se ser puxada e abraçada por alguém por quem alimentava um imenso ódio no coração, e também tinha certeza que ele sentia o mesmo, mas agora estavam unidos, pelo ódio e por uma missão.
Gina desatou a chorar mais desesperadamente, o que faria para ter o seu Draco de volta... Estava se unindo a ele, a quem sempre havia combatido...Como conseguiria tirá-lo dali...O que ela podia fazer...Enxugou a lagrima quando se afastaram.
Lúcio deslizou a sua mão pelo ombro dela, e com cuidado pegou um fino fio de cabelo que estava na roupa delicada dela, era loiro. Ofereceu o fio a ela, com um olhar significativo.
- Visite-me amanhã, não deixe que percebam que é a senhora, use uma poção de retardamento para atrasar o efeito da polissuco. Traga varinhas, estarei no terceiro andar saindo da sala de banho.
Ela o olhou confusa, e lentamente pegou o fio de cabelo, começando a entender as palavras que havia gravado na sua mente, tinha quase certeza que aquela era a sua sentença de morte.
N/A: Não, eu não pretendia continuar esta fic, mas decidi fazê-lo...pois tive uma idéia. Continuará a ser uma short, planejo mais um capítulo além deste.
Lucca BR: Obrigada pela opinião, estou muito feliz por você tê-la achado linda.
Miri: Eu pensei na possibilidade, mas depois desisti, porém neste capítulo há um leve indicio do casal...
Lara: Creia que isto vai chegar em algum lugar sim, e que não vai ser lá muito feliz, a idéia das flores realmente foi uma das minhas melhores.
Laura: É, Gina é uma vitima...Aliás, quem não é nesta história?
Kah Black Malfoy: Obrigada, normalmente eu não sou tão má assim...Gosto muito de comédias! É o meu primeiro e possivelmente último drama.
