Espada de Pedra

Sua pergunta foi respondia ao se aproximar dele, foi recebida por um suave beijo, que depois se tornou mais profundo, e então suave novamente. Separaram-se, ela tinha uma expressão estranha, talvez suspeitosa, ele parecera tão diferente... E suas piores suspeitas se concretizaram quando ela abriu os olhos, e encarou os azuis dele.

Não eram os azuis cinzentos e vivos de outrora, e sim mortos e cruéis, a mirando com um sentimento estranho: raiva, ódio, ressentimento, euforia, desprezo, doçura, excitação.

Tudo como uma avalanche em cima dela, não era o seu Draco, era outro. Havia cometido um erro. O prendera ali, e agora nunca mais o teria como antes, não era mais ele, a magia nega o mudara, as conseqüências que ela tanto temia...Estava tudo ali... Estava tudo errado para ela.

- O que eu fiz... – sua voz era fraca e vacilante.

Ela levantou do altar ainda encarando os olhos azuis dele, deu três passos de costas, tropeçou em alguma coisa, caiu. Draco a olhou de cima, indiferente, levantou-se também, admirando o estado de choque da mulher.

Seu olhar morno e inexpressivo passou de Gina para Lúcio. O olhou de cima a baixo, demorando um pouco mais nas correntes com os pingentes em sua mão. Um leve sorriso tomou conta de seu rosto.

- Um cemitério trouxa? – perguntou ele descrente, voltando o seu olhar para Gina.

Ela não parecia ouvir, estava chorando e murmurando que não devia ter feito aquilo, pedia entre lágrimas, que ele morresse novamente, e deixasse o espírito de Draco em paz.

- Que decadência... – disse ele dando alguns passos em direção ao pai. – Eu sempre soube que este mundo precisava de ordem...Um homem de ferro para comandar...

Deu algumas voltas ao redor de Lúcio, que o olhava constantemente, duvidando do que ouvia, nunca o havia visto tão firme.

- E agora que Lord Voldemort se foi...Definitivamente. – ele deu uma risadinha. – Devemos eleger um novo líder.

- Um novo líder?

Não sabia o que dizer, os efeitos da magia haviam sido totalmente surpreendentes... Era outro: toda a insegurança que o rodeava, desde a última vez que o havia visto, tinha sumido. Ele simplesmente estava extasiado; lembrava bem de como Draco era cheio de dúvidas sobre Voldemort, tinha medo de tudo, mesmo que não demonstrasse isto claramente.

- Obviamente, um líder mais capacitado do que Voldemort... – ele estreitou os olhos prazerosamente. – Sinceramente, aquele homem que se dizia o todo poderoso das trevas não conseguiu nem derrubar um garoto...

Lúcio estremeceu, ainda não havia se acostumado com a idéia de que o Lord estava morto, e bem morto, quanto mais com a idéia de falar mal dele abertamente. Olhou para Draco, por um estranho motivo sentiu um ponto de satisfação. Aquele era o filho que sempre desejara: ambicioso, corajoso, os olhos transbordando de determinação. Mas não era o seu filho.

- E suponho que o cargo deva ser ocupado por você. – disse Lúcio cautelosamente, tentando ignorar os gritos da Weasley, ainda caída no chão.

- E por que não? – sibilou olhando suas próprias mãos.

- Mate-o Sr. Malfoy! – Gina agora estava de pé novamente. – Não é Draco! Esta magia que o senhor fez não serve pra nada além de torturar a alma do meu amado!

- O que dizes? – Draco se voltou para ela com um olhar mortal.

- Este não é o meu Draco! – gritou ela erguendo a varinha. – Deixe a alma do meu Draco partir em paz! Eu não sei o que de fato esta magia negra provocou, mas posso sentir que o preço a pagar por esta vida é muito caro! E que não é a vida do verdadeiro Draco, é somente algo ruim habitando o corpo dele...Eu não quero que ele sofra mais do que já sofreu por causa dos meus erros...

- Oras...Cala-te! – ordenou Draco.

A varinha dela voou diretamente para a mão de Lúcio, que ainda mantinha a sua varinha apontada para a Weasley. Não podia permitir que ela o matasse, não outra vez.

Draco pegou a varinha de Gina da mão de seu pai, e apontou para a mulher, seus olhos lampejaram de algum sentimento estranho. Ela deixou mais algumas lágrimas correrem, e pediu, internamente, que Draco a perdoasse por um dia ter acreditado em Lúcio Malfoy, por um dia ter entregado a alma dele nas mãos daquele homem, por tê-lo feito sofrer.

- Não vou admitir ninguém no meu caminho! – urrou ele lançando a maldição imperdoável da morte.

Ela apertou os olhos, e caiu, para nunca mais levantar.

Lúcio o olhou espantado, nunca pensara ver o seu filho matar alguém com a "Avada Kedavra", ainda mais a Weasley, por quem ele havia lutado tanto tempo, contra todos. Draco se voltou para ele com um meio sorriso assustador.

- Isto sempre me anima. – disse ele prazerosamente, alargando o seu sorriso. – E por que não tomar o lugar de Voldemort agora que voltei mais vivo do que nunca...A não ser...

- A não ser o que? – perguntou o pai arrastando a voz mais do que nunca.

- A não ser que o senhor se julgue mais capacitado para o cargo. – sibilou ele estreitando novamente os olhos azuis acinzentados.

- Eu? – simplesmente não pôde conter o riso.

Ele, que havia se empenhado tanto para o filho voltar, ele, que estava fraco por dentro, ele, que não queria mais saber de exterminar trouxas e ser preso, ele, que só queria viver novamente a sua vida luxuosa e tentar fingir que tudo estava bem. Draco não podia estar falando sério.

- Ri de mim. – murmurou baixando a cabeça, porém não os olhos. – Não preciso de você...

Ele ergueu a varinha novamente, o sorriso de Lúcio desapareceu completamente. O seu coração parecia estar parando à medida que o seu filho começava a pronunciar as primeiras sílabas de sua sentença de morte.

Foi instintivo, ele puxou a varinha do bolso e apontou diretamente para Draco, antes mesmo que o outro pudesse completar a primeira palavra da maldição, ele executou o mais potente escudo de toda a sua vida.

Draco foi arremessado pelo ar, traçando uma trajetória que Lúcio previu antes que chegasse ao fim. Soltou um grito de arrependimento quando a espada de pedra da grande estatua atravessou o peito de Draco.

Ele ficou suspenso ali, sem produzir som algum, o sangue pingando sonoramente no chão de pedra que rodeava a estátua. Achou que estivesse morto, mas ele ergueu a cabeça vagarosamente, e exibia um sorriso perturbador para Lúcio, o que fez com que o outro caísse de joelhos no chão.

Ainda no chão, olhou de relance para os dois pingentes, ambos em sua mão esquerda, mais uma vez ergueu os olhos para o filho, estava morto com certeza, o meio sorriso ainda nos seus lábios, os olhos pregados em Lúcio. Soltou um urro de dor: não havia mais volta.