Flor de Gelo

Por Aiko-chan

CAPÍTULO 2

" Está brincando comigo, Kino-sensei? "

" Infelizmente não, Anna " –A velha mulher suspirou, balançando com impaciência as mãos atrás das costas. Quando viu a garota passar a mão, irritada, nos cabelos dourados e ter a face clara suavemente avermelhada pela raiva, desabrochou um pequeno sorriso nos lábios secos. "Não vai me dizer que está achando que eles lhe seram um problema, vai? "

" Problema não seria bem a palavra." –Ela suspirou, apertando levemente as contas azuladas de seu colar entre os dedos, e levantando uma das sobrancelhas sobre um sorriso cínico. " Eu diria estorvo. "

" Fala como se não pudesse dar um jeito neles."

" Eu não disse isso. Apenas que, certamente, minha mão pode não ficar parada muito tempo enquanto estiver morando com eles. "

" Então, se for o caso, tente não matá-los " –Kino disse, sorrindo divertida ao imaginar uma situação destas para seus netos, e em seguida caminhando até o pequeno futon no centro do quarto. Com alguma dificuldade, sentou-se sobre ele e fechou os olhos negros, iniciando, sem aviso, sua habitual meditação do dia.

" Vou me retirar " –Anna virou-se, não esperando resposta, e aproximou-se da porta entreaberta, puxou-a mais alguns centímetros, passou pelo estreito espaço, que mesmo assim não era obstáculo para seu corpo esguio, e encostou-a em seguida.

O corredor à sua frente, encontrava-se fracamente iluminado pelas chamas oscilantes de algumas poucas lamparinas, que enfileiravam-se uma atrás da outra no chão duro, e perdiam-se de vista em um ponto ainda mais mergulhado na penumbra. Ela seguiu por ele até uma porta, não muito distante do quarto da velha senhora Asakura, abriu-a e deparou-se com uma pequena fonte termal, de onde fumaças brancas de vapor subiam, e rochas redondas a emolduravam, estancando a água que escorria apenas em pequenos filetes pela superfície fria.

" Não vou morar com dois idiotas...Imbecís... " –Murmurou, despindo-se do vestido preto e entrando, sem rodeio algum na fonte. Foi afundando aos poucos o corpo na água, sentindo o calor arrepiar sua pele, como se estivesse desacostumada a ele. Respirou fundo, fechando os olhos e escorando a cabeça numa das rochas atrás de si. Mas eu sempre quis ir pra Tóquio...

" O que você tem na cabeça, Yoh? " –Hao bufou, andando de um lado para o outro, segurando com força a toalha envolta na cintura.

" Onii-chan, eles são nossa família! " –Ele tentou argumentar, porém o olhar severo do garoto de cabelos cumpridos recaía irritadamente sobre ele, instigando-o a manter-se calado.

" Baka, você sabe muito bem que as únicas intenções deles são que assumamos aquele maldito templo! " –Gritou, desferindo um chute no sofá a sua frente, o que fez com que uma densa quantidade de poeira levantasse, e o fizesse tossir. " Quando foi a última vez que esse troço foi limpo? "

" Uh...Acho que mês passado. " –Yoh respondeu, abrindo a mão esquerda e contando os dedos, em seguida revirando os olhos e sorrindo escancaradamente.

" Preguiçoso..." –Murmurou Hao, afastando-se do sofá e pigarreando antes de voltar ao devido assunto. " Quando Jii-san ligar esperando a resposta, simplesmente diga que não. "

" Mas e quanto ao dinheiro que ele ofereceu? "

" Dinheiro? Jii-san ofereceu dinheiro? "

" Ao menos foi o que eu ouvi " –Respondeu, enquanto deitava-se no chão e estendia o braço debaixo do sofá, à procura do espanador. Por uns minutos, como se observasse, Hao pareceu ficar em silêncio, esperando que o irmão encontrasse o objeto, mas quando sua mão retornou vazia, e ele começou a tossir devido a poeira, resolveu continuar.

" Então, não deve ter ouvido direito. " –Revirou os olhos, tentando manter a toalha presa em sua cintura de algum modo que não precisasse segurá-la. Embolou-a num nó improvisado, e sorriu satisfeito mesmo que Yoh tivesse comentado que aquilo não ía dar muito certo. " Esses seus fones devem estar prejudicando a sua audição. Por que, afinal de contas, você sempre anda com eles? "

" Isso é o mesmo que eu te perguntar, por que não corta o cabelo? "

" Ao contrário dessa coisa inútil..." –Apontou os fones laranjas que tanto o irritavam, e que Yoh fez questão de subir até os ouvidos depois disso. " Ele não me prejudica em nada. "

O garoto sorriu e aproximou-se do telefone, tirando-o do gancho e atirando-o à Hao.

" Ligue pra eles, onii-chan. " –Após dizer isso, estampando seu habitual sorriso na face, ele se retirou da sala, entrando no quarto, que ficava precisamente ao lado da cozinha, e voltando com uma nota de cinquenta yens. Aparentemente a sua última economia. " Vou fazer algumas compras, acho que não demoro muito. "

" Matte! Como eu nunca soube que você tinha uma nota de cinquenta yens? "

" Uh...Isso não importa " –Ele respondeu, abrindo a porta e acenando rapidamente, afim de despitá-lo. Saiu apressado, ainda ouvindo seu nome ser chamado, e disparou a correr pelo corredor. Então, quase avistando o elevador, sentiu seu pé enroscar em algo, perdeu o equílibrio e caiu em cima de um corpo, estirado no chão frio. " Gomen!" –Pediu, rolando para o lado e pondo-se de pé.

"Itai!Por que não olha por onde anda? "– O garoto sentou-se, sacudindo a cabeça e levantando-se."Uh...Yoh? "

" Horo-horo? " –Perguntou, surpreendendo-se ao dar conta somente agora de que se tratava do amigo. Sorriu profundamente para ele, deixando os dentes brancos à mostra, e rindo ao tentar pensar no motivo pelo qual ele estaria dormindo em pleno corredor, mas fracassando considerávelmente."Ahn..Só pra saber...Por que—mphm! "

O garoto de cabelos arrepiados, chamativos por seu incomum tom azul, levou tapou-lhe a boca e pediu silêncio, enquanto olhava para os lados e respirava aliviado, soltando-o.

" O que você pensa que estava fazendo? Se o Ren ouvisse...Eu certamente estaria morto agora! "

" Como assim? "

" Tive uns desintendimentos com ele. Parece que ele não aceita bem a idéia de eu achar Jun-sama atraente." –Meneou a cabeça, bufando em desapontamento. " E ainda por cima me nocauteou."

" Uh? Vocês...se bateram? "

" Iie, seu baka! " –Horo-horo grunhiu, dando um soco na cabeça de Yoh, e fazendo-o gemer ao mesmo tempo que percorria os dedos entre os fios castanhos, pprocurando algum calo. " Ele que me bateu! " Se eu disser que fui que o chamei pra briga...Esse lerdo vai acabar pegando no meu pé

Se pudesse teria conversado mais sobre esse assunto, no entanto, se não estava enganado, não faltavam mais do que quinze minutos para o mercado fechar, e chegar sem nenhuma sacola seria totalmente imperdoável. Além do mais, quando uma das alunas de sua avó estava vindo para Tóquio.

Dicionário:

Matte: Espere

Onii-chan: Irmão

Jii-san: avô(vovô)

yen: moeda japonesa

Nota : Depois de muito tempo sem um computador, eu estou de volta com essa história. Espero que vocês gostem e vou tentar não sumir de novo. Bom, pelo menos, não sem antes terminar esta fanfic P