Capítulo Oito - Decisões

Harry e Cho quase não se desgrudavam mais. Ela não parava de ligar e visitá-lo. Tornou-se constante a dormida dela lá. E quase todo café da manhã ela estava presente. Rachel e Sirius nunca tinham reclamado, então ela se sentia extremamente à vontade.

Mas no dia anterior ela não tinha nem aparecido, o que era de longe algo realmente estranho. Harry foi para o curso super cedo, voltou na hora do almoço, e nada de ela aparecer. Já que ela não viria, ele resolveu tirar um cochilo, afinal ninguém é de ferro. E fazia séculos que ele não dormia a noite toda.

Estava tendo um sonho que no começo foi até agradável. Ele estava em um parque, e uma menininha andava em sua frente. Ela queria mostrar-lhe algo, mas eles nunca chegavam aonde ela queria. Ele dizia que estava cansado de andar, e ela apenas sorria e o chamava com a mãozinha. Só que aquilo começou a cansá-lo, e ele sentou-se na grama. Ela aproximou-se dele e o abraçou. Ele acordou assustado e suado. Ninguém nunca o tinha abraçado daquela forma.

Vestiu-se e foi até a cozinha beber água. Estava tremendo. Não entendia por que, afinal, não tinha sido um pesadelo. Apenas um sonho meio agoniado. Mas aquela menina, ela era tão... familiar.

Ligou a TV e acabou adormecendo de novo. Só acordou quando Sirius sentou-se ao seu lado. Ele não pretendia acordá-lo, mas como o rapaz tinha o sono leve...

- Você não anda dormindo bem, né? - perguntou marotamente. - Insônia?

- Ah, Sirius. Não enche. - disse com as bochechas vermelhas.

- Não precisa ficar constrangido. - disse sorrindo. - Eu hein... Hoje é minha vez de fazer o jantar. - se levantou e foi à cozinha.

Harry continuou lá e só saiu quando Rachel chegou e todos foram jantar. Ultimamente ela não parecia tão cansada como há alguns meses atrás.

- Você anda com uma cara péssima, Harry. - ela comentou. - Acho que deveria dormir mais.

- Eu disse isso a ele, mas ele mandou não enchê-lo. - disse Sirius fingindo-se magoado.

- Já imagino a cara que fez ao dizer isso a ele, não é? - perguntou ela séria.

- Calma, meu amor. Eu só comentei que ele não tem dormido bem. E perguntei se era insônia. - defendeu-se ele.

- Gracinha. - disse ela sorrindo. Não tinha como ficar séria quando ele a olhava daquele jeito. - Mas você sabe, eu sei, e ele sabe, que não é insônia.

- É Chosônia. - brincou Sirius.

- Só você mesmo, Sirius. - disse Harry sorrindo.

- Você está melhor, Harry? - Rachel perguntou preocupada.

- Sim. - ele mentiu. Não esquecera Gina. Mas ele estava vivendo, não podia apenas esperar por ela voltar. Ela mesma pedira para ele viver. - Estou muito melhor.

- Isso é bom. - disse colocando uma de suas mãos sobre a dele. - Fico feliz sabendo que está bem.

- Obrigado. - disse com um meio sorriso.

- Também fico. - disse Sirius dando uma piscadela.

Cho mandou uma carta para Harry dizendo que apareceria por lá no dia seguinte, pois era véspera de fim de semana e ela estava ocupadíssima na empresa. Harry sabia que ela nem trabalhava lá, apenas ficava andando pelos corredores, e não fazia absolutamente nada. Mas resolveu engolir a desculpa.

Na verdade ele adorou que ela não tivesse ido. Estava precisando de uma noite inteira de sono. Não que ele não gostasse das noites que ela estava lá, mas estava parecendo um lobisomem cheio de olheiras. Esse pensamento o fez lembrar de Lupin.

Na noite seguinte, exatamente às oito horas, Cho aparatou em frente à casa de Harry. Rachel e Sirius já haviam saído como faziam toda sexta à noite. Ela usava um vestido vermelho extremamente provocante.

- Boa noite, meu amor. - disse beijando-o. - Sentiu saudades?

- Senti. - disse a abraçando. - Trabalhou muito hoje? - tinha uma certa ironia na pergunta, mas se ela notou, não deixou transparecer.

- Sim. Aquela empresa está um caos. Papai quase enfartou hoje. - disse fingindo-se exausta.

- Sei. - limitou-se a dizer.

- Harry, eu tenho uma surpresinha. - disse toda dengosa. - Espero que você goste.

- Qual? - perguntou interessado.

- Eu mesma mandei fazer nossos convites. E, por favor, não ache que sou egoísta. Mas é que depois que recebi o convite do casamento da Mione, eu fiquei tão excitada que não pude me conter. Deixa eu te mostrar. - Harry não estava preparado para aquilo, mas os olhos de Cho brilhavam enquanto ela falava. Ele não podia dizer não. Ela estava tão feliz...

- Me mostra. - disse sorrindo.

- Sabia que você não iria ficar bravo. - disse dando-lhe um leve beijo. - Eu te amo.

Harry pegou logo o convite, não queria ter que mentir dizendo que a amava. O convite era lindo, até mais lindo que o de Rony e Hermione. Mas o deles transmitia o amor que sentiam, ali não tinha amor. Não pela parte dele pelo menos. Ele gostava bastante dela, mas não era amor.

- O que achou? - perguntou ela ansiosa. - Essa foto sua foi da formatura. Peguei uma minha da formatura, e o rapaz juntou-as. Ficaram perfeitas.

- É lindo. - disse olhando nos olhos delas. - Eu adorei.

- Você é um amor. - disse se atirando nos braços dele. - Agora já que estamos sozinhos... Vou preparar algo bem especial pra você. E depois podemos relaxar juntos na banheira.

- Hm. - disse enquanto a beijava. - Estou precisando de uma massagem.

- Você terá a massagem. - disse se desvencilhando do abraço. - Agora vai preparando a banheira que eu já subo.

Eles aproveitaram bastante aquela noite. Harry estava feliz por cumprir a promessa que fizera a Gina. Quer dizer, ela o obrigou a prometer. Mas era bom saber que estava fazendo algo que ela pediu.


Gina e Mel continuavam na mesma rotina. E já estavam cansadas da loja, e principalmente de Sarah. Acordaram super cedo naquele sábado, pois iam fazer matrícula num curso profissionalizante para bruxos. Gina iria fazer Feitiços, e Mel resolveu fazer também. Não que fosse boa ou que gostasse da matéria, mas pelo menos teria alguém para ajudá-la e para copiar os trabalhos.

- Dependendo do horário, vamos ter que largar o trabalho na loja. - comentou Gina enquanto tomavam café.

- Oh! Que lástima. Vou morrer de saudades da Sarah. - disse Mel fazendo teatrinho. - Não vejo a hora, se você quer mesmo saber.

- Pois é. Eu também não agüento mais trabalhar com ela. E olha que não faz nem um mês. Vai fazer três semanas ainda, e já estamos assim.

- Coitado do marido daquela lá. Ou eu já tinha largado dela, ou tinha me suicidado.

- Exagerada. - disse Gina sorrindo. - Então... Vamos ser o que agora?

- Garçonetes. Sempre sonhei em ser garçonete.

- Ok. Mas vamos logo nesse bendito curso.

Elas rapidamente arrumaram a mesa, a cozinha, e pegaram o elevador. Apanharam um táxi e demorou vinte minutos para chegarem em YorkVille, bairro onde ficava o curso, mais precisamente na 2ª Avenida. Elas poderiam ter aparatado, mas como Nova York era um lugar extremamente trouxa, elas resolveram não arriscar.

Quando pararam de frente ao prédio, o motorista perguntou com certo repúdio se elas realmente iriam ficar ali, o que as fez imaginar que os trouxas viam um prédio mal acabado e abandonado. Mas o que elas viam era bem diferente, o prédio era laranja berrante e dava para ver a quilômetros de distância.

Subiram as escadas e andaram por um saguão um tanto grande. As paredes eram laranja berrante também. Definitivamente quem havia decorado aquilo não tinha noção do ridículo.

Uma mocinha veio logo atendê-las. Ela era loira e tinha olhos bastante azuis. Com certeza deveria ser uma veela, pois os homens do local não tiravam os olhos dela.

- Em que posso ajudá-las? - perguntou educadamente.

- Estamos querendo nos matricular no curso de Feitiços. - informou Mel.

- Ah, sim! - disse a veela eficiente. - Então venham por aqui. - e indicou um corredor à direita.

Elas a seguiram por um corredor sufocante, pois era laranja de doer nos olhos. Gina torcia para que as salas de aula fossem de uma cor menos berrante, porque ela estava ficando tonta.

- Bom dia, Sra.McKenzie. Essas duas mocinhas vieram fazer matrícula para o seu curso.

- Ah sim. Bom dia, minhas queridas. - disse a jovem professora. Ela tinha cabelos muito pretos e cacheados. Os olhos eram castanho quase mel, e parecia ser bastante rigorosa. - Sentem-se.

- Bom dia. - responderam juntas.

- Nós queremos começar o curso. E gostaríamos de saber tudo direito para podermos arrumar outros horários para nossas atividades. - informou-a Gina.

- Sim. Bem, o único horário que temos é das sete até as onze da manhã. De segunda a sexta. A mensalidade é de dez galeões. E tem uma pequena lista de materiais necessários, que receberão após efetuarem a matrícula. E eu mesma que leciono. - informou a mulher. - E com o diploma vocês poderão ensinar em qualquer escola bruxa.

- Bem. Nós vamos fazer sim. Concorda, Gi? - perguntou virando-se para a amiga.

- Claro. - respondeu sorridente.

- Certo, então. - disse a mulher levantando-se. Ela foi até um armário e trouxe duas folhas para preencherem. Fez várias perguntas e depois das fichas preenchidas, elas assinaram e pegaram a lista de materiais.

- As aulas começam daqui a uma semana. - disse a Sra.McKenzie. - Até lá.

- Ah, antes uma coisinha. - disse Mel. - Onde fica o Gringotes daqui? É que estamos praticamente só com dinheiro trouxa.

- Ah! Temos uma galeria de lojas nos fundos do prédio, digamos que um pequeno Beco Diagonal. - ela deu uma piscadela para as duas. - Mesmo sem olhar a lista de vocês, deu para perceber de onde são. O sotaque britânico de vocês é muito forte.

- Obrigada pela informação. - disse Mel sorrindo. - Até segunda.

Passaram pelo corredor sufocante e foram falar com a veela. Ela mostrou a elas o corredor para chegar até a galeria, e elas logo trocaram o dinheiro e compraram alguns materiais. Depois almoçaram numa lanchonete pertencente ao curso, que ficava lá mesmo, na galeria.

- Mel... - chamou Gina. - Onde o Peter se enfiou? Ele sumiu.

- Ah. Esqueci de te dizer. Bem ele, ele era casado. Claro que eu mandei-o embora quando ele me contou. Definitivamente não nasci para ser amante.

- Hm... ta. - disse Gina. Conhecia Mel há anos. Todos os relacionamentos dela não passavam de um mês. Se chegasse a um mês e um dia era recorde. - Vindo de você, não me espanto.

- Ah, Gi. Gosto de conhecer pessoas novas. Não sou você que só pensava no Potter. Você só beijou ele e o Dave da Corvinal.

- É. Mas o Dave, eu nem gostava dele. Foi por livre e espontânea pressão da sua parte. O Harry foi o único que beijei com amor. - ela tinha o olhar perdido enquanto falava.

- Bem... É... Eu até posso ter beijado mais vezes, mas nunca beijei alguém pra ficar com cara de idiota quando lembro.

- Ah, não enche. - disse Gina rindo. - É porque você nunca amou alguém como eu o amo. Nunca.

- Não mesmo. E te invejo por isso, sabia? Acho que eu só atraio homens mal intencionados.

- Um dia você vai achar um bem intencionado. E espero que o destino não faça o que fez conosco.

- Por favor, Gi. Não entra em crise de depressão. Não vou deixar você ficar mais nem um segundo triste.

- Como será que ele se sentiu ao ler a carta? - perguntou sem nem escutar o que a amiga falou. - Será que está magoado? Vai cumprir a promessa? E minha mãe? Tadinha dela. Meu pai. Todos.

- Ok. Vou ser sincera. - disse Mel. Ela sempre era sincera, só que ultimamente estava se contendo para não fazer a amiga sofrer mais. - Olha, o Harry deve ter se sentido mal e chorado. Mas bastou a Chang se aproximar que eles devem ter voltado. Até porque teve essa tal promessa. E com quem mais ele ficaria?! O seu pai deve ter ficado arrasado. E sua mãe deve ter se culpado.

- Obrigada, Mel. - disse Gina sorrindo pra amiga. - Sua sinceridade é algo que eu realmente aprecio.

- Hm. - disse ela meio desconcertada. - Não esperava essa reação. Mas foi bem melhor do que a que imaginei.


Cho agora enchia Harry falando das coisas para o casamento. Sempre vinha com novidades, e ele dava alguns sorrisinhos amarelos e dizia que tinha gostado. Rachel era outra vítima dela. Passava horas perguntando onde achar isso e aquilo a ela. Também havia se metido no casamento de Hermione e tentava ajudar em tudo. Hermione, que não ia com a cara dela, se controlava para não dizer poucas e boas. Mas primeiro ela não podia se exaltar por conta da gravidez, e depois iria magoar Harry, e ela não queria isso.

Harry sempre que podia ia à Toca visitar Rony. A amizade deles estava mais forte desde que Gina fora embora. Rachel e Sirius davam todo apoio que podiam a Arthur e Molly, e ela aparentava estar muito melhor. Fora que os preparativos para o casamento a estavam deixando animada, e ela mal parava para pensar sobre outras coisas.

Hermione aproveitava qualquer folga pra visitar o noivo. E durante essas visitas, eles se divertiam comprando roupas para a filha. Ela resolveu saber o sexo antes da criança nascer, e Madame Pomfrey dissera que era uma menina. Como ela já tinha informado, o nome dela seria Emily. Eles não compravam muita coisa de uma vez já que estavam tendo muitos gastos com o casamento, e a gravidez estava no início, dois meses apenas.

O salão de Katie e Angelina estava sendo muito bem freqüentado. E elas que iriam arrumar o pessoal para o casamento. A loja dos gêmeos continuava sendo a maior atração do Beco Diagonal. E o padrinho deles, Harry, sempre que podia dava uma passada por lá e dava uma de vendedor. Ele amava aquilo.

Aquela noite era a vez de Rachel fazer o jantar. Ela fez bastante coisa gostosa. Pois ao contrário dos outros dois, que só faziam spaguetti e lasanha, ela sempre mudava o cardápio.

- O jantar sempre é melhor nos seus dias. - comentou Sirius.

- Eu sei. - disse convencida. - Vocês dois nunca mudam o cardápio.

- Claro. Só sei fazer lasanha. Mas tudo bem, eu vou mudar. Só não garanto que vá ficar bom. - disse Harry sorrindo marotamente.

- Digo o mesmo. - disse Sirius sorrindo da mesma maneira.

- Vocês dois juntos, hein? Eu me rendo.

- Assim que se fala. - disse Sirius a beijando.- Bem, eu tenho uma novidade. - começou Harry. Sirius ficou logo sério. Sabia que vinha coisa de Cho por aí. Ele estava quase falando o que achava dela. - A Cho marcou a data do nosso casamento, e será dia 20 de Setembro. E, bem, é isso.

- Ela perguntou algo a você antes de marcar? - perguntou Sirius furioso.

- Não. - respondeu ele sem entender. - Ela fez uma surpresa.

- Calma. - falou Rachel notando a raiva do marido.

- Harry, se você quer saber, eu não gosto dela. No começo achei que ela fosse ideal para você, mas sinceramente ela não é. Eu preferia a Gina mil vezes. Ela sim é uma menina de respeito e que merece você. Se fizer essa besteira, vai sofrer. É só o que te digo. - desabafou Sirius.

- Gina me fez prometer que seria feliz, e eu estou tentando. - falou ele tentando se convencer.

- Você tem certeza disso? - perguntou Rachel carinhosamente. - É isso mesmo que você quer?

- Não sei. Eu estou muito confuso. Tenho medo de errar, de fazer tudo errado e sofrer.

Ninguém sabia o que dizer. Harry nem tinha mais planos para o futuro. Ele estava com Cho por falta de opção, e temia sofrer depois de se casar. Temia ter uma vida sem graça. E não tinha certeza de nada no momento, apenas de que amava Virgínia Weasley.