Capítulo Nove - A carta
As aulas delas já haviam começado, e elas tiveram que abandonar o trabalho na loja. Estavam trabalhando num restaurante perto do prédio em que moravam. De manhã iam ao curso, de tarde trabalhavam, à noite, quando não estavam tão cansadas, ou quando não tinham nenhum trabalho para entregar, elas faziam alguma coisa para se divertirem.
Uma das coisas que Gina mais gostava além de ir ao cinema, que foi algo por que ela se apaixonou, era ir ao boliche. Ela amava aquilo. Não que fosse uma boa jogadora, ao contrário, mas elas tinham bons momentos lá. E sempre conheciam pessoas interessantes.
- Sabe o que me perguntaram hoje lá no Friend's? - perguntou Mel com um sorriso maroto. "Friend's" era o nome do restaurante em que trabalhavam.
- O quê? - perguntou Gina enquanto elas esperavam para atravessar a rua. Já estavam indo pra casa.
- O que uma "Conner" fazia trabalhando como garçonete. Eu respondi que gostava de ser útil e que ainda estava estudando. O cara conhecia meu pai.
- Que legal. - Gina sabia que por não ter conhecido seus pais, um dos maiores sonhos de Mel era conhecer pessoas que tiveram contato com algum dos dois, assim ela conhecia mais sobre eles, já que durante toda sua vida só ouvira falar deles por meio de sua avó e de sua vizinha. - Era amigo dele?
- Não exatamente. Ele é filho de um grande amigo do meu pai. Ele me contou que o pai dele também morreu. Ele conheceu minha mãe também. E ainda mais... Ele é lindo! O nome dele é Joshua Taylor.
- Quantos anos ele tem?
- Vinte e quatro. Não é velho e é solteiro. Disse que nunca casou pois não achou a mulher ideal. Quer dizer, ele não tinha achado até então, porque ele me conheceu.
- É verdade... - Gina riu. - Mas como conseguiu conversar tanto com ele? O Ryan não viu?
- Que nada! O Ryan só tem olhos pra você! - Ryan Hawkins era o dono do restaurante. Ele era bem jovem e, desde que vira Gina, não tirava os olhos dela.
- Cai na real, Mel. Ele apenas é gentil. Nada demais.
- Gentil? Só se for com outras intenções. Porque comigo ele não é nada gentil. Mas, Gi! Ele é muito bonitinho! Aproveita.
- Ah, Mel. Eu não sei se estou preparada pra me envolver com alguém. Está tudo tão recente.
- Está pronta sim. E a partir de amanha a senhorita vai tratar de dar bola para o Ryan, e vai começar a enterrar o Potter. Pára de pensar nele por um segundo e abra os olhos pra outras pessoas. O Ryan tá caidinho por você!
- Ok, ok. - rendeu-se Gina. Mel sempre tinha bons argumentos.
Logo elas chegaram em casa. Quando subiram as escadarias e passaram pela porta de entrada, o Sr.Johnson, o porteiro, avisou que tinha uma carta para a Srta.Weasley, mas não sabia como tinha chegado.
- Deve ter chegado por coruja. - falou Mel baixinho para o homem não ouvir. Soaria bastante estranho se ele ouvisse.
Gina agradeceu e elas subiram no maior silêncio. Tomou banho, vestiu-se e foi sentar-se na varanda. O envelope estava seguro em sua mão, e ela travava uma luta interna sobre abrir ou não.
Tinha medo do que teria ali. Nem ao menos tinha olhado o remetente. Então, com cuidado, e tomando coragem, ela virou o envelope.
Viu com a letra tremida o nome "Molly Weasley" em tinta dourada. Lágrimas brotaram dos seus olhos com aquela simples visão do nome da mãe. E ela delicadamente deslizou os dedos sobre o nome dela.
O que teria escrito? Estaria dizendo que a perdoara? Estaria pedindo para que ela voltasse? Sua cabeça estava cheia de pensamentos e dúvidas.
- Quem te mandou essa carta, Gi? - perguntou Mel de repente. Gina, que estava perdida em pensamentos, quase enfartou do medo.
- Minha mãe. - respondeu depois do susto. - E você quase me mata de susto.
- Desculpa. Mas... você não vai abrir? - perguntou enquanto sentava no sofá ao lado do que Gina estava.
- Não. - respondeu séria. - Só quando me sentir preparada. Sei que o que tem aí vai me magoar mais ainda. Saber o que ela está sentindo...
- Bem, você quem sabe. Mas quando for ler, quero estar perto. Você precisará de ajuda. - disse sorrindo. - Agora eu vou dormir. Boa noite.
- Obrigada. Mas... vai dormir aqui!?
- Qual o problema? Nunca dormi e quero experimentar. Minha avó falou que meu pai sempre dormia na varanda, era o local do apartamento de que ele mais gostava.
- Bem, então tá. Boa noite e boa sorte. - disse fechando a porta da varanda.
No dia seguinte elas saíram cedo para o curso. As aulas foram bem desgastantes, e estavam exaustas quando chegaram ao restaurante. Mel fez questão de atender os clientes de Gina só para que ela tivesse mais tempo de conversar com Ryan.
- Está tudo bem com você, Virgínia? - perguntou ele, vendo que ela estava absorta em pensamentos.
- Desculpa. - disse de supetão. - Eu estive com uns problemas. Juro que não acontecerá novamente.
- Tudo bem. Eu não estou falando isso pelo trabalho. - disse sorrindo e pondo uma de suas mãos sobre a dela. - Estou falando isso pois estou preocupado com você. Parece que está no mundo da lua. Bem... Sei que não te conheço bem, mas se precisar de um amigo... Pode contar comigo.
- Obrigada. - disse sorrindo. - É que eu estou distante da minha família. Isso não faz bem a ninguém.
- Você pretende voltar quando?
- Nunca. - respondeu séria. - Nunca, Ryan.
- Hm... Bem... eles sabem onde está? Quero dizer... Por que não quer voltar?
- Porque eu saí de lá por mil motivos. E agora que estou aqui, não irei desistir. Tenho medo do que me espera por lá. E também tenho orgulho.
- Entendo. Bem... se estiver se sentindo mal, pode ir descansar.
- Não. Mesmo assim, obrigada. - e fez algo que mexeu com ele. O abraçou. Ele ficou bastante feliz com a atitude dela. - Agora eu vou fazer meu trabalho.
- Ok. - disse sorrindo.
Mel tinha visto tudo de longe, mas só iria comentar em casa. Não queria deixar a amiga sem graça na frente dele. Naquele dia o restaurante estava quase vazio, então Ryan resolveu fechá-lo mais cedo. Elas chegaram em casa por volta das cinco da tarde.
- Não dou uma semana pra ele te chamar pra sair. - falou Mel finalmente. - Eu vi o abraço que deu nele. Muito bem.
- Ai ai, Mel. Bem, ele é muito legal... E disse que estava preocupado comigo. - no fundo ela estava feliz por ter alguém em quem pensar além de Harry. Afinal, não podia passar a vida toda presa ao passado. Tinha que arrumar alguém e enterrar esse fantasma. Estava decidida. - A partir de hoje eu juro não pensar mais no Harry. Ele faz parte do meu passado.
- É assim que se fala. - disse Mel excitada. - Finalmente Virgínia Weasley, finalmente.
Logo depois de se aprontar para dormir, Gina foi novamente para a varanda com a carta. Só que dessa vez ela tomou coragem para abrir. Rasgou o envelope e, com as mãos trêmulas, desenrolou o pergaminho. Tomou ar e baixou os olhos. Se tinha que fazer aquilo, que fosse naquele momento.
"Querida Gina,
Antes de tudo espero que leia essa carta. Você pediu pra que não escrevêssemos, mas eu não podia deixar de fazê-lo. Tenho que te dizer o que estou sentindo. Se não o fizesse, iria me sentir pior ainda.
Quero que saiba que eu já consegui ver o quanto te prejudiquei, meu amor. Estou sofrendo, mas não é nada comparado ao que você sofreu. Fui uma tola te ignorando no momento em que você mais precisava de mim. No momento em que você tinha sido usada por aquele maldito. Me perdoe. Por favor.
Sei que a culpa foi minha por você ter ido embora. Eles negam. Dizem para eu não me culpar... Mas como!? Como não me culparei? Se você foi embora por não agüentar mais viver com uma mãe idiota que te ignorava. Tenho noção do mal que lhe causei, meu anjo.
Torço imensamente pra que esteja bem onde está. Você e sua amiga. E espero que nada de ruim lhes aconteça. Você não merece mais sofrer nessa vida. Já sofreu o bastante.
Fiquei tão feliz quando Arthur me contou que você usou aquele vestido que fiz na formatura. Eu o fiz com tanto amor, e sonhei em te ver nele. Agindo como uma tola, eu não compareci à festa. Se eu pudesse voltar no tempo, teria mudado tudo isso.
Arthur também me disse que você foi oradora. Disse que seu discurso estava lindo, e que você quase chorou. Oh, minha querida, como eu queria ter estado lá. Pra ver minha princesinha brilhar. Você é muito especial, minha filha. É uma estrela com luz própria. Nunca esqueça disso.
Todos aqui estão tentando me ajudar de alguma forma. Mas quem deve estar precisando dessa atenção toda é você, meu amor.
Mione e Rony se casarão semana que vem. Estamos todos muito ocupados com os últimos preparativos. Eu serei a madrinha, mas gostaria que fosse você. E a Mione terá uma menina. Rony ficou tão feliz quando soube. Meu menininho vai ser o primeiro a me dar um neto.
Os seus irmãos continuam com a loja, Katie e Angelina com o salão. Os quatro trabalham tanto, coitadinhos. Seu pai está com alguns planos, mas nada confirmado. Harry irá se casar em Setembro com Cho Chang. Sinto dar essa notícia, pois sei que você sempre o amou. Mas ele nem parece muito feliz. Bem... Pode ser apenas impressão minha.
Filha, não peço que volte. Saiba que isso é o que eu mais quero. Mas você deixou claro que não o fará em hipótese alguma. Mas caso um dia sinta vontade de voltar... saiba que estaremos sempre de braços abertos lhe esperando.
Espero que consiga me perdoar um dia e que, olhando nos seus olhos, eu possa dizer novamente que eu te amo. Sempre te amei filha, sempre. Você sempre foi e será minha princesinha.
Sua mãe,
Molly Weasley"
Gina não conseguiu conter as lágrimas que teimavam em cair de seus olhos. Pois a cada palavra que ela lia, mais lágrimas brotavam, e agora elas simplesmente caíam sem que ela pudesse detê-las. Sua visão estava embaçada, e um remorso imenso tomou conta do coração dela. Sentia uma pontada no peito, como se alguém a tivesse atingido em cheio.
Mel, que estivera observando a amiga durante todo o tempo, sentou-se ao seu lado e a abraçou. Sabia que ela estava carente e precisava de alguém para ajudá-la. E se dependesse dela, Ryan seria essa pessoa. Tinha cansado de vê-la sofrer.
Já fazia uma semana que Molly tinha mandando a carta para Gina. E desde aquele dia, ela checava a caixa de correio todos os dias. Mesmo que Gina fosse responder a carta, não chegaria em uma semana, na verdade ela devia ter chegado dois ou três dias atrás. Mas no fundo ela sabia que Gina não responderia. Ela deixou claro que ninguém escrevesse ou tentasse achá-la, então jamais responderia a carta de Molly. Mesmo assim ela não se cansava de esperar. Talvez a culpa que sentia a fizesse agir daquela maneira.
- Ela não irá responder, Molly. Isso só está te fazendo sofrer, te magoando. - disse Arthur numa das manhãs daquela semana.
Quando o dia do casamento se aproximou mais, ela ocupou a cabeça com outras coisas. Afinal, mesmo tendo arrumado as coisas com antecedência, sempre acontecem imprevistos.
Katie e Angelina não demoraram a chegar. No começo da tarde elas começaram a arrumar a noiva. Hermione já tinha até definido o penteado, mas Elizabeth ficou o tempo todo dando novas idéias.
Molly e Rachel ficariam vistoriando o pessoal da decoração. Qualquer coisa fora do combinado, elas reclamariam.
Arthur, Sirius, Harry, Jorge, Fred, Richard, pai de Hermione, e o noivo foram vistoriar o pessoal do buffet. E Richard aproveitou para mostrar a Rony o presente deles, uma casa. Para que os pombinhos não comprassem uma e estragasse a surpresa, Elizabeth aconselhara Hermione a comprar depois, já que estavam tendo muitos gastos com o casamento. E discretamente fazia perguntas sobre como seria a casa dos sonhos dela.
- Uou! - disse Rony espantado. A casa era linda. E a decoração era toda amarelinha clara e branca. - Obrigado, Richard. Mas quem escolheu a decoração? Tá a cara da Mione.
- Elizabeth. - respondeu Richard sorrindo. - Ela e Hermione têm os mesmos gostos. E Mione sempre falava sobre como queria a casa pra ela. Não foi difícil.
- Tem uma biblioteca? - brincou Fred.
- Tem que ter. - enfatizou Jorge.
- Claro que sim. - confirmou Richard. - Hermione Granger vivendo em uma casa sem biblioteca? Impossível! - todos riram.
Enquanto isso, na Toca, as mulheres já estavam se arrumando. Molly cachearia o cabelo, Elizabeth, que tinha cabelos como os de Hermione, iria alisar. Rachel iria prendê-los num coque já que seus cabelos eram super lisos. Katie iria fazer cachos e prender, e Angelina iria alisar. Já Hermione alisou e pôs enfeites que combinariam com o vestido.
Quanto aos vestidos, o de Molly era azul e super elegante. O de Rachel era vinho e modelo "tomara-que-caia". Elizabeth usaria um vestido verde escuro, cujo tecido era meio brilhoso. Katie iria de mostarda, e Angelina de preto.
Logo eles foram para o quintal da Toca, que havia passado por uma reforma, para receberem os convidados. Elizabeth e Richard estavam com Hermione, ela não parava de se olhar no espelho e perguntar se estava bem.
- Você está linda. - disse Sirius beijando a esposa nos lábios.
- Você também. - respondeu ela, arrumando a gravata dele e sorrindo.
Rony não parava de andar de um lado para o outro. Desde que estava pronto que ele só fazia aquilo.
- Tentando furar o chão, Roniquinho? - perguntou Jorge sorrindo marotamente.
- Deixa seu irmão em paz. - repreendeu Katie o abraçando em seguida. - Você também deve ter ficado nervoso no dia do nosso casamento.
- Ele ficou, mas eu parecia que ia enlouquecer de tão nervoso que fiquei. - disse Fred, que estivera escutando a conversa. O casamento dos dois casais tinha sido junto.
- Foi, meu amor? - perguntou Angelina com carinho. - Eu te amo, sabia?
- Eu também. - disse a beijando.
Logo os convidados começaram a chegar. Cho não demorou para aparecer. Ela deu a desculpa de ter muito trabalho na empresa e não foi ajudar. Harry desconfiava seriamente de que ela estava mentindo.
Harry foi para o altar com Rachel, Molly, Arthur e Rony, logo Hermione apareceria. Rony roía as unhas desesperadamente, qualquer um que o visse notava o nervosismo.
- Rony, cuidado pra não enfartar. - brincou Harry. O amigo nada respondeu, apenas lançou-lhe um olhar nervoso.
Em poucos instantes Hermione apareceu acompanhada pelos pais. Ao contrário do casamento trouxa, onde só o pai acompanha a noiva, os pais a acompanham. Caso não tenha os dois, só o que está vivo a acompanha.
Hermione estava belíssima. O vestido ficara perfeito no corpo dela, e o penteado caía perfeitamente com o vestido. Ela não conseguiu contar as lágrimas, sorte que a maquiagem era impermeável, se não borraria tudo.
Os olhos de Rony brilharam intensamente quando a viram. Sempre sonhara com aquele momento, sempre amara Hermione. E a vendo chorar, não conseguiu conter as lágrimas.
Quando ela chegou ao seu encontro, eles deram as mãos e ajoelharam-se diante do celebrante. Ele juntou as varinhas deles um ao lado da outra e começou a cerimônia.
Enquanto ele falava, fagulhas vermelhas saíam das varinhas deles. Quando o celebrante parou de falar, eles pegaram suas varinhas, as colocaram uma de frente para a outra com suas pontas se tocando e começaram os juramentos.
- Eu, Hermione Granger, aceito Ronald Weasley como meu esposo. E juro estar ao seu lado nos bons e maus momentos. Eternamente.
- Eu, Ronald Weasley, aceito Hermione Granger como minha esposa. E juro estar ao seu lado nos bons e maus momentos. Eternamente.
Trocaram as alianças e fizeram o ritual do sangue. Cortaram um o dedo do outro com um punhal de ouro e virgem. Pingaram uma gota em um cálice de ouro cheio de vinho. Depois cada um bebeu um longo gole. Esse ritual simboliza a união sangüínea.
- Eu te amo. - disse Rony baixinho logo depois de beijá-la.
- Também te amo. - respondeu ela sorrindo. - Pra sempre.
Seguindo a tradição trouxa, Hermione jogou o buquê. Parvati Patil foi quem pegou, ela comemorou abraçando o namorado, Simas Finnigan. Depois das fotos, os noivos foram cumprimentar os convidados, muitos deles trouxas, Elizabeth havia dito que o noivo seguia uma religião diferente e não conhecida. Poucos eram os bruxos, já que, com a guerra, muita gente havia morrido. Mas entre eles estavam, Lilá, Parvati, Padma, Simas, Neville, Dino, Dumbledore, Cho, Mundungo... o resto do pessoal era do ministério e de Hogwarts, todos colegas de trabalho dos recém-casados.
- A cerimônia foi linda, Mione. - comentou Rachel a abraçando.
- Foi espetacular. - comentou Cho. - O nosso também será, não é amor?
- Será. - disse sorrindo. - Parabéns pros dois. Quem diria! Vocês só faltavam ir às tapas em Hogwarts.
- Pois é. - disse Rony abraçando o amigo. - Você foi um dos que nos juntou de vez. Você e a... - mas não completou a frase. Falar em Gina doía.
O serviço do buffet estava ótimo, a festa em si estava animadíssima. Mas os pombinhos não tardaram em ir embora. Iriam pra casa nova, Hermione já tinha recebido a notícia. E dali a dois dias iriam pra lua de mel na América do Sul, escolha de Hermione.
Gina decidira sua vida desde aquela carta. Finalmente começou a considerar Harry como passado e parou de se imaginar com ele no futuro. Com essa medida tomada, ela começou uma amizade forte com Ryan. Sempre eram vistos conversando, e Mel não perdia uma oportunidade de deixá-los constrangidos, não que ele fosse tímido, mas em se tratando de assuntos do coração...
Falando em Mel... Ryan andava bem mais simpático com ela. Ele confessou que não gostava dela e só a tinha contratado por conta de Gina. Mas que agora que a conhecia tinha mudado a opinião sobre ela.
Gina e Mel estavam terminando de arrumar as coisas do restaurante quando ele a chamou para dar uma palavrinha. Mel deu um sorriso maroto e um empurrãozinho em Gina antes de ela ir.
- Pode falar. - disse ela quando chegou no balcão.
- Hm... Bem, eu gostaria de saber se você já tem algum compromisso pra amanhã à noite. - ela ficou radiante com aquelas palavras. Ryan tinha um sorriso... Era o sorriso mais lindo que ela conhecia. Quer dizer... não! Ela não iria pensar em outra pessoa que não fosse Ryan!
- Não, não tenho nada pra fazer. - respondeu séria. - Por quê?
- É que consegui duas entradas pro espetáculo de sábado à noite na Broadway. Então resolvi te chamar... não poderia ir mais bem acompanhado. Além do mais, você nunca esteve lá e ajudaria na nossa amizade. Nós nunca saímos juntos.
- Ah, Ryan! - disse o abraçando. - Sempre quis assistir a um espetáculo da Broadway! Obrigada! Qual o espetáculo?
- "A bela e a fera". Não é tão interessante, mas...
- É. Pra mim é. - disse sorrindo. - Só tenho ido a cinemas e shoppings. Vai ser ótimo mudar um pouco.
- Ótimo. Te pego às sete e meia. Está bom pra você?
- Está sim. - respondeu o beijando no rosto em seguida. - Tchau.
- Tchau. - respondeu sorrindo.
Quando Gina encontrou Mel, a amiga não conseguiu se manter séria. Rapidamente ela esboçou um sorriso maroto e começaram as perguntas.
- E aí?
- Amanhã de noite iremos ver o espetáculo da "Bela e a Fera" na Broadway.
- Agradeça-me. A sugestão foi minha. De qualquer jeito, espero que vocês se entendam e que você esqueça certa pessoa. - Ela evitava falar o nome de Harry, pois sabia que trazia lembranças para a amiga.
- Já esqueci. E eu estou vendo o quanto o Ryan é gentil. Atencioso, doce.
- Hm!! Está se apaixonando!! - disse Mel toda empolgada.
Gina realmente já sentia algo por Ryan. Ela não sabia o que era, pois era muito recente. Mas que sentia algo, sentia. Esperava que isso fosse amor, pois só assim esqueceria o passado.
No dia seguinte, uns dez minutos antes do combinado, Gina já estava pronta, estava vestindo um Jeans escuro e uma blusa verde clarinha.
Ryan era pontual, e exatamente às sete e meia ela ouviu uma buzina, sabia que era ele, mas esperou que o porteiro ligasse avisando. Ela não precisou deixar a chave na portaria, Mel tinha saído com Josh, o filho do amigo do pai dela, e nem tinha hora para chegar.
Ele estava bastante elegante. Nem parecia o Ryan que ela costumava ver. Usava uma blusa azul que combinavam com os olhos dele, que eram da mesma cor.
- Boa noite, senhorita. - disse beijando a mão dela e em seguida abrindo a porta do carro.
- Boa noite, cavalheiro. - disse ela sorrindo e entrando no carro.
- Aonde deseja ir? - perguntou fingindo ser um motorista.
- Hm.. Me leve até a Broadway, por favor.
- Como queira. Bem, estamos em Rockfeller, então não ficará tão caro. Daqui pra a Time Square dá umas sete quadras apenas.
- Tudo bem. Dinheiro não é o problema.
Como o trânsito estava um pouco congestionado, eles demoraram quase meia hora para atravessar a Quinta Avenida. Mas logo estacionaram o carro. Enfrentaram uma pequena fila para entrar já que esse espetáculo não era nenhuma novidade. Manhattan tinha muitas coisas para se fazer à noite, mas os espetáculos da Broadway sempre atraiam muita gente. Não é à toa que é impossível de se conseguir ingressos em cima da hora.
O espetáculo acabou às dez horas. Gina tinha se divertido bastante. Ryan já tinha visto aquilo bastantes vezes, mas ficou preso a cada detalhe como se fosse pela primeira vez. Aquela realmente era a primeira vez que via com uma companhia tão agradável. Depois eles foram até o Monet's jantar. Era um restaurante muito requintado.
- Essa noite está sendo maravilhosa. - disse ele, pondo uma das mãos sobre a dela, que estava apoiada em cima da mesa.
- A melhor desde que cheguei aqui. - disse ela sorrindo.
- Virginia... eu... - começou ele.
- Gina. Me chame pelo apelido. Todos os meus amigos me chamam por ele.
- Ok então. Gina. - repetiu ele com um sorriso lindo. - Bem eu... não vou enrolar porque sou uma pessoa bastante direta. Então... desde a primeira vez que pisou lá no restaurante... eu não consigo te tirar da minha cabeça. Desde aquele dia eu sinto algo por você, e esse sentimento só cresceu. Eu sei que faz pouco tempo e tudo mais... Só que, ao contrário de muita gente, eu me apego muito fácil às pessoas. E já sofri muito por isso... - nessa hora ele parou de falar. Como se algo que ele lembrou o tivesse impedido de falar mais que aquilo. Gina ficou se sentindo mal por deixá-lo naquela situação, mas também queria que ele desabafasse com ela. Afinal, se ele queria que eles tivessem algo, teria que começar a confiar nela.
- Ryan. - chamou ela, levantando suavemente o rosto dele com a mão. - Sei que está escondendo algo. Por favor me conte. Não há remédio melhor que desabafar quando temos um problema. - ele ainda passou alguns minutos em silêncio, mas tomou coragem e começou a desabafar.
- Há um ano e meio atrás... Bem.. eu tinha uma namorada. Na verdade ela era tudo que eu tinha, pois meu pai morreu pouco depois que nasci, nem o conheci. E minha mãe, bem.... Minha mãe me deu pro meu avô me criar e nunca mais ouvimos falar dela. Só tinha o meu avô. Até que um dia, há três anos, ele morreu. Foi duro ficar sozinho. Mas eu tinha vinte anos, e o bar já existia, então sem dinheiro eu não ficaria. Meu pai era rico e deixou muita coisa pra mim, assim como o pai da Mel. Na verdade, nossas histórias são muito parecidas... Então eu conheci a Maryan. Ela era tudo pra mim... Nunca imaginei minha vida sem ela. A gente fazia tudo juntos, ela morava no meu apartamento. Éramos uma pessoa só. - enquanto ele falava, seus olhos enchiam-se de lágrimas. - Mas o destino sempre foi cruel comigo. E me tirou a única pessoa que eu tinha. Ela morreu em um acidente de carro. Meu mundo desabou, eu tentei suicídio duas vezes, mas nunca consegui fazê-lo. Sou covarde demais, covarde até pra me matar.
"Desde então eu não me envolvi com ninguém. Não fiz amizades de verdade. Nada. Pelo simples fato de pensar que tudo que toco se acaba. Estranho demais, não? Primeiro meu pai morre. Depois minha mãe me abandona. Depois meu avô morre, e logo depois a Mary. Comecei a pensar que tudo que eu tocava morria. Por isso me afastei das pessoas. Eu ficava no balcão do bar recebendo o dinheiro e só. Essa era a minha vida. É horrível viver sem amigos, sem ninguém. Faz seis meses que eu resolvi sair dessa. Essa decisão foi logo após minha segunda tentativa de suicídio. E agora veio você. Gina, há um ano e meio que eu não vejo alguém da maneira que te vi. Eu sinto o mesmo que senti pela Mary. Não tão intenso porque a gente nunca teve nada concreto. Mas... é um começo."
- Ryan... Eu... - ela não sabia o que dizer. Ele a tinha pegado de surpresa. Nunca tinha imaginado que a vida dele fosse tão conturbada. Tinha visto umas cicatrizes no pulso dele, mas nunca imaginara nada relacionado àquilo. Uma vida horrível ele tivera. Mas por outro lado ela ficou feliz... Ele confiou nela. Mesmo a conhecendo há tão pouco tempo.
- Desculpa por te assustar. - disse, enxugando as lágrimas. - É que minha vida não é nenhum mar de rosas. E eu confio em você.
- Não fala assim. - disse ela o abraçando. - Não tem do que se desculpar. Eu sinto muito por tudo isso, sinto mesmo. E obrigada por confiar em mim. Obrigada. - eles ainda ficaram abraçados por um bom tempo. E só quando o garçom trouxe o pedido, eles saíram do mundo dos pensamentos para a realidade.
- Gina... - começou ele meio inseguro. - Eu não estou te obrigando a falar nada, mas... hm... por que você veio morar aqui com a Mel? Quero dizer... ela me contou que só tem você, e agora o Josh, no mundo. Mas e você? Também é como eu e ela? Ou deixou alguém pra trás? Se não quiser falar está bem... esses assuntos machucam a gente.
- Tudo bem. - disse com um sorriso sincero. - Você provou que posso confiar em você. E é difícil encontrar alguém tão sincero em tão pouco tempo. Mas enfim... Na realidade, Ryan, eu tenho família sim. Uma mãe, um pai, três irmãos... já fomos sete filhos. Enfim... os outros três morreram numa mesma ocasião. - ela não se sentia pronta para revelar que era bruxa. Tinha medo da reação dele. Afinal, o preconceito era grande. No fundo achava que Ryan jamais iria recriminá-la, mas mesmo assim tinha medo. - Só que minha mãe me pôs a culpa. Não que eu tivesse... Quero dizer... Não diretamente, entende? E então ela ficou me ignorando. E eu agüentei isso por um ano.
"Só que chegou uma hora que eu não agüentava mais. Eu sentia parte de mim morrer toda vez que ela olhava pra onde eu estava como se não tivesse nada ali. Falava com todos, menos comigo. Meu pai tentava me fazer sentir melhor, meus irmãos tentavam, minha cunhada tentava, o... o... - ela respirou fundo. Lembrar de Harry era o que mais doía. - o Harry tentava."
- Harry era seu namorado? - ele perguntou.
- Não. Harry foi o homem que mais amei. Mas o destino não aprova a idéia de ficarmos juntos. Então, todas as vezes que isso quase aconteceu, ele deu um jeito de atrapalhar. Mas não gosto de falar no Harry.
- Ok. E sua mãe nem ao menos tentou te achar? Sei que não é fácil, pois ela nem deve imaginar onde vocês foram, mas...
- Ela me mandou uma carta. - ela se arrependeu de dizer aquilo. Como alguém manda carta sem saber onde o outro está?! Tudo bem entre bruxos... Mas entre trouxas não! Tem que ter o endereço.
- Como? - perguntou Ryan desconfiado. Ele fez uma cara de quem acabara de ter uma idéia e sorriu.- Gina... você... você é... uma bruxa? - ele falou essa última palavra em voz baixa.
- Ahn? - perguntou atordoada. Como ele sabia!? Seria Ryan um bruxo?! Ela duvidava disso. Ele parecia bem trouxa. - Como!?
- Relaxa. - disse sorrindo. - Meu avô era bruxo, assim como minha avó. Meu pai também era. Só que ele amava tanto os trouxas que partiu a varinha e foi viver como um. Já meu avô não. Ele desaprovou essa atitude. E bem... vivendo com ele, eu me acostumei com algumas coisas do seu povo. Fiquei encantado com o correio de vocês. Então quando você falou que ela tinha te escrito... Imaginei como, já que ela não sabe onde está.
- Ah. - disse tranqüila. - Eu não queria dizer. Pois tinha medo de você não aceitar isso. Ainda existe muito preconceito entre trouxas e bruxos. Mas já que você está por dentro do nosso mundo... Ryan, seu avô já te falou de Voldemort?
- Já sim. Ele me contou muitas histórias. Sei tudo sobre Voldemort e os tempos negros. Adorava essa história, principalmente a parte em que ele é derrotado por um bebê.
- É. - disse Gina sorrindo. - Um bebê.... O Harry. Ele foi esse "bebê". Mas enfim... Voldemort voltou, e durante três anos fez coisas horríveis. E me usou. Sob uma maldição me fez dizer coisas que em sã consciência eu jamais diria. Ele descobriu planos e estratégias de uma ordem que lutava contra ele. Meus irmãos morreram, sei que não tive culpa. Quer dizer... não diretamente, mas enfim... minha mãe me culpou e me ignorou.
- E Voldemort? O que houve com ele?
- O Harry e a Ordem conseguiram destruí-lo. Não foi nada fácil. Muitas vidas foram desperdiçadas para que isso acontecesse. Mas essa é a lei da vida, não?
- É verdade. Esse Harry... deve ser muito poderoso. Lutou duas vezes com Voldemort e sobreviveu.
- Mais de duas, Ryan. Ele o derrotou quando bebê... e o encontrou outras vezes depois. Mas só na última Voldemort foi realmente destruído. Para sempre.
- Agora já sabemos mais um do outro. - disse acariciando o rosto dela. - Você é linda, sabia?
- Obrigada. - disse timidamente.
- Agora eu posso dizer o que eu queria. - ele olhou fundo nos olhos dela. - Eu te amo, Virgínia Weasley. - Gina não disse absolutamente nada. Lentamente os rostos deles se aproximaram, e eles se beijaram. Um beijo doce e delicado. Como que testando o terreno. A partir daquele beijo,nada mais poderia separá-los. Nada...
